TEIXEIRA, Anísio. Gilberto Freyre, mestre e criador da Sociologia. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v.40, n.91, jul./set. 1963. p.29-36.

GILBERTO FREYRE, MESTRE E CRIADOR DE
SOCIOLOGIA *

Anísio Teixeira
Diretor do I.N.E.P.

Quis Gilberto Freyre distinguir o educador, que já tivera a honra de convidá-lo para a cátedra de Sociologia da Universidade do Distrito Federal, convidando-o, por sua vez, a escrever algumas palavras de prefácio à segunda edição do seu monumental tratado de Sociologia, em 5 volumes - dos quais saem agora os dois primeiros - e que constitui o último e alto fruto do seu grande curso naquela universidade, de vida breve mas ilustre.

Considero Gilberto Freyre o marco mais significativo no longo esfôrço de introspecção que vimos fazendo para tomar consciência de nosso país, de nossa história, de nossa cultura. Ficamos todos mais brasileiros com sua obra. Em outra época, seria o pensador de sua geração; neste século vinte, é seu maior sociólogo.

Mas, a sociologia em suas mãos torna-se uma como ciência das ciências, no sentido de se nutrir de todos os conhecimentos humanos, para depois reelaborar o conhecimento da realidade no seu mais alto nível: o social. O físico, o biológico, o mental contribuem, sem romper a sua continuidade, como "graus de associação ou de realidade", para integrar "o social", ou seja, a realidade mais ampla e complexa, aquela em que as associações atingem a sua mais alta ordem de potencialidades.

Tal ciência constitui, com efeito, não apenas uma ciência, mas todo um nôvo mundo científico, uma nova família de ciências, desdobrando-se em ramos e especialidades, que buscam alcançar a categoria do "social" em tôda a vastidão, complexidade e variedade.

Precisamos, assim, ver êste livro como uma introdução ao mundo das ciências sociais, de que a sociologia seria a expressão mais geral, nem por isto, entretanto, menos diversificada, para compreender a variedade e a riqueza de material com que Gilberto Freyre julgou dever jogar para iniciar o estudante ou acompanhar o professor em suas explorações no imenso universo recém-descortinado.

Só um Autor, simultâneamente pensador, escritor e sábio, poderia escrever esta Introdução à Sociologia, sem incorrer no vício fundamental do suposto livro didático, que é o de não conseguir ser útil, por assim dizer, senão aos que já conheçam totalmente o assunto.

Chama-se, com efeito, de livro didático, um tratado em que se apresentam as noções, os princípios e as leis de qualquer ciência, expostos sistemática e tècnicamente, como um corpo ordenado de conhecimentos. Ora, nenhum conhecimento científico é suscetível de ser assim ensinado em sua forma lógica final. É êle produto do engenho humano. E engenho aí deve ser entendido literalmente como mecanismo que elabora, segundo processos demorados e ultrameticulosos, o produto acabado e refinado que é o conhecimento científico, devidamente formulado. Sua apresentação direta assim lògicamente formulada é de profunda utilidade e indispensável mesmo - não porém para o aprendiz, mas, para quem já sabe, que aí encontrará, nesse tratado, o corpo sistemático de conhecimentos descobertos, para os manipular nas suas diversas aplicações ou para os utilizar em novas descobertas.

O aprendiz, entretanto, precisa de algo diferente. Precisa de saber como tais conhecimentos foram descobertos e porque vieram a ser assim formulados. Os dados iniciais são a experiência humana, em sua forma bruta, e os problemas práticos que essa experiência suscita. O livro deve mostrar-lhe como êsses problemas chegaram a ser sentidos, como vieram a ser analisados e formulados, como se levantaram as hipóteses que os pretendem resolver, como se processaram as comprovações acaso já feitas, e como hão de continuar a observação, a análise e a elaboração de métodos cada vez mais apropriados, até que se possam formular os "fatos", "princípios" e "leis" que constituem o saber científico.

Cada universo - seja o matemático, seja o físico, seja o orgânico, seja o mental, seja, agora, o social - sofre com o tratamento científico, bem o sabemos, um processo de abstração, isto é, um processo pelo qual se abstraem do mundo das experiências de simples bom-senso aquêles elementos que irão permitir a formulação do problema, na sua mais alta generalidade, e, dêste modo, a sua solução teórica. Essa teoria é que, por sua vez, irá permitir o raciocínio científico, de natureza sistemática no qual se joga com "fatos", "princípios" e "leis" que representam "abstrações extremamente refinadas, indispensáveis para a interpretação do universo existencial e para o seu contrôle ou modificação em beneficio do homem. O conhecimento científico tem, assim, a sua origem nos problemas práticos, dêles se distancia pela abstração teórica e a êles volta pela aplicação científica. Como abstração teórica, o conhecimento científico é, desta sorte, um instrumento intermediário, suscetível de ser compreendido e usado pelo especialista, que dêle se utiliza para o raciocínio científico ou para novas descobertas. Para o leigo, porém, é, em si mesmo, algo de hermético e de essencialmente incompreensível. Para que sua compreensão se torne possível há que se reconstruir o conhecimento, há que mostrar como se originou e como foi elaborado até se tornar o produto refinado ou teòricamente formulado que é o fato científico, ou o princípio científico, ou a lei científica, cuja verdade ou, melhor, eficácia, entretanto, só se comprova, em última análise, pela aplicação, isto é, por um julgamento de ordem prática e não de ordem teórica. A ciência, assim, em seu curso completo, não é hermética nem ininteligível. Origina-se de um problema prático, de todos entendido, faz-se, pela indispensável abstração, um problema teórico e difícil, mas volta, pela aplicação, a se fazer prática e até de simples bom-senso. Para que seja, portanto, plenamente inteligível para o leigo, e, com maior razão, para que possa ser ensinado ao aluno, é indispensável fazer regredir o conhecimento científico à sua origem, indicar as transformações que lhe imprimiu a elaboração lógica ou teórica e, em verdade, reconstituí-lo para o aluno, levando êste a formulá-lo, êle próprio, dentro do sistema ad hoc, para usar a expressão de Whitehead, a que possa haver chegado em seu progresso intelectual.

O livro de Gilberto Freyre - esplêndida demonstração dêsse método, mais psicológico do que apenas lógico - é todo êle análise e história do conhecimento sociológico, comprovações, exemplos, interpretações e ensaios de elaboração do conhecimento sociológico, tudo a indicar, sugerir, ensinar o método e os processos e modos com que o universo social pode ser descrito, definido e formulado. Companheiro do estudioso de sociologia, o livro nada tem de um tratado frio e sistemático. Ensina como se faz sociologia e não apenas o que é sociologia. Se não bastasse êste aspecto para fazer dessa experiência uma extraordinária experiência didática, experiência que só um mestre conhecedor de todos os segredos da sua ciência poderia fazer, ainda teríamos outra razão para destacar êste livro como realização excepcional dentro do campo de educação, a que propositadamente me atenho.

E quem no-la dá é Whitehead, numa daquelas penetrantes análises com que, matemático e filósofo, enriqueceu mais a didática em suas explorações ocasionais, no mundo da prática educacional, do que centenas de pedagogos. Partindo do princípio óbvio de que aprender é um processo, com a sua história e os seus passos, Whitehead revela que a educação tem por isto mesmo um ritmo e que o progresso intelectual se faz em três fases distintas e complementares: o estágio do romance, o estágio da precisão e o estágio da generalização.

Perdoar-me-á o leitor impaciente por ler Gilberto Freyre que lhe dê aqui, textualmente, a descrição pelo filósofo dos três estágios.

"O estágio de romance, diz Whitehead, é o estágio da primeira apreensão. A matéria tem a vividez da novidade; está túmida de conexões inexploradas e de possibilidades apenas relanceadas e ainda meio escondidas na riqueza do campo. Neste estágio o conhecimento não tem ainda um tratamento sistemático. Se algum sistema tem é um sistema criado passo a passo, ad hoc. Estamos em presença do conhecimento dos fatos, só intermitentemente os submetendo à dissecação sistemática. A emoção romântica é, essencialmente, a excitação conseqüente da passagem dos simples fatos para a primeira compreensão da importância de suas relações inexploradas. Por exemplo: Crusoé era apenas um homem, a areia apenas a areia, a pegada na areia apenas uma pegada, a ilha apenas uma ilha e a Europa o mundo atarefado dos homens. Mas a percepção repentina das possibilidades meio descerradas, meio escondidas das relações entre Crusoé, a areia, a pegada e a ilha segregada da Europa constitui romance. Tomei um caso extremo para ilustração a fim de tornar perfeitamente óbvio o que desejo significar. Tome-se o exemplo como uma alegoria representativa do primeiro estágio num ciclo de progresso. Educação deve consistir essencialmente em dar ordem a um fermento já em trabalho no espírito: não se educa a mente no vácuo."

"Em nossa concepção de educação tendemos a confiná-la ao segundo estágio do ciclo, isto é, ao estágio da precisão. Mas não podemos limitar a nossa tarefa sem confundir todo o problema. Estamos tão interessados no fermento, como na aquisição da precisão, como na fruição posterior.

"O estágio da precisão representa um acréscimo ao conhecimento. Nesse estágio, a largueza das relações subordina-se à exatidão da formulação. É o estágio da gramática, da gramática da língua e da gramática da ciência. Processa-se forçando-se a aceitação pelo estudante de um dado método de análise dos fatos, aspecto por aspecto. Acrescentam-se novos fatos, mas, fatos que se incluem e se ajustem na análise. É evidente que o estágio da precisão é estéril sem o estágio prévio do romance: a não ser que existam fatos já vagamente apreendidos em suas largas generalidades, a análise será uma análise de nada. Será simplesmente uma série de afirmações sem sentido sôbre meros fatos, produzidos artificialmente e sem nenhuma relevância subseqüente. Repito que neste estágio não ficamos apenas nos fatos relanceados na fase de romance. Os fatos desta fase descerraram idéias com possibilidades de larga significação e no estágio da precisão adquirimos outros fatos em ordem sistemática, os quais vêm, juntos com os anteriores, constituir uma revelação e uma análise da matéria geral do romance."

"O estágio final de generalização é a síntese de Hegel. É uma volta ao romance, com a vantagem da classificação das idéias e de uma técnica segura. É a fruição que resulta do treino em precisão. É o sucesso final." 1

"Educação", conclui Whitehead, "deve consistir na contínua repetição de tais ciclos."

Não se encontrará ilustração mais perfeita dessa luminosa intuição pedagógica do que a apresentada neste livro único de lntrodução à Sociologia, escrito pelo espírito mais avêsso e mais distante de tudo quanto é estreitamente didático ou tolamente pedagógico. O grande livro de Gilberto Freyre é a deliciosa e permanente repetição dos ciclos descritos por Whitehead, levando o leitor do romance (no sentido inglês e que é o de Whitehead) à precisão científica e à generalização liberadora, como se nos víssemos envolvidos em movimentos de uma grande composição musical. Só um cientista que ao mesmo tempo seja um escritor poderia fazer desta obra - que declara expressamente não ser didática - o milagre didático que realmente é o que se lê com o fascínio imaginativo de um romance de Proust e, ao mesmo tempo, o queimante entusiasmo de quem está a descobrir e realizar (no sentido ainda inglês) todo o vasto mundo ondulante e diverso da realidade social.

Se algum dia as ciências sociais chegarem à maturidade das ciências físicas, mesmo então a leitura do livro de Gilberto Freyre constituirá uma iniciação indispensável, pois ainda nesse dia longínquo, senão impossível, nenhum outro livro poderá dar ao estreante uma revelação mais excitante e ao mesmo tempo mais exata da extrema complexidade e extrema variedade de métodos, com que a mente humana terá tido de lutar para poder dominar êsse nôvo universo.

Recordo-me de haver Gide, certa vez, declarado não ter podido se interessar por certo livro de famoso romancista brasileiro em virtude de achá-lo demasiado linear, de faltar-lhe espessura. Como gostaria que pudesse êle ter lido Gilberto Freyre! Mesmo neste livro, reproduzindo as lições de um curso, que espessura! Como a sociologia se mostra densa; que variedade de planos, que riqueza de tecido, que abundância de matéria, que golpes de luz, que elasticidade de idéias, que multiplicidade de ângulos! É tudo que há de menos "isto ou aquilo", o "either or", de certos pensadores unilaterais, numa antecipação de visões diversas senão aparentemente contraditórias, que terão, por certo, de anteceder as possíveis sínteses de amanhã.

Nada é em Gilberto Freyre linear ou esquemático; seu pensamento se desdobra rico, múltiplo e maduro, antes psicológico do que lógico, preferindo a aparência da contradição à simplificação empobrecedora e primária, contanto que nenhum aspecto da realidade lhe escape e a possa apresentar em tôda a sua extrema, delicada e múltipla complexidade, naquele "animadíssimo tapis" a que se refere o professor Ayala.

Saímos do livro com a impressão de que o mundo matemático, o físico, mesmo o biológico e até o mental são coisas singelas em face da complexidade intrincada, sutil, diversa e fluida do mundo social.

Outros livros serão feitos de introdução à Sociologia, mas nenhum, como êste, será capaz de nos dar melhor o deslumbramento e a promessa da iniciação em uma ciência nova, e de nos impregnar mais ìntimamente do fermento de uma nova curiosidade para buscar alcançar o nôvo estágio de progresso intelectual a que essa ciência nos está já a levar.

A grandeza e originalidade do livro de Gilberto Freyre residem nesse ousado espírito, sàbiamente assistemático, de especulação e aventura no mundo ainda obscuro, mas extremamente promissor, da ciência da realidade social.

Nada há que êle despreze do que já foi até hoje feito nesse campo. O estudo do homem e da sociedade não começou com a sociologia. Recente é o nome dado a tais estudos. Recentes são os novos métodos dêsses estudos. Recentes são as tentativas de definição e limites dêsses estudos.

Nunca me esqueço do desalento de um jovem antropologista, em pesquisa de campo numa cidade baiana, ao falar-me da impossibilidade de sua ciência, que lhe exigia completa competência em matéria histórica, em matéria geográfica, em matéria psicológica, em matéria religiosa, em matéria literária, em matéria linguística, em matéria política, em folclore, em artes de tôda natureza, em agricultura, em indústria, enfim, em tudo, tudo que o homem faz, pensa e é, sua pessoa, sua civilização, sua cultura.

Só terá êle que ler Gilberto Freyre para ver que a ciência social é possível; mas exige para tratá-la alguém cuja largueza de âmbito intelectual se casa com idêntica largueza de cultura pessoal, alguém que não seja apenas um especialista limitado à sua especialidade, e sim nôvo tipo de especialista, à maneira dos pensadores e dos escritores, capazes de abarcar todo um mundo de especialidades e delas extrair algo de comum e geral, como tal, também especial, mas em outro nível.

Há muito no progresso intelectual de hoje de profissionalização no sentido de se haver tornado fácil, pela divisão do trabalho e pela especialização, a tarefa do intelectual. Nem de outro modo poderíamos aumentar tanto quanto aumentamos o número dêsses trabalhadores. Mas, o que nem sempre se nota é que, se isto é possível nas ciências amadurecidas, com métodos e processos ricamente desenvolvidos, como as físicas e mesmo as biológicas, no campo do mental e do social ainda precisamos de cerebrações vizinhas do gênio.

Dia virá em que pessoas razoàvelmente inteligentes poderão cultivar o campo dessas ciências; mas, por enquanto, se não quisermos estar perdendo o tempo em ler descrições meticulosas de coisas óbvias ou amontoados quantitativos de fatos inexpressivos, temos de exigir para as ciências sociais trabalhadores excepcionalmente inteligentes. Pelo menos por êste aspecto, o campo das ciências sociais se aproxima do campo artístico, no qual temos o bom-senso de não perdoar a mediocridade.

Como Gilberto Freyre é um dos grandes - para Gurvitch o maior - entre os sociólogos de nosso tempo; como êle não é um discípulo, mas um mestre, havendo aberto clareiras novas em sua jovem ciência, com originalidade de conceitos e de métodos, e escrito ensaios dos mais originais do seu tempo, na interpretação do homem e de sua realidade no Brasil, seu livro, que tem, inegàvelmente, um traço de gênio, está impregnado de um espírito de defesa e justificação, que só posso explicar como um fato cultural, a exigir, por sua vez, explicação e análise.

É que o país pratica, ao pé da letra, a doutrina que Machado de Assis formula admiràvelmente: "morreu; podemos elogiá-lo". Ai de quem chega à grandeza ainda vivo! Os contemporâneos julgam "inteligente" não admitir nenhuma "grandeza" viva. Os estrangeiros são muito mais generosos. As verdadeiras figuras originais do Brasil - como os Gilberto Freyre, os Villa-Lobos - têm de sair do país para receber a sua consagração. Natural, pois, que acabem por tomar um tom de quem se desculpa de ser um tanto mais alto que os demais ou, então, como Monteiro Lobato, de quem se ri um bocado de si mesmo, já que não pode rir do seu próprio país. Gilberto Freyre faz um pouco como Bernard Shaw e, desabusadamente, enche os seus livros e sobretudo, ainda como Shaw, os seus prefácios, de explicações sôbre o que faz e o que é. Pois se os contemporâneos insistem em não ver, há que apontar-lhes o que devem ver...

Os seus livros estão a ser traduzidos em francês, em inglês, em espanhol, em alemão e o seu nome, o seu estilo, o seu pensamento a serem julgados como dos melhores da cena contemporânea. Não é apenas um mestre de sociologia, mas, um criador de sociologia. Casa Grande e Senzala não tem - como ensaio de interpretação social - muitos companheiros no mundo. Gilberto Freyre se alinha com êsse livro - para ficarmos apenas no mundo ibérico - ao lado dos Ortega e Gasset, como autor, era quem a ciência, longe de limitar, amplia e projeta o gênio. Pensador original e escritor raro e de singular espessura, no sentido em que Gide usou o têrmo, sua obra, sem deixar de ser rigorosamente científica, eleva-se às alturas de obra de arte e de penetração filosófica. A tese existencialista, hoje tão ruidosa, está inteira, exemplificada e utilizada, na sua obra de interpretação social. Não sei se amanhã Gilberto Freyre não será julgado mais como escritor e pensador do que como cientista. A realidade é que pertence à linhagem dos Bergson e dos Proust, fazendo o milagre muito raro de integrar a ciência e a arte.

Tenhamos a agradável coragem de reconhecer em Gilberto Freyre a grandeza que o futuro lhe irá reconhecer, em seu retardado processo de canonização. E o ajudamos a ser ainda maior, aqui mesmo, entre nós e no nosso tempo, com a nossa quente e viva admiração.

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