OSCAR SPÍNOLA TEIXEIRA

Wilkinsburgh, Pa, 10 de outubro de 1920.

 

Meu caro Archimedes.

 

Estava à espera que V. mandasse a mim ou ao Cardoso (x) seu novo endereço para escrever-lhe. Como até agora V. não o fez, resolvi escrever-lhe para Chicago.

Há cerca de 15 dias que trabalho na Westinghouse Co, onde com a intervenção do nosso colega Cardoso fui admitido no curso de estudantes graduados.

A V. devo agradecer em grande parte a minha atual situação, pois V. foi quem provocou o meu encontro com o Cardoso, e quem me escreveu em primeiro lugar sobre a possibilidade de entrar para a Westinghouse. Aceite, portanto, meus sinceros agradecimentos.

O curso da Westinghouse é inteiramente prático e eu penso que dele tirarei grande proveito. Não deixe de dar-me sempre suas notícias no que muito me agrada.

Um abraço do patrício, colega e amigo a) Spínola.

 

New York City, 29 de janeiro de 1922.

 

Meu caro Archimedes.

 

A sua carta contando-me as aventuras oceânicas (xx) deu-me momentos de real satisfação, não só por ter feito o colega excelente viagem, como por ter encontrado a nossa terra e a sua gente bem.

As suas aventuras são uma prova da sua vitória certa neste mundo de incertezas; o juízo que de si fez o americano de Juiz de Fora é o mesmo que faz todo aquele que tem a oportunidade feliz de travar relações consigo. É o resultado do seu caráter e das suas outras fidalgas qualidades.

Com o espírito prático de americano, adquirido neste país, suponho-o já em Juiz de Fora; nestes tempos de crise não se abandonam facilmente prendas, educação, beleza e riqueza. Que mais haveria de querer você?

Há cerca de um mês abandonei o serviço da Westinghouse; o frio e a materialidade do serviço obrigaram-me a isto. Presentemente meço as ruas de New York (quando o tempo permite) e leio nas horas vagas.

Não deixe de observar as oportunidades em nosso país, antes de decidir por qualquer coisa. Terei muito gosto em ouvir a sua opinião. - Muitas lembranças para o Durval (xxx).

Abraça-o, cordialmente, o colega e amigo a) O.S.Teixeira.

 

 

 

Bauru, 27 de outubro de 1923.

 

Meu caro Archimedes.

 

..."A Bahia entrou em um acordo que lhe evitará grandes lutas, mas cuja solução não é imediata. O futuro governador vai ter interessantes casos políticos a resolver, a começar pelas duas câmaras estaduais.

No sertão, o Seabra estava armando os seus correligionários, que se lha igualam em audácia e caráter, contra a minha família. O acordo derrubará estes planos maquiavélicos, conquanto acredite eu que os seabristas não levassem o melhor partido na luta do sertão. Em todo o caso, a luta armada poderia trazer conseqüências bem desagradáveis. (x)

Aqui estou com o nosso Clodomiro (xx), que não tem desmentido o que dele conhecíamos da Escola. Tem sido a sua administração uma calamidade. Eu o julgo maluco. Já tem contra ele todos chefes de serviço. Creio a sua situação sustentável, acrescendo a isso a má vontade que lhe tem o Ministro. É possível, no tanto, que ele vá ficando.

Alegrou-me saber que V. vai conseguindo o justo renome a que tem direito pelos seus indiscutíveis méritos. Faço votos para que seja de grandes prosperidades a sua estada em Sergipe.

Nada me escreveu V. sobre a sua impressão da Bahia e dos baianos... Será que ela não tem sido boa? Não sou bairrista, não tenha, portanto, receio de dizer a verdade."

Abraços do colega e amigo a) Spínola

 

Guanamby, 2 de julho de 1924.

 

Caríssimo Archimedes.

 

A sua carta de 8 de máio último, dirigida para Bauru, veiu me encontrar neste sertão baiano, gozando das delícias de um clima admirável, e metido em negócios, longe do bulício das grandes cidades e também da amolação pouco suportável do Clodomiro.

Velhas amizades não se esquecem, diz V., principalmente quando são baseadas em desinterêsse e sinceridade, e quando há uma certa comunhão senão de ideais, pelo menos de princípios. Nestas condições, ainda que separados por largo traço de terra, ou mesmo em mundos diferentes, nunca se apagam e os pensamentos se juntam e, com certeza, a ser verdade a existência de espíritos, eles atravessarão os espaços e farão comunicações que as forças físicas não podem conseguir. Estas amizades têm evidentemente uma base mais profunda que imaginamos.

Deixei Bauru em gozo de licença a fim de visitar a família. Aqui chegando, encontrei à minha disposição a gerência da Empresa Industrial Sertaneja. Eu, que sempre detestei emprego público, não recusei e me vejo assim transformado em negociante de algodão, sabão, óleo e gado.

Politicamente, vamos melhor. A queda do Seabra foi um grande bem.

O novo governo não nos satisfaz em tudo. É novato na política e caminha com medo. Em todo o caso está tudo bem melhor.

O meu irmão Anísio, hoje Inspetor do Ensino, goza de toda a confiança do Governador e representa hoje a política deste sertão, em substituição a meu Pai que, desgostoso com a solução de certos casos aqui, se afastou da atividade política (x" ).

Não se esqueça de enviar-me as notícias de seus merecidos triunfos.

Disponha sempre do amigo e colega a) Spínola.

 

Bahia, 18 de abril de 1925.

 

Meu caro Archimedes.

 

..."Os parabéns que V. me envia pela entrada para a Câmara Estadual eu os agradeço muitíssimo.

Realmente, a Bahia entrou em uma fase de aproveitamento de capacidades, salvo algumas exceções, como, por exemplo, o meu caso.

Saí da Noroeste, quando o lsidoro (x) ainda não era conhecido e se lá estivesse ficado teria permanecido sem dúvida com a legalidade.

Desde já antecipo os meus parabéns pelo pedido oficial que diz pretender fazer. Eu, também, já estou preso em Bauru, para onde devo voltar ainda este ano, vindo, porém, residir no Estado da Bahia.

Queria lembrar ao Anísio o seu nome para diretor do Ensino Profissional do Estado da Bahia. Teria assim V. que organizar todo o ensino profissional que ainda não existe, compreendendo ensino agrícola, de artes e comércio. Soube, porém, que V. ganha aí mais de 2:000$000 mensais e o cargo para o qual lembrei o seu nome é de 1:000$000 mensais; assim penso que não há vantagens. Em todo o caso V. diga algo a respeito com urgência. (xx).

Algumas pessoas aqui que lhe conheceram na Politécnica (xxx) tem-me falado a seu respeito, parecendo-me que V. deixou em todos esta simpatia que caracteriza as suas qualidades.

Receba um abraço do colega e amigo a) Spínola.

 

Guanambi, 10 de junho de 1926

 

Meu caro Archimedes.

 

...Os rebeldes visitaram, em correrias, cometendo toda a série de banditismo, a Bahia.

Ainda estão na margem do São Francisco, que vai se tornando uma barreira intransponível para eles. Caetité salvou-se, devido a termos organizado uma pequena resistência, porém, eficiente. Como eles fogem a todo combate, a nossa pequena resistência foi bastante para salvar a cidade do saque. A população viu-se, porém, obrigada a fugir, pois não era possível predizer o resultado do combate, caso viesse mesmo a se dar.

O pânico causado pelos rebeldes foi simplesmente espantoso em todo este sertão.

Pegados de surpreza (Caetité desconfiou de sua aproximação, quando ainda eles estavam a 20 léguas de distancia) os sertanejos fugiram na maior parte. Houve algumas lutas isoladas com prejuízo para os rebeldes.

Da Bahia pode-se dizer que eles levaram apenas maldições, nenhum apôio moral ou material encontraram de seus habitantes, hoje mais do que nunca dasejosos de vê-los derrotados. Vai tomando grande incremento qualquer idéia contrária à anistia.

Do amigo e colega a) Spínola.

 

Bahia, 11 de agosto de 1926.

 

Meu bom Archimedes.

 

..."Junto lhe remeto uma carta ao major Scarcelli que peço entregar em mãos e procurações e requisições para V. receber aí. - Procure ver os documentos que deixei com o major Scarcelli, recebendo as importâncias dos que já estiverem legalizados e depois recebendo todos aqueles que não puderem ser pagos. (x). Os documentos que lhe forem devolvidos peço-lhe enviar registrados para Caetité.

Passados oito ou dez dias V. procure receber todos os documentos que apresentem qualquer dificuldade para pagamento, m'os devolvendo, salvo se o major der esperança de pagamento.

Não desejo, porém, que o general (xx) ao sair daí leve algum dos documentos sem o respectivo pagamento efetuado. Pode tirar a comissão de 5% de que lhe falei. Toda a importância recebida V. poderá mandar entregar a Salles e Cia, Rua Conselheiro Dantas 35 - Bahia, para crédito do dr Deocleciano Pires Teixeira, dando-me aviso. Pode fazer isso por intermédio de qualquer casa comercial daí que tenha negócios com a praça da Bahia".

Abraços do colega e amigo a) Spínola.

 

Guanambi, 27 de setembro de 1926.

 

Oscar Spínola Teixeira comunicava-me que recebera, de Salles e Cia 5:130$000, que eu por minha vez, recebera em Aracaju da Intendência do Exército.

 

 

 

 

 

Guanambi, 24 de janeiro de 1928.

 

Meu caro Archimedes.

 

... "Seu Pai atendeu-me com grande solicitude, pondo-me completamente ao par do que precisava. O que eu desejava era uma informação sobre uma firma de Santos a quem eu tinha pedido certa mercadoria. A firma desapareceu e nós ainda conseguimos rehaver a mercadoria que se achava no Rio. Por tudo lhe fico muito grato.

Com um abraço do colega e amigo a) Spínola.

 

Guanambi, 30 de dezembro de 1930.

 

Meu caro Archimedes.

 

..."Senti imenso que V. não tivesse vindo a Caetité. Conforme telegrafei a V. representei-o na sessão de formatura da Normal. (x)

O atual governador da Bahia (xx) mostra-se cheio de rancor contra nós da família Deocleciano Teixeira, chegando este ódio gratuito até os nossos amigos. Penso que ele conhece Anísio e Nelson. Eu o conheço de vista. Não sei qual o motivo de estender tão longe o seu rancor. A política nestes municípios vizinhos de Caetité e no próprio Caetité está sendo feita exclusivamente na base do ódio pessoal. Para chefe local é necessário apenas ser inimigo da família Teixeira, ou de um dos seus membros. Para cá têm vindo funcionários que, abusando dos seus poderes, se ligam estreitamente aos nossos inimigos e procuram tão só humilhar amigos nossos. Não sei a que fim pretendem chegar com tal programa, que estou certo não é o da Revolução.

Tenentes da Polícia, que já eram célebres pelos seus crimes impunes no sertão na situação passada, graças à proteção do dr Madureira de Pinho, continuam a ser enviados para cá e, sob o pretexto de desarmamento, cometem impunemente as maiores violências físicas. O tenente João Antônio está dando salvo-condutos para portar armas até a 10$000! O tal desarmamento está sendo fonte de injustiças, arbitrariedade e roubos. Pessoa que se diz delegado regional, embora tal nomeação não conste dos jornais, recebe armas e com as melhores presenteia amigos.

O sertanejo, excessivamente pacífico, levado ao pânico pelos acontecimento, está suportando os maiores vexames. Temos esperanças de que o general Tavora (xxx), que todos dizem um idealista das melhores intenções, resolva afinal olhar para a Bahia e dar-lhe melhores dias.

Embora na lista negra do atual governador, eu acredito que conte com a sua prestimosa amizade e por isto lhe mando junto uma nota de transferência de professora, desde já me confessando muito grato pelo obséquio.

Receba um abraço do colega e amigo a) Spínola.

 

 

 

Guanambi, 21 de março de 1931

 

Meu caro Archimedes

 

Pela sua última carta vejo o que V. diz do Leopoldo e a resposta que ele deu ao tópico de minha carta. Ele se declarou nosso inimigo, por causa daquela rixa com Anísio. Felizmente para a Bahia estamos livres dele.

Continuamos, não obstante a mudança do governo, a sofrer as conseqüências dos aventureiros que tomaram conta do poder nesta zona. Temos confiança que com o tempo o dr Artur Neiva modifique este estado de cousas. Tenho denunciado ao dr Bernardino de Souza alguma cousa. Não sei, porém, que consideração ele tem dado aos meus telegramas.

A situação aqui, conquanto melhorada, ainda é de inquietação e de aborrecimento. Aventureiros montados pelo dr Leopoldo com o único fim de humilhar e perseguir nossos amigos, continuam aviltando as boas intenções da Revolução.

Não arranjaria V. aí uma professora formada para substituir o leigo que aqui está do sexo masculino?

Receba um abraço do colega e amigo a) Spínola.

 

Guanambi, abril ou máio de 1931

 

Meu caro Archimedes.

 

Em princípio deste mês telegrafei a V. dizendo que Anísio pedira ao dr Bernardino de Souza as nomeações políticas de Caetité e lhe pedia a fineza de responder se as indicações haviam sido aceitas, e caso afirmativo, retirar os títulos. Nem V. respondeu, nem o dr Bernardino respondeu a Anísio.

Não podia supor que um governo cujas principais figuras são Barnardino de Souza, Tosta Filho e V., nos fizesse oposição. Francamente, o homem deve estar preparado para as surprezas e é difícil saber onde estás o antigo. lmagine que ao nome de meu Pai substituíram, como chefe político de toda a zona de Caetité, um aventureiro de péssimos precedentes. Este homem é presentemente o mentor político toda esta zona, por ordem de Durval Públio de Castro, que diz contar com as simpatias do governo.

Temos sofrido toda a sorte de humilhações, calúnias, perversidades e a tudo o governo se mostra indiferente, porque o sertão, para os que governam, nada vale. A anarquia vai aqui se implantando.

Dizem que o governo de São Paulo é comunista. O da Bahia parece querer fazer experiência de anarquia, isto é, de ausência de governo. Há municípios, como o de Riacho de Santana, inteiramente acéfalo; outros, como o de Monte Alto, com autoridades que carecem de prestígio moral e por isto caminham, também, anarquisados.

A diminuição de rendas municipais deve estar sendo formidável, pois as autoridades, sem prestígio perante as populações, não conseguem o pagamento dos impostos.

Em outros municípios, como o de Caetité, há intranquilidade, o desassossego, o aborrecimento. Parece-me que o Anísio, na Diretoria da Instrução, só criou inimigos, muito dos quais só esperavam o alcance de melhores posições para mostrar seus sentimentos.

Estou crente que V. é dos raros que sentirão este estado de cousas, embora eu, pessoalmente, tenha a lamentar ser sempre importuno nos pedidos que lhe faço e por isto nunca consegui vê-los satisfeitos.

Escreva-me sobre o momento e as coisas públicas. Aqui há grande ansiedade pelos acontecimentos que estão por vir, pois a situação atual é insustentável.

Como foi comentado aí o decreto suspendendo os prêmios e as amortizações empréstimos internos? Será idéia diminuir o já pequeno crédito de que goza o Estado e anular as razões jurídicas e de bom senso que impedem que um contratante desfaça cláusulas de um contrato, sem consentimento de uma das partes?

Teremos funding interno por decreto, sem serem ouvidos os prestamistas? "

Receba um abraço do colega e amigo a) Oscar.

 

Guanambi, 2 de junho de 1931.

 

Meu caro Archimedes.

 

..."Nunca pus em dúvida a sua amizade, nem tinha o direito de o fazer. O trecho de minha carta não se referia ao pessoal da Diretoria e nem a gente fóra dela. As atitudes dúbias, ou pouco definidas, nunca tiveram a minha simpatia. Aquele trecho de minha carta foi produzido pela irritação que me causou o fato de ter acreditado em falas que chegaram até aqui, por testemunhos insuspeitos de amizade e solidariedade a Anísio, fazendo com que eu insistisse junto a Anísio para procurá-lo. A resposta foi o silêncio. Se não é oposição aos Teixeiras é medo de com eles ser solidário. Os fatos demonstram claramente isto.

O Leopoldo Amaral, por causa daquela birra com Anísio (x) pôs atrás de nós um cão apanhado em Cachoeira e só não levou a perseguição à tragédia, porque o seu governo foi curto. Iniciado o novo governo, se o aventureiro audaz foi apeado das posições oficiais, ficou como mentor político de Caetité e vizinhanças, a ele prestando obediência prefeitos e delegados. As nomeações de Caetité recaem em desafetos nossos, por indicação de Durval Públio de Castro. Se ele diretamente não faz as indicações, alguém está fazendo por ele.

Ainda agora o próprio dr Bernardino de Souza demite um pobre chefe de família do lugar de avaliador privativo de Caetité, para nomear adversário nosso. Eu acredito que, mesmo no longo período de ostracismo político de meu Pai, ele nunca encontrou como agora tantos atos de franca atitude pessoal contra nós.

Muito grato sou pelo seu interêsse, porém, peço-lhe para não falar ao governo de nós, Teixeiras. Desejamos ficar onde estamos, e a grande experiência de ir conhecendo melhor os homens talvez compense as injustiças que temos sofrido.

Tenho acompanhado com interêsse pelos jornais o movimento do seu Estado. Ontem, li que criaram uma associação com intuitos separatistas. Se este colosso se transformasse em dois ou três, teríamos a vantagem de uma emigração com mais segurança em tempos como os de hoje. Eram países da mesma língua e costumes semelhantes.

Se tivesse recursos eu iria passar fora do Brasil, até que implantada estivesse a nova mentalidade, ou que pelo menos se soubesse claramente o que querem dizer estas palavras".

Receba um abraço do colega e amigo a) Spínola.

 

Guanambi, 21 de abril de 1932.

 

Meu caro Archimedes.

 

..."Com uma seca formidável aqui vamos sofrendo os resultados de todas as crises que assolam o país, das quais a maior é evidentemente a política. Felizmente, tudo faz crer que de São Paulo para baixo alguma coisa de sensato e honesto irá aparecer.

Estou ansioso pela realidade que virá demonstrar que a tal coesão do Norte é um mito. O Norte, escravizado, na hora decisiva, não poderá atender ao chamado do Suo e então veremos os vice-reais saírem tio ligeiros quanto os mandatários de Washington. Tenho muita fé no Sul. Só de lá poderá sair qualquer coisa boa. Assim era, aliás, na República defunta."

 

Guanambi, 12 de outubro de 1933.

 

Meu caro Archimedes.

 

..."Sobre o assunto de sua carta, devo dizer-lhe que ela me encontrou justamente quando eu voltava de uma viagem ao São Francisco e em cuja viagem pensava constantemente no descaso do governo pelo sertão, cuja população pobre vive miseravelmente, em choças sórdidas, cheios de moléstias, adotando o amor livre, sem de nada lhes servir a estrada de ferro ou o vapor, que lhes passa muitas vezes à porta de casa. Plantam e cultivam o que mal lhes dá para a subsistência de eterno faminto.

Evidentemente, alguma coisa está errada. Parece que o primeiro passo de conforto para o sertão seriam hospitais. Caetité, Conquista, Lapa e Juazeiro seriam

pontos a neles instalar hospitais públicos.

Os sertanejos são de todo inacessíveis a um movimento de união, não têm confiança, são egoístas, e precisam de muito preparo para se tornarem conscientes de sua força quando unidos (x) e se imporem aos dirigentes da Capital. Até lá é preciso que os melhores intencionados de cá e daí façam alguma cousa para melhorar a mentalidade sertaneja.

Há tempos que alguns insistem comigo para fazer uma concentração sertaneja política, com o fim de unidos mais valermos perante o P.S.D. Ainda não tratei do assunto, porque julgo não encontrar suficiente apôio, dado o espírito de desconfiança, egoísmo e pouca fé do sertanejo.

Achei má e ridícula a idéia do Congresso leigo e lamentei que o nosso Nestor (xx) tomasse parte em tal movimento. O Nestor, aliás, é uma inteligência que pelas paixões do momento, especialmente políticas, está se orientando mal.

Receba um abraço do colega e amigo a) Oscar.

Bahia, 28 de agosto de 1946.

 

Meu caro Archimedes.

 

...Anísio, a convite do professor Julian Huxley, está em Londres como conselheiro de Educação da Organização das Nações Unidas. O convite veiu primeiramente de Londres, via Ministério do Exterior do Brasil e foi remetido para aqui, de onde o retransmitimos para New York, onde se achava Anísio no momento, atraz de umas locomotivas para a Estrada de Ferro de Nazaré. Anísio respondeu ao Ministério dizendo ignorar o assunto do convite e se devia pedir informações ao Rio ou a Londres.

Imediatamente o Ministério telegrafava a Anísio que o convite havia sido um equívoco lamentável e telegrafava para Londres que o educador Anísio Teixeira não fora encontrado e que sugeria o nome de Lourenço Filho e um outro cujo nome não me lembro agora. De Londres veiu a resposta para vergonha do Ministério: "Não pedimos sugestão e sim que transmitisse nosso convite ao educador Anísio Teixeira".

O Ministério calou-se e de Londres começaram a caçar Anísio até encontrá-lo em New York, para onde dirigiram então o convite.

Em princípios de setembro, deve Anísio transferir-se para Pariz, onde vai ser a sede do Departamento de Educação da ONU. Ele espera até o fim do ano decidir, finalmente, pelo honroso convite que não pode recusar e a volta para o Brasil.

Um abraço do colega Oscar."

 

BAHIA, 10.3.1947.

 

Meu caro Archimedes.

 

Devido a ter estado no sertão, muito tardiamente recebi sua carta de 1 de janeiro.

Anísio deve chegar aqui no dia 18 deste e possivelmente regressará à Europa para ocupar o cargo na UNESCO; pode ser, também, que não volte, pois este é o seu desejo, contrariado pela insistência dos homens de lá que o querem.

Não conheço nem consegui informações sobre o seu pedido a respeito da jazida de gipsita.

Embora ainda não terminada a apuração, creio que terei que fazer parte da nova Câmara Estadual. Não sei o que irei fazer, nesta fase de renovação dos costumes políticos.

Verbena se recomenda a todos daí.

Um grande abraço do colega e amigo Oscar.

 

Cidade do Salvador, 17.3.1953.

 

Meu caro Oscar.

 

Não sei se Igaporã existe realmente ou se será apenas uma ficção geográfica. Não quero saber a que partido político você pertence ou deixa de pertencer.

Sei, porém, que a intrepidez cívica com que V. hoje defende bravamente a sua gente sertaneja enche de orgulho e satisfação a todos aqueles que como eu o conhecem - há quarenta anos! - pela firmeza das convicções e galhardia dos propósitos.

Não podia faltar à peleja, quando se apresentasse a ocasião, um remanescente da velha guarda paulistana do nosso tempo, um filho espiritual da grande de Paula Souza.

Um abraço para você e um forte abraço do colega e amigo ARCHIMEDES.

 

BAHIA, 20.3.1953.

 

Meu caro Archimedes.

 

Sua carta de 17 constitue um julgamento que orgulha e enobrece quem a recebe. Aqueles que, como você, fazem da vida um santuário das mais belas qualidades de caráter, que eram as razões maiores da medida do valor naquela escola de Paula Souza, constituirão sempre uma fonte de estímulo às jornadas cívicas em nossa terra.

Receba o meu abraço de todo o afeto, pela alegria, conforto e estímulo que sua carta me deu nos conceitos que transfiro à causa da Justiça e da Liberdade que me coube a glória de defender.

Seu colega e amigo de sempre a) Oscar Teixeira.

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