TEIXEIRA, Anísio. Porque "Escola Nova". Boletim da Associação Bahiana de Educação. Salvador, n.1, 1930. p.2-30.

 

 

ASSOCIAÇÃO BAHIANA DE EDUCAÇÃO

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BOLETIM Nº 1

 

 

 

PORQUE "ESCOLA NOVA"?

 

 

 

POR

 

 

 

ANISIO SPINOLA TEIXEIRA

 

Professor de Philosophia da Educação

 

 

 

 

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BAHIA – 1930

Livraria e Typographia do Commercio

Rua Silva Jardim, 85 – Telep. C. 1260

 

 

 

 

PORQUE "ESCOLA NOVA"?

 

Anisio Spinola Teixeira

 

Eu me proponho a discutir, hoje, aqui, o seguinte
problema: Porque escola nova? Porque toda essa
agitação transformadora, e tão custosa!.. de
praticas e habitos já tão queridos e que vinham
dando os seus resultados? Porque não satisfaz,
nem pode satisfazer a "escola velha"?

 

 

 

MOTIVOS SOCIAES DA RENOVAÇÃO

ESCOLAR

Natureza da civilização moderna

Para responder a essa pergunta, devemos, antes do mais, voltar os olhos ao derredór de nós e inquirir: que há de novo no mundo? Vivemos nós hoje como viviam os nossos antepassados?

O cuidado benevolente de um amigo levou-me, outro dia, a visitar, em São Paulo, o museu Ypiranga, o famoso museu paulista de historia e sciencias naturaes. Em uma de suas salas o observador encontra, construida em gesso, com um detalhe e uma perfeição notaveis, em miniatura, a cidade de S. Paulo em 1840. Apenas 89 anos atraz São Paulo era uma cidadesinha sertaneja, de casinhas brancas e solares coloniaes, com algumas igrejas e conventos a assommarem, aqui e alli. Na longa galeria que nos levara até essa sala, alinham-se as "cadeirinhas" que serviam de transporte à sua gente fidalga.

A quem se detivér na observação, e quizer fazer nascer alli, numa reconstituição imaginativa, o S. Paulo moderno, não lhe parecerá menos que milagre a immensa mudança.

O "progresso" tomou conta da cidade e fez della o que ella é hoje. Mas, que é "progresso"? Na imaginação popular é nelle que se resume o caracter da civilização de nosso tempo. E em "progresso" ella vê mais que tudo a transformação material do mundo. São as casas maiores e mais confortaveis. É o transporte mais rapido e mais barato. São as ruas mais bonitas. É a diversão mais interessante e mais accessivel. É a luz e agua mais faceis e melhores. São os jornaes e as publicações mais numerosos e mais bem feitos.

Mas é isso, tudo que faz o nosso tempo tão differente do tempo dos nossos antepassados de 1840? É isso e mais alguma cousa.

Porque progredímos? Que foi que se deu no mundo para que podessemos, em tão pouco tempo, mudar tanto que um romano teria menor surpreza em se encontrar na côrte de Luiz XV, do que teria um contemporaneo de Pedro I que surgisse hoje no Rio?

O que se deu foi a applicação da sciencia à civilização humana. Materialmente, o nosso progresso é filho das invenções e da machina. O homem conseguiu instrumentos para luctar contra a distancia, contra o tempo e contra a natureza. A sciencia experimental na sua applicação às cousas humanas permittiu que uma serie de problemas fossem resolvidos e que crescessem essas enormes cidades que são a flôr e o triumpho maior da civilização.

Mas, não foi só isso. O facto da sciencia trouxe comsigo uma nova mentalidade. Primeiro, determinou que a nova ordem de cousas de estavel e permanente passasse a dynamica. Tudo está a mudar e a se transformar. Não ha alvo fixo. A experimentação scientifica é um methodo de progresso litteralmente illimitado. De sorte que o homem passou a tudo vêr em funcção dessa mobilidade. Tudo que elle faz é um simples ensaio. Amanhã será differente. Elle ganhou o habito de mudar, de transformar-se, de "progredir", como se diz. E essa mudança e esse "progresso", o homem moderno o sente: é elle que o faz.

Elle constróe e reconstróe o seu ambiente. E cada vez elle é mais poderoso, nesse armar e desarmar de toda uma civilização. Nesse seu grande afan, por tudo transformar, pareceu, à primeira vista, que só a ordem material era attingida.

A ordem social e moral, essas eram eternas e obedeciam a "verdades eternas" que não soffriam os choques e contrachoques da sciencia experimental.

Mas, o homem é mais logico do que os seus philosophos.

Com a nova civilização material, feita e governada por elle, começou a velha ordem social e moral a se abalar. Mudou a familia. Mudou a comunidade. Mudaram os habitos do homem e os seus costumes. E raciocinava-se. Si em sciencia tudo tem o seu porque e a sua prova, prova e porque que se encontram nos resultados e nas consequencias dessa ou daquella applicação; si em sciencia tudo se subordina à experiencia, para, à sua luz, se resolver, – porque tambem não subordinar o mundo moral e social à mesma prova?

E é nisso que está a maior transformação de nossos dias.

Si fosse somente o quadro externo da civilização que estivesse a soffrer as mudanças de uma ordem material essencialmente dynamica, não teriamos sinão pequenos problemas technicos de ajustamento. No fundo teriamos a mesma civilização de nosso avós, com a differença de nossa riqueza. Ontem cem de nós gozavamos vantagens materiaes de conforto, de bem-estar, de prazer, hoje cem mil de nós tinhamos essas vantagens. Mas, o homem era o mesmo, com os mesmos habitos moraes, as mesmas docilidades à autoridade e o mesmo sentimento de permanente dependencia às cousas invisiveis que o governavam e dirigiam.

Não é isso, entretanto, que succede. O periodo de revisão e reconstrucção é muito mais profundo e mais universal. O homem está com responsabilidades novas em toda a sua vida. Elle ensaia no mundo moral e social, sinão com a mesma audacia, por certo, sob o influxo dos mesmos principios que lhe permittem experimentar no mundo material. Só um esclarecido e nitido porque, por elle visto e por elle sentido lhe podem determinar a sua acção. A velha ordem, pre-estabelecida, e que lhe era dictada pela autoridade, seja ella religiosa ou tradicional, não lhe merece já respeito.

O homem, assim como está reconstruindo o ambiente material em que vive, quer tambem reconstruir o ambiente social e moral, à luz dos mesmos processos de julgamento e de experiencia: o seu beneficio na terra onde vive.

Nessa nova ordem de mudança constante e de permanente revisão, duas cousas resaltam que alteram profundamente o conceito da velha escola tradicional:

A. Precisamos preparar o homem para indagar e resolver por si os seus problemas;

B. Temos que construir a nossa escola, não como preparação para um futuro conhecido, mas para um futuro rigorosamente imprevisivel.

TENDENCIAS DA CIVILIZAÇÃO DO NOSSO TEMPO

Si a natureza da civilização do nosso tempo é o de uma civilização esteiada na experimentação scientifica, e, como tal, animada de um permanente impulso de movimento e continua reconstrucção, nem por isso deixam de existir certas grandes tendencias, mais ou menos fixas, que marcam as linhas geraes por onde a nossa evolução se está processando.

A primeira dessas directrizes deixamol-a apontada na nova attitude espiritual do homem. A velha attitude de submissão, de medo e de desconfiança na natureza humana foi substituida por uma attitude de segurança, de optimismo e de coragem diante da vida. O methodo experimental reivindicou a efficacia do pensamento humano.

Por certo, não substitue elle o velho dogmatismo das "verdades eternas". Antes toda verdade passou a ser eminentemente transitoria. Mas, dentro dos limites da prova experimental, o que o homem pensa está certo. Um facto novo, uma prova mais cabal e experimental é que se corrigiu a si mesmo. As suas conclusões podem ser e são falliveis, mas o methodo é sempre digno de confiança. O acto de fé do homem moderno esclarecido não repousa nas conclusões da sciencia, repousa no methodo scientifico. Elle é que está dando a nós, modernos, um senso novo de segurança e de responsabilidade. De segurança, porque, graças a elle, podemos construir a civilização progressiva que estamos iniciando, toda feita pelo homem e para o homem. Porque, graças a elle, ganhamos o governo da natureza e dos elementos e podemos ordenal-os para o maior beneficio do homem. Temos ainda inimigos – somos ainda vencidos, – ahi temos as molestias e os cataclysmas - mas sabemos porque somos vencidos e temos esperança de dominar e de conquistar, um dia, esses ultimos obstaculos.

Esse "novo senso de segurança" e de independencia é acompanhado de um novo sentido de responsabilidade. O homem moderno sabe que pode mudar as cousas e sabe que deve mudal-as. O homem antigo podia ser um irresponsavel. A ordem em que elle vivia lhe era dictada por auctoridade estranha e superior. A vida era um castigo e o homem era máo, viceralmente máo. Tudo era permitido. Tudo se tolerava. A um homem fraco e máo e a uma natureza inclemente e aspera, não havia limites a criar.

Nem sempre podemos vêr com a clareza que o caso exige, como só agora, o progresso, o real progresso do homem começa a ser possivel.

Quantos de nós ainda crêmos que a vida não mudará essencialmente, que a guerra sempre estará entre nós, que o crime e a molestia sempre flagellarão o homem! Entretanto, quando percebemos que só ontem começamos a progredir, que não conhecemos ainda nem o decimo millionesimo do que poderemos e precisamos conhecer, que estamos realmente iniciando uma "nova ordem de cousas", como vemos, pelo contrario, que só um sopro de robusto e organico optímismo é que nos deve animar diante da rapidez com que o homem está refazendo a vida, para sua maior tranquilidade, seu maior bem estar, sua maior dignidade e a sua maior felicidade.

Outros poderão achar que, em outros tempos, nesses outros sempre dourados tempos do passado, o homem foi mais sacrificado e mais honesto. De mim, eu só reconheço um credito aos que me precederam: elles soffreram mais do que nós e por isso tudo lhes deve ser perdoado.

Maior sinceridade, porém, um desejo mais lucido pela effectiva melhoria da vida do homem na terra, um sentido de responsabilidade mais agudo pelo que resta a fazer, um espirito maior de sacrificio e de heroismo pela conquista objectiva do progresso, – ninguem os teve como os tem o homem moderno.

É essa a nova attitude espiritual: a sciencia tornou possível o bem do homem nesta terra e nós temos a responsabilidade de realizal-o, pela revisão completa da velha ordem tradicional do "valle de lagrimas". Esse novo homem, independente e responsavel, é o que a nova escola deve vir preparar.

A segunda grande directriz da vida moderna, é o industrialismo, como a nova visão intellectual do homem, tambem filho da sciencia e da sua applicação à vida.

A industria está tornando possível a completa exploração dos recursos materiaes do planeta e mais do que isto está articulando e integrando a terra inteira. Graças à machina, não somente, o homem multiplicou o rendimento de seu trabalho – na America, o trabalho actual de um homem equivale ao de 40 homens physicamente validos, como, pela facilidade do transporte e da communicação, criou uma nova interdependencia entre todos os pontos do globo. Não somente somos immensamente mais ricos. Temos além disto um sentimento novo da nossa profunda dependencia dos demais centros de producção ou de cultura.

A industria está integrando o mundo inteiro em um todo inter-dependente. Não só a materia prima, mas a idéa e o pensamento hoje são propriedades communs de todo o homem. O vapor, o trem, o automovel e o aeroplano, como o telegrapho, o telephone e o radio, põem todo o mundo em comunicação material e espiritual.

Essa enorme unidade planetaria, apenas esboçada, ha-de se reflectir profundamente na mentalidade do homem moderno, que tem que pensar em termos muito mais largos do que o do seu esplendido isolamento local ou nacional de outros tempos.

A "grande sociedade" está a se constituir e o homem deve ser preparado para ser um membro responsavel e intelligente desse novo organismo.

Mais perto de nós, porém, um outro effeito da industria é o de retirar á familia as suas antigas funcções econômicas. Uma por uma as velhas funções caseiras do preparo da roupa, de alimento, da diversão, etc., foram destacadas para a fabrica ou para a industria.

A familia com isso se está alterando profundamente. O homem moderno não trabalha em casa e não se diverte em casa. Em centros muito adiantados, o antigo lar, tão decantado, não é mais do que o "logar onde alguns individuos voltam, à noite, para dormir".

Um outro aspecto é o da super-especialização do trabalho na grande industria. O trabalho torna-se com isto uma simples tarefa, desintegrada na vida do homem, que sente, assim, cada vez mais, que elle é uma simples "peça da machina," não havendo logar para pensar, nem para ter essa natural satisfação de saber o que está fazendo e que o que está fazendo vale a pena.

Dessa desintegração das pequenas unidades anteriores – o trabalho individual, o lar, a cidade e a propria nação até a vinda da grande integração da "grande sociedade," – muitos problemas têm de ser resolvidos e mais uma vez se ha-de exigir do homem mais liberdade, mais intelligencia, mais comprehensão, – si é que não queremos ficar em uma simples interdependencia mechanica e degradante.

E todos esses problemas, são problemas para a educação resolver.

A terceira grande tendencia do mundo contemporaneo, é a tendencia democratica. Democracia é essencialmente esse modo de vida social em que "cada individuo conta como uma pessôa". O respeito pela personalidade humana é a idéa mais profunda dessa grande corrente moderna.

Nessa nova vida social, o homem não só terá opportunidade para a expressão maxima dos seus valores, como lhe assistirá permanentemente o dever de se exprimir de sorte a não reprimir valores de ninguem, mas, antes facilitando a maxima expressão de todos elles.

É curioso notar que de todas as correntes modernas, essa de "respeito pelos homens ou democracia" é a que mais de longe se filia á sciencia. Não falta quem diga que antes a ella se oppõe. Mas, democracia é acima de tudo um modo de vida, uma expressão ethica da vida, e tudo leva a crêr que o homem nunca se encontrará satisfeito com nenhuma forma de vida social, que negue essencialmente a democracia.

Dois deveres se desprendem dessa tendencia moderna e se reflectem profundamente em educação: o homem deve ser capaz, economicamente e individualmente e o homem deve se sentir responsavel pelo bem social. Personalidade e cooperação são os dois polos dessa nova formação humana que a democracia exige.

A ESCOLA E A SOCIEDADE

Resumindo, nós temos que graças ao desenvolvimento da sciencia e sua applicação à vida humana, nós entramos em uma phase de movimento e de transformação continua.

Não só as condições materiaes da vida mudam dia a dia, como sobretudo a visão do homem sobre a vida.

Nesse aspecto, ressalta hoje acima de qualquer outro, o seu desapego aos velhos systemas autoritarios do passado, sejam elles tradicionaes ou religiosos. Esse movimento é muito mais pronunciado entre os moços. A noção actual de liberdade envolve, caracteristicamente, essa capacidade de se orientar exclusivamente por uma autoridade interna.

Nenhuma autoridade exterior é hoje acceita. As idéas e os factos são examinados nos seus meritos e resolvidos de accordo com as luzes da razão de cada um.

Estamos a iniciar uma civilização, essencialmente dynamica, onde o "progresso material" promette tudo vir a mudar, em escala cada vez mais crescente, e onde a visão social e moral soffre, naturalmente, transformações correspondentes.

Esse novo homem, com novos habitos de adaptabilidade e ajustamento, não pode ser formado pela maneira estatica da escola tradicional que desconhecia o maior facto da vida contemporanea: a progressão geometrica com que a vida está a mudar, desde que se abriu o cyclo das invenções.

Nós podemos perceber a nova finalidade da escola, quando reflectirmos que ella deve hoje preparar cada homem para ser um individuo que pense e que se dirija, por si, em uma ordem social, intellectual e industrial eminentemente complexa e mutavel. Antes a escola supplementava com algumas informações dogmaticas uma educação que o lar e a communidade ministravam ao individuo, em uma ordem, por assim dizer, estatica de cousas. Toda educação consistia em ensinar a seguir e a obedecer.

Hoje, sem nenhum exaggero, si quizermos que a nova ordem de cousas funccione com harmonia e integração, precisamos que cada homem tenha as qualidades de um leader. Pelo menos a si elle tem que guiar, e o tem que fazer com mais intelligencia, mais agilidade, mais hospitalidade para o novo e imprevisto, do que os velhos leaders autoritarios de outros tempos.

Não seriam, pois, precisas outras razões que as da profunda modificação social porque vamos passando, para justificar a alteração profunda da velha escola tradicional – preparatoria e supplementar – para a escola nova de educação integral.

A ESCOLA TRADICIONAL E SEUS
PRESUPPOSTOS

A escola é uma replica da sociedade a que ella serve. A escola tradicional era a replica da sociedade velha que estamos vendo desapparecer.

É facil desmontal-a e mostrar como todos os presuppostos em que ella se baseava foram alterados pela nova ordem de cousas e pelo novo espirito de nossa civilização.

A escola nova não pretende, por sua vez, se apoiar sinão nesses factos e nessa nova mentalidade. Como a escola tradicional, ella é a replica da sociedade renovada em que vivemos.

I – A escola presuppoz, e com razão, que a educação se fazia no lar e na vida da communidade, cabendo-lhe, tão somente, supplemental-a, dando opportunidade para a acquisição dos instrumentos fundamentaes da cultura: lêr, escrever e contar; e, mais de informações e factos de natureza livresca, que o alumno assimillaria e mais tarde poria em pratica.

II – A escola presuppoz uma ordem estatica para o mundo, cabendo-lhe preparar a criança para cumprir quando adulta o seu papel, que substancialmente seria o mesmo de seus pais.

III – A escola presuppoz que, no interesse da tranquillidade, ella deveria manter, pelo dogmatismo intransigente de seu ensino, as approvadas attitudes sociaes ou moraes ou religiosas. Tão bem andaram as escolas nessas funcções, que Igreja e Estado, geralmente, porfiavam por seu controle, certos de que esse seria o melhor modo de garantir a permanencia de seus crédos religiosos ou patrioticos.

IV – De accôrdo com essa theoria, a escola presuppoz que não tinha mais que ensinar às crianças certas technicas e certos factos e certos modos de proceder, que as preparassem para o periodo de adulto, futuro que se suppunha perfeitamente conhecido.

Assim a escola, nada mais era do que uma casa onde as crianças aprendiam o que lhes era ensinado, decorando as licções que os professores marcavam, depois tomavam, e que lhes forneciam elementos de informação e saber, que, só mais tarde elles deveriam utilizar.

Todas as noções, mesmo pedagogicas, relativas à escola velha se prendem a esses presuppostos:

Estudo – é o modo de apprender uma licção. Apprender, significa acceitar e fixar na memoria ou no habito um facto ou uma habilidade. Ensinar, simplesmente uma doutrinação daquelles factos ou conceitos. O cyclo era simples: professor preleccionava, marcava a seguir a licção e tomava-a no dia seguinte. Os livros eram feitos adrede, em licções. Os programmas determinavam o periodo para se vencerem taes e taes licções. Exames, que verificavam si os livros ficaram apprendidos, condicionavam as promoções. O alumno bom era o mais docil a essa disciplina, aquelle que melhor se adaptava a esse processo livresco de se preparar para o futuro.

A INDISPENSAVEL RENOVAÇÃO ESCOLAR

Ora, tal escola, simplesmente supplementar e preparatoria é inadequada para a situação em que nos achamos.

E o é, sobretudo, porque a educação que a criança recebia directamente da familia e da communidade perderam o seu antigo caracter de efficiencia e integração. E os deveres que cabiam antes a essas duas forças educativas, vieram accrescer os primeiros deveres puramente supplementares da escola.

Porque, observae bem, nunca se deixou de julgar que a criança se educa, vivendo. Era a sua vida familiar a sua vida social que a educavam. A escola simplesmente ensinava certas artes e certos conhecimentos necessarios lá para fóra onde a sua vida transcorria.

Mas, hoje a vida de familia se desintegrou na sua harmonia de agencia educadora e a vida social tornou-se tão eminentemente complexa que offerece à criança, para sua visão e analyse, apenas aspectos fragmentários do seu todo; e por outro lado, essas instituições ganharam uma certa velocidade de transformação, que lhes não permittem ser conscientes de sua acção educativa. Não só essa acção é mais vaga e menos directa, como a celeridade de transformação lhes impede de exercel-a com lucidez e consciencia.

A necessidade, pois, da escola tomar em grande parte, a si, as funcções da familia e do meio social corresponde a uma verdadeira premencia dos nossos tempos, si quizermos dar ás nossas crianças uma chance de se adaptarem e se ajustarem à ordem social do nosso vertiginoso presente.

Dahi esse relevo impressionante que ganhou o movimento educativo. Estamos com responsabilidades dobradas, diante do fracasso porque as velhas agencias tradicionaes de educação estão passando com o advento da nossa era. E essas responsabilidades se reflectem sobretudo nos responsaveis pela educação escolar, porque só esses podem reorganizar os seus institutos para o fim de servirem ás novas funcções que lhe dita o nosso momento de civilização.

Essa reorganização importa em nada menos do que trazer a vida para a escola. A escola deve vir a ser o logar onde a criança venha viver plenamente e integradamente. Sò, vivendo, a criança poderá ganhar os habitos moraes e sociaes de que ella precisa para ter uma vida feliz e integrada em um maio dynamico e flexivel tal qual o nosso.

Si a escola deve hoje mais do que informar e ensinar algumas artes uteis, preparar a criança para ser bôa, serviçal, operosa, tolerante e forte, – como pode ella obter tudo isso pelo velho systema de disciplina e licções? Como posso eu marcar uma licção de bondade, uma licção de tolerancia, de sympathia, de enthusiasmo? Só uma situação real de vida pode fazer com que a criança apprenda essas attitudes sociaes indispensaveis à vida moderna.

A nova escola precisa dar à criança não somente um mundo de informações singularmente maior do que o da velha escola – só absoluta necessidade de ensinar sciencia era bastante para transformal-a – como ainda lhe cabe o dever de apparelhar a criança para ter uma attitude critica de intelligencia: para saber julgar e pezar as cousas, com hospitalidade mas sem credulidade excessiva; para saber discernir na formidavel complexidade da integração industrial moderna as tendencias dominadoras, discernimento que lhe habituará a não perder sua individualidade e ater consciencia do que vae passando sobre ella pelo mundo afóra: e ainda, para sentir, com lucida objectividade, a interdependencia geral do planeta e a necessidade de conciliar o nacionalismo com a concepção mais vigorosa da unidade economia e social de todo o mundo.

Isso com respeito ao proprio aspecto externo da civilização. E com relação ao que poderiamos chamar a sua estructura espiritual, com relação ao espirito democratico moderno?

Primeiro, a escola deve prover opportunidade para a pratica da democracia: – o regime social em que cada individuo conta plenamente como uma pessôa. Democracia na escola importa em democracia para o mestre e democracia para o alumno, – isto é: um regime que procure dar ao mestre e aos alumnos o maximo de direcção propria e de participação nas responsabilidades de sua vida commum.

Segundo, como democracia é acima de tudo o modo moral de vida do homem moderno, a sua ethica social, a criança deve ganhar atravez da escola, esse sentido de independencia e direcção, que lhe permitta viver com outros com a maxima tolerancia, sem entretanto perder a sua personalidade.

Devemos ter sempre presentes que a escola não vae dar soluções já feitas à nossa juventude. Tudo que podemos fazer é dar-lhe methodo e juizo para ella luctar com os problemas que vae encontrar e dar-lhe o sentido de responsabilidade social que lhe assiste na solução desses problemas.

Em democracia não ha sinão uma tendencia fixa: a busca do maior bem do homem. Como tal ella é essencialmente progressiva e livre e para o exercicio dessa fôrma social progressiva e livre precisam-se de homens conscientes, informados e capazes de resolverem os seus proprios problemas.

É esse o fim da escola, nesse respeito: ajudar os nossos jovens, em um meio social liberal, a resolver os seus problemas moraes e humanos.

Que enormes pois são as novas responsabilidades da escola: educar em vez de instruir, formar homens livres em vez de homens doceis; preparar para um futuro incerto e desconhecido em vez de transmitir um passado fixo e claro; ensinar a viver com mais intelligencia, com mais tolerancia, mais finamente, mais nobremente e com maior felicidade, em vez de simplesmente ensinar dois ou tres instrumentos de cultura e alguns manuaesinhos escolares.

Para essa finalidade, só um novo programma, um novo methodo, um novo professor e uma nova escola – podem bastar.

MOTIVOS PEDAGOGICOS DA RENOVAÇÃO ESCOLAR
A nova concepção de apprendizagem

Até o presente, nada mais fizemos do que insistir nas exigencias novas que uma ordem social faz sobre a escola.

Como a escola deve ser uma replica da sociedade a que ella serve, urge reformar a escola para que ella possa acompanhar o avanço "material" de nossa civilização e preparar uma mentalidade que moral e espiritualmente se ajuste com a presente ordem de cousas. Alem disso, porém, uma visão mais aguda do acto de aprender, vem em muito, alterar a psychologia da velha escola tradicional.

Apprender, significou durante muito tempo simples memorização de formulas obtidas pelos adultos. O velho processo catechetico de pergunta e resposta é um exemplo impressionante disto. Decorar um livro era apprendel-o. Mais tarde, começou-se a exigir que se comprehendesse o que era decorado. Um passo mais, foi o de exigir do alumno que elle repetisse, com palavras proprias o que se acha formulado nos livros. Não bastava decorar, não bastava comprehender, era ainda necessario a expressão verbal pessoal, – então assim estava apprendido o assumpto.

Pois é isso que a nova psychologia veiu provar ser ainda insufficiente. Não é isso ainda apprender. Fixar, comprehender e exprimir verbalmente um conhecimento não é tel-o apprendido. Apprender significa ganhar um modo de agir. Isso dito assim parece excessivamente limitado. Para muita habilidade puramente mechanica, não há duvida. Apprender significa a acquisição de uma determinada habilidade. Mas, uma idéa? Apprende-se uma idéa ganhando um novo modo de proceder ou agir? É exactamente isso que se dá. Nós apprendemos, quando assimillamos uma cousa de tal geito, que chegado o momento opportuno nós sabemos agir de accôrdo com o apprendido. A palavra agir tem vulgarmente um sentido estreito de acção material. Mas um acto é sempre uma reacção a uma situação em que nos encontramos. Nós reagimos contra estimulos que recebemos atravez os nossos sentidos internos ou externos. E o que apprendemos é sempre uma forma especial de reacção.

Quando é que nós apprendemos – dois mais dois são quatro? Quando diante de qualquer situação que suggira esta resposta, o nosso organismo a dê fatalmente. O que apprendemos tem assim uma força de projecção que nos força a reagir daquelle modo diante, supponhamos da pergunta: 2 x 2 é igual a que?

Ora, do mesmo modo que ganhamos essa resposta especifica para essa situação, do mesmo modo apprendemos qualquer outra cousa. Uma habilidade, uma idea, uma emoção, uma attitude, um ideal, apprendemol-o do mesmo modo, fixando uma certa reacção do nosso organismo a uma certa cousa.

Não apprendi uma idéa quando apenas a sei formular, mas quando o fiz de tal modo minha, que ella passa fazer parte do meu organismo e exigir de mim, quasi automaticamente, uma reacção ou uma serie de reacções especiaes.

Logo, não se apprende sinão aquillo que se pratica. Apprender é um processo activo de reagir a certas cousas, seleccionar as reacções appropriadas e fixal-as depois em nosso organismo. Não se apprende por simples absorpção.

AS LEIS DA APPRENDIZAGEM

Assim nós chegamos hoje a fixar certas interpretações geraes do acto de apprender que chamamos de "leis".

As duas leis mais importantes são a de pratica e effeito e de inclinação (readiness).

Pela primeira se quer dizer que apprendemos, pela pratica, certas reacções que causam certos effeitos e não apprendemos outras. As reacções que são satisfactorias, tendemos a repetil-as e apprendel-as. As reacções que não nos satisfazem, tendemos a não as repetir e portanto a não as apprender.

A lei da inclinação completa essa ultima lei. Pode-se definil-a: quando um individuo está inclinado a agir de um certo modo, agir satisfaz e não agir aborrece. Quando, um individuo não está inclinado a agir de um certo modo, não agir satisfaz e agir aborrece.

A primeira fonte da apprendizagem está nas necessidades physicas, intellectuaes ou moraes do nosso organismo. Taes necessidades, no homem, são immensamente variaveis e dependentes do ambiente social, dos habitos, das attitudes e das informações que tem o individuo que apprende.

Mas, o mais importante, para nós no momento, é notar como o acto de apprender depende profundamente de uma situação real de experiencia onde possamos praticar, tal qual na vida, as reacções que devemos apprender e, não menos profundamente, do proposito em que estiver o alumno de apprender essa ou aquella cousa.

Uma situação real de experiencia – Não se apprendem somente idéas ou factos, apprendem-se ainda attitudes, idéas, appreciações. Para apprender uma idéa, eu posso preparar mesmo na escola tradicional um ambiente efficaz. Devo, apenas, preparar as condições para o exercicio daquelle conhecimento novo – a agua é composta de oxygenio e hydrogenio, por exemplo – e praticar com a criança até que ella apprenda.

Mas si eu quizer ensinar a uma criança a ser bôa, não ha meio de fazel-a praticar bondade e ter as satisfações que o exercicio de bondade poder trazer, sem que, na escola, haja condições sociaes reaes que desenvolvam esse sentimento de bondade.

Não se pode praticar tolerancia ou bondade, como se pratica arithmetica.

Logo, si a escola quer ter uma funcção integral de educação, ella deve organizar-se de sorte que a criança encontre ahi um ambiente social em que ella viva plenamente. A escola não pode ser uma simples classe de exercicios intellectuaes especializados.

Assim, é a nova psychologia de apprendizagem que obriga a renovar a escola em um centro onde se prepara para viver.

Proposito ou intento do alumno – A lei do effeito nos diz que não apprendemos tudo que praticamos, mas aquillo que nos dá prazer ou satisfação.

Esse prazer ou satisfação dependem, porém, essencialmente do proposito ou intento do individuo que vae apprender. Si eu quero apprender a fazer uma certa carambola ao bilhar e passo a exercitar-me com as bolas, tanto me aproveito com os golpes errados quanto com os certos. Os primeiros golpes eu desapprendo de fazer e os segundos, os certos, eu os apprendo.

O proposito ou intento de apprender os segundos fez-me apprendel-os.

O mesmo succede com relação aos demais actos de apprender. O desejo do alumno, o seu interesse, para usar a palavra consagrada, orienta o que se vae apprender.

Outro aspecto tremendamente importante da nova psychologia do acto de apprender, é que não se apprende nunca uma só cousa.

Imaginemos uma criança que apprende a escrever. Toda sua actividade physica está empenhada nisto. Os musculos do braço e da mão, a cabeça, o Pescoço, o tronco, tudo está em movimento. Varias sensações de pressão, esforço, de respiração, elle está experimentando. Toda sua actividade mental tambem trabalha. Elle observa, recorda, imagina, planeja processos especiaes, experimenta de um modo e de outro. Mais do que isso, porem elle sente. Pode estar satisfeito ou aborrecido, esperançado ou desanimado. Para com o escrever, para com a classe, para com os collegas, para com o professor e para com a propria vida, elle está alli experimentando uma attitude favoravel ou desfavoravel que lhe será util ou prejudicial.

De sorte que se apprende não só o objecto primario, que se queria apprender, como varias outras cousas associadas ou concomitantes, o que torna o acto de apprender summamente complexo.

Muitas vezes isso que se está apprendendo, concomitantemente ou por associação, é mais importante do que o objecto directo do estudo. Ora, a escola tradicional nunca percebeu que, em uma licção simplesmente de arithmetica, ella podia estar ensinando a crianças a não ter coragem, a não ser sociaes, a alimentar complexos de inferioridade, etc, de que ellas iriam soffrer por toda a vida.

Então vemos como a velha escola, onde as crianças iam para fazer aquillo que não queriam, com uma disciplina semi-militar, está profundamente inadequada não só para a sociedade presente, como para a propria concepção moderna da apprendizagem.

A ESCOLA NOVA

Diante de tudo isto de que escolas precisamos nós?

Conforme Kilpatrick, a escola que pode satisfazer as exigencias sociaes e pedagogicas que apontamos atraz, deve ser:

1 – Uma escola de vida e de experiencia para que sejam possiveis as verdadeiras condições do acto de apprender.

2 – Uma escola onde os alumnos são activos e onde os projectos formem a unidade typica do processo da apprendizagem. Só uma actividade querida e projectada pelos allumnos pode fazer da vida escolar uma vida que elles sintam que vale a pena viver.

3 – Uma escola onde os professores sympathisem com as crianças sabendo que só atravez da actividade progressiva dos alumnos podem elles se educar, isto é, crescer; e que saibam ainda que crescer; é ganhar cada vez melhores e mais adequados meios de realizar a propria personalidade dentro do meio social onde o alumno vive.

Essa escola é totalmente diversa da escola tradicional, onde os alumnos recebem uma tarefa e soffrem uma ordem imposta externamente.

Para a nova escola, as materias é a propria vida, distribuida por "centros de interesse ou projectos". Estudo – é o esforço para resolver um problema ou executar um projecto. Ensinar – é guiar o alumno na sua actividade e dar-lhe os recursos que a experiencia humana já obteve para lhe facilitar e economizar esforços.

Nesta palestra, estamos mais empenhados em analysar as razões da escola nova e a sua estructura que os detalhes de sua organização.

Os motivos sociaes e pedagogicos da renovação escolar ficaram sublinhados nos primeiros topicos. Cabe-nos, para encerrar o nosso trabalho, commentar as bases da escola nova, traçadas por Kilpatrick e que, em subtancia, são as mesmas que traçam os diversos reorganizadores modernos da escola.

ESCOLA DE VIDA E DE EXPERIENCIA

O phenomeno educativo, na phrase de Dewey, é a reconstrucção da experiencia, á luz das experiencias passadas, para melhor e mais rico controle da situação. Diante dessa concepção, confirmada pela presente psychologia, o processo educativo se opera em uma situação real de vida, onde o que é apprendido funcciona com seu proprio caracter e produz as suas naturaes consequencias. Alem disto, para que a apprendizagem seja integradora, o que vale dizer educativa, a situação escolar e a vida do alumno devem se ajustar e harmonizar como um todo continuo.

Diante disto, como organizar a escola sob a base de materias a estudar? A unica materia para a escola é a propria vida, guiada com intelligencia e discriminação, de modo que a façamos progressiva e ascencional.

Está claro que não vamos fazer a criança repetir a experiencia racial toda desde o principio. Isso seria, como diz Dewey, simplesmente estupido, porque impossível. As experiencias e as actividades escolares hão-de ser sempre seleccionadas e para ellas o concurso da experiencia do passado sempre inestimavel.

Selecção e organização das experiencias escolares não representará, porem, nunca dar promptinhos ás crianças os resultados formulados pelos adultos em seus compendios finaes.

Imaginemos que algumas crianças desejam fazer uma repreza. Está ahi uma actividade que é delles e que representa uma situação real de vida, porque elles, varias vezes, foram até esse pequeno rio e sempre cogitaram de ter alli um reservatorio dagua maior para que pudessem tomar banho, supponhamos.

Mettem mãos á obra. O professor suggere estudar o assumpto. Antes delles toda a humanidade fez reprezas. Os meninos vão buscar livros, examinam, averiguam, apprendem. Ahi está como a experiencia já ganha da raça entra na actividade escolar.

Está ahi como os livros podem e devem ser utilizados. Nem por isso a situação deixou de ser uma situação real de vida e de experiencia.

Si a propria concepção da apprendizagem impõe hoje essa organização escolar, que diremos si reflectirmos sobre as novas funcções sociaes da escola? Como pode uma escola que não seja, realmente, de vida, dar á criança os habitos sociaes que, conforme as nossas considerações anteriores, são indispensaveis ao proprio bem estar da communidade democratica em que vivemos?

ALUMNOS ACTIVOS

Corollario immediato de uma escola de experiencia e de vida é que os alumnos sejam activos. Em vez da velha escola de ouvir, a nova escola de actividade e de trabalho.

Não basta, porem, que os alumnos sejam activos. É necessario que elles escolham as suas actividades. Vimos o papel que tem na apprendizagem o intento, o proposito e o interesse do alumno. Si só se apprende aquillo que a criança entende, em cada caso, como successo é summamente importante.

Ponhamos uma criança a praticar tennis. Si ella não tem interesse no jogo e não quizer apprender taes e determinados golpes, poderá exercitar toda sua vida e nada apprenderá. Os insuccessos não lhe aborrecem, nem lhe dão prazer os successos. Umas e outras experiencias lhe passarão pelo organismo sem nelle deixar mòssa. Possivelmente apprenderá uma porção de cousas. Mas associadas ou concomitantes. Desgôsto pelo sport, má-vontade contra o professor, etc. etc.

Não precisamos, pois, insistir no ponto. É indispensavel, como diz Claparéde que as crianças si não fazem tudo que quérem, queiram tudo que fazem.

Podemos resumir, com Kilpatrick: "tanto que um activo interesse guie os alumnos a se empenharem em emprehendimentos adequados – nem muito difficeis nem muito faceis – melhor probabilidade de successo haverá, com todos os bons effeitos que o successo traz; melhores serão as condições da apprendizagem total; e melhor será a organização escolar resultante".

Só em uma vida onde todos trabalham com o sentimento de que participam, como individuos, da actividade collectiva, que é tambem a sua, podemos nós realizar as condições de responsabilidade e de prazer que são indispensaveis para o crescimento educativo dos alumnos e para a sua preparação para a participação na sociedade adulta.

OS MESTRES DA NOVA ESCOLA

Toda educação até hoje foi autocratica! Os mestres soffriam a autocracia dos administradores, e as crianças as dos mestres. Na reorganização democratica das escolas, a uns e outros temos que dar independencia. Educar é uma arte tão alta que não se póde subordinar aos methodos de imposição das simples tarefas mechanicas. Mestres e alumnos trabalharão em liberdade e à luz do que o philosopho e scientista esclarecerem sobre a profissão dos primeiros e o labôr dos ultimos.

Mas assim como o administrador deve confiar no mestre, deve o mestre confiar no alumno. Perca elle para sempre a idéa de que lhe cabe qualquer soberania sobre o pensamento do seu discipulo. Dê-lhe opportunidade para pensar e julgar por si. Os problemas delle só poderão ser resolvidos por elle. Elle vae viver a vida um passo adiante de nós. Com as novas responsabilidades que elle vae assumir, demos-lhe nova liberdade de pensar.

Não passe pela cabeça de ninguem que isso seja completa anarchia. Tão habituados estamos a impôr as nossas formulas, que, parece, que o dia em que ellas desapparecerem, desapparecerá a ordem.

Lembremos que estamos passando de uma civilização baseada em uma autoridade externa, para uma civilização baseada na autoridade interna de cada um de nós.

E nessa nova civilização, o que desejamos é uma vida melhor e mais ampla. A unica finalidade da vida é mais vida. Si me perguntarem, o que é essa vida, eu lhes direi que é a liberdade e a felicidade. São vagos os termos. Mas, nem por isso elles deixam de ter sentido para cada um de nós. A medida que formos mais livres, que abrangermos em nosso coração e em nossa intelligencia mais cousas, que (…)

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