TEIXEIRA, José Antonio. O educador Anísio Teixeira: de John Dewey a Darcy Ribeiro. In: I Congresso Latino de Filosofia da Educação, Rio de Janeiro, 10-12 jul. 2000. Rio de Janeiro, ABE, 2000. p.265-285.

O Educador Anísio Teixeira: de John Dewey a Darcy Ribeiro

José Antonio Teixeira

Silenciam os filósofos... e de novo o perigo nos ronda. Nada mais conspirador que o silêncio de quem cultiva o saber filosófico. É o tempo da profílica hibernação reflexiva. É o tempo da inspiração que constrói uma nova matriz para a busca. É, enfim, o tempo onde o pensamento, está prenhe de um novo objeto da phýsis e da lógos para alimentar o embrião do próximo embate.

A essência de um sentido filosófico estruturado, denso e epistemologicamente consistente no mundo da educação, está na capacidade simultânea de visão, revisão e ante-visão que o educador precisa deixar fluir no seu diuturno exercício.

Silenciam os filósofos. Uma outra revolução começa. É a próxima. Mais profunda e mais severa ainda que está lançada: - não duvidem, são mais perigosos quando ouvem. Porque é do lógos que se alimentam para destruir o sofista, para embasar o dialético ou para exercitar a eidética sobre o constativo. Para, enfim, fertilizar a philía mesmo por caminhos transversos.

A apotídica de que não se faz educação sem filosofia, não é mais propriedade só dos filósofos. É agora um requisito basal para a educação contemporânea. A freqüência a este I Congresso Latino de Filosofia da Educação, atesta que hoje, mais do que sempre, a Filosofia é instrumental indispensável ao professor em geral e ao educador em especial. São eles usuários primazes, sem o que, não se pode validar daqui para adiante qualquer projeto pedagógico. Em escola alguma. Em qualquer nível. Em lugar nenhum desse país.

A nossa velha e boa A.B.E., a Associação Brasileira de Educação - e adiante dela - a infante Academia Internacional de Educação, me incubem, na qualidade de abeano e acadêmico, de trazer nesse 12 de julho em nome dos Organizadores, a mensagem de Tributo à Anísio Teixeira, que há exatos 100 anos, nascia para a História.

Honrada e atrevidamente aceitei. Mesmo sabendo que os filósofos aqui estariam, agora auscultando e iluminando este plenário. Mas também sabia, que nós outros, educadores e usuários da Filosofia, temos há muito todos os motivos fundamentais para ingressarmos pelo átrio central neste virtuoso campo que alimenta, inebria e fertiliza a existência do ser.

Ao receber imerecida eleiqlo para a cadeira de Carlos Drummond de Andrade na Academia Internacional de Educação, e lá se vão quase dez anos, me impus buscar na poesia do apaixonante patrono, a inspiração definitiva à qualquer alocução seletiva. Como a que hoje se apresenta.

"...descuidados de teu e meu querer,
outra vez reflorindo, esvoaçaram
em orvalhada luz de amanhecer.
Ó bendito passado que era atroz,
E gozozo hojr terno se apresenta
Faz vibrar de novo a minha voz."

É à vibrante e sempre nova viva voz de um Anísio Teixeira presente, que se busca neste encontro celebrar. Sem mais um discurso de exaltação, pois que a tantos que se profere por Brasil afora nesse ano, em nenhum ou em nem todos, a exaltação será completa. Que se dê um repouso à historiografia, à formulação política e à leitura biográfica.

Trabalhos extremamente competentes, como os apresentados na Revista Educação número 101 da ABE - lançada nesse Congresso - ao lado de expressivas e atuais teses acadêmicas de Mestrado e Doutorado, conseguem, sempre sob ângulos inéditos, exponencializar uma face, urn plano, uma ação, obra ou doutrina do mais expressivo educador brasileiro.

A proposição é singela: ancorar nosso pensamento na presença do Anísio Teixeira educador. Com os lastros de seu mestre em Colúmbia e com os entalhes de seu discípulo na terra tupiniquim. Porém, é preliminar desideologizar nossas referências por breve tempo, para, estudo concluso, realocar o epíteto ideológico pertinente, a juízo de cada um de nós.

Em exortação ao pleito, consideremos dois momentos da expressão do pensamento de Anísio. O primeiro invoca diante da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, em julho de 1952, por conta dos debates em torno do projeto da Lei de Diretrizes e Bases remetido pelo executivo quatro anos antes:

... [há, o] maior fundamento na necessidade de íntima cooperação entre a comunidade e a escola. Se alguma instituição não pode ser implantada, em uma comunidade, de fora para dentro, é a escola. Ela deve nascer, sempre que possível, da própria comunidade." e prossegue, mais adiante: "Não sou contra a expansão educacional honesta... por exemplo... do Rio Grande do Sul, que há pouco citei, o qual criou... 375 escolas primárias... Penso nessas Escolas de Filosofia criadas em sobrados, com duas ou três salas de aula...

O outro tempo, se destaca numa carta à Fernando de Azevedo em março de 1958, quando exercia a direção do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, no Rio de Janeiro. Anísio chama Azevedo para compartilhar a luta pelo financiamento para bolsistas em outros países e argumenta:

... não vejo como se formar o professor para a reconstrução educacional... senão enviando-o ao exterior... Os Centros terão muito a crescer. Para crescer precisam de muito dinheiro. Mas não poderei obter o dinheiro, se não tiver quem faça o serviço... Cada um dos professores que vão à América hoje custa... cinco mil dólares... e a nós apenas a passagem. Pelo preço da passagem, estamos preparando um membro para nosso futuro staff.. A educação é [uma] cousa terrivelmente cara...

Expressões de verbo, como a primeira, produziram um crescente sentimento de temor aos atos de Anísio Teixeira, por setores da educação privada ainda atrelados aos dinheiros do Estado. No apogeu daquele embate, o chamado "Memorial dos Bispos" encimado por D. Vicente Scherer em março de 1958, pede a cabeça de Anísio, iconizado como comunista ou legítimo representante das esquerdas. Por fundamentos que certamente deixariam Marx ou mesmo Nietzsche com as faces enrubescidas.

Porém, uma leitura ideológica isolada de muitos outros trabalhos de Anísio, como a socorro se tem no segundo texto, trariam certamente, nesses dias de ideologia enevoada que vivemos, expressões, que pelo menos o classificariam depensador neoliberal ou mesmo, como está na moda, serviçal da globalização. Sandices que, sem dúvidas, fariam Keynes perder sua britânica fleugma.

Tarso Bonilha Mazzoti, um dos Conferencistas nesse Congresso, encetou recentemente na chamada "comunidade virtual filosofia" uma rica polêmica, após se referir à página sobre Anísio Teixeira na Internet. Reporta-se ao valioso texto sobre a "escola única", que julga poderia ter iluminado as discussões sobre o assunto alguns anos atrás. Argumenta:

... a posição do Anísio é a mesma da de Marx sobre o mesmo assunto! Marx era urn liberal europeu? (no sentido de diferenciar dos norte-americanos). Basta ler as críticas de Marx aos Programa de Erfurt e Gotta para ver que ele defendia a escola dual: uma para as classes trabalhadoras (no plural mesmo) e outra para as aristocráticas e burguesas.

Anísio Teixeira se ocupava com a Educação. E não há educação sem a participação ampla da Sociedade sinalizando para a afirmação de um Estado democrático de direito. A função pública da educação transcende o interesse privado. É o bem social que a democracia, e só o sistema democrático pode instrumentalizar, gerir e provocar. Anísio, com sua luminar capacidade de "ante-ver", jamais se deixou guiar por dogmas ou paradigmas dialéticos. Era um educador exercendo com plenitude um serviqo à Sociedade. Além do seu tempo.

John Dewey, nascido em 1859, também foi um homem que viveu além de seu tempo. Nasceu, cresceu, cursou o ensino básico e superior na cidade americana de Burlington. Após o doutorado em Baltimore, ingressou no magistério superior em Michigan. Lecionou na Universidade de Chicago, onde criou sua escola primária experimental. Mais adiante a escola é levada para a Universidade de Colúmbia, em Nova lorque. Lá, no Teacher's College, trabalhou de 1905 a 1930.

Dewey buscou no mundo o conhecimento do mundo. E no desenvolvimento da filosofia do pragmatismo e suas vertentes na educação, viajou longamente pela América do Norte, Europa e Ásia. Por longos períodos visitou especialmente México, Japão, Rússia, Turquia, Itália e Inglaterra. E recebeu em Colúmbia alunos de todo mundo. Em particular, um brasileiro nascido no sertão baiano, chamado Anísio Teixeira.

Leonardo Van Acker se reporta a John Dewey e a Anísio Teixeira de forma objetiva:

... a influência do evolucionismo de Charles Darwin e o da psicologia biológica de William James levaram-no a elaborar uma filosofia pragmatista [que ganhou] um fervoroso discípulo na pessoa de Anísio Teixeira... urn dos pioneiros da reforma pedagógica nacional [dentro do] espírito do pragmatismo experimentalista e democrático-socialista.

O mesmo autor que chama textualmente Dewey de "locutor de grande efeito soponífero...", também lembra que o filósofo "...foi escritor de extrema fecundidade". No apogeu de sua produção intelectual, entre 1900 e 1940, escreveu em média 1 livro por ano. Sem computador. Sem Internet. Sem Windows ou Microsoft. Talvez, exatamente por isso mesmo o objeto de ação ou a práxis, gera, do grego pragma, denominação do pragmatismo.

O professor Larry Hickman, que nos brindou com sua presença ao longo de todo Congresso e também, hoje, com sua conferência, faz, na introdução do magnífico e premiado "Reading Dewey" organizado por ele, a consideração sobre a transcedência das contribuições de John Dewey às principais áreas do conhecimento humano. Cita, literalmente: "... lógica, ética, filosofia social e política... religião ... arte, metafísica, e filosofia das ciências humanas".

Nos livros "Democracia e Educação" de 1916 e "Como pensamos" de 1933, John Dewey faz a síntese dos paradigmas filosóficos encadeia a amplitude conceitual. O pragmatismo e o experimentalismo associados, provocam a identidade entre natureza do kósmos e a experiência do ser no Plano da relação entre pessoa e sociedade. É o princípio da continuidade. Interagern grupos e classes sociais; a atividade material e espiritual; o moral e o social.

Naquelas obras, Dewey mostra que a verdade da idéia não vai além da sua eficácia cognitiva ou experimental. De certa forma, comprova na verdade como práxis, a ausência do imaterialismo e dela encontra hipóteses para solução de problemas. Está lançada a base conceitual do instrumentalismo. E esse é o pressuposto no qual firma seu conceito de reforma da escola viciada por dogmas e passividade. Essa é a natureza da escola social-democrática, criticoexperimental e progressiva. É a "Escola Nova".

Partindo da observação das obras do cientista e filósofo americano Charles Peirce, e o que ele preferiu denominar "pragmatiscismo", para não se alinhar com seu discípulo William James, que preferia "pragmatismo", identificamos na lógica e na experiência as bases do vocábulo. Christian Delacampagne destaca que James fundamenta aí duas teorias fundamentais, são elas: "uma concepção de verdade que... [não se separa]... da prova experimental"; e "um método de [pensamento] lógico destinado.. [em texto]- [ao que chamava] tornar nossas idéas claras". O pragmatismo de James e Peirce é o movimento crescente nas Universidades americanas até a Segunda Guerra Mundial. No entanto, são nas obras de John Dewey que completam o pragmatismo de modo amplo e geral.

Dewey preferia denominar sua doutrina de "instrumentalismo", pois nela, o conhecimento surge como instrumento pelo geral o homem pelo qual o homem pode ao mesmo tempo adaptar-se ao mundo e transformá-lo. Na sua escola experimental, ensaiou a pedagogia com base no instrumento e desenvolveu pesquisas de ordem lógica e psicológica sobre a natureza da inteligência. Seu livro "Lógica: teoria da investigação", de 1939, é considerado "um dos mais importantes tratados de base epistemológica". Em "Democracia e Educação", Dewey defende a filosofia como "teoria geral da educação", deixando claro seu sentimento de que a democracia é a base essencial para o desenvolvimento da educação.

Anísio Teixeira argumenta na sua "Pequena Introdução à Filosofia da Educação", com subtítulo "A escola progressiva ou transformação da escola", cuja edição comemorativa está lançada pela ABE em conjunto com a Editora DP&A nesse Congresso, que:

Toda educaqao até hoje foi autocrática! Os mestres sofriam a autocracia dos administradores, e as crianças dos mestres. Na reorganizaçõo democrática da escola, a uns e outros tem-se que dar indepenência. Educar é uma arte tão alta que não se pode subordiná-la aos métodos de imposição... Mestres e alunos devem trabalhar em liberdade e à luz do que o filósofo e o cientista esclarecem sobre a profissão dos primeiros e o labor dos últimos.

Assustadoramente contemporâneo, o texto foi originariamente formulado em 1934, sob título similar-inverso. É também na mesma obra que aduz literalmente: "A frase de John Dewey é tipica", e a tempo enuncia a sentença do filósofo norte-americano: "Trata-se de uma transformação... que se compara com a de Copérnico em nosso sistema planetário". Mais adiante, reforça: "o eixo da escola se desloca para a criança. Não é mais o adulto... que governa a escola, mas a criança, com as suas tendências.... impulsos,... atividades e [com] os seus projetos."

Na apresentação da primeira edição brasileira de "Democracia e Educação" escrito por Dewey em 1916 e traduzido por Anísio Teixeira em 1936, o brasileiro é incisivo e grandeloquente, postura pouco comum nos seus escritos: "Reputo a versão em língua portuguesa deste grande livro de John Dewey - o seu melhor livro sobre educação, na opinião do próprio autor - como uma inestimável contribuição à cultura popular brasileira".

Sem dúvida, tão vivo quanto o pensamento de Anísio nos dias de hoje, é o texto de Dewey. Ao ingressar no estudo da concepção democrática da educação, visita o que chamou de "filosofia educacional platônica" tendo como referência o pensamento de Platão que invoca o "conhecimento da finalidade da existência" como pressuposto para a organização da Sociedade. Dewey indaga: "como atingir o conhecimento do bern final e permanente?" E mostra, por Platão, seu juízo para a resposta: "o lugar do indivíduo na sociedade... [deve ser determinado]... por sua própna natureza, descoberta no processo da educação, [que define] o caráter único de cada indivíduo".

O caráter pedagógico de seus escritos, é mais um dos expoentes da obra do filósofo do pragmatismo. Visitando Russeau, Pestalozzi, Kant, Hegel e tantos mais, constrói e desconstrói, mas firma a referência que por Platão já se bastava, quando enuncia: "...à proporção que a sociedade se torna democrática, a verdadeira organização social está na utilização... [das]... qualidades peculiares e variáveis de cada indivíduo".

Quando William James no seu livro, "Pragmatism" enfoca na terceira leitura "Alguns Problemas Metafísicos Considerados Pragmaticamente", é incisivo ao lembrar que "a filosofia não é puramente retrospectiva". Lembra: "a filosofia é prospectiva também". E faz uso aplicado desse pensamento, para, chegando à abordagern do "Pragmatismo e Senso Comum", na quinta leitura da mesma obra, deitar as raízes para os pressupostos das relações ali chamadas pragmatistas com a concepçào de verdade, com o humanismo e com a religião.

O estudo prospectivo irradiado na sementeira de James, está presente ern grande parte da obra de John Dewey. Ern "Individualism Old and New", ele alerta para as diferenças essenciais entre socialismo e coletivismo, no capítulo incidentalmente intitulado "The United States,Incorporeted", discute a sociedade norte-americana e suas corporações, mostrando os importantes delimitadores entre a coisa pública e a coisa social. Entre o "eu" e o "meu". De certa forma, deixa gotejando o sentido das relações básicas para a existência da sociedade democrática. Com toda simplicidade fala ern "privacidade", "direito à privacidade" e "direitos individuais", remetendo, ainda ern 1930, questões que há tão pouco começaram a ser cultivadas pelas sociedades democraticamente amadurecidas.

O delicioso "How we think" de 1910 foi revisto por Dewey em 1933, ou, como ele mesmo preferia e consta da edição traduzida por Haydée Camargo, mereceu "uma reexposição". Os dois prefácios encerrarn corn rara felicidade a práxis de um filósofo e educador que não renuncia aos seus conflitos e contradições, ficando permanentemente disponível à refletida revisão.

No texto de James Garrison incluído em "Reading Dewey", o autor lembra que o filósofo do pragmatismo permite inferir que a filosofia até pode ser definida como uma teoria geral da educação, dada sua própria natureza. No mesmo texto, Garrison fundamenta que a separaçào com base nos modelos experimentais construídos por Dewey, entre o conhecimento cognitivo e o conhecimento experimental deve ter caráter associativo. Exige-se a interação, ou "mais exatamente trans-ação". Ousamos falar neste Congresso ern ação ativa ou, tecnologia à margem, em educação interativa.

O sentido pleno de trans-ação está num exemplo simples criado por John Dewey e narrado por Richard Bernenstem, segundo dá notícia James Garrison. "Considere uma criança que resolve colocar seu dedo no fogo. A criança no primeiro ato, coloca o dedo, para em seguida sofrer com a dor, a conseqüência." O exemplo é forte, mas, quando a experiência vern antes (ou até simultaneamente) torna-se a construção cognitiva mais sólida. Ao expor calor ou energia e seus efeitos, a tarefa do professor na estruturaçào do modelo teórico está favorecida pelo conhecimento experimental.

Quando estrutura o que chama "caminho seguro" da ciêncla", o francês Delacampagne insere como base do "progresso da lógica" os trabalhos do irlandês George Boole, contemporâneo do pensador e matemático alemão Leibniz. Delacampagne afirma que, mesmo sern conseguir separar o cálculo lógico da instrospecção psicológica, o caráter fundador da álgebra de Boole: "é o que "permite a lógica simbólica ter acesso à posição de verdadeira ciêncla e transformar-se num "corpus" autônomo..." Para o autor francês, esta é a célula nuclear do pragmatismo.

Pensar como sinônimo de crer; a cadeia do pensamento reflexivo e sua impulsio à inquirição; a importância da incerteza e da investigação, estão no espectro amplo e clássico que é aberto pela obra, para consubstanciar o sentimento da educação que no tempo de hoje, ousaríamos chamar de socialmente interativa.

Dewey critica textualmente as "armadilhas" dos chamados estudos reunidos de modo convencional e clássico: os das habilidades, como letras e artes, os informativos exemplificados na história e geografia e os exigentes do que se chamaria raciocínio: matemática e gramática formal. A crítica volta-se ao isolacionismo disciplinar, às ações mecânicas incorporadas ao processo educativo e à incongruente oposição que a escola formal faz entre o pensar e o informar. A síntese é a consistente defesa de que é na escola que se exercita o pensamento e a construção do aprender:

Voltando à "Pequena Introdução à Filosofia da Educação", encontramos Anísio mostrando a organização dos conhecimentos para provovar o enlevo do pensar. Invoca as cinco premissa de Kilpatrick sobre a "matéria escolar para uso do professor". Com a necessária síntese:

1º Exposição clara da teoria, com o estímulo dos novos objetivos;
2º Diversificação e descrição detalhada das atividades, das metas e dos resultados;
3º Um número de projetos superior aos que possam ser usados com dado material;
4º Enumeração dos resultados, com relevo na aquisição de hábitos e atitudes;
5º Material necessário à exercitação do aluno ao longo do estudo.

A organização do conhecimento, virá ao lango da estrutura lógica e sistemática da escola formal. A organização, defende Anísio, aliado a Dewey e Kilpatrick: "se processa naturalmente no curso da atividade" e do estágio de desenvolvimento em que se encontrar. O educador torna-se agente do processo e a organização se opera na disposição de "coisas com sentido se utilidade". Anísio Teixeira afirma:

O erro de visão da escola tradicional está em querer dar, de chôfre, a organização final da matéria, cujo sentido só o especialista percebe. O especialista... sente a vantagem [da] organização [e] tudo está disposto para do melhor modo para o seu manejo. Aquele conjunto de fórmulas e abstrações, de cujo segredo é senhor, representa seu material de trabalho".

A superação, leva ao que Anísio chamou de progresso orgânico e real: o fundamento da escola progressiva. Chegamos a um sentido universal para produzir a mudança. O enfoque da escola em relação ao educando e ao professor agora é dele em relação a si mesmo, ao aluno e à organização escolar. Trocam-se todos os eixos. Muda-se o referencial e projetam-se imagens simultâneas de três planos ortogonais nas três cores fundamentais. Podemos obter agora, como se holograficamente, um educando tridimensional: ao vivo e a cores. E como objeto das projeções dele mesmo da escola e do professor. Este modelo, pode ser denominado nos tempos atuais de educação interativa.

Este modelo pedagógico está inserido na nova Lei brasileira da educação. Fecundada por Darcy Ribeiro, com os genes de Anísio Teixeira, vem do sentido original do viés brasileiro criado com a "educação pelo trabalho" no Centro Educacional Carneiro Ribeiro, na Bahia. O modelo criado por Anísio, defendia o Centro Popular de Educação, cada um destinado a abrigar até 4 mil alunos. Talvez Lei de Diretrizes e Bases do Brasil, seja o derradeiro passo para o grande salto que faltou em 1932, faltou em 52, 58, 72 e em tantos momentos críticos nas diversas regências legais do sistema educacional brasileiro.

Anísio alertava sobre o irrecuperável erro de se entender o professor como senhor de segredo. As novas tecnologias provam: o jovem persegue o seu interesse. Navegando na Internet, pode se tornar um especialista em história greco-romana, a ponto de encabular o professor de história antiga. Pode se apaixonar tanto pela magia do estudo do genoma e a elucidação do código genético que se tornaria um elo "pertubador" nas aulas de Ciências.

O senhor do segredo já era temerário para Dewey, ao tempo da primeira edição de "How we Think" em 1910 e para Anísio em sua "Pequena Introdução à Filosofia da Educação" de 1934. No entanto, para para a educação interdisciplinar, contextual e atualizada, torna-se perigosamente explosivo. A escola que emana da Lei Darcy Ribeiro e está magistralmente bem desenhada desde 1998 por Guiomar Namo de Mello nas Diretrizes Curriculares do Ensino Médio, não tem espaço para o centralismo pedagógico.

O professor, mais importante do que nunca, deixa de ser detentor soberano do saber. Passa a pilotar a multieducacional função de gestor do conhecimento e agente do processo educativo. Como gestor do conhecimento, fixa metas e objetivos; oferece as indicações de meios tecnológicos de interação e orienta o aluno à busca saber objetivo, funcional, para a vida. Agente educativo, porque na pedagogia multidisciplinar, será definitivamente o elo do educando com e para a sociedade, na qualidade de administrador da formação cidadã de seus alunos.

Darcy perseguia esse estágio. Depois que conheceu Anísio Teixeira e foi inoculado com o, virus da educação, nunca mais sarou. Eles se conhecerarn num "feliz acaso", como narra Luis Viana Filho, que adita: "curiosamente não se gostavam". Mas foi por pouco tempo. Só ao tempo em que Darcy dizia que Anísio o julgava "urn ente desprezível! Um homern metido com índios e gente enrolada do mato" e não fazia por menos: "ele não tinha simpatia nenhuma pelos índios; não sabia nada deles, nem queria saber". Conta Luiz Vianna que Darcy, com seu jeito esbaforido, afirmou certa vez:

( ... ) Para mim Anísio era o oposto, um homem urbano, letrado, alienado. Eu o via como um intelectual magrinho, pequenininho, feinho, indignadozinho, [mas] que falava em educação popular e que defendia a escola pública com um calor que comovia.

Com o início das atividades do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais - CBPE, criado por Anísio quando dirigia o Instituto Nacional de Pesquisas Pedagógicas - INEP, Darcy Ribeiro foi convidado para proferir uma palestra. O tema era a vida social dos índios Rankokamekra, os chamados "Canelas do Maranhão". Ele conta que depois de estar falando dez minutos para um público inerte, olhou para Anísio na primeira fila. E narrou:

... ele estava aceso, olhinhos bern apertados, atento, comendo palavra por palavra do que eu dizia. Continuei a conferência, olhando para ele de vez em quando [e] de certa forma falando para ele. Em dado momento ele comçou a murmurar e eu custei a entender o que ele dizia. Vociferava: são uns gregos! Sao uns gregos!... [e murmurava]... São uns gregos!... Com essas interjeições, abriu uma espéie de diálogo louco comigo... Naquele dia começou a amizade de Anísio por mim e, sobretudo, a minha paixão pelo Anísio.

Na sua autobiografia, Darcy confirma sua profunda admiração por Anísio: "Anísio exerceu uma influência multo grande sobre mim. Tanto que costumo dizer que tenho dois alter egos. Um, meu santo herói, Rondon, com quem convivi e trabalhei por tanto tempo, aprendendo a ser gente. Outro, meu santo santo-sábio, Anísio... de quem passei a ser discípulo e colaborador. O curioso da história de nossas relações de amizade e de respeito recíprocos é que, de início, Anísio e eu éramos francamente hostis urn ao outro."

Menos de urn ano depois, Darcy Ribeiro sai de suas funções no Museu do índio, para trabalhar com Anísio Teixeira no CBPE de onde foi Diretor Científico. Estava próximo o Governo de Juscelino Kubitscheck, onde a tenra aproximação consolidou de vez a amizade, parceria e cumplicidade entre o "fazedor de coisas" Darcy Ribeiro e o "príncipe da educação", Anísio Teixeira.

Obra do fortuito, o momento político que se vislumbrou para Anísio implantar o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais no Rio de Janeiro e mais cinco outros no país, é tomado como "quase urn conto de fadas". Viana lembra a exclamação de Anísio: "Foi preciso... morrer um presidente [Getúlio Vargas], dar-se sua substituição fortuita e ser nomeado um educador para Ministro... [Abgar Renault] para que fosse criado... um Centro de Pesquisas".

Com rara felicidade historiográfica e simplicidade científica, Anísio Teixeira discorre, na abertura de "A Universidade de Ontem e de Hoje", sobre o sentido da instituição universitária: "Em sua evolução, das mais lentas da história, a universidade, misto de claustro, e guilda medieval, procurou mais isolar-se do que participar do tumulto dos tempos. Seu espírito de segregação ainda era manifestamente acentuado nos meados do século XIX, apesar de se haver iniciado na pesquisa desde o começo do século... O saber aplicado e utilitário era olhado com desdém e considerado urn abastardamento dos objetivos da instituição, que visava antes de tudo à vida do espírito." O sentimento da universidade com a plenitude da instigação, da busca e da pesquisa, esteve presente na regência de Anísio ao formular o projeto pedagógico da Universidade de Brasília, a exemplo do sinalizado durante sua gestão na Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro.

Os estereótipos de Darcy e Anísio eram de certa forma antitécos. Darcy, um rebelde, esbaforido e audaz antropólogo, dotado de invejável capacidade laboral e fantástica verve política.

Anísio, um comedido e atento intelectual, professor e administrador, orientado pela primazia da cultura, da filosofia e do pensamento educacional. Tinham tudo para jamais dialogarem. Ou sequer se encontrarem. Mas soou como um hino de celebração a uma nova e eterna amizade, a afirmativa de Anísio que assustou e apaixonou Darcy Ribeiro. Ele revelou num discurso na Universidade de Brasília, a UnB em abril de 1986. Darcy estava na casa dos sessenta.

A lembrança vem no "Auditório Dois Candangos", quando o idealizador da UnB é homenageado pelo Reitor Cristóvam Buarque. Carinhosamente, negando o tratamento de Magnífico Reitor, o nomeia da forma terna e emocionada, como um dia, por conta dos descuidos de um orador fora chamado: "Esplêndido Reitor". E lembra:

A Anísio, recordarei sempre como aquele que me ensinou a lição mais profunda de minha vida. Eu, naqueles meus trinta anos, cheio, de certezas, de verdades, não podia entender a afirmação reiterada de Anísio de que ele não tinha compromissos com suas idéias. Logo eu que estava cheio de compromissos com as minhas. Custei muito a entender que o único compromisso que se pode ter... é com a busca da verdade. Toda idéia é provisória, toda idéia tem que ser posta em causa... Tudo é discutível... Este é o espírito de Anísio.

Talvez Anísio Teixeira tivesse estupefaziado Darcy Ribeiro usando o que a psicanálise chama de denegação. "Dizer ou fazer" o que não quer, ou, o que quer "fazer ou dizer", para suprir o desejo de querer ou de fazer o que não quer fazer ou dizer. Fato é, que assumindo uma sentença tipicamente darcyana, Anísio o conquistou para sempre. Inoculou o vírus da educaçào naquele exato momento. E o antropólogo nunca mais abandonou as coisas e as causas da Educação.

No seu livro de memórias, esta é uma das inúmeras "Confissões": "O convívio diário com Anísio e o fato circunstancial de que tinha me comprometido... a redigir o capítulo da educação das mensagens presidenciais de JK me deram oportunidade de me inteirar das questões educacionais e, principalmente, do atraso vergonhoso em que andavarn e da necessidade de uma virada séria. Na ocasião, se discutia no Congresso a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que me obrigou a me aprofundar nas implicações filosóficas e ideológicas do processo educacional."

No discurso, recuperando a base sobre a qual fol alicerçada a Universidade de seus sonhos, torna-se didático e se socorre da fundamentação estruturada por Anísio, invocando o que chamou de três lealdades As raízes da instituição universitária:

Estamos desafiados a perguntar ao nosso filósofo: Filósofo, qual a sua utilidade? não estou querendo que ninguém diga ao filósofo o que ele vai fazer. Quero, é dizer ao filósofo que participe do debate [junto] com o, matemático, com o economista, com o geólogo: o Brasil é nossa causa.

A luta contra o atraso é nossa guerra e nessa guerra a universidade está envolvida, a filosofia também, esta é a segunda lealdade. A terceira lealdade é que ninguém, professor ou aluno jamais será punido ou premiado por sua ideologia. É o princípio do respeito recíproco, da tolerência [e] da liberdade docente. A outra [e primeira] é a lealdade ao saber, como uma força, uma arma. É a lealdade aos padrões internacionais do saber. Mestrado ou doutorado de mentira, tal como moeda falsa... é crime contra a pátria.

Ao final do discurso, proferido a ano e meio da Constituinte de1988, lembrava: "...a Constituição zera tudo, como no dia da criação. Dos que nada tem, zera o nada que têm. Dos que muito têm, ameaça minguar parte do que têm. E reafirma seu compromisso com a essência da democracia: "Imensa é minha alegria... porque renasce no Brasil a liberdade. A questão fundamental é a liberdade. Reitero: nossa tarefa é o Brasil, mas nossa missão fundamental para que o Brasil se edifique para seu povo é a liberdade."

Incumbido por Juscelino Kubitscheck, Darcy planejou a Universidade de Brasília ao lado de Anísio e foi seu primeiro Reitor. Entregou corn orgulho a reitoria a Anísio Teixeira quando foi servir ao governo João Goulart como Ministro da Educação e Chefe da Casa Civil.

Em 3 de julho de 1963, o jornalista Edísio Gomes publicou no Correio Brasiliense uma nota, narrando que três anos antes "um jovem com ar adulto, cabelos mal aparados e fisionomia viva", foi recebido por Juscelino, tendo um maço de papéis nas mãos, segundo narra Luis Viana. Que prossegue:

Estava acompanhado do professor Anísio Teixeira... Era o desconhecido assistente de Antropologia da Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil... não chegou de despertar maiores curiosidades... Só um repórter - o autor deste texto - quis saber quem era, o que trazia naqueles papéis... Anísio Teixeira apresentou Darcy Ribeiro e disse que era o projeto para a Universidade de Brasília. Lá estavam eles: juntos em busca do que se queria "a melhor experiência educacional da América Latina". O repórter indagava: "onde vai ser esta Universidade?" E Darcy, naquele projeto de cidade em construção, quando o grande lago Paranoá só podia ser visto com os olhos apertados, mostrava num pequeno mapa roto: "Ali!".

Do sonho à realidade, não foram poucos os desafios. Talvez o maior tenha vindo da Igreja. Produzido pelo grande e já então notório precursor de uma ação social, que muito se aproximava do que, mais tarde, foi denominado teologia da libertação. Era de Dom Hélder Câmara - Arcebispo do Rio de Janeiro, a idéa de criar uma Universidade Católica em Brasília. Para Darcy, que ouviu do Presidente Juscelino que lavaria as mãos, certamente este foi, política e economicamente o maior desafio. Não havia espaço para duas Universidades.

A Darcy só restava pedir socorro ao Papa. Foi. Literalmente. Partiu em busca de alianças com a própria Igreja, os adversários históricos. Ganha apoio do Superior dos Dominicanos, a quem pede o apoio papal para um Instituto de Teologia Católica, dentro de uma Universidade do Estado: a UnB. Frei Mateus Rocha se encanta, vai à França e obtém apoio do Geral dos Dominicanos e segue para Roma, onde obtém aprovaçãc, de João XXIII. Quatro das oito universidades católicas do Brasil eram Pontifícias, mas nenhuma formava teólogos. A tese funcionou, a Universidade de Brasília nasceu voltada para a liberdade, mas o Instituto de Teologia pouco durou. Como disse Anísio, não adiantava Darcy ficar prisioneiro de suas idéias...

Do golpe militar de 1964, advém o exílio, a amargura e a dor da distância. Com a anistia, retorna à política ao lado de Leonel Brizola. Como vice-governador do Rio de Janeiro, retoma a idéia de Anísio para escola de tempo integral. Oscar Niemeyer tira da prancheta o projeto dos Centros Integrados de Educação Pública - CIEPs. Eleito Senador da República, apresenta o substitutivo que encerra anos de discussão sobre uma nova Lei para a educação. Seu projeto, com pequenas emendas, é sancionado em 23 de dezembro de 1996. É a Lei 9.394/96, a nova LDB último ato político de Darcy Ribeiro do mineiro de Montes Claros, nascido em outubro de 1922 e que morreu. em 1997.

O educador, que se prepare, nem sempre as respostas esta no "Princípio da Razão Suficiente", de Leibnltz. Quase sempre nos defrontaremos com o assustador "Mito de Sísifo" enunciado por Camus. Mas jamais nos deixemos seduzir pelo engôdo enunciado por Zenão de Eléia. A verdade da educação está na liberdade e no exercício inteiro da democracia. Esta lição vem de Dewey, Anísio e Darcy.

Ao longo de sua obra, John Dewey associa a liberdade, também ao ato do pensar reflexivo. Não exclusivamente a uma base ideológica, mas ao inato pressuposto democrático e o poder de escolha que o homem tem. Detalha, quando separa a "escola da disciplina", de outra, oposta, a "escola da liberdade":

Liberdade é poder agir e executar, independentemente de tutela exterior. Significa domínio, capaz de exercício independente, emancipado dos cordéis da direção alheia, não simples atividades sern peias. A liberdade... se consegue através da vitória, pela reflexão pessoal e sobre as dificuldades que impedem uma ação imediata e um êxito espontâneo.

Em sua autobiografia "Diário de um século", Norberto Bobbio lembra:

Todo homem tem a possibilidade de diferenciar-se dos outros segundo a própria lei intrínseca, e portanto ser avaliado de modo correspondente à sua diferenciação... Mas aquilo que constitui a característica própria do homem e Ihe dá ao mesmo tempo a possibilidade de diferenciar-se dos outros seres e dos outros homens é a liberdade. A justiça não é, portanto, simplesmente igualdade - critério abstrato... - mas igualdade referida à liberdade - critério concreto."

Richard Rorty surge no cenário educaclonal, ao tempo que o pensamento de Dewey, esquecido por quase 30 anos volta à discussão. Filho de um ex-comunista amigo de Dewey, após desligar-se do partido, vai ao México com John Dewey, na época encarregado de presidir uma comissão sobre os crimes de Trotski. Para a estrutura do neopragmatismo, a liberdade tem bases na origem da racionalidade, como necessidade intrínseca do ser, segundo Delacampagne afirma lato sensu. Para ele, Rorty que nasceu num ambiente de sensibilidade política "progressista" e teve desde cedo o maior interesse pelo pensamento de Dewey;

... [ele] desenvolve, com a clareza que o caracteriza, uma concepção de racionalidade que equivale a negar a esta qualquer essência permanente... [sob] três influência distintas:... a do pragmatismo de Dewey... a da filosofia continental de Heidegger e Derrida e a certos aspectos da filosofia analítica...

O que hoje celebramos, senhoras, senhores, não é o Centenário de nascimento de um Anísio Teixeira que se foi há quase 30 anos. É um Aníso vivo e definitivamente presente no cotidiano do cenário educacional brasileiro. O educador, que ao valorizar o magistério dos antigos cursos normais e criar uma elite profissional de invejado valor entre os anos 40 e 70: a professora primária, fincava as bases para o Institutos Superior de Educação.

Celebramos o educador Anísio Teixeira, que aplicou o instrumentalismo de Dewey à educação popular no Centro Educacional Carneiro Ribeiro de Salvador, a base dos CIEPS de Darcy. O estadista da educação que criou em torno do INEP, os Centros de Pesquisa, alavancando para o Brasil as oportuniclades de prospecção nas diversas áreas do saber, em especial nas ciências sociais. Celebramos o formulador de políticas que propôs, lá se vão quase 50 anos, as bases do financiamento hoje oferecido pelo Fundef.

Mais do que isso, celebramos a liberdade e a democracia. Liberdade, com seu sentido único e as mil matizes que se reunem no pensamento de Albert Jaquard: "O apetite da liberdade está diretamente ligado à capacidade, exclusiva da espécie humana, para pensar o amanhã." Tal como John Dewey, Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, deixaram como sulcos de seus rastros em pedra. Democracia, no simples sentido associado à liberdade, resumido por Lincoln:jamais nos permitirmos como escravo ou senhor. A crescento: nem das palavras, nem dos sentimentos e... parodiando Anísio, nem das idéas. Quem sabe, celebramos o nascimento de um novo pensamento educacional brasileiro, no qual seremos simultaneamente autores, atores e platéia.

Em nome da Associação Brasileira de Educaçã0, da Academia Internacional de Educação, da Fundação Cesgranrio e do Sistema MV 1 de Ensino, idealizadores desse evento, muito obrigado a todos. A Paulo Guiraldelli, que fol mola mestra para consecução seste Congresso e Larry Hickman, que nos brindaram com a profundidade e o real sentido do pragmatismo, indo do novo ao clássico, de Rorty e Putnam a Peirce, Willians e Dewey. O convívio com a era da informação - terreno minado de angústias e medos - foi de forma competente, feliz e apropriada estudado nas excelentes conferências de Raquel de Almeida e Eduardo Chaves.

Obrigado também a Tarso Bonilha, Nilda Teves, Nadja Hermann e Pedro Angelo, pelas excepcionais conferências. Obrigado a Stella Accorinti nos deu, com importantes fundamentos, o potencial contemporâneo dos estudos filosóficos aplicados às crianças e aos jovens. No mesmo tom expressivamente criativo e inovador de Marinageles Almacellas, a brilhante representante da Escola de Lopez Quintás. Obrigado a Luiz Jean Lauand ejoberto Heringer por terem aceito e desenvolvido com feliz qualidade os difíceis temas que Ihes propuzemos. Obrigado a todos, a quem deixo nesta data de Celebração, a trecho do inesquecível Carlos Drummond de Andrade:

"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não lastimo. Não há falta na ausência.
A ausência é urn estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada,
aconchegada em meus braços, que rio e danço
e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa assimilada,
ninguém a rouba mais de mim."

Obrigado, especialmente a você Anísio Spinola Teixeira.

Referências Bibliográficas

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- INGRAM, David. Habermas e a dialética da razão. 2ª ed. Brasília: UnB, 1994. p.163-164.
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- JAMES, William. Pragmatism. London: Dover Publications, 1995. p.33-34.
- RIBEIRO, Darcy. Universidade para quê? Brasília: UnB, 1986. p.1-2; 21-22; 27-28.
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- TEIXEIRA, Anísio. Pequena introdução à filosofia da educação. Rio de Janeiro: UFRJ, 1988. p.37-38.
- TEIXEIRA, Anísio. A universidade de ontem e de hoje. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998. p.37-38.
- VIANA FILHO, Luís. Anísio Teixeira, a polêmica da educação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. p.133-134; 137-138; 141-142.

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