MATTA, Raymundo. Anísio Teixeira e a arte de identificar vocações para a educação. Salvador: FUNDAT/Instituto de Estudos e Pesquisas em Educação e Mestrado da UFBa, 1994. 22p.

Raymundo Matta

Anísio Teixeira e a arte de identificar
vocações para a educação.

Salvador - Bahia - Brasil
1994

- Conferência pronunciada em sessão comemorativa do 90º Aniversário de nascimento do grande educador brasileiro, realizada no dia 12 de julho de 1990, na Academia de Letras da Bahia, promovida pela Fundação Anísio Teixeira e Instituto de Estudos e Pesquisas em Educação e Curso de Mestrado da UFBa.)

Aceitei a incumbência da Fundação Anísio Teixeira para falar sobre seu eminente patrono, nesta comemoração de nonagésimo aniversário de seu nascimento, como um devedor inadiplente atende ao chamado de um credor pignoratício.

O título e a condição de conferência, anunciados no convite público, tornaram débito muito superior às posses do devedor. É que, propusera-me, apenas, a dar um depoimento despretensioso, de visão pessoal, sobre alguns momentos da influência de Anísio Teixeira em minha vida, o que será muito menos do que empreender um estudo, formal e sistemático, de aspectos parciais do pensamento e da obra memorável do grande educador do século.

Falar sobre Anísio Teixeira é, para todos nós, mais que uma honraria; porque um culto de devoção, para quantos tenham tido a ventura de conhece-lo pessoalmente, ou de quem quer que, com ele, tenha tido trato direto ou indireto, nas diversas etapas da vida baiana ou brasileira, em que marcadamente atuou.

Tive essa ventura! Por isso, sinto-me no dever do ofício, de recordá-lo na grandeza de sua personalidade fulgurante, em que o talento, a cultura e uma impecável modéstia de expressão e comedimento de gestos, combinavam-se em contraditória proporção.

Isso explica o fato, quase anedótico, registrado em um desses eventos internacionais realizados no Brasil, quando um visitante estrangeiro, chegando ao "hall" do local do Congresso e encontrando uma pessoa que observava um painel de fotos, abordou-a identificando-se como admirador da obra de Anísio, dizendo que o objetivo de sua presença ali era para conhecer e ouvir o grande mestre. Momentos depois, o visitante seria apresentado ao próprio Anísio. Entre incrédulo e surpreendido indagou-lhe : -Mas, o senhor não é aquele com o qual conversei há pouco? ... - "Sou, - respondeu-lhe, um tanto acanhado, o próprio Anísio, - só que eu não me sentia sendo a "pessoa que o senhor tanto elogiava e exaltava" ... Esse episódio, que reflete a sua modéstia, teria ocorrido numa reunião da SBPC e me foi contado pelo inesquecível Profº Querino Ribeiro, em São Paulo.

Anísio Teixeira era assim. Quem o via e não o ouvia, jamais poderia avaliar a dimensão quase genial de sua inteligência, nem a amplidão de sua cultura. Mas, ouvindo-o, fosse em situação coloquial ou formal, seria impossível deixar de fascinar-se e, por conseqüência, admirá-lo, nos lampejos de sua dialética jesuítica, analisando, discutindo ou polemizando idéias criativas e contagiantes.

Não fui dos seus colaboradores, como muitos podem, hoje, orgulhar-se, ufanosamente; nem tive a dita de sua intimidade, que outros tantos desfrutaram, saudosamente; estes, como aqueles, podendo oferecer valiosissímas contribuições ao estudo de sua obra e de seu pensamento. Aliás são quase todos aqueles que o fizeram em "Anísio Teixeira: o pensamento em ação", comemorativo de seu sexagésimo aniversário natalício. E o último a estudá-lo foi Luis Viana Filho, o príncipe dos biógrafos brasileiros, que faleceu recentemente, antes do lançamento da biografia.

O seu primeiro biógrafo, formalmente editado em livro, porém, foi o professor Hermano Gouveia Neto. No autógrafo com que me honrou, no lançamento do mesmo incluiu-me como "uma das pessoas responsáveis pelo seu interesse em conhecer a obra do grande mestre". O Autor de "Anísio Teixeira, educador singular", (1983), nas suas pré-memórias da educação, reunidas em "Contagem Regressiva" (1991), atribui-me, textualmente, às páginas 36, a inspiração, ou motivação, para ter-se dedicado a "estudar a vida e a obra de Anísio Teixeira", e o fato de ter sido eu, o responsável pelo seu último encontro pessoal com o saudoso mestre, "lá no Ministério da Educação, quando discutimos, além de outros assuntos, sobre a nossa Lei Orgânica do Ensino do Estado da Bahia.

Se assim o fiz, como sua afetividade exageradamente credita-me, só me resta agradecer-lhe pelo esforço de ligar-me, tão honrosamente, à história de uma das mais notáveis figuras da educação baiana e brasileira.

Na verdade, o Anísio Teixeira da minha vivência pessoal está gravado na memória da tradição oral. Foram entrevistas e encontros ocasionais ou formais, proporcionado pela condição de jornalista, durante quarenta anos, no centenário "Diário de Notícias"; concomitantemente, a essa atividade, também no exercício da Superintendência de Difusão Cultural, na gestão do governador Antonio Balbino, ou de Superintendente de Ensino Elementar, e, depois da própria Secretária de Educação, no segundo governo Juracy Magalhães; ou na condição de bolsista dos Seminários ou estágios promovidos pelo INEP, (1957 e 1959) no Brasil e nos Estados Unidos; e finalmente, como Conselheiro Estadual de Educação, nas reuniões Conjuntas do Conselho Federal, tudo isso entre 1947 e 1970. Foram, pois, 23 anos que aprendi a viver, cultivando uma grande admiração por Anísio Teixeira, o que não era difícil.

Parafraseando Pericles Madureira de Pinho, ao retornar do seu enterramento naqueles idos de março de 1971, difícil, mesmo, seria "tentar aprender a viver, sem Anísio "!

Para mim, por isso mesmo, é um grande desafio recordá-lo, numa das facetas mais notáveis de sua obra de "estadista educacional", como o definiu, tão aguçadamente, um dos seus mais autorizados biógrafos, o Profº Hermes Lima, seu companheiro, desde a juventude baiana, até os últimos dias de suas vidas.

É que Anísio tinha um dom especial para descobrir, identificar e, melhor dito, emular vocações para a tarefa da cultura, da ciência e da educação. Ele tinha o poder de antever o desdobramento dos fatos educacionais e, por isso, sabia reunir, em torno de si, equipes, como poucos administradores fizeram, nas mesmas condições.

A REVELAÇÃO DE 1925

Sua participação, na administração educacional na Bahia, ficou marcada pela antecipação, ou tentativa, do uso das técnicas de Recursos Humanos, fugindo ao corriqueiro das "influências políticas".

Assim, como a sua escolha, em 1925, para Inspetor Geral de Ensino, (ele foi o último dos titulares no posto de comando da educação baiana, assim denominado, desde o fim do século passado) se dera, completamente, fora das expectativas da época, sua equipe, também, teria de refletir esse traço de novidade, sobretudo pelo "espírito de corpo" que se implantaria naquele setor, permitindo que sua orientação se mantivesse integral, mesmo quando afastado do país, por períodos considerados longos, para a rotina administrativa.

Jayme Junqueira Ayres, que anos depois viria a ser Presidente da Assembléia e Governador Substituto de Otávio Mangabeira, era o seu diretor da seção de ensino primário. O ensino normal estava a cargo do titular nato (diretor da Escola Normal) a figura respeitável e respeitosa de Alfredo Magalhães, uma vocação científica consagrada. Para ensino secundário, Anísio antevia, na problemática e efervescente sucessão de diretores do Ginásio da Bahia, uma vocação que despontava: o Dr. Tosta Filho. Foi o último da equipe, pois, somente em setembro de 1925, com a renúncia do cônego Cristiano Muller, fôra possível o acesso de Tosta Filho à diretoria do Ginásio da Bahia, que era cumulativa com a diretoria de ensino secundário. Foi uma vocação que se revelou na administração. Era a juventude e o tirocínio de sua formação anglo-saxônica que se injetavam no velho Ginásio... Outra revelação, seria mais surpreendente e, também, "fora da expectativa da época", o chefe do ensino profissional, que Anísio queria introduzir no seu plano de educação. O homem certo ele o teria graças à apresentação, que lhe fizera seu irmão Oscar Teixeira, de um colega engenheiro de São Paulo especializado nos Estados Unidos, que passava pela Bahia, com destino a Sergipe, afim de assumir a diretoria de uma Escola Técnica. Era Arquimedes Guimarães. E a estreiteza provinciana teve de absorver, com resmungos essa "descoberta" do jovem Diretor Geral de Instrução, que seria tão acertada, quanto comprovada pelos fatos e pelo tempo. Viria a ser o substituto de Anísio, quando teve de se afastar, por duas vezes, para estágio e mestrado na Columbia University, de Nova York, tendo sido em 1929, seu sucessor no posto, ficando, inclusive, até o início da interventoria de Juracy Magalhães, naquela diretoria. A Arquimedes Guimarães coube, em verdade, a tarefa de baixar e operacionalizar os regulamentos da reforma de 1925, viabilizando, em práticas administrativas, as idéias de Anísio, revelando-se, assim, uma grande vocação de administrador educacional. Depois, continuaria projetando-se na direção da Escola Agronômica da Bahia, transferida de São Bento das Lages, para Mont Serrat, de 1934 a 1938. Dirigiu a Escola Politécnica da Bahia, de 1940 a 1943 e na segunda gestão de Anísio Teixeira, integraria o organismo de desenvolvimento da Ciência, por ele instituídos, na Bahia.

Outra figura que se projetaria, no ensino profissional, seria a do chefe da Seção de Contabilidade e Estatística e responsável pela ajuda aos Municípios, Joaquim Farias Gois. Anos depois Farias Gois, com seu irmão José, integrariam, já na condição de técnico nacional, a equipe de Anísio Teixeira, no Rio de Janeiro e do D.F. Seria seu companheiro "baiano", ao lado de Edgar Santos e Antonio Balbino, no primeiro Conselho Federal de Educação, reorganizado pela Lei de Diretrizes de 1961 e nomeado pelo Presidente João Goulart.

Daquele período, vale recordar o tino seletivo de Anísio Teixeira, quando teve de escolher dois nomes para duas tarefas isoladas e importantes da reforma de 25, que era a implantação das duas Escolas Normais Regionais, em Feira e Caetité. Dois jovens da época, que trabalhavam na Diretoria Geral foram escolhidos: Artur Mendes de Aguiar, para Feira e Edgar Pitangueiras, para Caetité. Ambos eram professores formados pela Escola Normal da Bahia. O segundo, Edgar Pitangueiras, de quem fui chefiado na Redação do "Diário de Notícias" e companheiro de velhas lides na Associação Baiana de Imprensa, foi designado por Anísio Teixeira ao estilo de "uma mensagem a Garcia". Tanto ele, como o Profº Mendes de Aguiar, segundo testemunhas da época estivera a altura da missão recebida.

O IDEALIZADOR DA ESCOLA PARQUE

Passando por cima de seu período na administração educacional do Distrito Federal, foi Secretário de Educação de Pedro Ernesto, quando reuniu, em torno de si, figuras de renome nacional, como Lourenço Filho, Juracy Silveira e outros tantos, recordemos Anísio, na segunda passagem pela direção da educação baiana, como Secretário de Educação de Otávio Mangabeira.

Anísio Teixeira, novamente, surpreenderia pela seleção de sua equipe, agora, mais ampla e complexa, num momento dos mais dinâmico de nossa vida pública, quando se propunha uma reforma muito mais profunda do que se realizara em 1925.

Dessa vez, o ambiente provinciano, ainda que mais aberto às idéias inovadoras e às peculiaridades geniais de Anísio, nem por isso deixaria de surpreender-se com a metodologia do mestre, que se cristalizaria, muito menos pela seleção de sua equipe, do que pela introdução de práticas mais formais, como a exigência de curriculum vitae, de entrevista e outras informações cadastrais prévias. Isso contrariava, as práticas do "fisiologismo político-partidário", reinstituído por força da própria redemocratização do País, no governo constitucional de Otávio Mangabeira, que pôs fim ao longo período do Estado Novo. É que Anísio condicionou e obteve, carta branca do eminente Governador da Bahia, para assumir aquele posto.

Dois elementos, já vocacionados, eram inatos em sua equipe: sua irmã, a Profª Carmem Teixeira, na assessoria principal de seu Gabinete e a Profª Anfrisia Santiago, na Diretoria do Departamento de Educação, depois substituída pelo jovem bacharel Milton Tavares. Mas, como a Reforma, autorizada no Capítulo de Educação da nova Constituição baiana, dependeria da Lei Orgânica, que criava o Departamento autônomo de Educação e Cultura, com um Conselho gestor e supervisor do sistema, (e esta Lei ficara entravada na Assembléia Legislativa), as atividades e funções da Secretaria tiveram de ser operacionalizadas, através de Superintendências. Para ocupá-Ias, ele escolheria, sem indicações partidárias, sem preocupação ideológica, contrariando os "patrulhamentos", tanto de direita quanto de esquerda, pessoas que, o seu tino seletivo havia identificado, adequadas àquele momento de transição. Assim, Anísio reuniu uma equipe em que se contavam nomes como Tobias Neto, Milton Tavares, Jayme de Abreu, Adroaldo Ribeiro Costa, Vilgiidásio Sena, Tales de Azevedo, Denise Tavares, José Valadares, Diogenes Rebouças, Hildérico Pinheiro, Fernando Santana, Wilde Lima, ou nomes aproveitados dos quadros da Secretaria ou do ginásio da Bahia e da Escola Normal, como Amália Lacerda, Alvaro Moreira, Demostenes Pinto de Carvalho, Armando Costa, para ficar com alguns, apenas, que são recordados, sem desmerecimento dos que tenham sido omitidos.

Para implantar o CENTRO EDUCACIONAL CARNEIRO RIBEIRO, com sua Escola Parque e Escolas Classes, a escolha natural estaria em sua colaboradora mais imediata, sua irmã e inspiradora, segundo ele próprio me afirmou certa feita; sua parceria na idealização e concretização daquele arrojado projeto: Profª Carmem Spínola Teixeira. Graças a ela e à plêiade de professoras recrutadas, aperfeiçoadas e preparadas sob sua supervisão, para o Parque e para as Escolas Classe, foi possível, mesmo sem a presença de Anísio na Secretaria de Educação, transformar o Centro educacional num modelo de escola, que não somente o Brasil, mas o mundo conheceu e que, depois, viria a inspirar o sistema educacional de Brasília, ao início de sua implantação, como capital da República.

"UNIVERSIDADE DE ENSINO PRIMÁRlO"

Do sentido internacional, tenho dois episódios de depoimentos colhidos, que podem testemunhá-lo. Em 1956, estando em São Paulo, a serviço dos "Diários Associados", mas por motivos particulares fui visitar a família Dr. Otacílio Lopes, figura baiana que lá se destacara na Medicina e nas Letras. Naquela manhã de domingo, ele estava, cercado, entre outras personalidades, dos escritores Cassiano Ricardo e Menotti Del Picchia, renomado poeta de "Juca Mulato", que fazia a "roda" das relações do anfitrião. Como é natural, as apresentações de um jornalista baiano e, mais natural, a inquirição sobre coisas da Bahia. O poeta, salvo engano, perguntou-me : "Como vai, lá na Bahia, aquela escola modelo que o Anísio idealizou e construiu?" Referiu-se ao Centro Educacional Carneiro Ribeiro, com detalhes que eu nem conhecia...

E explicou-se mais ainda: "É que um amigo meu, em Londres, outro dia, perguntou-me como ia o projeto do Anísio e pediu até para mandar-lhe notícias sobre isso"...

O pior é que eu também não sabia muito para informar ao meu interlocutor.

Claro, que fingi estar por dentro, fazendo aquele típico "ran-ran" dos colóquios científicos, que servem para dar tempo ao pensamento. Enrolei, como pude, a conversa...

De volta, tendo ido ocupar a Superintendência de Difusão Cultural do Governador Antonio Balbino, primo carnal do citado Dr. Otacilio Lopes, procurei superar-me do episódio, empenhando-me, pessoalmente, em conhecer tudo sobre a "escola idealizada e construída por Anísio Teixeira".

O segundo fato, foi no Governo Juracy Magalhães, quando aqui chegou um famoso colunista americano de Washington. A primeira coisa que o citado jornalista quis ver foi a "Escola do Dr. Anísio". Como Superintendente, já então, do Ensino Elementar, fui designado pelo Governador para ciceronea-lo. Estávamos em 1961 ou 1962 e após a visita ao Centro Carneiro Ribeiro, em que fomos atendidos por dona Carmem Teixeira e sua equipe, o visitante disse, para o jornal, que o Centro era "uma verdadeira Universidade de Ensino Primário"... Não me recordo o seu nome, mas ele deixou sua identificação no livro visitas da Escola Parque.

Como acentuei, episódios como esse foram as minhas lições, naquela tarefa de aprender a admirar Anísio Teixeira, sobretudo pelo interesse que ele tinha em atender o futuro de nossa educação e de contribuir para preparar gerações para esse futuro.

"O CRIADOR DOS CENTROS DE PESQUISAS"

Se a Bahia podia ser pequena para essa sua grande obra de identificar e emular vocações, para o serviço da educação, quis os desígnios do destino que ele retornasse ao âmbito da administração federal, onde recusara, por duas vezes, convite para ser diretor do Departamento Nacional de Educação, e em que poderia ter sido, até, Ministro, se os ponteiros da vida pública brasileira não fossem tão descompassados e ilógicos. Aceitaria, saído da Secretaria de Mangabeira, colaborar na gestão de Simões Filho, no Ministério da Educação, no segundo Governo Vargas. Foi Secretário Geral da Capes - Comissão de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior - e não demorou ter de acumular essa função com a Diretoria do Instituto Nacional de Ensino Pedagógico - INEP, que vagara por morte de seu titular, Murilo Braga.

Dir-se-ia que ele encontrou aí o seu mais adequado "habitat", para exercer sua arte de identificar e de estimular valores para a educação e a ciência. Foi aí, realmente, que essa faceta marcante de sua personalidade passou a assumir dimensões nacionais. Uma comissão, de certo modo autônoma, que lhe coube implantar e um órgão da administração indireta do Governo, a CAPES e o INEP, seriam a pedra de toque que faltava, para reacender-lhe a chama de sua fulgurante atuação e de seu imensurável dinamismo criativo.

Com ele, os dois órgãos tiveram o fermento intelectual, que a conjuntura brasileira estava a exigir. As atividades rotineiras, que advinham de alguns cursos de especialização, que o INEP mantinha, para a assistência aos Estados, sob a direção de Anísio cresceram em profundidade e em variedade de serviços, em muitos casos, implicando intermediação da cooperação de organismos internacionais, como a UNESCO, de que Anísio fora integrante até 1946, ou estrangeiros, como USAID ou Instituto de Cooperação Americana - ICA.

Destaque-se, por exemplo o convênio do PABAE, em Belo Horizonte, junto ao Instituto de Educação, para aperfeiçoamento de professores primários, em desenvolvimento de métodos, de currículos e de supervisão escolar.

Cite-se, a notável iniciativa da criação do Centro de Pesquisas Educacionais, em 1955, que se desdobrava numa rede de Centros Regionais. Em cada um deles Anísio colocara figuras eminentes da Educação, que recrutavam equipes e detectavam vocações, para os estudos de educação. Na Bahia, ele próprio estaria presente na figura de seus íntimos colaboradores, Luis Ribeiro Sena e Carmem Spínola Teixeira. O CRPE/Ba tinha seu forte, sobretudo, na Escola de Aplicação, em que se transformaria o Centro Carneiro Ribeiro, com sua Escola Parque. Querem identificar a mais ilustre vocação ali despertada? É o nosso querido historiador Luis Henrique Dias Tavares, hoje de renome internacional.

Em São Paulo, com Fernando de Azevedo, à frente, seriam aglutinados nomes como Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso e outros tantos.

O comando de Minas era do ex-ministro Abgard Renault, reunindo figuras como Mário Casa Santa. O do Recife, entregue a Roberto Freire faria despontar, entre outros talentos a figura saudosa de J. Maciel. No Rio Grande do Sul, dirigiu o Centro, o professor Enock Ribeiro Kunz.

Os Centros eram as antenas captôras, que identificavam regionalmente problemas e vocações e cumpriam missões de pesquisas e aperfeiçoamento, realizando seminários e cursos, com vistas a preparação de recursos humanos, para a educação.

Ninguém melhor do que ele sabia o que representava uma política ampla e corajosa de preparação de recursos humanos, para as tarefas educacionais. As dificuldades enfrentadas na Secretaria de Educação da Bahia, por duas vezes e na do Distrito Federal, uma vez, deram-lhe a dimensão exata desse problema e, de tal maneira, o marcaram que, certa feita, definiu a administração escolar como a "arte de acumular e enfrentar frustrações". Por isso, era sempre com entusiasmo e intenso interesse pessoal, que discutia os aspectos e implicações da política nacional e regional de Recursos Humanos. No planejamento ou programação dessa tarefa, ele tinha um envolvimento muito agradável ao seu espírito realizador, porque lhe permitia avançar no tempo, buscando antecipar soluções para os problemas educacionais.

EMULADOR DE VOCAÇÕES

Daí, sua grande vocação de emular vocações ou estimular projetos educacionais, reunindo equipes ou liderando grupos de mudanças e inovações.

Jorge Amado registrou, certa feita e com precisão, essa faceta peculiar do grande educador: "Ninguém, como ele, tão capaz de confiar e acreditar nos demais, de ver e revelar as qualidades de cada um e de valorizá-los, de conseguir estabelecer a confiança e descobrir valores".

A Profª Juracy Silveira, que foi colaboradora de Anísio Teixeira na antiga Secretaria de Educação do Distrito Federal, destacou, justamente, nele, o "dom privilegiado de saber congregar em sua obra educacional, grandes colaboradores, em cujo rol se encontram nomes como Lourenço Filho, Carneiro Leão, Carlos Verneck, Celso Kelly, Gustavo Lessa, Mário de Britto, Gilberto Freire, Venancio Filho, Edgard Sussekind, para citar alguns. Na sua relação se incluem baianos como Afrânio Peixoto, Artur Ramos, Joaquim Farias Gois, Pedro Calmon e Hermes Lima".

Nas gerações atuais, passados quase vinte anos de sua morte, raro é o Estado em que não se apontam antigos colaboradores ou antigos bolsistas da chamada Era Anísio, da educação brasileira.

O talentoso ex-Ministro da Educação, primeiro Reitor da Universidade de Brasília, depois Secretário do Rio de Janeiro, consagrado antropólogo Darcy Ribeiro é o exemplo mais brilhante. Ele foi um dos ilustres talentos, selecionados por Anísio, para o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, do Rio, em que se destacou e de onde saiu para a Comissão que idealizou e implantou a Universidade de Brasília.

Certa feita, ofertando-me uma plaqueta sobre a UNB, que então se organizava, Anísio apontou para uma foto dizendo "este aqui é o Darcy". Seu entusiasmo, seu carinho, sua alegria, mais pareciam de um pai coruja, apontando um filho que fazia sucesso...

Tive a honra de ser bolsista do INEP/CBPE-Rio, em 1957, para um Seminário de Professores de Escolas Normais dos Estados, seleção que, na Bahia, obviamente teria tido, senão direta, pelo menos insinuação indireta do grande mestre.

No casarão da Rua Voluntários da Pátria, que trabalhavam entre outros, Jayme Gama Abreu, Darcy Ribeiro, Ayrton Silva, Luis Mattos, J. Roberto Moreira, Aparecida Joly, comparecendo em dias de reunião, Pericles Madureira, Farias Goes e o próprio Anísio.

NA "ESCOLA" DE ANÍSIO

Nesse período freqüentei, assiduamente, a "escola" de Anísio, porque nos quatro meses de estágio, senão semanalmente, pelo menos duas vezes por mês eu o procurava.

Foi num desses encontros, que tivemos um curioso diálogo em que ele tentava convencer-me a deixar a sala de aula do Instituto Normal, para engajar-me na pesquisa educacional. Por sugestão, de Jayme de Abreu, queria que eu fosse passar um ano nos Estados Unidos e me acenou, como preparatório, um curso que o CBPE daria, em 1958, no Rio. Fiz-lhe ver que era um "provinciano" que não gostava de ficar "fora de casa" muito tempo e só aceitei aquele estágio, porque fôra de quatro meses. Pessoalmente, achava, que para o sistema de ensino e para o professor o período ideal de cursos e estágios seria tal que lhe permitisse, ainda no mesmo ano, retornar e aplicar a experiência adquirida.

Ele voltou à carga: "Vamos realizar, em São Paulo, um curso de educacionistas para a América Latina, em colaboração com a UNESCO, que é uma boa oportunidade para você ...".

- Quanto tempo?, indaguei. "Um ano" - respondeu.

Como, novamente tivesse insistido no meu "provincianismo" baiano, ouvi dele, entre meio decepcionado e quase irritado:

- "Olha Matta, vivo sob o assédio permanente de professores e pessoas pedindo e querendo ficar aqui, e sair da Bahia para bolsas e cursos os mais diversos, e você acha e recusa... Não entendo".

No dia seguinte, Jayme de Abreu revelou-me que eu havia decepcionado o "mestre", mas insistia que ao voltar para a Bahia, me engajasse em pesquisa dando continuidade ao esboço preliminar tentado no Ginásio da Bahia, com o apoio de Batista Neves e Renato Sampaio, quando submeti aos testes de Haven, todos candidatos ao "exame de admissão".

Um ano depois, com surpresa recebi, em minha casa nos Barris a visita, também inesperada do Dr. Luiz Ribeiro Sena, que mostrou um telegrama de Anísio, para que me consultasse se aceitava um estágio nos Estados Unidos. Era uma proposta dentro do tempo "provinciano". Além do meu nome, havia também o do Profº Luis Henrique Dias Tavares, que a burrice policialesca da diplomacia americana, não liberou para viajar...

Recordo Anísio, no Rio, naquela antevéspera de viagem, tenso, em reunião com o grupo de professores que iria embarcar, numa dependência da USAID. Aflito e orgulhoso, dizia : "o Dr. Luiz Henrique vai viajar, amanhã ou depois, para um país civilizado da Europa"... E seguiu para fazer estágio na França, dois dias após nossa partida para os Estados Unidos.

Em que pese tudo isso, o Dr. Anísio chamou-me em seu gabinete, antes de viajar e mostrando um livro sobre a mesa, recomendou-me: - "Lá nos Estados Unidos, você deve ler bem esse trabalho, do Profº Connant, pois será decisivo para que você entenda bem o problema da "Comprehensive High School".

Então, eu lhe perguntei: "O Sr. disse que Luis Henrique, vai para um país civilizado. Os Estados Unidos não o são?!... " E ele respondeu: "Não! Eles tem muito progresso. Mas progresso não significa civilização, no sentido exato da palavra".

Nosso grupo foi mandado observar os sistemas de ensino no Midle West americano, sob a influência das Universidades da área, bem assim a formação de professores nos Estados de Michigan (Michigan University e Michigan State, de Ann Arbor e Lansing); do llinois, Campus de Chicago; do Wisconsin, campus de Milwaukee; Universidades de Indiana (campus de Ball State); de Nova York, campus de Albany, campus da Columbia, em Nova York, e o sistema de New Jersey, campus de Trenton.

Do pequeno grupo que Anísio Teixeira mandou, em 1959 para os Estados Unidos, quase todos foram aproveitados ou terminaram em altos postos da educação federal ou dos Estados: Grimaldi Ribeiro, do Rio Grande do Norte, foi Secretário e Deputado Federal, Walnir Chagas e Newton Sucupira, integraram o primeiro Conselho Federal, e lá ficaram por doze anos, sendo que o Sucupira ocupou a Diretoria de Ensino Superior do MEC e Walnir acomodou-se na Universidade de Brasília. Ayrton Silva, projetou-se no grupo de desenvolvimento do Ensino das Ciências, para o ensino médio, depois no PREMEN.

Outros como Alberto Venâncio Filho, cujo pai, antes citado, fôra companheiro e colaborador de Anísio na Universidade do antigo Distrito Federal, buscavam motivações mais distantes, mas, confirmadamente, plenos de êxito, para justificar o tino seletivo de Anísio.

De volta, no Rio, tive um novo contato com o Dr. Anísio no INEP. Aí, ele revelou suas esperanças de que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional teria de ser votada, mais cedo ou, mais tarde pelo Congresso. Com ela dar-se-ia a descentralização da educação brasileira. Daí, sua preocupação em propiciar, aos Estados, o preparo de pessoal tanto a nível de administração, como de escolas, e, também, da própria vida comunitária, para fazer funcionar os sistemas regionais e locais. Voltou a insistir no Curso de Especialista em Educação, que se planejava, pois preocupava-se em acabar com os "técnicos em Educação", pela denominação pretensiosa. Para ele técnico de educação seria, por definição, um suprasumo da Educação! ... Daí, a denominação menos pretensiosa de educacionistas, que ele achava ser possível preparar-se, nessa vida terrena! ... Prometi-lhe que, se o curso de São Paulo continuasse, aceitaria, futuramente, quando deixasse a Superintendência de Ensino Elementar, que então ocupava.

E em fins de 1961, realmente, cheguei a inscrever-me para o curso de Especialista, tendo de desistir, porque o Secretário Wilson Lins achava que, "naquele ano eleitoral", ao início de 1962, eu não deveria afastar-me da Bahia. Era a insinuação, que se confirmaria em julho, de que o Governador Juracy Magalhães iria aproveitar-me para substituir o titular da pasta, candidato a reeleição de Deputado.

REMINISCÊNCIAS DE UM REPÓRTER

Eis aí justificado, o título desta palestra, que insinuou muito mais do que eu me propusera fazer, que era, apenas, um depoimento pessoal, na satisfação de meu próprio ego, de como os meus contatos com Anísio, na qualidade de jornalista, de titular de cargos de direção superior, na Secretaria de Educação e de professor, em busca de especialização e aperfeiçoamento, foram decisivas inspirações.

Quando ele retornou à Bahia, com Mangabeira, em 1947, para promover a reforma do Departamento e Conselho autônomos da Educação, eu estava concluindo o bacharelado da Faculdade de Filosofia.

Mas, por emprego, na comum acumulação de todo jornalista da época, como Redator de Debates, da nova Assembléia Constituinte e, depois, da Assembléia Legislativa, em que a mesma se transformaria, eu tinha horizontes mais amplos.

Aí, surge o Anísio Teixeira presente nos trabalhos realizados diuturnamente, nos resumo dos debates constituintes e legislativos ordinários. A polêmica do Capítulo da Educação, da Constituição, foi um verdadeiro mestrado que cumpri, paralelamente, ao Curso de Filosofia. A primeira posição colocava-me contra as idéias de Anísio, que, muitos diziam, ser contrário aos cursos de Filosofia e seus diplomados.

Mas, o apoio cerrado e, quase fanático, de Odorico Tavares, a Anísio Teixeira, reverteria minha posição.

Recomendara-me, o diretor do jornal, toda atenção aos debates do Capítulo de Educação na Constituição e, depois na Lei Orgânica; especialmente, para a atuação de José Mariani, cuja rapidez do fluxo verbal, em discurso, na Tribuna Legislativa, era um desafio até para os mais hábeis taquígrafos da Casa...

Maior, ainda, para os redatores dos debates, que eram responsáveis pelos resumos do dia a dia, para o "Diário Oficial"; que tinham de fazê-los e mandar para a publicação, sem revisão dos autores. Vez por outra, coube-me a tarefa de entrevistar o Dr. Anísio ou os "intelectuais", que o apoiavam dentro ou fora das lides legislativas, por força de ser, também, correspondente da "Agência Meridional". No mais das vezes, tinha a companhia do próprio Odorico Tavares, que se tornou grande antigo e admirador do "apolítico" Secretário de Educação. Como jornalista, recordo-me dois episódios que bem revelam o bom humor com que o Dr. Anísio enfrentava os problemas da política.

Estava o governador em excursão pelo nordeste do estado e coube-me ser carona no carro de Nestor Duarte, Secretário da Agricultura, que, por sua vez, se fizera acompanhar do titular da Educação, numa visita aos serviços de sua pasta, em

Discursando, em Bonfim, Dr. Otávio Mangabeira referia-se a Anísio como o "Governador da Educação". No outro dia, pela manhã, Anísio acompanhara o Dr. Nestor Duarte, para uma visita à Estação Experimental, que o Governo mantinha na área, dedicada a caprinos e equinos. Retornando da fazenda modelo, foi encontrar-se com Mangabeira e comitiva, em Charrapichel, para inaugurar ou inspecionar obras ou uma Escola Rural. Ao chegar, saudando o Governador, alegremente, disse: - "Dr. Otávio, o "Governador da Educação" queria poder ter escolas tão boas, quanto as baias dos cavalos do "Governador da Agricultura"...

Outro episódio do mesmo bom humor, mas com irônico sentido político, presenciei em Ilhéus, quando da primeira visita do Dr. Otávio Mangabeira, como Governador, ao sul do Estado. Estávamos na residência do prefeito Artur Leite, para o jantar e chegava retardado o Secretário de Polícia, Oliveira Brito, dando relato da greve dos canavieiros, em Santo Amaro, coisa que foi considerada muito grave, pelo Dr. Vanderlei Pinho, pois houvera confronto com a Polícia, tendo saído feridos alguns operários. "Isso é coisa de comunista!", alguém lembrou. Aí, Anísio retruca: "Ora, Dr. Otávio, há alguns anos atrás, isso não passaria de um entrevero tipicamente local, entre os donos de engenhos, colegas do Dr. Vanderlei e alguns malcriados cortadores de cana... E ainda, o Prestes nem tinha comandado a sua coluna..." Foi uma risada geral, que aliviou a tensão do relato do Chefe de Polícia, ali presente... Em 1967, Anísio Teixeira vem a Salvador para participar da Reunião Conjunta de Secretários de Educação e Conselho Federal, que aqui se reuniu, na Reitoria da Universidade Federal, ao Canela. Encontrei-o no "hall" do Hotel da Bahia. Ele queria saber das novidades da terra, pois sempre me considerara um jornalista bem informado. Como sempre, ele que se dissera atrasado para a reunião, em que antevia a necessidade de uma recomendação sugerindo reforma na LDB, (Sucupira, ele informou, era contra). Esqueceu-se do tempo em revivescências baianas... Foi aí que lhe lembrei a reunião e lhe ofereci carona para a Reitoria.

Então, ele me disse: "O triste, Matta, é que tudo isso é um repetir-se anualmente! Vivemos, neste país, em matéria de educação, a filosofia e a prática do recomeço"...

Outra confissão, que me fez, com ironia e amargor, foi sobre o Centro Educacional Carneiro Ribeiro. Admirava-se de não o terem fechado. (Referia-se ao "sistema" militar dominante). Segurou-me, pelo braço, subindo a rampa de acesso à Reitoria, e disse: - "Sabe porque não acabaram com ele? Não foi pelo que ele possa representar, como idéia e instituição! Só o mantiveram porque não tinham ou não sabiam o que fazer com os seus funcionários!..."

"E funcionário é mais importante do que a própria instituição... " Concluiu.

O Anísio que eu conheci bem, que admirei e admiro foi este, dos momentos coloquiais mais honrosos e importantes de minha vida!

A IDÉIA DO CENTRO EDGAR SANTOS

Ao encerrar este depoimento, quero relatar outro episódio importante para quem fizer história da educação na Bahia. Em 1962, numa das viagens a Brasília, como Secretário de Educação, encontrei o Dr. Anísio numa das dependências do Ministério. Chamando-me para o lado, enquanto aguardava uma reunião, ele me advertiu de que estávamos prestes a perder a última área verde do centro urbano de Salvador, que era um terreno, ao Garcia, visado, desde os tempos de sua gestão, de Secretário, como um dos prováveis locais para a construção de um outro Centro, como o Carneiro Ribeiro. E dele partiu a sugestão de o Governador Juracy Magalhães anular duas desapropriações parciais, feitas pela Secretaria da Saúde e pela própria Secretaria de Educação, para utilizar toda a área num Centro Educacional. Fiz-lhe ver que o Estado não tinha dinheiro, para pagar a desapropriação e que o Governo Federal não permitia que se pagasse com os recursos repassados do Fundo Nacional de Educação.

Daí, surgiu a idéia que seria a de conseguir o Governo do Estado, que participava, com recursos seus, da Comissão de Recuperação da Rede Escolar da Bahia - CEREB, em convênio com o INEP/MEC, a desapropriação do terreno, vinculando o pagamento a esses recursos obtidos pela CEREB, que, por sua vez, em ata, aprovaria a aplicação.

Governador Juracy Magalhães aceitou a idéia e determinou que entrasse em entendimento com a família Catarino, proprietária do terreno, pelo qual pediam 30 milhões de cruzeiros, em valores de 1962. Como a CEREB, dispunha do saldo de 18 milhões e este dinheiro estava livre, podendo ser pago de imediato, numa época de escassez de dinheiro, combinou-se que levaríamos um cheque pronto, para enfrentar o Dr. Luis Catarino, que representava a família, já escaldada, segundo dizia, dos calotes oficiais...

E fizemos a proposta, com o cheque na mesa e a minuta de decreto na mão. Era pegar ou largar... comprou-se o terreno, com a aprovação e co-responsabilidade da CEREB, que era uma comissão em que estavam representados o MEC, o INEP, a SEC e outros organismos. A escritura foi passada, e os últimos 18 mil metros de área verde, do centro da cidade custaram 18 milhões de cruzeiros. O Governador Juracy Magalhães só exigiu uma coisa para desapropriar, que o decreto vinculasse o nome do falecido Reitor Edgar Santos, a quem a Bahia tanto devia, como patrono do novo Centro.

Assim, deixou o Governo Juracy Magalhães, pago, de escritura passada e com verbas, também, vinculadas nos planos do MEC, o terreno para o Centro Educacional Edgar Santos, que seria o segundo, nos moldes do Centro Educacional Carneiro Ribeiro, projetado pelo grande Anísio Teixeira. Esta é a história da origem e da criação daquele Centro Educacional do Garcia, que começou a ser construído em 1963, no Governo Lomanto Júnior. Idéia de Anísio, através de seu modesto admirador; homenagem de Juracy Magalhães, ao grande benemérito Reitor Edgar Santos. Só não vingou, a idéia de Anísio, na destinação final. Quero terminar, agradecendo à Profª Eliane Azevedo, presidente da Fundação Anísio Teixeira pela oportunidade que me deu de participar da História do Centenário de Anísio Teixeira que se completará no ano 2.000. Esta Fundação saberá manter acesa a pira do culto à sua memória, que será a memória do século. Educador do Século, ele próprio definiu-se, afirmando : "Tenho a idade deste século... Como o século é o de mudança e velocidade, passaram pelos meus olhos transformações que, no passado, exigiriam muitos séculos... "

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