CANDOTTI, Ennio. Propondo a criação do Fundo Anísio Teixeira de Divulgação Científica. Jornal da Ciência. Rio de Janeiro, v.14, n.442, ago. 2000. p.6.
Propondo a criação do Fundo Anísio Teixeira de Divulgação Científica
Ennio Candotti
A popularização da Ciência, a divulgação e a educação não formal envolvem milhões de pessoas, mobilizam paixões interesses que podem mover montanhas. Para isso precisam, apenas, de alguns recursos e muita determinação. Clareza de que, se a ciência e os conhecimentos não forem compartilhados por todos, em breve se tornarão grave obstáculo para as democracias e fator de crescente exclusão na vida dos povos.
É preciso pensar em instrumentos e sobretudo onde encontrar os fundos que nos permitam promover esta mobilização. Vejamos alguns exemplos:
1. Criar um Fundo Setorial Anísio Teixeira de apoio à divulgação e educação não formal em ciências humanas e naturais, utilizando para isoo uma parcela (0,51%) do faturamento das empresas que operam através de concessões do Estado, como por exemplo em rádio, TV, WWW, etc.
Este fundo, que poderia ser administrado pela Capes em homenagem a seu patrono, possibilitaria o financiamento de movimentos populares de educação e divulgação científica, laboratórios de educação e atualização profissional em C&T, museus, centros de ciências, documentação ememória, formação de professores e instrutores, além de publicações, vídeos, filmes, etc.
2. Admitir, nos editais dos Fundos Setoriais de apoio à C&T e do Fundo dos Fundos, o financiamento a projetos de divulgaçào e popularização dos conhecimentos e desenvolvimentos tecnológicos por eles financiados.
3. Criar programas de financiamento específicos para a divulgação científica e educação não formal em ciências humanas e naturais nas agências de fomento à C&T federais, estaduais e municipais.
São exemplos: o programa de fomento à divulgação científica do CNPq, anunciado na recente 52ª Reunião Anual da SBPC, e o Pró-Ciências da Capes. Este último, apesar de ser dedicado principalmente à atualização dos professores de ciências, poderia operar de modo mais amplo, promovendo também programas e projetos dedicados à divulgação e educação não formal em ciências.
4. Prever o financiamento da divulgação dos resultados nos recursos de apoio à pesquisa. Atualmente, o financiamento de projetos de pesquisa prevê que uma parcela de recursos seja destinada para a publicação de artigos em revistas especializadas (revistas cuja publicação de artigos é referendada por árbitros especializados). Estes auxílios, tradicionalmente concedidos pelas agências governamentais ou particulares de fomento à pesquisa, podem prever também recuroso para a adaptação e ilustração dos mesmos resultados, com o objetivo de divulgá-los para o público não especializado através dos meios eletrônicos ou impressos. Deveria ser, porém, preservada, também nesse caso, a cláusula de arbitragem técnica dos artigos e o controle de qualidade das informações. Exemplo desta proposta é o plano da Fapesp de financiar Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids), que prevê explicitamente o financiamento da divulgação dos resultados (ver notícia abaixo).
5. Estender para a divulgação científica a política de incentivos fiscais existentes para a área de cultura, criando também, de mode semelhante à cultura um Fundo para distribuir, segundo criteriosa seleção, as contribuições recolhidas.
6. Criar programas de fomento à divulgação científica nos fundos e fundações de apoio à ciência e cultura existentes e promover a criação de novas fundações particulares dedicadas à popularização das ciências humanas e naturais.
7. Participar e cooperar com iniciativas e programas de intercâmbio e incentivo à divulgação científica internacionais, através das sociedades científicas, academias, fundações e órgãos de fomento e de política científica.
A Conferência Internacional sobre Ciência, promovida pela Unesco em Budapest, em julho de 99, enfatizou a importância e definiu princípios para uma política internacional de divulgação científica. Estes princípios e recomendações foram transformados em diretrizes e programas concretos de ação no workshop promovido pela Unesco e o Governo britânico em julho de 2000 em Londres. (ver JC/441).
8. Criar um Fundo Internacional de Apoio à Divulgação e Popularização Científica com recursos particulares, de governos e organismos financeiros internacionais. Novas fontes de recurosos poderiam ser imaginadas para esse fundo, como, por exemplo, destinando parcela dos direitos de propriedade doados por cientistas, inventores, empresas e instituições científicas. Em troca, o fundo se empenharia em zelar pelo bom uso e divulgação das aplicações da ciência.
Por fim, uma proposta que não trata de recursos, mas que, se bem realizada, poderá influir na implementação das propostas anteriores:
9. Introduzir nos currículos dos cursos universitários uma disciplina específica de divulgação e popularização da ciência. Ela trataria tanto dos múltiplos aspectos da divulgação, em cada área do conhecimento, como das suas dimensões multidisciplinares, além de examinar seus impactos sociais e discutir o modo pelo qual o público entende os desenvolvimentos da ciência.
O programa do "Provão" deste ano )em algumas áreas, como, por exemplo, em física) examinou, além dos tópicos expecíficos, também o entendimento dos alunos em questões relativas à história da ciência, ao papel dos museus e centros de ciências e da divulgação científica na educação.
tratar estes temas nos currículos do ensino superior mobilizará estudantes e mestres e contribuirá, creio eu, para entender melhor o valor dos investimentos propostos e o significado do mote de Anísio Teixeira.
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