Bahia, 2 de janeiro de 1926

Caro amigo Archimedes Guimarães.

..."Somente hoje respondo a sua carta de 26 de fevereiro do ano passado.

E tardei justamente para, quando lhe escrevesse, assegurar, como agora o faço, a sua nomeação para o ensino deste nosso Estado.

Aqui, o lugar que está ao seu dispor é a direção da Escola Agrícola de São Bento das Lages, na qual o amigo terá a regência de uma das cadeiras do curso. A

Escola Agrícola de São Bento, por enquanto, é o único estabelecimento de ensino profissional que possuímos.

Mais tarde, porém, ao serem criadas outras escolas profissionais, ser-lhe-á oferecida a direção de uma delas e a superintendência sobre os demais estabelecimentos congêneres. Estes cargos e os deveres que lhes são inerentes, acham-se especificados na reforma e regulamento de ensino, os quais lhe envio, pelo Correio, juntamente com esta.

Quanto aos vencimentos de que me fala orçam em onze contos e tanto.

Sem mais, para meu governo, peço ao prezado amigo que me responda qualquer coisa sobre o assunto, em especial se, daqui a alguns meses mais, terei a satisfação de contar com a eficácia de seu trabalho e boa vontade. (x)

Com o apreço e a estima, seu amigo ador

a) Anísio Teixeira.

 

 

Cartão Postal

14 de abril de 1927

"Você conheceu Baltimore? Que linda cidade e que boa gente!"

 

New York, 29 de junho de 1927

 

Meu caro Archimedes.

 

A sua carta de 21 de junho chegou-me às mãos há cousa de 6 dias e como só amanhã temos vapor para o Brasil, a minha resposta hoje ainda é a mais breve que é possível. Antes de mais nada deixe que o felicite pelo nascimento de Antonieta, felicitações que lhe peço estender à sua senhora. Quanto ao convite para ser o padrinho, preciso dizer-lhe que é para mim uma distinção e um prazer? Apenas nada lhe posso dizer sobre a minha volta. Novembro ou dezembro são os meses mais prováveis.

Mas, a América me vai parecendo tão surpreendentemente aproveitável, a oportunidade de cursos é aqui tão única e exclusiva, sobretudo em educação, que vou pensando com certa insistência em uma estada mais prolongada neste país. É um projeto que não tenho ainda a coragem de propor ao dr. Calmon. A idéia de não estar na Bahia, quando o seu governo (x) concluir o período constitucional é para mim de difícil aceitação. Afinal, não é delicado, depois de acompanhar, em um importante departamento, toda a atividade do atual governo, em condições de tão excepcionais privilégios, como V. sabe, não me achar aí por ocasião do encerramento desse ciclo tão significativo da administração baiana.

De sorte que é uma idéia apenas que lhe digo particularmente e que, segundo grandes probabilidades, não levarei avante, embora veja que só assim me seria possível uma formação apropriada na especialidade que as circunstâncias me levaram a escolher e que é hoje uma paixão quase exclusiva da minha inteligência.

Quanto aos meus atuais cursos - um curso geral de educação, um curso em filosofia da educação e um em atuais métodos de ensino - devo dizer-lhe que os vou aproveitando o melhor que posso. Os cursos de verão são aqui particularmente intensivos e francamente para quem tem três meses de inglês verdadeiramente difíceis de acompanhar.

Tenho estado sempre atrazado em minhas leituras e V. sabe como uma das particularidades do ensino americano é que o text-book ou o souce-book precede a lição e a classe, enquanto entre nós o livro ilustra, amplia, completa a lição do professor. Entre nós o livro sucede à aula. De sorte que nem sempre me sendo possível preparar perfeitamente o trabalho de classe, sofro uma redução no meu aproveitamento. Não tenho em todo o caso motivos para me queixar e cada dia me alegro mais de ter vindo a este país para estudos.

Agora, outro assunto e de máxima importância para nós. (xx)

Segue amanhã, pelo "Vilaflores", toda a encomenda escolar do Estado da Bahia, com exceção apenas dos rolos de tela de pizarra para quadros negros que não puderam ficar prontos, mas, que serão embarcados dentro de breves dias. As carteiras vão embaladas em pequenas caixas de 40 lb mais ou menos cada uma, sendo que algumas caixas contêm somente as armações de madeira e outras as peças de ferro e outras as ferragens miúdas. Julgo que apezar da aparente complexidade que pode parecer trazer essa divisão, não havia melhor modo de as acomodar, de sorte a facilitar o transporte para o interior do Estado.

O número de caixas é superior a 1600. Todos os detalhes vão especificados nos papéis oficiais que lhe envio hoje, ou que envio ao governo. No intuito de facilitar a compra de algumas carteiras ao Colégio Soledade, consenti que se incluísse na encomenda oficial o pedido desse colégio. Os papéis são suficientemente claros, eu penso, para não haver nenhuma dificuldade quanto ao caso, para o qual julgo dispensável recomendar estrita reserva, sobretudo da parte do colégio, pois não hão de faltar espíritos que julguem censurável esse pequeno favor a um instituto de educação.

Agora será preciso que lhe diga todo o meu interesse em que a distribuição desse material seja feita debaixo de um inteligente critério de eficiência, de sorte a não ser esperdiçada uma migalha das vantagens que poderão advir ao nosso aparelho escolar dessa importante contribuição do governo para o seu conveniente equipamento.

Muito espero de V., do Jaime (xxx) e de Albino(xxxx) e Aristides (xxxxx) quanto a esse assunto.

O critério local será sempre mais completo que o meu e VV. aí, ouvindo o dr. Calmon, poderão fazer tudo com o maior proveito possível para as escolas.

Outra matéria importantíssima é a do pagamento. É indispensável que sejamos pontuais. Lembre ao dr. Falcão (xxxxxx) a circunstância de ser o primeiro vultoso contrato que temos na América e como disso depende, no meio comercial daqui, o crédito de nosso Estado e de nosso governo, afora a montagem material que nos advirá em futuras compras, a confiança que inspiramos nesse primeiro negócio direto com a América.

As minhas referências e as minhas palavras sobre o atual governo que tem a Bahia ficarão muito mal paradas se não conseguirmos a pontualidade que desejo. Adeus, seu a) Anísio.

 

Nova York, agosto de 1927

 

Meu caro Archimedes.

 

..."A sua última carta de 12 de julho diz-me cousas graves sobre o orçamento e sobre o futuro ano de serviço escolar na Bahia. O movimento pela instrução na Bahia apenas começou. Se a sua marcha não fôr progressiva e se sobretudo as generosidades orçamentárias não forem progressivas, que se poderá fazer? O que será de 1928, se apenas tivermos os recursos de 27? O nosso problema é essencialmente dinheiro, dinheiro.

Da América quer V. que lhe diga? Para quem esteve neste país durante a guerra ou pouco depois da guerra, creio que a América de hoje é um espetáculo tão novo quanto para quem nunca tenha estado por aqui. Efetivamente, eu creio que V. não tem poder para imaginar o que é a atual prosperidade americana. Os americanos me parece que são os primeiros que não sabem quanto são ricos. Quando eu vejo tudo que é luxo e exceção em todos os países do mundo ser aqui rigorosamente universal, eu tomo um pouco o pulso da riqueza americana. Agora, o mais importante é o uso que essa civilização vai dar a essa riqueza.

Nesse sentido, é particularmente interessante a América de hoje. A América é hoje a família, a casa de fartos recursos materiais e que pode olhar para os problemas que humanizam e refinam a vida. Acredito que, nessa segunda fase de sua civilização, a América revelará as mesmas qualidades assombrosas que revelou no firmar as bases da prosperidade material. Este povo não vive nem para o prazer, nem para o descanso, vive para fazer alguma cousa. E essa alguma cousa, a América está construindo com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e o mesmo espírito com que os pioneiros começaram a desbravar este país.

E se quisermos um exemplo, não será bastante o desperdício de bravura com que os americanos estão tentando os últimos progressos em aviação? Já se eleva hoje a mais de duas dezenas o número de aviadores que estão perdidos no oceano, sem notícia, como se perdiam os primeiros navegadores no início do século em que uma febre semelhante atirou os homens para a conquista do mar.

As lições de idealismo que recebo na América são as maiores que tenho recebido em minha vida.

Com um abraço do a) Anísio.

New York, 9 de setembro de 1927

 

Meu caro Archimedes.

 

Releve-me o papel que lembra Chicago e o seu grande hotel. Continuo, entretanto, em Nova York, na 114. E ainda estou em dúvida quanto ao meu outono. Não sei se continuo com os cursos na Universidade ou se vou visitar escolas pela América afora. Tenho, agora, na sessão regular de inverno, um admirável curso para mim sobre Educação na América, especialmente organizado para estudantes estrangeiros.

Mas, posso, sem prejuízo para aí, ficar aqui até janeiro?

Que me diz V. que está aí no serviço sobre isto? Tenho recebido tão poucas cartas da Bahia que pessoalmente nada posso avaliar. O nosso Jaime ainda não mandou uma linha e já estou entrando no meu quinto mês de ausência do serviço. Por outro lado, matricular-me para cursar apenas dois meses é pesado, conhecendo V. os preços dos estudos aqui. Esse curso a que me refiro custa $40 a $50 e outros correlatos que devo tomar elevam as despesas a $110 a $120.

Já devem ter chegado aí as carteiras. Recebi o seu telegrama e lhe agradeço. Com os papéis da encomenda mandei uma grande carta sobre a distribuição e aplicação. Creio que tudo se poderá fazer em ordem e com o maior proveito possível.

Recebi o retrato de sua filhinha e o felicito vivamente, assim como à sua senhora, pelo esplêndido baby. Ante ontem realizou-se em Atlantic City o grande concurso de beleza, com o seu cortejo, para se escolher a Miss America de 1928 e dois dias antes tinham sido escolhida Miss America Júnior, entre 500 babies que competiram no concurso inicial. Acho que a sua Antonieta se fosse cidadão americano ganharia um bom lugar se estivesse aqui.

Mande-me dizer das nossas duas novas escolas normais de Feira e de Caetité. Da primeira estimava saber as condições de direção e se seria possível pensar em uma mudança de diretor. Tenho um amigo aqui na América, baiano, com prática e estudos em educação, por quatro anos professor em colégios americanos e que penso aceitaria a direção, tão vivamente empenhado está em trabalhar na Bahia. (x). Mande-me, ouvindo Jaime, informações a respeito e ponham-me ao corrente do que posso oferecer aqui ao meu amigo.

Isto é, porém, como V. compreende, confidencial.

Diga ao Jaime, também, que me envie algumas traduções do Omer Buyse. Tenho prometido a diversos professores aqui, e embora tivesse solicitado essas traduções na carga que mandei do vapor em que vinha para aqui, ainda não as recebi. - O seu muito dedicado a) Anísio.

 

 

 

New York, 11 de outubro de 1928

 

Meu caro Archimedes.

 

..."Já me chagaram daí as impressões sobre suas iniciativas na Diretoria Geral de Instrução. É para mim, sem falsa presunção, um grande sossego, saber que o tenho na Diretoria. V. fará mais do que eu fiz, estou certo. Eu, com sete diferentes cursos, estou lutando como posso dar conta da matéria. Quero obter facilidades para trabalhar para aí. Continuo no propósito de escrever um text-book de educação. Que me diz? E ainda organizar um plano de ensino normal.

O Governador ou o dr. Prisco lhe falaram sobre minhas cartas? (x)

Aí vai o discurso de paraninfo da formatura dos Perdões. V. veja o que é que as professoras desejam que V. faça com ele. Provavelmente V. terá de o ler. Como V. partilhará da responsabilidade, de algum modo, do que aí vai dito, desde já lhe dou autorização para as correções que julgue necessárias.

Foi um esforço para fazer um pouco de idealismo. Não sucedi, porém. Em grande parte está utópico e pouco prático. Talvez, porém, outros o entendam melhor do que eu mesmo.

Si não houver decidida insistência, não o publique. Acho que só deve ser publicado o que suportar o teste da publicidade. Não creio que a minha arenga, como diria Martagão Gesteira, suporte esse teste.

O discurso vai pela mala do "Vandicke", que sai a 27. Deve chegar aí em meiados de novembro. Escrevo-lhe outra carta pelo mesmo vapor e, no caso de extravio, V. me avise por telegrama, para ver se eu companho outro com as notas que tenho. Segue a única cópia que possuo. Não sou ainda capaz de escrever à máquina e não tenho tempo para tirar nova cópia.

Mostre-a a Carmita (xx) que lhe dará as informações sobre os desejos das professoras. Carmita está no Colégio N. S. Auxiliadora, de d. Anfrísia Santiago.

O seu muito obrigado e muito reconhecido antigo a) Anísio.

 

New York, 25 de outubro de 1928.

 

Meu caro Archimedes.

 

Chegou-me ontem a sua carta de 30, onde me dá notícias da Diretoria. Imagino as dificuldades com que V. está a lugar. Quando reflito que o New York Times tem 3.000 empregados, apezar de toda a diferença de nossa atividade com a do formidável jornal, compreendo pelo menos um dos motivos da eficiência americana. Junte-se a isto o nosso espírito pessoal de competência em vez de cooperação e está explicado porque, além de deficiente o trabalho em nosso meio, é tão pródigo em nos dar "desgostos".

Muito de coração faço votos pelo seu sucesso aí na Diretoria, sucesso que espero, porque V., como sempre lhe disse, leva para o cargo várias qualidades que eu não possuo.

Só vejo um meio de solver o caso do Thales (x") e seria eu deixar de receber esses famigerados vencimentos que já me estão pesando no bolso, tantas dificuldades vêm trazendo. Receio, porém, que uma recusa formal de recebe-los seja mal interpretada pelo dr Vital ou pelo dr Prisco. V. me mande dizer se isto é possível, ou como será recebida a idéia. Não recebi respostas da carta que escrevi ao dr Vital, assim como estou até hoje à espera da carta ou telegrama que o dr Prisco ficou de me mandar sobre o caso. Não deixa, entretanto, de ser razoável que havendo ainda esperança de solução, o Secretário tenha adiado o seu propósito de escrever-me.

Diante dessas dificuldades, eu imagino como seria possível levar avante a idéia do Departamento que aumenta as despesas de algumas dezenas de contos.

Por esse Correio envio-lhe o meu discurso de paraninfo da turma de 1928, dos Perdões (xx). V. o deve receber com esta carta. Caso não chegue, telegrafe-me. Não tenho cópia. Mas, com o borrão poderei fazer um quase idêntico. Para minha tranquilidade, seria bom que V. me telegrafasse, também, no caso de recebimento.

Não escrevi a tese sobre Escolas Normais. Estando a Bahia com idéia de reorganização, um trabalho com a minha assinatura seria, por assim dizer, oficial. Desta sorte tinha que fazer cousa ponderada, o que não me era possível no curto tempo que possuía. Estou aqui a preparar um grande trabalho sobre essas escolas, em que darei toda a formação de professores na América, alguma cousa da Alemanha e da França, terminando por um plano de reorganização para a Bahia.

Os meus estudos vão aqui regularmente. Já estou vencendo a primeira impressão de desarvoramento e já me sinto mais senhor do campo para o meu trabalho. A Universidade de Columbia, com os seus milhares de estudantes, com a sua falta de contato entre mestres e discípulos, é particularmente difícil para o estudante estrangeiro.

V. ofereça o trabalho sobre Commenius, que Nelson (xxx) enviou, ao dr Prisco, e diga-lhe que Nelson encontra dificuldades em obter a edição das obras de Commenius que ele encomendou. Aqui, em N.Y., entretanto, encontrei a "Didática Magna", traduzida para o inglês e caso lhe satisfaça a edição inglesa mande-me dizer para eu lh’a enviar.

O Tosta (xxxx) deve escrever uma notícia em inglês na Revista de Educação e enviar-me para eu encaminhar à National Education Association, em Washington.

Tive aqui outro dia uma conversa com alguns patrícios nossos sobre o futuro da siderurgia nacional, que, a ser realizada, valerá pela prosperidade do Brasil. Trata-se de uma invenção prodigiosa de um americano, que permite reduzir o ferro sem auxílio do coque. Leia n "O Jornal" de 9 de setembro a conferência de Calógeras(xxxxx) a respeito.

Escreva-me sempre. Muito afetuoso abraço do amigo dedicado a) Anísio.

 

 

New York City, 7 de novembro de 1928.

 

Meu caro Archimedes.

 

Insisto para que V. me mande uma notícia da Semana de Educação (pela qual ou o felicito vivamente), em inglês, para eu encaminhar à National Education Association.

A notícia da minha "ordenação" apenas mostra que a Bahia custa de esquecer a legenda que uma vez lhe ensinaram. Creio que hei de ser sempre, na Bahia, uma vocação que falhou. Isso seria simplesmente cômico, si não houvesse a pequenina tragédia ou cousa que o valha, no fato de realmente mais do que essa pretensa vocação eu estou a reconstituir toda a minha filosofia, dirigindo-a para caminhos que me afastarão muito provavelmente até do próprio catolicismo. O trabalho que vem passando a minha inteligência, desde a minha primeira viagem à América e o seu pragmatismo, ainda não está terminado. E sinceramente não sei até onde me levará, no sentido do abandono de algumas e aquisição de outras concepções sobre a vida. Quem sabe si não encontrarei motivos para uma reorganização mental, conservando as verdades que me pareciam absolutas?

Estou com a minha filosofia em franco período reconstrutivo. Escrevo-lhe isto e não será necessário insistir que é assunto que não desejo ver discutido na Bahia. Estou a estudar, estou a aprender, estou a renovar alguns juízos, mas, é desagradável a gente se ver discutida nesses assuntos. Sirva-lhe tudo apenas para lhe autorizar a continuar a desmentir o boato.

Vejo que os "propósitos de economia" vão no caminho de suspender toda a utilidade do serviço, contanto que se poupem alguns mil réis. Para que termos Diretoria de Instrução, si a menor consideração de eficiência de serviço não vale para um desses gastos?

Talvez V. possa demonstrar que os empregos pagos pela verba da porta não são extraordinários. Enfim Deus o ajude a suportar essas altas decisões governamentais e a fazer com que elas prejudiquem o menos possível a nossa deficitária instrução.

O fato da supressão das "comissões" talvez não seja mau. Duvido, porém, que o governo se atenha a ela com sinceridade. Será ele mesmo que solicitará a sua revogação. Parece que o desejo é que tudo parasse de uma vez e não houvesse mais necessidade de atos, nem surgissem mais casos. É uma concepção excessivamente estática da vida e das instituições, em dias de hoje.

Foi eleito ontem o presidente dos Estados Unidos, Herbert Hoover, com espantosa maioria. Os eleitores andaram perto de milhões. Um record. Smith foi batido de um modo verdadeiramente lastimável, depois de uma campanha hercúlea, que parecia a muita gente capaz de operar o milagre de o eleger.

Prevaleceu, porém, a velha solidez "republicana" e talvez não pouco os prejuízos (x) contra o catolicismo e o wetismo (sic) de Smith. O próprio Sul pela primeira vez quebrou-se (sic), em grande parte para Hoover.

Dos 531 votos, Smith alcançou apenas uns 80. O próprio Estado de Nova York, que elegeu Smith quatro vezes para Governador, elegeu Hoover e derrotou Smith nessa eleição.

Desnecessário dizer que nunca houve pleito tão debatido. O rádio foi o grande instrumento. Os dois candidatos, que gastaram 10 milhões na campanha, calculam em 2 milhões o custo da utilização do rádio. Não houve eleitor nos Estados Unidos que não pudesse ouvir diretamente os dois candidatos e a suposição é que de fato os ouviu.

Resultado: a proibição está de pé mais do que nunca neste país, "a nobre experiência" conforme Hoover a rebatizou; e os Estados Unidos vão ser governados

por um engenheiro, "engenheiro social", chamam-no, agora, e vão continuar a sua marcha para uma progressiva "eficiência" .

Adeus. Escreva-me. Dê-me notícias de minhas cartas. Tenho escrito ao Albino, ao Jaime, ao Nestor, ao Herbert (xx), ao Joaquim (xxx) e a muitos outros. Recomende-me a Ana Maria e aos seus pais. Beijos para Antonieta e Graziela. Muito seu a) Anísio.

 

New York, 20 de dezembro de 1928.

 

Meu caro Archimedes.

 

Do Congresso tive, por intermédio do J. Góis (x), notícia alongada. Os resultados se contam pelos sucessos pessoais, infelizmente mais do que pelas medidas adotadas.

As suas duas últimas cartas vêm cheias com o incidente Albino-Aristides. Lastimável que ele é, a idéia do inquérito apenas o torna mais escandaloso e mais prejudicial. Estou curioso por saber como as cousas vão acabar. Não tive do Albino, depois de ter aqui chegado, sinão uma carta, escrita logo depois de minha ausência. É particularmente penoso para mim que esses fatos se tenham dado com ele, um dos poucos funcionários por cuja estada na Diretoria me sinto responsável e que fôra objeto de tão larga confiança de nossa parte. Mesmo que ele não seja culpado, o incidente é dos mais embaraçosos. O fato dele não me escrever a respeito tem-me causado estranheza. Faço votos para que tudo termine com proveito para a Diretoria ou com o menor prejuízo. Os males já estão feitos: o do incidente, agravado por essa idéia de inquéritos inúteis e burocráticos. Considero essa fase por que está passando a administração aí perfeitamente característica. E cada vez parece-me mais difícil que nos seja dado fazer alguma cousa neste período - estudos, inquéritos, planos, burocracia, aspetos jurídicos e legais do ensino... e daí V. há de ver não se passará.

Graças ao seu espírito, o mecanismo do ensino progredirá, em ordem, em sistematização, em eficiência. Mas, na Bahia, precisamos, sobretudo, de visão, e coragem por parte do governo. O sistema de ensino não poderá se expandir só com o nosso esforço. E si o quiserem transformar em uma burocracia, então o nosso esforço será de todo perdido. O princípio fundamental de toda burocracia é o de negar que a razão das cousas está nos seus resultados, para a buscar nas próprias cousas. Pouco importam os resultados; o que importa é que as máquinas funcionem sem incidentes, sem "casos", dentro dos regulamentos. Surgindo um incidente, não se resolve o caso. Põe-se uma nova máquina, o "inquérito", a funcionar. Não se dá com isto uma solução, nem ninguém procura solução: - procura-se é que um novo instrumento legal funcione.

V. pode ter visto essa política em Cachoeira, pode ver essa política no caso Aristides-Albino, pode ver essa política no desejo de "regularizar" as Escolas Normais de Caetité e Feira, embora venham as Escolas se tornarem inúteis e pode ver isto no desejo de dispensar os funcionários extraordinários e ainda no desejo de "legalizar" a lei do ensino.

É o propósito de "burocratizar" definitivamente todo o ensino, que voltará a ter a mesma ordem e a mesma profunda ineficiência do período anterior. Nesse dia se poderá dizer que a finalidade do sistema de educação na Bahia é o de gastar as verbas orçamentárias, cumprindo assim mais essa lei.

Tenha Deus compaixão de V., meu caro Archimedes, e lhe dê paciência para se esforçar e trabalhar nesse "vácuo" que a burocracia tende a criar em toda a parte onde ela se instale.

Está claro que tudo isto é estritamente confidencial. Depois ainda é possível que eu esteja enganado.

Vejo os seus projetos sobre sua família. Daqui da América, o meu ponto de vista é tão diverso que dificilmente posso compreender a sua resolução. Por outro lado, acredito que por isso mesmo que estou fora do quadro, posso julgar com mais objetividade. A Bahia me aparece hoje como um dos lugares mais atrazados que presentemente existem na face da Terra. Esse atrazo se exprime, sobretudo, por uma tendência para o "statu-quo", que torna praticamente impossível qualquer progresso digno de consideração.

Dr Calmon fez alguma cousa, mas V. já pode ver como a tendência contrária é mais forte e já se vai de novo instalando definitivamente. Outro dia, soube que o Artur Neiva tem exatamente essa mesma idéia sobre o nosso Estado. Tudo na Bahia está perfeitamente anquilosado. As idéias não circulam. Os moços não triunfam. As oportunidades não existem. Os consagrados proliferam. Os institutos históricos florescem. Em uma sociedade nesse grau adiantado de paralisia geral só há um conselho a dar à gente moça: arribar.

V. há de estar espantado dessas minhas idéias. Eu também me espantei a princípio com elas. Depois vi que são absolutamente objetivas. Góis, Jaime, Nestor, Hermes (xx), Nelson, eu - todos somos documentos de que o meio é absolutamente refratário a novos sucessos. V. com o seu incidente na Politécnica veio acrescentar

uma soberba prova (xxx).

A Bahia está ocupada por alguns e não só esses alguns não deixam os lugares, como não há possibilidade de novos lugares. Isto é evidente na vida comercial, na vida política, na vida intelectual (há vinte anos que a Bahia não publica um livro), na vida profissional - médica, jurídica, de engenheiros, em todos os aspectos.

Hoje, aqui entre nós, eu encararia qualquer oportunidade fora da Bahia, com particular interesse.

Tudo isto lhe escrevo para V. ponderar antes de qualquer decisão final. Um pássaro na mão na Bahia vale muito menos do que um a voar em São Paulo. Mando-lhe uma carta apresentando-o ao Sales. Adeus. Escreva-me sempre. Desejo a Ana Maria e V. um admirável Ano Novo e também às crianças. Muito seu a) Anísio.

 

 

 

 

 

 

 

Nova York, 7 de janeiro de 1929.

 

Meu caro Archimedes.

 

Escrevo-lhe às pressas para não deixar escapar o vapor "Mumsomo", que parte amanhã para aí, levando parte da sua encomenda para o Grupo Escolar Catarino. Por esse vapor seguirão todas as carteiras, devendo o resto do material, que chegou a Nova York muito tarde, seguir pelo próximo vapor.

Verifique que a fatura consular preparada pelos srs. Vellvé e Cia declara as carteiras "bancos-mesas de madeira ordinária e aço", baseando-se na classificação da Alfândega.

Muito seu a) Anísio.

 

Nova York City, 11 de janeiro de 1929

 

Meu caro Archimedes.

 

E eu que estava a pensar que três anos de América haviam curado o meu caro amigo dessa psicologia brasileira de discutir e comentar os outros, em matérias pessoais! Tenho escrito a V. não só como ao bom e grande amigo, mas, também, como ao espírito liberto desse gosto nacional pelo "grossip" - e por isso as minhas cartas para V. eram superiormente francas.

Mas V. não só as tem feito circular, como levou até o dr Calmon a notação que elas levavam de uma possível transformação espiritual. Creio que V. ainda não me conhece bastante para saber até que extremo eu levo o meu horror por essa cousa atroz que é ser comentado, criticado, discutido ou elogiado em cousas nitidamente pessoais.

Releve-me pois pedir-lhe para que faça de minhas cartas, quando elas incidirem no pecado de discutir matéria pessoal, matéria estritamente para seu conhecimento íntimo, pela distinção entre o que é privado e público, no bom sentido inglês.

E para compreender a minha supra-acentuada insistência no assunto, basta imaginar de que modo eu tenho sido vítima, na Bahia, de uma imprudente discussão pública em torno da minha pessoa.

Fique, pois, certo que minhas cartas para V. são para V. só. E com isto eu perdôo (desculpe-me) a primeira indiscrição.

Estou a preparar uma carta para o Secretário onde estudo algumas condições essenciais para qualquer reforma eficiente do nosso ensino, condições que se não forem aceitas, pelo menos dificultarão qualquer iniciativa inteligente e sincera a esse respeito.

Os incidentes da D.G.I. foram felizmente resolvidos pela sua prudência. Acredito que V. resolverá com igual felicidade os casos das Escolas Normais e Primária Superior. Não posso contribuir senão com esses votos. Estou muito longe.

Jaime e Nestor sempre se casaram em dezembro?

Que notícias V. me dá do Magalhães (x) e do Tosta? Não ouvi nada a respeito deles desde que deixei o Brasil.

Que é feito do Herbert, que ainda não teve tempo de me mandar uma linha? Às voltas com a Era Nova e com a ilusão de curar os homens com palavreado?

Diga-me se o dr Calmon comentou uma possível ausência de cartas minhas. Tenho cada vez mais medo de escrever, de tal modo sei que minhas cartas são aí interpretadas, comentando-se o que escrevo e o que não escrevo. O delicioso horror do Herbert é uma prova disso.

Bem, adeus, meu caro Archimedes. Recomende-me a Ana Maria e beijos para as crianças. Muito seu a) Anísio.

P. S. Mandei para o dr Prisco por esse Correio o Comenius. Diga-me se ele o recebeu.

 

New York City, 18 de janeiro de 1929

 

Meu caro Archimedes.

 

A segunda parte da sua encomenda - o material didático - seguiu ontem pelo S/S Brazil, da Booth Line.

Como verá, adquiri uma multidão de pequenas cousas, todas elas em uso generalizado aqui, para servir pelo menos de modelo para as nossas escolas. Não sei si todo o material é adaptado. Mas, a minha idéia é que se faça a "réplica" baiana de todos esses aparelhos destinados a facilitar o ensino.

A compra do material didático é muito trabalhosa, por isso não asseguro a escolha que fiz.

Com os dias cheios que tenho, não podia estar percorrendo todas as casas para ver os mostruários; tive que me contentar com catálogos. Creio que, entretanto, a compra satisfaz os seus desejos.

Aproveitei a oportunidade para adquirir alguns aparelhos ginásticos para o páteo da escola, que acredito foi aumentado com a desapropriação dos prédios da Rua S. Raimundo. Precisamos começar a ter essas cousas que suplementam uma escola.

Acredito que os aparelhos se pudessem fazer aí, mas seria inútil esperar. Assim, adquiri um para servir de modelo e estímulo. Aliás, nos limites da encomenda, tinha-me que contentar com enviar amostras. Essa a filosofia de toda a compra. Desde que não temos nada, devemos começar enviando um exemplar de cada cousa para experiência.

Os srs Vellvé mantiveram, felizmente, os 10% de desconto especial para o governo do Estado.

Os livros que me encomendou seguem hoje pelo Correio. Não acredito que valha a pena o livro "The Teaching of Science". Está aqui grandemente em voga um livro introdutório para todo estudo científico - "An Introduction to Thinking" - qualquer cousa assim, por um dos professores da Columbia. As Universidades daqui hoje substituíram os velhos cursos em Lógica por estudos de "How to Think". Esses estudos são, sobretudo, uma introdução filosófica à ciência contemporânea. Pelo índice, o livro é muito bom, apresentando uma sinópse de todas as grandes doutrinas e generalizações que fundamentam o conhecimento científico moderno. Custa $3,50.

O que me diz do D. da B. (x) não me surpreende. A Bahia é Bernardino de Souza. Em uma terra onde não se age, o exemplo de Bernardino toma ares de milagre. Fica "sagrado". O lugar é dele. O medo é absolutamente impermeável a valores novos. Só uma revolução pode retirar os consagrados dos seus lugares na Bahia. Si Bernardino deixar o D. da B. aí é que ele desaparece de verdade. Si quisermos ficar na Bahia temos que nos especar (sic) nos medalhões, sejam eles inúteis ou úteis, como no caso do Bernardino devemos reconhecer.

Adeus. Escreva-me. Muito seu a) Anísio.

P.S. Nelson chega aqui a 22 deste. Pretende ver si a América não deslumbra mais do que a velha e usada Europa. A.

 

New York, 7 de março de 1929.

 

Caríssimo Archimedes.

 

O que as suas cartas me dizem sobre o ensino está inteiramente dentro de minhas previsões. O dr Prisco escreveu-me dando-me conhecimento do seu plano para o Congresso de 1930. Não sei o que realmente poderemos fazer dentro de um ano na Bahia, tendo em vista as delongas com que tudo se resolve.

Nenhum problema, entretanto, assume hoje à minha vista importância maior do que o do pessoal.

Reforma de departamento, reforma de escola normal, reforma de ensino primário - tudo será apenas para inglês ver, si não obtivemos homens capazes de realizá-las. Essa dificuldade me parece tão insuperável que praticamente não vejo possibilidade de reformas. À medida que entro mais nos detalhes da educação na América, mais profundamente sinto como o problema do serviço está profundamente ligado ao problema de homens especialmente treinados para fazê-lo.

Tenho tentado aqui vários planos para a futura escola normal e para o nosso ensino primário, mas esbarro sempre nessa consideração: os professores bahianos.

Ultimamente estive estudando com interesse o que o México vai fazendo nesse sentido. Si o que as publicações revelam é real, o trabalho é singularmente característico. O México criou uma escola rural rigorosamente adaptada ao estudo social primitivo do povo. A escola é um centro social de estudos, de recreio e de toda a sorte de atividades. O professor é um "trabalhador social". As casas são singelas. O trabalho escolar é o da vida da localidade. Livros só aparecem como suplementos, como auxiliares ao progresso dos diferentes exercícios em que professor e criança se empenham. Isso está sendo levado a efeito por meio de escolas normais rurais especiais que preparam tão bem quanto mal os professores para essa diferente escola mexicana.

A experiência é tão interessante que pretendo fazer o possível para ir até lá ver com os meus olhos esse trabalho. Na Columbia University há um grande apreço pela atividade educativa no México e os meus professores insistem por minha visita a esse país.

Não sei porém, si a revolução que por lá estourou há uns quatro dias vai me permitir essa visita que ainda está, aliás, a depender de muita cousa, sobrelevando o tempo que me pode tomar e a necessidade de estar aí no período legislativo.

Recebi o plano de economias para as escolas normais do interior. Pode ser que alguma cousa se possa fazer nesse sentido. Em todo caso não é de economia que as escolas normais precisam para ser eficientes. Ou bem encaramos as condições em que elas podem servir ao ensino, ou bem as fechamos. Isso de as matar lentamente de inanição é um processo altamente censurável. Em vez disso devemos instalar os internatos e pagar talvez o dobro aos professores para termos gente capaz e gente estável. É preciso considerar que dessas escolas depende vitalmente o problema do ensino no interior. Economias nas escolas da Capital são muito razoáveis, onde já temos professores de sobra.

Não estou discutindo o plano concreto que V. me mandou, mas a idéia de simplificar economicamente as pobres escolinhas do interior. (x)

Agora mesmo, tenho aqui sobre a minha mesa, o último relatório do diretor da instrução das Ilhas Filipinas. As despesas para educação em 1927 foram de 25 milhões de pesos, exclusive a Universidade.

A Columbia University aqui despende 10 milhões de dólares para sua manutenção, pouco mais da renda do Estado da Bahia.

Não sei se já lhe escrevi que o programa de construção e reparos de prédios escolares para a cidade de Nova York é de 53 milhões para o ano de 1929.

A Bahia está assombrada porque, município e Estado juntos despendem um milhão de dólares. Mas, que se há de fazer? Somos perdidamente pobres.

Isso, porém, se limita o nosso programa, não nos obriga a manter um sistema escolar para "fazer de conta", como crianças.

Entre planos de escola ineficiente e o de fechá-las, eu estou pelo último. Enfim, discutiremos melhor quando aí voltar.

Tive outro dia carta do nosso Tosta, que se mostra muito bem impressionado com a atuação de V. na D.G.I. É essa a impressão de todos.

E adeus, meu caro Archimedes. Receba um abraço afetuoso do seu dedicado a) Anísio.

 

Sem Data

 

Archimedes.

 

Conforme ficou combinado com o dr Prisco, apresento-lhe o acadêmico Cândido Cerqueira, que ficará trabalhando na D.G.I., percebendo a gratificação que arbitramos.

Como ele não é datilógrafo, peço-lhe para dar-lhe algum trabalho aí, cedendo-me outro funcionário que seja datilógrafo para os trabalhos do programa.

Espero contar com o Gois Filho e nesse caso a sua (dele) datilógrafa pode me auxiliar.

Sempre seu a) Anísio.

 

New York, 4 de abril de 1929.

 

Caríssimo Archimedes.

 

Fiz-lhe por certo uma enorme injustiça com uma de minhas cartas últimas de que agora me chega a sua resposta franca e amiga. Depois de escrever, havia pensado nisto, mas julguei que V. a tomasse como um desabafo inocente de quem se vê "interpretado" e comentado pelo malicioso zelo de seus amigos. Nunca imaginei que V., respondendo, não metesse em troça o que Jaime chama as minhas "suscetibilidades". De qualquer modo o que desejo é que não fique no meu amigo recibo algum da minha desarrozoada queixa.

Fico pois certo de que toda mágua está esquecida.

Antes de sua carta, sério e só em um envelope, me chegara o seu relatório dos serviços do ano passado. Apezar de tudo o que V. me diz em sua última carta a respeito do ensino na Bahia, e que bem compreendo, estou certo que eu aí não poderia fazer mais do que V. fez, e pior, não poderia fazer o que V. conseguiu fazer.

"Em ordem e em dia" na D.G.I., olhe que é uma cousa que não vinha acontecendo há muito tempo. Depois o mundo de cousas que o seu espírito prático resolveu. O curso de férias, como foi feito, originou uma política de reforma que, hoje, julgo ser a única efetiva: obter do próprio corpo professoral as sugestões e a cooperação para melhorar o sistema. A exposição de que tive notícia pelos jornais não é menos uma vitória, bem sei eu disto.

No mais que se há de fazer, si as cousas aí vão como vão?

Com toda a franqueza, não creio que a minha partida corroborou para a passagem das cousas do ensino para o Palácio. O movimento já estava começando quando deixei a Bahia. Apenas seguiu o seu curso normal.

Que a sua interinidade nunca foi um presente, isso, porém, sabia eu e ninguém há de haver que melhor saiba avaliar o seu merecimento e o seu sacrifício em carregar por tantos meses essa prebenda, como V. justamente o qualifica. Que eu tenha a mesma paciência quando voltar é que não sei.

O meu curso aqui está no seu último bimestre. Devo obter em julho um M.A., si tudo correr bem. Da América levarei, sobretudo, a independência e liberdade de inteligência que os meus últimos estudos me deram. Mais do que da educação foi dessa viril e humana filosofia moderna que me ocupei nesses meses tão rápidos e tão intensos que aqui vou passando. A definitiva aceitação de uma atitude científica na explicação de todos os fenômenos da vida não só me deu uma rara tranqüilidade intelectual, como ainda um programa de ação.

Eu hoje compreendo a sua calma de espírito, a sua retidão, a sua humanidade, que me causavam uma extranheza tão característica, quando eu julgava que teologia e sobrenaturalismo tinham algum lugar essencial na explicação da vida e do mundo.

Compreendo, porque participo inteiramente hoje da sua atitude.

Adeus. Lembre-me a todos os seus e aceite um abraço afetuoso do a)Anísio.

 

Rio, 12 de setembro de 1929

 

Archimedes.

 

Recebi ontem o seu telegrama sobre o Thales. Foi a primeira contrariedade de minha viagem. Será a última? Escrevi ao dr Vital a respeito, mostrando que o cargo existe. Procurei elucidar tudo muito bem, para que V. também não venha a sofrer na minha volta. Não sei si o governo resolverá novamente o caso com os meus esclarecimentos.

Quero recomendar-lhe muito que o concurso para a cadeira de Literatura das línguas neo-latinas no Ginásio seja marcado de acordo com o dr Homero Pires, deputado federal, que vai concorrer a essa cadeira. Converse com o Tosta e com o

dr Prisco.

Estive com o Carneiro Leão. Deverá passar por aí entre 20 e 25 de outubro. Faça tudo por ele.

E adeus. Votos de muita felicidade. Muito seu a) Anísio.

 

Caetité, 4 de janeiro de 1931.

 

Meu caro Archimedes.

 

Escrevo-lhe com o pé no estribo... do automóvel. Vou rapidamente a Carinhanha em busca de alguns documentos. Não quero, porém, partir, sem deixar no Correio a resposta à sua carta recebida ontem. Agradeço-lhe, muito de coração, a extensa missiva que fez V. ao exilado, que hoje sou eu, em cuja casa, além da perseguição oficial, também entrou um grande e irremediável luto.

Lia e reli-a com atenção e vejo que, dentro das circunstâncias, é uma felicidade ter ficado V. na coluna revolucionária (x) para pôr, nos desejos de reforma, ou melhor no frenesi de reformas do governo, a dose de ordem, de justiça e de bom senso, que a sua inteligência e a sua consciência nos asseguram. Pelo que me diz, a reforma na Capital é uma obra de reparação. (xx)

Quanto às Escolas Normais do interior, o critério exclusivamente econômico leva bem a ver o que será. Confio em V. para salvar o que fôr possível da parte técnica e da parte de justiça pessoal. (xxx)

E aí, na Diretoria, onde todos os meus antigos companheiros e amigos, nossos, vão talvez ser sacrificados!

Compreendo, meu caro Archimedes, como lhe continua a ser de sacrifício o posto em que a Bahia lhe veiu pedir os seus serviços. Agora urge não voltar atraz. Em mim, V. terá sempre quem lhe reconhece a dedicação e o espírito de serviço com que está V. se empenhando nessa obra de administração, tão espinhosa, do ensino em nosso Estado.

A Escola de Cachoeira merecia reforma radical para torná-la eficiente e prática. Atualmente ela é, tão somente, um mau curso fundamental. A não se fazer obra de geito, que diria V. da supressão? Por outro lado, como escola profissional primária, ela teria seus serviços a prestar. Não tenho, entretanto, vagar para dar-lhe um parecer mais refletido. O Belfort merece aproveitamento. É dedicado e faz, apezar dos pezares, obra educativa junto aos alunos. Julgo-o mesmo um dos raros diretores, na Bahia, preocupado com esse aspeto dos serviços de um chefe de estabelecimento educativo.

E, adeus, meu caro amigo. Obrigado e obrigado pela bondade de sua carta. Recomende-me a Ana Maria e beijos para Antonieta. Muito seu a)Anísio.

 

Rio, 6 de fevereiro de 1931.

 

Meu caro Archimedes.

 

Como vai V.? Muito devorado por essa gente antropófaga da Bahia? Um paulista é um prato delicioso para ser comido por esses canibais. Li, noutro dia, no Diário da Bahia qualquer dessas dentadas específicas dos índios que substituem aí os bons aimorés do tempo do bispo Fernandes Sardinha. (x) Pelo menos esses comiam apenas o corpo. Os de hoje comem-nos a alma...

Assim. Só lhe escrevo às pressas. Escreva-me. Lembre-me a Ana Maria e beijos para Antonieta. Seu amigo obrigado e afetuoso a)Anísio.

 

São Paulo, 27 de fevereiro de 1931.

 

Meu caro Archimedes.

 

Apenas uma nota... Fui convidado pelo Ministro da Educação para participar nos estudos de reorganização do ensino secundário. Não queria faltar com essa contribuição que, si nenhum valor tiver para o país, oferece-me a oportunidade para me aproximar dos líderes educacionais de hoje.

Poderia V. justificar aí a minha ausência junto ao Secretário, o nosso grande Bernardino de Souza e ao diretor da Escola? Não quero ter as vantagens do cargo, isto é, vencimentos, mas também, não desejo passar por um funcionário impontual. Do Rio, si possível mandarei ou pedirei ao Ministro para fazer uma comunicação oficial para V. aí. De qualquer modo, desculpe perante as autoridades novas a minha ausência. (x" )

Do seu amigo a)Anísio.

 

Rio, 7 de março de 1931.

 

Meu caro Archimedes.

 

Embora afastado da Bahia, sou até aqui perseguido por pedidos. Chegaram-me ontem os dois que juntos lhe mando. O meu desejo único é o de que V. me forneça elementos para responder aos interessados, os motivos por que não podem ser aproveitados. Não posso interessar-me por candidatos que não conheço. Transmito-lhe apenas os nomes para o seu exame e isso porque se trata de pedido de um dos maiores amigos de meu Pai.

Aqui no Rio o ambiente é tranqüilo. O Presidente e o Chefe de Polícia nas águas. Não pode haver maior prova de tranqüilidade. Os jornais ante-ontem anunciaram uma perturbação da ordem. Mas, choveram os desmentidos. A Legião de São Paulo botou um manifesto que é um interessante documento de literatura verde-amarela. Com ele a Revolução se estreiou na Literatura. E assim como em França tudo acaba em uma canção, no Brasil, tudo acaba em literatura.

A reforma do ensino sairá talvez para a semana. Vai-se guardando sobre ela um considerável sigilo. Em muita cousa será uma reforma de largo alcance e por isso mesmo capaz de contrariar muito preconceito e muito interesse.

Diga-me qualquer cousa sobre a marcha das coisas aí. O dr Neiva começou ontem a sofrer ataques de "O Globo" e do "Diário Carioca", por ter ele ferido o tabu mais sagrado de nossa civilização de analfabetos falantes: o direito de dizer livremente asneiras.

Fechar a boca do Pirolito (x) e do Pereira Reis corresponde ao que correspondia entre os romanos agredir o "tribuno da plebe". Como vinte séculos podem degradar uma instituição!

Para aqueles jornais o dr Neiva, ainda que salve a Bahia, é um criminoso sem remissão, porque determinou que na Bahia o direito de trabalhar começa a ser mais importante que o de falar.

Adeus. Escreva-me qualquer coisa. E abrace por mim a todos os amigos de que tenho largas saudades.

Com um afetuoso abraço do a)Anísio.

 

Rio, 11 de março de 1931.

 

Meu caro Archimedes.

 

Não era do meu desejo, como deve ter visto pelas minhas cartas anteriores, voltar a aborrecê-lo com nenhum pedido em questões de ensino, na Bahia.

Não pensam, assim, porém, os meus amigos que, volta e meia, estão a me escrever e telegrafar, forçando-me a deixar a atitude que devo tomar em face da situação baiana. Lembram-me promessas antigas, sem refletirem que o que se passou no país pôs por terra quaisquer compromissos que um homem de boa fé poderia ter assumido antes de outubro de 30.

Mando-lhe os pedidos, solicitando-lhe tão somente que me informe as razões de não poder atendê-los, para dar eu assim uma satisfação aos solicitantes.

As reformas do ensino secundário e superior continuam em estudos.

Vejo com satisfação que o ambiente de nossa Bahia se aclara cada vez mais, acabando por vir a ser, a nossa terra a terra mais bem governada do Brasil. Oxalá!

Não sei se já lhe comuniquei que estou noivo oficialmente - de Emilinha.

Adeus. Saudades do seu antigo dedicado a)Anísio.

 

Rio, 14 de março de 1931

 

Caríssimo Archimedes.

 

Gratíssimo pelo seu telefonema de ontem. E eu que não tenho sossego aqui!

Imagine mais dois pedidos e para o mesmo lugar! Transmito-os para V. os julgar pelos próprios méritos dos candidatos.

Conto, logo que terminarem os trabalhos da comissão de ensino secundário, requerer uma licença para tratamento de saúde.

Achei curioso V. me dizer que se cogita aí de grande reforma do ensino nos moldes da de São Paulo. Será o caso de perguntar: "Com que roupa" vocês vão vestir essa reforma? Em todo o caso, desejo muito conhecer os planos. V. m'os mande.

Estive em São Paulo e creio que conheço um pouco do que Lourenço Filho está ali tentando fazer.

Adeus, o aéreo está a fechar. Escrevo-lhe da Aeropostale.

Lembre-me aos amigos e creia sempre na amizade do a)Anísio.

 

 

Rio, 27 de março de 1931.

 

Meu caro Archimedes.

 

Não é esta a resposta à sua boníssima carta última.

Quero ter um tempo à parte para dizer-lhe, longamente, como sinto tudo que V. ali me diz. Hoje, porém, é ainda para um novo apêlo à sua bondade. É extraordinário que só lhe escreva para o aborrecer, mas, estou certo que me perdoará.

Trata-se do seguinte: novamente me dizem que a cadeira de Desenho da Escola Normal de Caetité vai ficar vaga. Eu tinha uma candidata para esse lugar, que seria a professora Julieta Tanajura de Castro, formada em Caetité, na primeira turma.

Que poderá V. me dizer sobre a viabilidade dessa nomeação? Mesmo que haja outras candidatas, si alguma é recomendada por mim, eu estimaria saber o nome para ver si me era possível considerar o nome da professora Julieta que agora lhe apresento.

Perdoe que lhe peça uma resposta breve. Mais dia menos dia, hei de lhe escrever uma longa carta. Estou agora abarbado de serviço. O dr Aloysio (x) atendeu-me em pôr o Gois aí no serviço de exame prévio dos Colégios. Diga-lhe que mandei pelo Correio as normas de trabalho que adotei aqui no Rio.

Adeus. Lembre-me a Ana Maria e muitos beijos para Antonieta e as outras.

Sempre seu muito afetuosamente a)Anísio.

 

Rio, Flórida Hotel, 29 de março de 1931.

 

Caríssimo Archimedes.

 

Tenho suas cartas de 10 e 19 de março em mãos e perdoe-me V. si as respondo com um certo atrazo. Procurei no Regina Hotel a que V. me dissera que para ali enviara, por equívoco, mas não a encontrei. Estive na Posta Restante e... nada. Seria o Correio ou será engano seu em relação à de 10 de março?

Vejo que continuam com a idéia de reforma, "nos moldes da de São Paulo". Eu, com franqueza, não entendo. O que São Paulo tem, acima de tudo, são 50 mil contos de orçamento escolar, é todo um serviço de escolas primárias, escolas secundárias, escolas normais, escolas profissionais, etc.

Nesse sistema, Lourenço introduziu algumas reformas parciais, criou dois ou três órgãos que faltavam e no mais é a sua ação administrativa que está operando as transformações importantíssimas de programa e de método.

Mas, na Bahia, onde o programa no ensino tem três pontos fundamentais -1. economia; 2. economia; 3. economia, ainda, - para que se falar em reforma? Fale-se de poda, de restrição, de economia na administração. São Paulo tem um Instituto Pedagógico, com Curso de Aperfeiçoamento. São Paulo tem Escola Normal de mestres e artifices. São Paulo tem, si não me engano, Escola Normal para professores de Educação Física. São Paulo tem assistência técnica às escolas primárias. E como pode isso ter a Bahia?

No mais não vejo em que a lei de 24 muito se separe da organização do ensino em São Paulo. A reforma operada nas Escolas Normais não é a que se deve fazer na Bahia, onde o problema é todo outro. Enfim, como não tenho nas mãos os decretos do governo revolucionário paulista e falo tão somente pelo que vi e soube, por conversa com o Lourenço Filho, é bem possível que haja cousas maiores. Pedi ao Lourenço os textos dos seus decretos para examinar.

Não me surpreendeu o que me disse sobre a campanha que lhe fizeram aí. Aliás, não acredito que a Bahia me possa surpreender nesse assunto. Tenho sobre essa pobre terra juízo formado. E eu tenho que voltar para aí? !!!

Tenho estado com o Tosta Filho, que está animado com relação ao resultado de sua missão financeira.

Recebi ontem do Oscar o seguinte telegrama: "Pedi Archimedes nomeação Elsa Ohksen Trabalhos Manuais Normal virtude falecimento Joaquim. Peço secundar pedido". Abs. Oscar".

O que penso é o seguinte: V. deve ter dispensado muita gente. O primeiro cuidado não deve ser o de recolocar os dispensados? No mais, a candidata é muito boa. Trata-se de gente de extração nórdica e que possue aquelas boas virtudes dos suecos e dinamarqueses.

Eu estou inteiramente às suas ordens para lhe servir no que V. quiser em questões de ensino. Não tenho o que me pede a respeito das reformas paulistas. A não ser uma entrevista por mim mesmo dada ao "Diário de Notícias" daqui. Mas, examinava aí sobretudo os aspetos da nova administração e do novo espírito educacional em São Paulo. E isso não lhe interessa. Ou, pelo menos, não é o que me pede. Como temos três malas aéreas por semana, si V. quiser mande-me o ante-projeto e eu mandarei as sugestões pela outra mala.

Sou o seu dedicado ador a)Anísio.

 

Rio, 1º de abril de 1931.

 

Meu caríssimo Archimedes.

 

Parece que estou apostando em lhe importunar.

Creio que já lhe fiz um pedido a respeito da professora Branca de Neves (O Edgard saberá dizer o nome todo (x).

Agora, porém, recebo uma longa carta do cel Antônio Neves, indicando-me a vaga da cadeira de Desenho, em que essa aluna teve curso exemplar. Como vê, trata-se da Normal de Caetité.

Todos os meus pedidos estão subordinados ao bem geral do ensino. Muito estimaria, entretanto, si V. pudesse fazer qualquer cousa por essa professora. Por outro lado, como são muitos os pedidos, V. os classifique e leve em conta todas as considerações que fiz a respeito de cada um. Sobre esse último caso, agradecer-lhe-ía que escrevesse ao Pai, cel Antônio Neves, Caetité.

Estou a lhe escrever do balcão da Kondor. Desculpe, pois, a pressa. Mande-me dizer qualquer cousa sobre a minha licença.

Por aqui tudo no mesmo. Temos visita em casa. Daí tudo estar quietinho, como casa de gente bem educada. Os boatos anunciam para depois da visita (xx) a bagunça, ou a continuação da bagunça, como irreverentemente classifica "A Manha", essa cousa que se vai passando sobre o Brasil. De qualquer forma está melhor do que Manágua, onde os terremotos são sempre um pouco mais graves.

Com um grande abraço, o seu velho amigo a)Anísio.

 

Rio, 4 de abril- rua do Catete 187.

 

Meu caro Archimedes.

 

Perdoe-me você. Não extranhei o seu telegrama. É possível que a Bahia ainda esteja a fazer dúvidas sobre os motivos por que passei o mês de março aqui?

O que queriam vocês que o Ministro fizesse? Manda-me uma carta, convidando-me para participar nos trabalhos de reorganização do ensino secundário do país. Eu a comunico ao meu governo, através de você e peço licença para aceitar. Não seria preciso nada mais. Você comunicaria o convite ao Secretário, esse daria a licença e você, por sua vez, oficiaria ao diretor da Escola Normal, fazendo-o ciente do motivo lícito de minha ausência. Eu não pedia vencimentos, não pedia ajuda de custo, nem aí fazia falta, sendo como era propósito da muito ilustrada diretoria da Escola Normal suprimir a minha cadeira.

Em todo o caso, como sabia o ânimo governamental da Bahia suspicaz, levo avente os meus escrúpulos. O Ministro, além do convite que me fez, telegrafa ao lnterventor dizendo, em meiados de março, que "os meus trabalhos ainda eram aqui necessários". Esse telegrama foi visto em Palácio pelo Tosta Filho. Mas, nem assim socegou o governo da Bahia. Era, ao que parece, preciso um decreto do Presidente Provisório para que o professor de Filosofia da Educação da Escola Normal da Bahia podesse participar dos trabalhos de uma comissão de estudos no Rio. Uma comissão transitória. Uma comissão para a qual havia convites, mas nunca nomeações. Como poderia o Ministro fazer essa nomeação, se não havia cargos, nem havia remuneração? Como poderia o governo, pelo seu Ministro, requisitar os meus serviços, si o caso era o mesmo que o de um congresso ou uma conferência para o qual o Ministro pode convidar, mas nunca requisitar?

Desde a primeira carta que lhe mandei, salientei que não queria sinão salvar o ponto de vista moral de minha ausência, contando, é claro, que o governo de Bahia não se opusesse violentamente a que aceitasse, sem ônus para ele, o convite que eu tinha a franqueza de reputar honroso para mim e, talvez, para a Escola Normal daí.

Podia-se dizer, mas o Governo ficava privado dos meus serviços. Isso é ridículo. O governo mantém na Escola Normal uma diretoria que ía reformar o ensino normal quasi que somente para evitar que eu, ali, continuasse com o seu curso a prejudicar a sabedoria pedagógica dos seus planos e dos seus métodos. Eu sou francamente indesejável na Escola Normal. Logo deviam dar graças a Deus que uma circunstância fortuita viesse ao encontro dos seus desejos, afastando-me da Escola Normal em um momento em que o cogitavam fazer por um modo muito mais violento, como era o da supressão de minha cadeira.

Você há de reconhecer que eu tenho razão. Mas o caso ainda se pode remediar. Se a minha palavra não basta, aí está o telegrama do Ministro da Educação ao lnterventor. Em tempos menos discricionários isso era mais do que bastante. Quanto mais agora. Você oficie à Escola Normal comunicando-lhe que faltei o mês de março por me achar, com a devida autorização do governo, participando dos trabalhos de reorganização do ensino secundário. E que do mês de abril em deante entrei em licença, sem vencimentos, para tratar de interesses particulares. Tudo isso deve ser eminentemente agradável à Escola Normal, onde o meu curso era motivo de tanta aflição para a consciência e a ilustração pedagógica dos seus diretores.

Parece que as cousas na Bahia estão tão hostis a mim que até os tabeliões, já se opõem a reconhecer a minha firma. Não digo nada da Diretoria da Instrução, que chefiei durante mais de cinco anos, não aceitar uma procuração desse antigo diretor, por não estar a sua firma reconhecida, registrada, diz você. E os tabeliães? Também os tabeliães já desconhecem a minha firma?

Eu bem sei, meu caro Archimedes, que essa má vontade não parte de você. Mas, devem estar conjurando, em torno de você contra mim. Qualquer professora obtém licença, Deus sabe como... Nunca ninguém viu as suas procurações. Um ex-diretor pede, porém, uma licença sem vencimentos: é essa luta.

Adeus. Vê si me facilita aí alguma cousa. E aceite o mesmo abraço afetuoso de sempre do sem amigo Anísio.

 

Rio, 29 de abril de 1931.

 

Caríssimo Archimedes.

 

Não preciso desculpar-me da impertinência inocente da minha última carta. Ambos tínhamos razão. O conhecimento dos fatos é que era incompleto de parte a parte. E, afinal, deram-me a licença?

Agradeço-lhe muito vivamente tudo o que fez pelos pedidos que lhe encaminhei.

A minha demora aqui ainda será de um mês a mês e meio, salvo imprevistos.

Pedi ao Joaquim para mandar-me alguns livros a fim de não perder de todo o meu tempo e até hoje nada recebi. Quando chegarem estarei eu de volta. Como é

longe a nossa terra!

Como repercutiu a reforma do ensino aí? Por aqui a grita é grande, e profundamente típica de como não mudou a mentalidade do país. Salvo a questão das taxas, que não foi posta nos devidos termos, pois devia ressalvar a questão do estudante pobre e inteligente, tudo em que a reforma está sendo atacada é o que ela tem de mais sério.

Com efeito, V. não pode ocultar que, apezar dos erros e, sobretudo, do incompleto, foi, todavia, a primeira reforma que teve em vista o ensino e não interesses de professores ou interesses pessoais. Faço imensas restrições à reforma, o nosso trabalho foi grande, amputado pelo retoque final que deu ao projeto a comissão universitária, mas reconheço-lhe os méritos e sobretudo o propósito superior de organizar o ensino, tendo em vista o ensino.

V. sabe como isso tem sido raro entre nós.

E, agora, meu caro Archimedes, ainda um pedido, esse como vivo interêsse. (x)

E, adeus. Recomende-me a Ana Maria. Beijos para Antonieta e as outras duas pequenas. Abraços para os seus cunhados, especialmente o Lourenço. Afetuoso abraço do antigo a)Anísio.

 

 

São Paulo, 5 de julho de 1931

 

Caríssimo Archimedes.

 

A sua carta de 8 de maio - que tempo! - causou-me uma simpatia - no sentido exato da palavra - sofrer juntamente - tão grande que a guardei em uma pasta a parte, para respondê-la com vagar e com amizade. Mas, o tempo foi passando, e com ele vieram tantos trabalhos, que só dois meses depois lhe venho eu dizer a palavra que a minha gratidão e a minha estima lhe devem nas atribulações por que o faz atravessar a nossa triste Bahia.

Desse redator da Era Nova de que V. está tendo tão inesperada retribuição, hoje só faço uma idéia, a mais caridosa que me ocorre: é um paranóico. Tenho dele

recebido cartas extensíssimas em que não sei o que mais notar, si a prolixidade disparatada, si a duvidosíssima sinceridade. Não tenho respondido as últimas.

E, agora, devo lhe dizer que não serei eu que o dissuada de sua vinda para o Sul? V. como a sua capacidade de trabalho e a sua competência especializada, terá, sempre, ao meu ver, um lugar nos centros de trabalho organizado, como já o é São Paulo. E aí o melhor que V. terá será sempre amargado com as pequenices do meio baiano, tão singularmente mesquinho e que, quando nada tiver para lhe dizer, dir-lhe-á que V. não é baiano.

Por outro lado, V. tem um modo de agir objetivo, nascido do seu convívio com a ciência e do seu próprio temperamento, e que choca o meio ainda afetivo e primitivo dessa taba de índios. Não se desfaça, portanto, da sua idéia de vir para cá. A taba aqui é maior e os índios flecham menos, como diz o Afrânio.

Presentemente, São Paulo tem uma singular receptividade para os paulistas e uma singular predileção pelos técnicos. O governo João Alberto tem buscado suprir a fraqueza do lnterventor com o acerto da escolha dos funcionários. Teodoro Ramos é o Secretário da Educação. Veja aí por meio deles si V. obtém qualquer cousa. E mude-se. Dói-me ser obrigado a dizer isso a um amigo, estranho à Bahia e que lhe está procurando tanto servi-Ia e que a tem servido. Mas, é o que lhe dita a amizade que lhe tenho e o conhecimento aguçado que também tenho das cousas da minha terra.

Adeus. Lembre-me a Ana Maria e beijos para Antonieta e as outras pequenas.

Seu muito afetuosamente a)Anísio.

 

Ilhéus, 6 de julho de 1931.

 

Meu caro Archimedes.

 

... Eu previa as reclamações que chegaram até V... Já está supressa do orçamento municipal a verba que antigamente era destinada ao delegado escolar residente. Pode comunicar ao dr Bernardino para responder aos eternos descontentes e maldizentes, como V. bem diz.

Já lhe escrevi que exercerei o cargo com muita satisfação, mas está em suas mãos se com o meu exercício lhe surgir o menor aborrecimento... Pelo Secretário da Agricultura rui encarregado de proceder à medição final do prédio de Água Preta. Quando se inaugurar, poderemos contar com a sua vinda?

Abraços do seu colega muito amigo a) Jaime. (x )

 

Ilhéus, 27 de julho de 1931

 

...V. sabe como me sentiria bem em trabalhar pelo ensino, principalmente com V. à frente, mas, o exercício da fiscalização da Estrada, principalmente com estudos de tarifas, nova superintendência e o acerto de todos aqueles meses em que permaneceu acéfala tem me absorvido bastante tempo e a delegacia escolar aqui tem muitas cousas a fazer...

Sobressai ainda aquele motivo de que o Bernardino falou: o nome Spínola Teixeira ainda doe àqueles muitos revolucionários baianos do dia 24...

(Jaime Spínola Teixeira lembrava para o seu lugar o dr Salvador Araújo, brilhante advogado, ativo e honesto, cuja nomeação a situação política veria com bons olhos).

Espero que V. aceite o que lhe expus e que veja nisso empenho em facilitar a ação da Diretoria.

Disponha do amigo sincero e colega a) Jaime Spínola Teixeira.

 

Rio, SEM DATA, em 1932.

 

Meu querido Archimedes.

 

Recebi, quando ainda não sabia se aceitava a Diretoria da Instrução, o seu telegrama de 8 deste. Compreendi-o inteiramente. A sua carta apenas confirmou tudo o que eu pensava.

A situação, aqui, porém, muito especial, exige que não chame, ao mesmo tempo, duas pessoas da Bahia para a minha administração. Penso, constantemente, no seu caso. Tenho por ele, além do interesse da amizade pessoal, o interesse do baiano que lhe desejava ver mais bem pago do seu grande esforço por nossa terra. Si me fôr possível contribuir para a sua vinda para o Sul, creia que isso me será tão grato quanto a V.

Ao ler o seu discurso (x") me comovi fortemente. A sua palavra magoada e digna e o seu altivo desabafo devem ter produzido um vivo efeito na triste insensibilidade da gente que combatia a sua ação. Temos hoje ambos uma experiência amarga a respeito desse terrível serviço público que é, apezar de tudo, a nossa vocação.

São com esses olhos experimentados que encaro a "lua de mel" desses meus primeiros dias de batalha.

Adeus. Lembre-me a Ana Maria e às pequenas.

O seu afetuosamente a) Anísio.

 

 

 

 

 

Rio, 1 de outubro de 1933.

 

Caríssimo Archimedes.

 

Aqui me chegou com a sua apresentação de província o seu último livro, que é todo ele, de pensamento, no seu aspeto mais amplo e permanente. Alguns dos seus estudos, já conhecia; outros , tive a satisfação de ler agora. V. pertence à estirpe dos homens de ciência que veem e sentem que as retortas e os provetes são também instrumentos de filosofia. (x)

Com o meu abraço, as minhas afetuosas felicitações.

Sempre seu a) Anísio.

 

No exílio de Caiteté, 1936.

 

Meu prezadíssimo Archimedes.

 

A sua mensagem alcançou-me e fez-me o bem que V. esperava.

A todos nós que conhecemos a profunda verdade histórica de que o homem só pode ser tornado livre e feliz por educação e muita educação, os tempos de hoje de crença na violência e nos seus milagres só podem trazer tristeza e mágoa. E nessa atmosfera só a solidariedade dos que pensam do mesmo modo pode ser de algum alívio. Felizmente, é maior ainda do que se pensa o número desses crentes nas possibilidades pacíficas, e só pacíficas, da adaptação do homem à vida comum, num regime de razoável respeito mútuo e razoável igualdade social. E felizmente também os que assim acreditam, sabem que isso não será feito só pela vontade de alguns, mas pela generalização de uma mentalidade lúcida e crítica. Estou hoje persuadido que para tal generalização nada mais imprescindível do que o conhecimento da História, não, porém, em suas monografias especializadas, mas, em suas linhas gerais, em suas lições fundamentais, em sua filosofia.

E por isso, humildemente, já me atirei à tradução do Outline of History, de Wells. São 1200 páginas quase milagrosas de clareza, como V. sabe. E estou quase no fim. Vamos ver si o Brasil a lê, como o mundo a leu. No mundo já foram vendidos mais de 5 milhões de exemplares.

E adeus, meu grande amigo. Até à vista. Lembre-me a Ana Maria e beijos para a afilhadinha.

Todo seu a) Anísio.

 

Santos, 20.1.36

 

Meu caro Archimedes: sabia-o pela Europa, com Anna Maria, vivendo uma vida de inteligência e razão, quando recebi a sua carta de 16 do mês passado, já da Bahia. Depois, aqui em Santos, soube que V. já voltara há algum tempo. A sua carta trouxe-me, assim, além da alegria da sua solidariedade a alegria de suas notícias.

Aqui estive, nesta sua cidade, cerca de um mês. Repouso e calor fizeram-me a obra de reparação. Quais não me lembro deste remotíssimo dezembro. Estou de novo, por esse tropismo de nossa geração, voltado para o amanhã. Pretendo entregar-me a uma obra de divulgação de pensamento científico contemporâneo. Não é possível que o Brasil continue a pensar que nada existe além do nariz. Não se pensa, cheira-se. Agora, tudo lhe cheira a comunismo. Com os olhos voltados para baixo, a grunhir nos côxos orçamentários, os seus sustos têm qualquer coisa de palermice míope dos suínos. Mas é falta de cálcio. Infantilismo. Precisamos mostrar que há, nos paízes sãos do Ocidente, todo um forte e vigoroso pensamento, mais do que nunca reconstructor e optimista. Facismo e comunismo são remédios, ou são castigos. Mas, fora deles há saúde e vida normal...

Lembre-me a Anna Maria, por mim e por Emilinha. Saudades para a afilhada Antonieta e para as outras pequenas. E creia sempre no seu amo sempre grato.

Anísio

 

Sigo depois de amanhã para S. Paulo. O meu endereço é:

Comp. Editora Nacional, Rua dos Gusmões, 118 - S. Paulo

 

São Paulo, 27 de abril de 1939.

 

Meu caro Archimedes.

 

Não encontrei aqui os livros encomendados por nós. Houve qualquer extravio na correspondência. Refiz os pedidos.

A minha permanência em São Paulo está se escoando entre os deveres da Editora. (x) Não tenho sinão pouco tempo para encontros. Nem por isso deixo de sentir o "clima" desta cidade, o estranho clima de ação, de vontade, de energia. É o "outro" Brasil!

Como deve ser grande a sua saudade daqui! Filho de São Paulo residindo no "museu" do Norte! E eu que para lá desejo voltar! Volto, sabendo, porém, que faço uma imensa loucura. Mas, as loucuras são, às vezes, os pedaços mais interessantes da vida.

Lembre-me a Ana Maria e a Antonieta e às meninas.

Sem de sempre a) Anísio.

 

 

S/S Araçatuba

 

A Bordo, 25 janeiro.

 

Meu caro Archimedes:

 

Como verá pela revisão

que lhe mando do trabalhinho

que vae ser publicado na Revista

de Educação, será indispensável

fazer-se nova composição. Sei que

isso representa novo esforço e nova

despesa, mas não será melhor para a

própria Revista, que terá assim um

trabalho correcto e legível, que

presentemente não tem?

 

Faça o sacrifício. De minha parte,

procurarei contribuir para a nova

despesa, que, bem sei, é toda devida

a culpa minha, que lhe não dei o

manuscripto completamente preparado.

 

Estou fazendo bôa viagem.

O vapor trepida muito, o

que dificulta escrever-se.

Adeus. Breve ahi estarei:

Mtº seu

 

Anísio

 

Bahia, 12 de fevereiro de 1941.

 

Meu caro Archimedes.

 

Está V. de novo em trabalho de amostragem (x). Ora, acabo de encontrar na revista junto um artigo sobre a matéria. Creio que será interessante para V. a sua leitura.

Continuo a pensar que não será impossível obter a coincidência entre as amostras daqui e as da América. E para isto forçoso será continuar a observar si as diferenças de métodos não serão as causas das divergências encontradas.

Com um abraço, seu velho amigo a) Anísio.

 

Bahia, 15 de março de 1941

 

Meu caro Archimedes.

 

Temos já três amostragens suas a pagar. Como gostaria de liquidar certas pequenas contas, antes de dar o meu salto a São Paulo, ficaria muito grato se V. me mandasse as suas notas para pagamento.

Um grande abraço do a) Anísio.

 

Bahia, 17 de abril de 1941.

 

Meu caro Archimedes.

 

Os nossos compradores de minério tomaram a iniciativa de nos mandar as instruções anexas sobre a amostragem.

Verá, por essas instruções, quanto o processo é complicado e delicado. (x") Também lhe envio um quadro dando os diferentes estágios da amostragem. Muito apreciaria que V. o examinasse e depois o devolvesse para o nosso arquivo. Logo que estivermos juntos conversaremos sobre tudo isto.

Abraços do a) Anísio.

 

Bahia, 26.4.1941.

 

Dr Archimedes.

 

Cumpre-me levar ao seu conhecimento que, em obediência a dispositivos fiscais, nesta data, comunicamos à diretoria do Imposto de Renda, desta Capital, haver pago a V.S., durante o ano de 1940, rendimentos na importância de R$ 1:000§000, como total de todas as notas de crédito emitidas a favor de V.S. Atenciosas saudações. a) Anísio Spínola Teixeira.

 

Rio, máio, 57

 

Ao seu caro amigo Archimedes, em homenagem à antiga amizade, vem agradecer a carta com que o distinguiu, por motivo da sua renúncia ao cargo de Conselheiro da Fundação para o Desenvolvimento da Ciência, abraçando-o, cordialmente, o a) Anísio Teixeira.

 

TELEGRAMA. Rio, 1.2.1959.

 

Gratíssimo seu "Problemas de Base Estado Bahia" o qual constitue peça inicial nosso dossier relativo planificação necessidade pessoal nível superior nosso Estado. Afetuoso abraço a) Anísio Teixeira.

 

Rio, janeiro, 13, 1961.

 

Meu caro Archimedes. Muito lhe agradeço o recorte sobre o nosso comum amigo Otávio Mangabeira. Ainda não me refiz, nem me irei refazer dessa perda. Com o abraço de sempre seu a) Anísio.

 

Rio, 3.6.1961

 

Caríssimo Archimedes.

 

De Belo Horizonte me chega um apelo da professora Helena Antipoff para que eu o anime a aceitar um convite que ela vai sugerir à administração estadual no

sentido de vir você a dirigir o Instituto Superior de Educação Rural. Esse Instituto se acha localizado na Fazenda do Rosário, a meia hora de Belo Horizonte, por automóvel. Veiu coroar uma série de instituições escolares existentes na Fazenda do Rosário. Foi constituído graças ao auxílio financeiro dado pelo INEP. Tem boas acomodações para as alunas internas e para o diretor e sua família. Dona Helena pensa justamente que um engenheiro, com a sua competência e a sua experiência em assuntos de educação, pode contribuir muito para que o Instituto habilite suas alunas a influírem, mais tarde, na vida econômica das localidades onde vão ensinar ou dirigir serviços. - Sei que você está sempre sendo disputado por uma porção de cousas. No caso, porém, de convite para esse cargo da Fazenda do Rosário, penso que merece ela toda a consideração. Um grande abraço de ANÍSlO.

 

 

 

 

Santiago, 19.7.1965.

 

Caríssimo Archimedes.

 

A sua carta de 7 deste foi-me retransmitida de Los Angeles, que deixei no dia 21 de junho e aqui me chegou hoje. Veja bem que é ainda uma exceção o nosso Correio aéreo: de Belo Horizonte a Santa Mônica, Califórnia e dali para Santiago em 10 dias, porque chegou ao Chile no dia 17. Com o Correio daqui é que retardou para me chegar hoje às mãos. Foi um prazer ter as suas notícias. Tenho andado nos últimos tempos por tanta parte, que não tem sido fácil manter o contato com os amigos. V. escreve em meio à semana da SBPC, de tão alta recordação. Na reunião anterior, ainda pude estar presente. Este é realmente um movimento que conforta no Brasil, sobretudo, porque não é cousa do governo, mas, na melhor linha britânica, um movimento público, feito por pessoas privadas. Tenho esperança de ver a Ciência organizar-se no Brasil, como se organizaram os esportes e as artes, sobretudo, a música. O governo no Brasil é a nota que desfaina num país cheio, por outro lado, de forças de crescimento e de expansão. O meu pessoal aqui manda a todos vocês seus abraços. Baby está com um novo filho, nascido a 21 de junho, o André, que, com o primeiro, Leonardo, sauda os 4 de Antonieta. Com Emilinha, abraço Ana Maria, Antonieta e você, com as saudades de sempre do ANÍSlO.

 

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