TEIXEIRA, Anísio. O humanismo técnico. Boletim CBAI. Rio de Janeiro, v.8, n.2, 1954. p. 1186-1187.

O HUMANISMO TÉCNICO

Anísio Teixeira
Diretor do INEP

Palavras proferidas pelo Dr. Anísio Teixeira, na sessão de instalação da Mesa Redonda de São Paulo.

A palavra que queria trazer a esta reunião era de que talvez não seja tão justificado, como se pensa, êsse dualismo entre educação chamada industrial e uma educação que se chamaria, acompanhando a terminologia; de liberal ou humanística. Ao examinar o problema, poderemos dizer que a educação industrial é também uma forma de educação humanística com que se poderão preparar os homens.

Tempos houve em que tôda a educação tinha que ser dada pelas letras clássicas, mas a época que defendeu e praticou essa tese não tinha outro ensino senão o clássico, única cultura intelectual existente na época. Um homem só poderia formar-se por intermédio dessa Cultura.

Depois do desenvolvimento científico da humanidade e da criação da Indústria, com a aplicação científica à vida humana, depois que a produção humana passou a ser racionalizada, o ensino da ciência aplicada é tão formador da humanidade como qualquer outro método.

O ensino industrial só não formaria o homem se fôsse feito por método rígido. O ensino antigo não era liberalizante, não era capaz de formar homens livres, porque não era técnica racional do trabalho, mas técnica empírica transmitida de pais a filhos, de mestres a discípulos.

A técnica moderna proporciona, com a produção humana, a todos os homens o conhecimento da natureza, o conhecimento técnico. Nenhuma outra educação será capaz de formar melhores humanistas. Os dualismos existentes entre educação social e humanística, antiga e moderna, teoria e prática, estão completamente superados. Não existe ensino prático sem teoria e nem ensino teórico sem a prática, pois formar técnicos sem prática, seria formar homens que não sabem coisa nenhuma.

Livros já foram forma de se introduzirem conhecimentos, mas no tempo em que só havia livros, e na época em que aprendíamos com o resultado de outros povos que nos legaram livros. Em tôda a Idade Média não havia nenhuma cultura a não ser a do livro. A cultura moderna não é a do livro. Está sendo descoberta todos os dias, está em tôdas as formas de trabalho do mundo moderno; o grande cientista não é o do livro, mas o do trabalho e o do laboratório. Nenhum cientista estuda teoria sem que esteja trabalhando. O próprio trabalho da descoberta científica é técnico. Também a dualidade entre trabalho e estudo não tem razão de ser. Existe Universidade Técnica de Trabalho? O que a outra seria? Por acaso a engenharia hoje é alguma coisa senão uma forma de trabalho técnico científico? A medicina: quem poderá fazer medicina hoje sem trabalhar, com as mãos, com os instrumentos técnicos?

A minha palavra é apenas esta: perfeita unidade entre a educação e o homem. Tôda educação é uma só: dominantemente técnica industrial. Vivemos numa economia de trabalho industrial e a agricultura é também uma forma de trabalho industrial, até mesmo a literatura. Não existe razão para essa dualidade. A educação do homem deve ser una, face às diversíssimas condições da humanidade.

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