TEIXEIRA, Anísio. Discurso de posse do Director Geral de Instrucção Pública. Boletim de Educação Pública. Rio de Janeiro, v.2, n.1/2, jan./jun. 1932. p.75-76.

DISCURSO DE POSSE DO DIRECTOR GERAL DE INSTRUCÇÃO
PUBLICA DR. ANISIO SPINOLA TEIXEIRA, EM
15 DE OUTUBRO DE 1931.

Ao assumir o cargo de Director Geral de Instrucção, no Districto Federal, tenho perfeita consciencia de suas graves responsabilidades. Por mais que me acabrunhassem, entretanto, essas responsabilidades, eu não me sinto livre para recusar o posto a que me chamou o honrado lnterventor desta cidade. E não me senti livre, porque o Exmo. Sr. Dr. Pedro Ernesto poz o convite tão nitidamente no terreno technico e revelou uma compreensão tão alta da natureza do problema educacional e das suas exigencias legitimas, que recusar seria desertar dos compromissos de coragem e de sacrificio, que assumimos todos os que batalhamos pela reconstrucção do Brasil, através da educação.

O Districto Federal veiu tendo, desde longa data, directores de Instrucção de reconhecida eminência intellectual, que têm deixado aqui traços fortes de intelligencia e de acção. Ultimamente, com a transformação que se operou na finalidade da escola, solicitada pela civilização moderna para um papel maior na sociedade, os que acompanhamos com interesse as cousas do ensino vimos o modo por que o apparelho pedagogico do Districto Federal respondeu a essa intimação de uma nova philosophia de educação e uma nova politica de educação. Por intermédio dos seus directores mais recentes, dentre os quaes cumpre destacar Carneiro Leão e Fernando de Azevedo – a instrucção publica, no Districto Federal, encaminhou-se para a corrente mais avançada do pensamento educacional.

Sentiram esses leaders da educação brasileira que, em um paiz joven e de pequenas tradições educativas, tornava-se possivel, por isso mesmo, obra radical de renovação. E se o primeiro realizou o trabalho carinhoso de amanho do terreno, agitando-o e revolvendo-o por meio de uma campanha intelligente e lucida, o segundo continuou o trabalho commum, ideiando um systema escolar nas linhas harmoniosas e robustas que todos conhecemos.

A reforma que se fez no Districto Federal, em 1928, foi uma dessas obras audaciosas de previsão, que o engenho vigoroso e amadurecido de Fernando de Azevedo planejou com o traço largo e quente de quem rasga perspectivas para o futuro. Depois do lento trabalho de preparação que se vinha fazendo, foi possivel lançar os alicerces de uma nova politica educacional. O Rio de janeiro recebeu essa obra como um fruto longamente elaborado, que vinha ao encontro de uma consciência educacional dynamica e moderna, que a reforma avivou e fortaleceu.

Longe, porém, está a obra de completa. A seducção que arrebatou Fernando de Azevedo, no seu impeto encantado de criação, cede agora logar ao trabalho obscuro e penoso de adaptação e realização. A obra entrevista pelo sociologo que gizou a nova orientação da politica educacional precisa, agora, da contribuição de outros technicos para vir a realizar-se, na progressão natural de seus passos e seus estagios.

Nesse sentido, o serviço de educação ganhou, recentemente, em algumas nações, pelos seus methodos de administração, pela precisão de suas medidas e pelo caracter das investigações em que se deve fundar, uma feição scientifica e progressiva. Mas, por isso mesmo, perdeu o seu caracter pessoal. Já se foi o tempo em que se podia administrar um serviço escolar pelas conjecturas mais ou menos autorizadas dos "experimentados". A autoridade pessoal cedeu logar ás conclusões dos inqueritos. Toda uma technica se desenvolveu, que torna a obra mais segura, mais objectiva, mais scientifica. Por outro lado, porém, menos pessoal.

A obra que temos de realizar aqui, portanto, é obra anonyma de todos nós, que nos devemos esquecer de nós mesmos, para tornar a nossa collaboração mais solidaria e mais fiel. E nesse trabalho de cooperação a hierarchia segue o caminho opposto da creação intellectual do plano, que foi o trabalho de alguns antecessores. O director do serviço educacional é, agora, o seu mais modesto operario. O mestre é quem realiza a obra de educação. O director é o simples servidor do mestre.

Toda a administração não tem outro fim que o de dispôr as condições de exito para a obra, que é só do mestre: EDUCAR.

E’ com esse espirito que chego hoje aqui. Não me pertubam as possiveis honras do cargo para que fui distinguido pelo Sr. lnterventor do Districto Federal, porque venho exercel-o com a humildade profissional de quem percebe, por esse angulo, as funcçõs da administração escolar.

São as reconhecidas credenciaes do professorado publico do Districto Federal e a propria força dos novos ideaes de educação, que me fortalecem, neste momento, em que assumo, perante o Sr. lnterventor, o compromisso de corresponder á sua alta confiança, servindo sem desfallecimento á causa da instrucção.

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