TV ESCOLA. Um mestre do progresso. TV Escola. Seção: Histórias da Educação. Brasília, n.19, maio/jun. 2000. p.38-39.

Um Mestre do Progresso

Ele propunha uma escola para todos, em que os alunos fossem ativos e tivessem liberdade de pensar por si. Anísio Teiceira (1900-1971) ajudou a mudar o ensino brasileiro.

Por pouco é padre. Hesita entre a Companhia de Jesus e a Faculdade de Direito. Advogado, é surpreendido por convite do governador da Bahia, Francisco Calmon, para ser inspetor geral de ensino.

Começa o trabalho de um dos mais importantes, atuantes e produtivos educadores do País, ainda hoje uma referência para a democratização e a melhoria da qualidade do ensino.

Nascido em 12 de julho de 1900, em Caetité, sertão baiano, Anísio Spínola Teixeira ajuda a mudar a educação brasileira a partir dos anos 1930, contribuindo com a formação de um sistema nacional de ensino, numa época em que a educação é extremamente fragmentada, não há redes, só escolas avulsas.

O momento é de grandes transformações. É intenso o processo de industrialização e grande o entusiasmo pela Ciência, que conquistara consideráveis avanços a partir do fim do Século 19. Busca-se uma vida, um homem e uma nova escola. Anísio é um dos artífices dessa procura no Brasil.

Ao aceitar a função de inspetor geral de ensino na Bahia, dedica-se ao conhecimento da educação e das experiências de outros países. Nos EUA, conhece, no fim dos anos 1920, John Dewey (1859-1952), teórico da escola ativa e progressista, do learning by doing (aprender fazendo). É de Dewey a maior influência nas propostas de Anísio.

Em 1930, quando é criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, Anísio publica o artigo Por que a Escola Nova - uma súmula de suas reflexões sobre as idéias predominantes na vanguarda da educação:

Progresso: "Tudo está a mudar e a se transformar. Não há alvo fixo. A experimentação científica é um método de progresso literalmente ilimitado."

Tendências da época: nova atitude espiritual ("segurança, otimismo e coragem diante da vida"), o industrialismo ("com nova visão do homem, também filho da Ciência e de sua aplicação à vida") e a democracia ("cada indivíduo conta como uma pessoa").

Unidade planetária: "A indústria está integrando o mundo inteiro em um todo interdependente. A idéia e o pensamento hoje são propriedades comuns de todo o homem. O vapor, o trem, o automóvel e o aeroplano, como o telégrafo, o telefone e o rádio, põem todo o mundo em comunicação material e espiritual."

O que é a escola nova? "Uma escola de vida e experiência, para que sejam possíveis as verdadeiras condições do ato de aprender; uma escola onde os alunos são ativos."

O que a escola deve ensinar: "A nova escola precisa dar à criança não somente um mundo de informações (...), como ainda lhe cabe o dever de aparelhá-la para ter uma atitude crítica de inteligência."

Autonomia: "Não basta que os alunos sejam ativos. É necessário que eles escolham as suas atividades."

Liberdade: "O mestre deve confiar no aluno. Perca ele para sempre a idéia de que lhe cabe qualquer soberania sobre o pensamento do seu discípulo. Dê-me oportunidade para pensar e julgar por si."

Dois anos depois, em 1932, é lançado no Rio o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por Fernando de Azevedo e assinado por Anísio e mais 24 educadores. O documento defende, entre outros pontos, a educação pública, gratuita, obrigatória e leiga, sem qualquer segregação, e a articulação de todos os níveis de ensino.

Anísio é diretor de Instrução Pública do Distrito Federal (1931-1935) e reforma a educação na Capital do País. Cria uma rede municipal, com uma série de inovações, e a Universidade do Distrito Federal, embrião da Universidade de Brasília - UnB, também idealizada por ele.

Durante o Estado Novo (1939-1945), volta à Bahia e se dedica ao comércio de minérios. Em 1947 é convidado pelo governador Otávio Mangabeira para dirigir a Secretaria de Educação e Saúde. Muda o ensino no Estado e cria, em 1950, a escola-parque - modelo de educação de tempo integral que inspira os Cieps de Darcy Ribeiro.

No MEC, dirige a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes (1951-1964) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - Inep (1952-1964).

Em 1964, o golpe militar fecha a UnB que ele criara e da qual se tornara reitor em 1963. Afastado, Anísio dá aulas, por dois anos, em universidades americanas.

No dia 11 de março de 1971, morre no Rio em circunstâncias misteriosas. Acabara de ser indicado à Academia Brasileira de Letras e saíra de casa para visitar o filólogo e dicionarista Aurélio Buarque de Holanda. Seu corpo é encontrado no poço do elevador do prédio de Aurélio. É um suposto acidente.

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