TEIXEIRA, Anísio. Funções da universidade. Boletim Informativo CAPES. Rio de Janeiro, n.135, Fev. 1964. p.1-2.

FUNÇÕES DA UNIVERSIDADE

Anísio S. Teixeira*

As Universidades têm uma longa história, durante a qual passaram por transformações e vicissitudes. Em substância, entretanto, são hoje quatro as suas funções fundamentais, que, nas universidades brasileiras, se cumprem de modo fragmentado, incerto e às vêzes acidentado.

Destas grandes funções, consideraremos primeiro a da formação profissional. As universidades, de modo geral, salvo algumas exceções, têm como objetivo preparar profissionais para as carreiras de base intelectual, científica e técnica. No Brasil foram dominantemente isto. Presentemente, as universidades alemãs, inglêsas e americanas mantêm êste objetivo e os demais. Na Rússia, as universidades cuidam sobretudo do preparo de quadros de cientistas e de especialistas, achando-se as escolas profissionais separadas da universidade.

Não é fácil caracterizar a segunda grande função. Seria a do alargamento da mente humana, que o contacto com o saber e a sua busca produzem nos que freqüentam a universidade. É algo mais do que cultura geral. É a iniciação do estudante na vida intelectual, o prolongamento de sua visão, o alargamento de sua imaginação, obtidos pela sua associação com a mais apaixonante atividade humana: a da busca do saber. Tôdas as universidades preenchem esta função e se fazem, assim, como que noviciados da cultura.

A terceira função é a de desenvolver o saber humano. A universidade não só cultiva o saber e o transmite, como pesquisa, descobre e aumenta o conhecimento humano. Êste objetivo não é o mesmo do preparo profissional, não é o mesmo daquele alargamento mental da inteligência do aluno. A universidade faz-se centro de elaboração do próprio saber, de busca desinteressada do conhecimento, de ciência fundamental básica.

Por último, mas não menos importante, a universidade é a transmissora de uma cultura comum. Nisto é que a universidade brasileira mais falhou. Além de profissional, a universidade brasileira, relativamente desinteressada pelo Brasil, não logrou constituir-se a transmissora de uma cultura comum nacional. A universidade não é só a expressão do saber abstrato e sistematizado e como tal universalizado, mas a expressão concreta da cultura da sociedade em que estiver inserida. E é por isto que vemos a universidade germânica cultivar e transmitir a cultura germânica; a universidade inglêsa transmitir a cultura inglêsa; a universidade francesa transmitir a cultura francesa; a universidade americana transmitir a cultura americana. A universidade brasileira tem que ser a grande transmissora da cultura brasileira. Esta cultura brasileira, concebida como modo geral de vida de tôda a sociedade, é algo que está em processo, que se vem elaborando e que a universidade irá procurar formular, definir, tornar consciente e, dêste modo, nela integrar todo o povo brasileiro.

A universidade será assim um centro de saber, destinado a aumentar o conhecimento humano, um noviciado de cultura capaz de alargar a mente e amadurecer a imaginação dos jovens para a aventura do conhecimento, uma escola de formação de profissionais e o instrumento mais amplo e mais profundo de elaboração e transmissão da cultura comum brasileira.

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