TEIXEIRA, Anísio. Reorganização e não apenas expansão da escola brasileira. Boletim Informativo CAPES. Rio de Janeiro, n.58, set. 1957. p.1-2.

REORGANIZAÇÃO E NÃO APENAS EXPANSÃO
DA ESCOLA BRASILEIRA

Anísio S. Teixeira

Parece que está cada vez mais a amadurecer a consciência dos nossos problemas de educação.

As fôrças sociais que vêm determinando a expansão dos serviços escolares começam a ser pressentidas, produzindo, de modo geral, o sentimento de que há de fato, mais que um problema de maior ou menor quantidade de escolas: o problema real é o de sua reorganização.

Essa passagem do puramente quantitativo para o qualitativo é que nos irá permitir achar o nosso caminho em meio à expansão tumultuosa do ensino brasileiro.

Nenhuma das nossas escolas pode conservar os antigos objetivos. A primária não pode ser nem puramente alfabetizadora nem puramente seletiva ou preparatória para o secundário. A média precisa constituir-se a continuação da primária, visando, como esta última, a preparação prática para as atividades múltiplas do nível médio de trabalho, inclusive o trabalho intelectual. A superior precisa estruturar-se em um nível básico de cultura geral ou pre-profissional e em um nível especializado, francamente profissional e altamente diversificado.

Correspondem essas mudanças ao novo estágio de desenvolvimento em que vai entrando o Brasil. O prolongamento até o nível médio do espírito que inspira a reconstrução da escola primária, transformada em uma instituição de educação integral, com propósitos de cultura científica e prática é uma imposição das novas condições do trabalho. A chamada cultura geral de caráter intelectual tem que ser transferida ao nível superior, devendo constituir o objetivo dos cursos básicos universitários, que conduzirão ao grau de bacharel em letras, em ciências e em artes.

Todo o debate brasileiro sôbre o ensino secundário participa do equívoco de se julgar ainda possível a cultura geral em nível secundário. O desenvolvimento da cultura humana se fêz tão vasto, que não é lícito esperar que se possa ministrar uma boa cultura geral senão no período universitário.

Organizada que foi a Universidade Brasileira, devia-se haver procedido a essa reestruturação das nossas escolas superiores profissionais, as quais, como sabemos, sempre foram instituições de cultura geral e de cultura profissional. A solução do problema teria duas alternativas: ou daríamos às Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras a tarefa do preparo básico (os três anos do curso de bacharel) dos estudantes superiores, que se distribuiriam depois pelos cursos profissionais especializados nas escolas profissionais; ou teriam estas também a possibilidade de organizar seus cursos de bacharelado, preparatórios aos cursos profissionais pròpriamente ditos. Exemplificando: cursos de bacharelato de ciências médicas, nas Escolas de Medicina, de bacharelato em ciências matemáticas e mecânicas nas Escolas de Engenharia, etc, etc.

Nem uma nem outra cousa se fêz. As Faculdades de Filosofia tomaram-se do propósito de serem novas escolas profissionais: de formação do magistério, quando esta formação devia iniciar-se depois do curso de bacharelato e êste se fazer cultura geral, entendida esta, convém atentar, não como cultura global ou total, mas, como utilização do conhecimento e do saber não tanto para fins profissionais como para fins de cultivo do espírito, da mente, da inteligência. Daí poder-se dizer cultura geral especializada, sem nenhuma contradição.

Reconstruídas, assim, a escola primária e a média, com os seus objetivos de estudos aplicados para não dizer práticos, todos os estudos "desinteressados" passariam para os cursos básicos da Universidade, seguidos dos cursos profissionais ou de ciência aplicada em nível superior e dos cursos de alta especialização até a ciência pura e a pesquisa pura e aplicada.

Visualizados dêste modo os três níveis da escola brasileira, muita confusão se evitaria e, talvez, se começasse a esboçar a possibilidade de um consenso entre os educadores e professôres brasileiros.

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