TEIXEIRA, Anísio. A expansão do ensino superior no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v.36, n.83, jul./set. 1961. p.3-4.

Editorial

A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

O ensino superior vem-se expandindo de forma surpreendente entre nós. Basta que vejamos os estabelecimentos criados nos períodos abaixo indicados:
 

Criados

Total

De 1808 a 1890…………………………….

14

14

De 1890 a 1930…………………………….

72

86

De 1930 a 1945…………………………….

95

181

De 1945 a 1960…………………………….

223

404

É evidente que nenhum país do mundo estaria em condições de expandir o ensino superior dêsse modo. O mais interessante é que, se tal expansão fôsse anunciada, ninguém a aceitaria. Mas faz-se pé ante pé, quase secretamente, sem ninguém saber, e a nação acorda com o ônus dessas novas faculdades e novas universidades. Não sei de maior demonstração do sentido oligárquico de nossa sociedade. O grupo servido por essas escolas superiores é, em primeiro lugar, o dos seus professôres e, depois, o dos seus alunos. Ora, o grupo dos professôres - incluídos todos os ocupados com qualquer atividade docente - são cêrca de 20.000 brasileiros, que custaram à nação, em 1960, mais de 20 bilhões de cruzeiros, à razão, portanto, de um milhão per capita. Se tomarmos os alunos que em 1960 foram 80.000, teremos o custo per capita de 250.000 cruzeiros. O do aluno de escola primária em média foi de uns três mil cruzeiros.

Sem dúvida, são os Estados os grandes propugnadores da expansão do ensino superior. Todos êles querem ter a sua universidade. Não seria mal que a tivessem, mas na medida em que sua riqueza o permitisse. Têm-na, entretanto, absorvendo os recursos federais que deveriam destinar-se à educação primária, prática e técnica da população escolar do Estado.

Sugeriria, diante da irrefreabilidade da expansão, três medidas: salários regionais para os professôres; divisão dos cursos em básicos, profissionais e especializados; limitação dos cursos a serem oferecidos pelas novas faculdades e universidades, ou validez apenas regional dos seus diplomas. Para validez nacional, os diplomas das novas faculdades e universidades deveriam ser confirmados por alguma das sete universidades federais mais antigas, que poderiam exigir exames, estágios em suas instituições ou outras verificações que lhe parecessem necessárias.

Está claro que tudo isto seria penoso, mas não se pode distinguir outro meio de criar as condições necessárias ao progresso e ao melhoramento dos padrões de ensino superior, ameaçados de diluição total em face da dissolução expansionista. Êste é um lado da questão. O outro, bem mais grave, é o do esquecimento do povo e de sua educação. Preferimos criar lugares de professor de nível superior nos Estados a ajudá-los a resolver o problema da educação popular.

ANÍSIO TEIXEIRA
Diretor do I.N.E.P.

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