TEIXEIRA, Anísio. Dewey e a filosofia da educação. Boletim Informativo CAPES. Rio de Janeiro, n.85, dez. 1959. p.1-2.

DEWEY E A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

Anísio Teixeira

A designação mais corrente de "pragmatismo" e a identificação dessa filosofia com a frase saber é o que é útil concorreram para incompreensões, deformações e críticas as mais lamentáveis. John Dewey, a quem coube a formulação mais demorada e mais completa dêsse método de filosofia (mais do que sistema filosófico), muito se esforçou para afastar as confusões e desinteligências, e a sua contribuição foi decerto das maiores, se não a maior, na emprêsa de integrar os estudos filosóficos de nossa época no campo dos estudos de natureza científica, isto é, fundados na observação e na experiência, na hipótese, na verificação e na revisão constante de suas conclusões.

Coube a Dewey a formulaçãodo método, o método da "inteligência", como prefere êle chamá-lo, para caracterizar a sua revisão do conceito de razão e experiência. Mas o que será a filosofia do nosso tempo ainda irá depender do trabalho de inúmeras pessoas que, devotando-se à filosofia, realizem, nessa esfera, o que os cientistas realizaram e vêm realizando no campo da ciência.

A generalização do novo método do conhecimento humano ao campo da política, da moral e da organização social, em geral, será a grande tarefa das próximas décadas. John Dewey marcou os rumos e balizou as linhas para essa marcha da inteligência experimental por êsses novos campos, marcha que nos há de dar uma nova ordem, mais humana do que tudo que até hoje tenhamos conhecido.

Nenhum grande filósofo moderno foi mais explícito do que Dewey na necessidade dessa transformação educacional, imposta pela filosofia fundada na nova ciência do mundo físico e nova ciência, do humano e do social.

Chegou êle a formular tôda uma filosofia da educação, destinada a conciliar os velhos dualismos e a dirigir o processo educativo com espírito de continuidade, num permanente movimento de revisão e reconstrução, em busca da unidade básica da personalidade em desenvolvimento.

Dewey, cujo centenário de nascimento se celebra neste ano de 1959, continua a ser um simples precursor, não se revelando sua influência no sistema educacional dos Estados Unidos, onde nasceu e viveu, nem muito menos em outros países, senão em aspectos superficiais e secundários.

Não há maior êrro do que supô-lo seguido e, ainda menos, dominante no sistema escolar norte-americano. Sem dúvida, foi profundíssima a influência da vida americana, do caráter prático de sua civilização, sôbre o pensamento de John Dewey. Êste pensamento, porém, na sua mais fecunda parte original, no seu esfôrço de conciliação das contradições e conflitos da vida moderna, ainda não logrou implantar-se e está mesmo ameaçado de se ver submergido por um refluxo das velhas doutrinas dualistas, de origem platônica, hoje em franca popularidade no Leste e no Oeste.

Antes que a influência de Dewey se possa estabelecer com qualquer extensão e profundidade, ter-se-á de resolver o problema que se poderia considerar o do materialismo cultural, isto é, se a conduta humana será suscetível de estudo científico. Para Dewey, isto será essencial a fim se restabelecer a eficiência da formação moral pela escola.

De certo modo, Dewey, neste ponto, volta a uma concepção que não se distancia da de Platão, não no aspecto dualista de sua doutrina, mas no aspecto em que une o conhecimento e a virtude.

O comportamento moral para Dewey é aquêle que leva o indivíduo a crescer, e crescer é realizar-se mais amplamente em suas potencialidades. E como tais potencialidades sòmente se desenvolvem em sociedade, o indivíduo cresce tanto mais quanto todos os membros da sociedade crescerem, não podendo o seu comportamento prejudicar o dos demais porque com isto o seu crescimento se prejudica.

Com êste critério naturalístico de moral, abre-se a possibilidade de seu estudo científico, e com êle o da generalização de processos de conduzir a educação de forma objetiva ou científica.

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