TEIXEIRA, Anísio. Editorial. Educação e Ciências Sociais. Rio de Janeiro, v.7, n.3, fev. 1960. p.3-13.

EDUCAÇÃO E
CIÊNCIAS SOCIAIS

ANO V - VOL. 7 - Nº 3 - FEVEREIRO DE 1960

Editorial

Entre os grandes ciclos da existência humana a que se referem os antropólogos, devemos no Brasil, acrescentar o da "escola superior". As próprias designações - "formatura", "formado", "doutor-formado" - marcam o sentido final que emprestamos ao encerramento dêsse ciclo da vida. A cerimônia com que o celebramos sai do âmbito da escola e da própria universidade, para se fazer festa da comunidade inteira.

É que a nossa sociedade se encontra entre aquelas que mais são motivadas pela educação escolar. Constituindo a escola, entre nós, o processo por excelência de seleção e classificação dos indivíduos, a "formatura" marca, com a terminação dos cursos, o ingresso do diplomado no quadro dos que vão inspirar e dirigir - e dêste modo servir - o país. Somos algo como o "cavaleiro" da Idade Média, o "gentil-homem" do século dezoito, o "mandarim" da velha China... Queiramos ou não, uma espécie de nobreza doutorada.

Nessa aristocracia, sois vós, os diplomados da Faculdade de Filosofia, um dos grupos mais jovens (ontem, éramos todos ainda autodidatas!) dos profissionais de nível superior, os profissionais do magistério, incumbidos de transmitir, como mestres, a herança cultural da espécie, nos seus aspectos mais específicos e conscientes.

A transmissão da cultura é, em grande parte, algo de automático. O característico de uma verdadeira cultura "tradicional" é estado de aceitação e integração social tão completo e perfeito que, de certo modo, dela não se pode ter consciência. "Culturas", nesse estado, transmitem-se espontâneamente, pelo exemplo, pela convivência, por irradiação direta do contato social.

Há muito em nossa cultura de hoje que se transmite ainda assim. Por essa transmissão cultural é que somos de nosso país, de nosso tempo, de nossa gente, de nossa classe. Não são necessárias escolas para que o indígena reproduza culturalmente o indígena, o francês, o francês, o brasileiro, o brasileiro e assim por diante.

A escola, e com ela o magistério, sòmente surgem quando a "cultura" passa a carecer de cuidados especiais para se reproduzir, ou seja, para guardar e conservar seus aspectos determinados e conscientes. Em rigor, a escola surge quando a cultura se faz assim intencional e voluntária e necessita de meios ou instrumentos artificiais, cujo uso tem de ser "aprendido", para se reproduzir e se conservar sem alteração.

Vem daí que as primeiras formas conscientes de transmissão de cultura - ou seja, de escola - vamos encontrá-las em cerimônias de iniciação ou rituais destinados a gravar e fixar, com a necessária incandescência, certas atitudes e comportamentos, reputados importantes senão indispensáveis à sobrevivência cultural.

Em contraste com a educação espontânea, a educação escolar, a escola, por mais rudimentar que seja, importa sempre em esfôrço consciente para conservar, para manter a identidade da cultura. O fato de assim buscar-se a sua conservação revela já haver consciência da possibilidade de ser modificada.

Que busca a escola conservar? As invenções mais caras ao espírito humano: imagens, visões, esboços de formulação consciente da própria cultura, encarnados nas simbolizações mais significativas, nos ritos, cerimônias, histórias, lendas e sagas; e, em período muito posterior, os próprios meios materiais de registro dessas experiências humanas, meios que culminaram, finalmente, na escrita.

De posse dêsses valores, em rigor espirituais, integrantes de sua cultura, um povo percebe quanto está aberta a possibilidade de sua modificação, seja pela perda dêsses valores conscientes, seja pela sua alteração ou renovação. A escola, criada para impedir a sua perda, ou modificação, não pode deixar de sentir-se, ao mesmo tempo, instrumento de sua possível modificação. Contra isto é que atua o propósito consciente de inércia, que domina tôda sociedade, forçando a escola a se manter a mais conservadora das instituições, a instituição por excelência de defesa do "statu quo".

Impossível será exagerar o vigor e a eficácia com que êsse propósito se afirmou através da história. Graças a êle a civilização neolítica ou seja a civilização da agricultura pôde ser conservada até os nossos dias, nela ainda se encontrando cêrca de dois têrços da humanidade, que vivem, hoje, no puro e simples esfôrço para a sobrevivência física entre a vida e a morte, com intervalos de cerimônias religiosas, que lhes aliviam o imenso e contínuo desespêro de viver. O instinto animal e grau considerável de inconsciência é que dão ao homem a sua vigorosa saúde mental e impedem o imenso rebanho humano de sucumbir a acessos neuróticos de suicídio em massa.

Nos últimos séculos, entretanto, por entre mil obstáculos e vicissitudes e vencendo o secular conservadorismo humano, vem medrando um novo tipo de civilização, a civilização industrial, fundada na ciência. Esporádica e acidentalmente, essa ciência sempre existiu entre os homens e outra não foi a fonte de seus instrumentos de trabalho, de ação e de fantasia. Criados, porém, tais instrumentos, esqueceram os homens o segrêdo de sua descoberta, quase sempre aliás acidental, e se fecharam num tradicionalismo inerte e cego. Só recentemente logrou o homem reformular êsse método milenar da descoberta pela experiência, dar-lhe a sistematização necessária e nêle fundar a própria sociedade.

Ao contrário da civilização anterior, que institucionalizara a não modificação, a nova civilização institucionalizou a modificação. Somos, agora, uma civilização que muda de dia para dia e que se orgulha de mudar. Criou-se a "tradição" de mudar.

Não nos apressemos, contudo. Há mudança e mudança. Indagando-se dos guardiães de nossa sociedade se está ela mudando, responderão que mais do que nunca se fundam suas estruturas em "verdades eternas e imutáveis", tão sagradas que nada menos do que traidores serão os que pretenderem modificá-las.

Para conciliar com o espírito tradicional da velha estabilidade, as terríveis mudanças ocorrentes, costumam os homens admitir como área suscetível de mudar a que chamariam do "material", nada podendo ser mudado no campo do "espiritual". Em outras palavras, tudo pode mudar no campo da "natureza" e nada no campo do "homem", erguido êste a nível acima e fora da "natureza".

A realidade, entretanto, é que a chamada "ciência" nada mais é que a formulação, sistematização e extremo refinamento do processo imemorial e inconsciente do aprender por experiência, ou seja, do processo de criar os instrumentos do conhecimento e do saber e à sua luz modificar o comportamento humano. Modificações outrora puramente acidentais e depois conservadas religiosamente e mesmo à fôrça, primeiro pelo receio de perdê-las e, mais tarde, pelo receio de que se alterassem, passaram agora a ser promovidas sistemàticamente e com tal ímpeto, que o maior episódio de nosso tempo é o da competição entre as grandes nações da terra na corrida de progressos e inovações.

Êste é o fato novo que lhes desejaria trazer hoje à lembrança. O método imemorial do conhecimento experimental atinge, enfim, a sua formulação definitiva e, pela primeira vez na história, é considerado suficientemente importante para dominar a atenção de todos os homens e sobretudo daqueles a quem a sociedade confiou a sua defesa e guarda.

Desde o comêço da história tiveram importância, sem dúvida, as invenções, mas já inventores não tinham tamanha importância e o "processo de inventar", nenhuma importância. A novidade dos dias de hoje é que o "processo de inventar" tem importância máxima. Aonde nos poderá isto levar, não está em nosso poder dizê-lo.

Todos sentem que é a revolução das revoluções.

Até hoje, com efeito, o ato de pensar - matriz, sem dúvida, de tôdas as invenções - foi, entre os homens, o mais vigiado de todos os atos. Os grandes violadores do pensamento convencional, todos os grandes inovadores foram sacrificados pelos "guardiães" de rebanho. E sobretudo eram mortos os que julgassem possível um novo pensamento religioso, moral ou político. Sócrates morreu porque julgou possível a dúvida, o problema, a questão, a pergunta. Jesus morre porque deseja substituir a "resposta" convencional por outra mais generosa. No sentido religioso e político até hoje não se escreveram documentos mais revolucionários do que os evangelhos, que nos dão conta de sua vida, sua mensagem, sua morte. A própria igreja católica, fundada, é verdade, mais na morte de Jesus do que em sua vida e mensagem, vê-se abalada nos seus alicerces quando um dos seus fiéis resolve iniciar um movimento pela leitura e interpretação independente dos evangelhos. Desencadeia o fato longo período de guerra civil na cristandade. Mas afinal as facções se recuperam e, de um lado e de outro, protestantes e católicos, restabelecem a tradição e passam a guardá-la com o mesmo zêlo antigo, protegidos pelo "braço secular" agora mais do Estado, ou seja do Império, do que da própria Igreja.

Não me irei estender aqui na história antiga mas sempre comovente da repressão do impulso humano de rebeldia. Realmente é extraordinário que não tenha ainda morrido tal espírito. Costuma certa malícia muito velha da história, respondendo à sugestão de govêrno de Platão, indagar: "Qui custodiet custodes?" para significar que jamais poderá a humanidade confiar nos seus guardiães, ainda que filósofos, conforme a lembrança platônica, pois, quem os haveria de guardar? Bem sei que os guardiães podem corromper-se e tirar proveito de sua posição. Mas se interpretarmos a frase como dúvida sôbre a fidelidade de princípios dos guardiães, tôda a história humana a negaria, pois, nunca partiu dêles a fagulha revolucionária e quando algum, dentre êles, a quis lançar foi prontamente destruído. Quem guardaria os guardiães? Êles próprios e seus interêsses na conservação do statu-quo. De modo que a pergunta certa seria não quem guardaria os guardiães mas quem os despertaria, quem os impediria de guardar demais o que lhes tivesse sido confiado. Seja o sacerdote, seja o erudito, para indicar os dois mais significativos "guardiães" na história, nenhum dos dois precisa de ser guardado, pois guardarem-se, guardam-se êles e com tal empenho e tamanho zêlo, que o difícil será arrancá-los de sua apaixonada complacência pelo que existir.

Ao apontar assim o gasto do homem pela conservação do seu pensamento e o receio de sua modificação, poderá parecer esquecimento não indicar a exceção, um como intermezzo de liberdade, que marcou o período entre o século XVIII e o século XIX, mas, sobretudo o da segunda metade dêste último.

Nesse período, viveu, com efeito, a humanidade uma extraordinária experiência de liberdade de pensamento, talvez a maior da história. Quase se admitiria a possibilidade de a liberdade vir a ser definitivamente institucionalizada. Grande número de constituições inscreveram a princípio em seus textos. Separaram-se as Igrejas dos Estados, proclamando-se que as crenças religiosas eram assuntos privados, em relação às quais o Estado apenas influiria no sentido de mantê-las livres.

Os que ainda lêem a literatura dêsse período, e falo assim porque parece que muitos dos jovens de hoje já não a lêem, ficam maravilhados com a liberdade de espírito dos escritores dessa época. Aqui e ali, havia intolerância, mas o mundo considerado civilizado ria-se dessas estreitezas e os escritores e pensadores no campo da religião, da ciência, da estética, da política e da moral - sentiam-se livres para acompanhar as idéias até o fim, segundo o conselho de Platão, ou até onde o pensamento humano pudesse atingir, como repetia G. B. Shaw.

As intolerâncias sòmente vieram a ressurgir já em nosso século, depois da primeira guerra mundial, anunciadas pelos profetas que, tão significativamente, passaram a chamar de estúpido o século XIX. Até hoje persistem elas, agora dramatizadas nesse conflito entre duas teorias econômicas ou talvez apenas entre duas políticas hegemônicas, conflito a que se quer dar caráter religioso, senão teológico, como que para melhor lembrar o conflito, que dividiu protestantes e católicos, nos primeiros séculos de nossa era.

De qualquer modo, vem êste conflito suprimindo o espírito de liberdade, que a humanidade prelibou no interlúdio do século XIX. Todos vós, que aqui hoje colais o grau universitário, já nascestes e fôstes criados numa atmosfera de dogma, de rudes certezas, de crenças apaixonadas e de desprêzo pelo espírito de dúvida, de ceticismo científico, de verdade hipotética e provisória, de revisão, de razão, enfim, porque o característico dos períodos sem liberdade é a luta contra a razão e o racional.

Será que estamos próximos a encerrar êsse ciclo de paixão e estreiteza? Há indícios de que sim. Talvez possamos esperar que a guerra civil, em que se acha mergulhada a espécie, venha, pelo menos, a perder a intensidade. Assim que tal se der, o espírito de liberdade voltará a florescer entre os homens. E a nossa tarefa, de mestres e professôres, poderá vir a ser a nova tarefa de transmitir não a tradição mas a revisão da tradição. Com os progressos efetivados, malgrado tudo, na arte de pensar - é certo que muito mais no chamado "mundo da natureza" do que no chamado "mundo do homem" - temos motivos de afirmar que nenhum de nós estará em condições de prever até onde poderá ir o pensamento humano.

Por menos que valham as analogias, é difícil evitar a comparação. Não será que estamos, neste fim do século XX, como outrora no século dezesseis, divididos entre conquistas incomensuráveis no campo do universo físico e uma melancólica luta político-religiosa? No século XVI, a contradição era entre as descobertas dos novos continentes, pelas quais ingressamos nós na História, e as guerras de religião; hoje seria entre as descobertas científicas, que definitivamente inauguram o processo pelo qual a miséria e a pobreza se tornarão tão obsoletas como os sacrifícios humanos do início da era neolítica e, do outro lado, a querela político-econômica entre dois processos de desenvolvimento social, que se desejam erguer ao nível de duas religiões.

Aquêles, entre nós, já de idade provecta, como êste vosso humilde paraninfo, conheceram a liberdade e a paz espiritual entre os homens e podem dela recordar-se, recordando os autores e escritores do século dezenove. Foi tôda uma plêiade de gigantes, de que resta um ou outro ainda vivo hoje. Daí por diante, não houve mais liberdade real de pensamento, nem mesmo para os pensadores e escritores.

Faço esta reserva, porque total liberdade de pensamento jamais houve na História. A liberdade que se registrou foi no pensamento escrito, e publicado em livros, pela simples razão, que os "guardiães" acabaram por aprender, de que os livros eram lidos por muito poucos, não constituindo assim perigo maior. Até hoje, no Brasil, por exemplo, goza-se de muito mais liberdade intelectual no livro do que na imprensa, no discurso ou na aula.

Ora, se tais condições se modificarem e algo de parecido com o clima do século XIX - um clima de paz intelectual - se restabelecer na terra, e a isso juntarmos os progressos realizados no campo da grande arte humana, que é a arte de pensar e de saber, que horizontes não se poderão abrir ao espírito humano?

Pertencemos, queiramos ou não, ao grupo sempre crescente dos "guardiães". Somos os guardas e transmissores da cultura. Temos uma grande tradição de mêdo e de conformidade e uma pequena e sempre viva tradição de rebeldia e de inconformidade.

Se a paz intelectual se restabelecer, a segunda tradição ganhará ascendência e, com os novos métodos, a nova disciplina e a nova segurança da arte de pensar poderemos marchar com ousadia e coragem, sem nos assustarmos nem assustar os demais. A velha timidez e os velhos receios já não terão razão de ser. Conheceremos melhor a arte, poderemos exercê-la com mais equilíbrio e os nossos semelhantes continuarão a vigiar-nos não para nos punir mas para nos estimular. São êles que nos perguntarão pelas nossas descobertas. Já estamos assim no campo das ciências físicas. No campo do econômico, marchamos para estádio semelhante. Os novos métodos de pensar chegarão aos demais setores. E serviremos, então, à sociedade na medida em que colaborarmos na marcha dêsse pensamento humano, fôrça que afinal estamos aprendendo a usar e, que, por isso mesmo, haveremos de conquistar a liberdade de usar. Seremos, então, não apenas os guardiães do passado, mas os profetas, os videntes, os antecipadores do futuro e, no final de contas, os seus promotores.

Voltando dessas considerações gerais sôbre o nosso tempo para o exame do momento nacional, é fácil ver que estamos imersos no que se vem chamando "a revolução das expectativas", a revolução da esperança, havendo perdido, ao que tudo indica, definitivamente, o espírito de resignação e de aquiescência, tão indispensável para a manutenção do statu-quo.

Estamos em marcha para nos organizarmos e produzir, no ritmo e com os métodos da civilização industrial, a fim de vencermos a miséria e o subdesenvolvimento. A nova civilização tem exigências educativas. A transformação é a mais radical que se pode conceber, até agora sòmente se encontrando em seus estádios avançados alguns poucos países globalmente industrializados.

Um dos mais profundos resultados dessa nova civilização é a menor importância da riqueza individual, porquanto passarão a ser acessíveis a todos as coisas que a riqueza costumava trazer aos ricos e que dela faziam um privilégio. É evidente que a riqueza perde, com isto, a sua motivação natural e, em rigor, está a caminho de se tornar obsoleta. Já imaginastes o que será uma sociedade em que a riqueza individual seja um mal a evitar? Ouso dizer que talvez não estejamos assim tão longe dêsse estádio.

E se isto vier a acontecer, pode-se bem prever o alargamento da tarefa educacional, da tarefa que afinal nos cabe de transmissores da cultura, de uma cultura, dia a dia, menos espontânea e mais artificial, especializada e complexa.

Cêrca de dois têrços, se não mais, da humanidade, ainda vivem da mão para a bôca, no esfôrço duro e cruel da sobrevivência física. Se conseguirmos o contrôle dos nascimentos como já vamos conseguindo o contrôle da morte prematura e se a todos fôr dado o necessário para a vida material, as perspectivas que se abrem para o homem, serão não já as de cuidar da morte, mas as de tornar a vida interessante e significativa.

Até hoje sentimos o interesse e a importância de viver, por paradoxal que isto possa ser, graças ao mêdo e a uma sombria economia da pobreza. Se conseguirmos a economia da abundância, que já se anuncia nos países desenvolvidos, teremos perdido aquelas fôrças, truculentas mas eficazes, que não deixam ao homem outra saída senão a de submeter-se e disciplinar-se. As necessidades da educação consciente e formal passarão daí por diante a ser muito maiores

Êste é o desafio aos professôres de amanhã. Êste é o desafio que nos trazem os tempos presentes. Além do desenvolvimento econômico, em que estamos todos imersos, há uma extrema necessidade de desenvolvimento educacional. Sem desconhecer que essa educação, sob muitos aspectos, será uma educação que nos habilite a tomar sôbre os ombros a tarefa dos novos métodos e processos da produção material, cabe-nos não esquecer que êsse desenvolvimento traz consigo a necessidade de uma nova disciplina e um novo interêsse para o homem assim liberto dos mestres - trágicos, por certo, mas sem iguais - que eram, para êle, a necessidade e o mêdo.

A tarefa do educador, do mestre, do professor, longe de estar, como tantas outras, em declínio, é tarefa ou missão que está apenas a surgir. Não é só a complexidade da cultura a transmitir que nos enche de temor e respeito, mas, sobretudo, a dificuldade nova e específica de transmitir o gasto e o hábito por uma cultura dominantemente consciente e mutável, em oposição à fácil cultura anterior, tôda ela inconsciente e uniforme.

Aliás êste é todo o perigo do nosso tempo.

A nova civilização, ora em vias de substituir a antiga civilização agrícola, poderá não chegar jamais a verdadeira integração e lançar o homem em estados jamais vistos de passividade, ou sua contrapartida, a excitação vazia. Sòmente educação e cultura poderão salvá-lo. A batalha educacional será a grande batalha do dia de amanhã.

Vencida a tarefa econômica, redimido o homem do seu invencível mêdo da pobreza e da necessidade, teremos a educação e a escola como o maior, o mais amplo, o mais crucial problema humano.

ANÍSIO S. TEIXEIRA

(CBPE - INEP)

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