TEIXEIRA, Anísio. Educar para produzir. Rio de Janeiro: CAPES, 1952. 2p.

EDUCAR PARA PRODUZIR

Nem sempre a chamada educação escolar constituiu uma educação para o trabalho produtivo. Fóra dos tempos modernos, quasi diria contemporâneos, a educação escolar se destinava aos que, não tendo que ganhar a vida, desejavam educar-se para melhor poder gozá-la.

Nunca, por isto mesmo, poude a escola libertar-se completamente do complexo de educar para o lazer. Todo o seu apêgo aos aspectos linguístícos ou literários da cultura são ainda residuos da sua formação para apreciar a vida mais do que para ganhá-la.

Ora, desde que a sociedade se fez democrática, não havia como não se rever a velha fórmula grega e medieval da educação do espírito e para o espírito. A revisão, porém, não se fez logo completa. O sistema de educação para o trabalho surgiu como forma subalterna de escola para o povo, enquanto se mantinha a outra para a chamada elite. Dêsse dualismo ainda não saimos completamente. A situação presente é a invasão pelo povo da chamada escola de elite.

Passaram os muitos a buscar se educar pela forma que os poucos haviam escolhido para si. A escola acadêmica, de letras ou de teoria e, se possível, a universidade vêm se fazendo a ambição de todos. Nada mais razoável. Se temos uma educação para privilegiados e se, em uma democracia, no caso de haver privilegiados, todos e não sòmente alguns devem sê-lo - nada mais justo do que buscarem todos a educação que se havia pretendido restringir à chamada elite.

Dêste modo está o povo brasileiro a realizar a mais profunda reforma educacional que, em todos os tempos, a sua incipiente democracia poude levar a efeito: a da transformação gradual da escola secundária em uma escola para todos.

À medida que o povo começa, assim, a absorvê-la, terá ela de se ir transformando. Agora mesmo já se está registrando um movimento para "simplificá-la", para lhe reduzir o programa fantástico. São os primórdios da transformação da escola de elite em escola popular.

Quando a transformação se operar completamente, essa escola se fará uma escola prática, tudo podendo ensinar, desde os cursos dominados pela literatura clássica até os cursos técnicos de ciência aplicada, mas, com um novo espírito, o espírito de formação democrática para o trabalho. A distinção entre os seus alunos será a distinção entre as suas aptidões e não qualquer distinção social ou de salário. Todos se educarão para ganhar a vida, segundo as diferenças de suas inclinações ou pendores, em uma sociedade que não conhecerá outra desigualdade sinão a do mérito, do esfôrço e da eficácia.

Tudo farei para apressar êsse processo de unificação da escola brasileira e de destruição do dualismo obsoleto de educação para a elite e educação para o povo. Diversificada e una, a educação brasileira deve ter, em todos os graus e ramos, a mais perfeita equivalência social, formando os seus diferentes quadros de ocupação e de profissões com a só distinção que decorre do mérito e do esfôrço individuais. Resgatado pela técnica o trabalho do seu baixo rendimento, tanto os operários, quanto os ocupantes de ofícios de nível médio e superior, poderão igualmente aspirar a salários condígnos. Desfeita que seja diferença odiosa, que o dualismo escolar fortalecia, veremos os brasileiros buscarem na escola a educação adequada às suas aptidões e não apenas aquela que nos ajude a mudar de classe, pois que só êsse mudar já não lhe trará as vantagens esperadas.

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