TEIXEIRA, Anísio. O pensamento
precursor de McLuhan. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos.
Brasília, v.54, n.119, jul./set. 1970. p.242-248.
O Pensamento Precursor de
McLuhan
Artur da Távola pede-me para fazer,
também eu, glosas ao "pensamento de McLuhan". Não sei se há "o
pensamento" de McLuhan, expressão que envolve, assim entre aspas, idéia de
doutrina, de algo fixo, um "ponto de vista". É o oposto a tudo isso.
Seu pensamento, se quisesse caracterizá-lo, diria que é o "pensamento
suspenso" da ciência contemporânea, porque não é êle filósofo, mas
estudioso, pesquisador, sociólogo, culturalista, dêle podendo nascer filósofos
de que seria o precursor, a fonte descobridora. Possui, com efeito, uma das
mentes mais originais e mais férteis do nosso tempo, escrevendo, porém, num
estilo dos mais desconcertantes. É lido vastamente em todo o mundo, mas
enfurece boa parte do pensamento convencional, e para alguns sua obra consiste
de "livrinhos interessantes", como já se disse mesmo na imprensa
brasileira. Êsse diminutivo e êsse "interessantes" são, entre nós, o
extremo do desprêzo de nossa gaiata arrogância sul-americana.
Suas observações e suas "iluminações",
para usar têrmo de Wiliam Blake, de seu gôsto, partem de algo muito antigo: do
fato de que "somos o que percebemos" e nossa percepção muda
e varia conforme mudam e variam os nossos modos de usar os sentidos. Nossos
sentimentos têm seu relacionamento natural e harmonioso, orgânico, digamos. Com
as tecnologias, pelas quais lhes estendemos a ação, a começar pela linguagem,
alteramos-lhes as relações entre si e sua natural posição de equilíbrio e
harmonia animal. Começamos então a ser homens, isto é, animais que têm de
construir sua natureza, pois a instintiva e biológica passa a ser apenas a
base, sôbre que seu cérebro levanta o edifício artificial do seu ser social.
Primeiro, como já disse, pela palavra, e depois pelas múltiplas tecnologias da
palavra. A palavra, no seu uso puramente oral, é a que menos o deforma, porque
ainda mantém o uso da audição, do tato e da vista em relativa regularidade
posicional. Mas depois, com o alfabeto fonético, ficam a vista e o ouvido. Com
a imprensa, porém, o alfabeto faz-se silencioso, ficamos com a vista em
exaltação quase suprema e, então, as deformações que se operam criam o absurdo
homem moderno, visual, linear, uniforme, mecânico, unidimensional,
esquizofrênico, em estado de angústia permanente. Agora, a comunicação
eletrônica irá nos repor no mundo oral, no mundo auditivo, no mundo da imagem,
no mundo do tato, no mundo visual já agora despido de sua onipotência - em tal
estado de comunicação pluralística, simultânea e planetária, que se abre para o
homem a possibilidade de retornar a modos de vida mais íntegros e harmoniosos
do que todos que pôde êle ter em tôda a história de sua vida
"civilizada"... e infeliz: o nosso famoso "mal-estar" da
civilização.
Tudo isso é velho e o pensamento
humano é uma longa saturação de reflexões sôbre a "angústia" humana.
O que McLuhan nos traz é a possibilidade de talvez, se puder, descobrir porque
a civilização, com suas tecnologias, nos causou tudo isso, deformando-nos e nos
arrancando do estado de saudável e equilibrada harmonia para o desespêro
moderno. Como homem cem por cento deformado pelo meio gutenberguiano, a
leitura de McLuhan vem sendo para mim um nascer de aurora, no entardecer opaco
da minha exclusiva lucidez visual e racional de homem tipográfico.
"O Meio é a Mensagem":
Capacidade de Revelar de
McLuhan
Li em alguma parte, aliás referido
pelo próprio McLuhan, que levando êle ao editor o seu "Understanding
Media", êste disse, consternado: "Não podemos publicá-lo. O máximo
que o público suporta de novidade num livro seria coisa de 10 por cento. O seu
é nôvo em mais de 75 por cento. O público não aguenta essa carga".
Enganou-se o editor com o público, mas não com o livro, que é de fato nôvo nos
75 por cento do seu cálculo. Seu livro é nôvo, porque não se quis ver o que êle
viu e procurou explicar. Com efeito, todo seu esfôrço é para explicar o óbvio,
concebido como o implícito, e não como o óbvio convencional, que já se chamou
de "ulutante". O óbvio, como o implícito, não é percebido, é o que há
de mais esquivo, fugitivo e oculto em nossa mente. Realmente, tôda novidade de
McLuhan está em abordar o problema da história de nossa cultura de modo
diferente do convencional, que é o oposto dêsse óbvio implícito, de que falo. A
observação humana, ao longo dos séculos, se deteve em dizer-nos o que
havia acontecido, chegando ao máximo de como tinha acontecido. Mas porque
acontecera, a isto não respondia a história, nem o pensamento humano. O
próprio McLuhan ilustra seu pensamento com o caso do progresso humano:
"Por que todo êsse progresso?" - "Ora, devido ao avanço
científico". - "Mas o que causou êsse avanço científico, o que nos
levou a êle?" - "Aí, falta a explicação".
Tôda a novidade de McLuhan está em
tentar esclarecer êsse "porquê". E a propósito, cita Claude Bernard,
explicando o método experimental: "A ciência, até então,
"observou" os fenômenos sem perturbá-los. A
"experimentação" consistiu em proceder de modo contrário, em
perturbá-los, ou imaginar uma variação de suas condições naturais. Suprime-se um
órgão, pelo secionamento, ou ablação, num sujeito vivo, e pela perturbação
produzida em todo o organismo, ou em alguma de suas funções, deduzimos a função
do órgão faltante. McLuhan transferiu para o processo histórico algo
eqüivalente a êsse método.
A cultura é um processo, em que atuam
a estrutura ou organização da experiência na sociedade, e o modo pelo qual ela
se comunica, ou seja, o modo pelo qual a experiência é partilhada dentro do
propósito comum, criado pela estrutura social. O processo de comunicação
torna-se assim fator preponderante da cultura. Ora, o modo de comunicação
envolve a tecnologia da linguagem. Essa tecnologia era originàriamente a da
fala: a linguagem era a palavra oral. Tôda cultura se fazia disso o reflexo. A
linguagem faz-se escrita, graças ao alfabeto fonético, e a cultura se faz
cultura escrita. Chega a imprensa e a cultura faz-se cultura da palavra
impressa.
A tecnologia da palavra impressa
criara o "indivíduo", criara a "vida interior", e a
"vida exterior" criara o "público", criara, pelas culturas
vernáculas, o "nacionalismo" e as "nações" - tudo isso
entrou em crise e começou a se alterar. Já não sabemos se somos ainda
"indivíduos" ou se já nos tornamos antes "sócios", já não
sabemos que é "o público" e sim os múltiplos e mutáveis e incertos
públicos de hoje, e o próprio nacionalismo faz-se confuso, parecendo antes
simples localismo frente ao internacionalismo nascente. Não só isto, a palavra
impressa nos fizera homogêneos, uniformes, unidimensionais, hoje contestamos
tudo isso e nos agitamos em confusão e angústia ante a mecanização da vida
humana, mecanização que era "racional" e que hoje sentimos
"absurda" e insuportável.
* * *
Essa é a forma nova pela qual sente,
explica e descreve McLuhan a cultura humana. Nada é nôvo, senão o modo pelo
qual êle aborda o problema. Por que digo que êle nos explica o óbvio? Porque é
espantoso que não se tenha pensado antes em tudo que êle está a pensar. A
cultura escrita teve sua forma de expressão na literatura. Que é
literatura, senão letras? Logo tôda civilização se exprimia por letras. Como
explicar que nos tenhamos perdido em controvérsias e confusões de tôda ordem a
respeito de literatura, mas ninguém tenha pensado em estudar o que era êsse
meio de comunicação literária, ou seja, alfabético, e de alfabeto fonético, com
o qual se criara a escrita, por conseguinte, a comunicação, não só pela falta,
mas pela palavra escrita? Tôda a estrutura da sociedade e o modo de pensar e
sentir se alteraram com a introdução da escrita. Recebia-se o fato, sofria-se o
fato, tudo mudava e se transformava, mas o homem, hipnotizado pelas formas que
tomava a sua cultura, não relacionava tais mudanças com a nova tecnologia da
comunicação. As mudanças haviam "acontecido" e o problema era como
ajustar-se a elas, e não o de buscar e compreender as causas da mudança.
Entretanto, a palavra literatura fôra cunhada, mas sem isto levava o homem a
perceber quanto uma civilização de letras era filha da letra e do alfabeto
fonético.
McLuhan é nôvo porque está procurando
compreender o que todos devíamos ter compreendido há muito e muito tempo. Diz
êle, em um dos seus escritos, que não sabemos quem criou a água, mas sabemos
por certo que não foram os peixes. Vivemos em nossas culturas como os peixes na
água. A cultura é o nosso meio, os problemas são os que nos suscita êsse meio,
mas o meio não é objeto de nossa indagação. Daí, o meio ser a mensagem, que nos
faz e nos transforma, mas que ignoramos e do qual não temos consciência, porque
estamos, como os peixes, mergulhados e hipnotizados por êle. A esperança de
McLuhan é a de que se despertamos dêsse sono hipnótico e percebemos por que
somos como somos, e por que nossa cultura é o que é, ganharemos possìvelmente o
poder de compreendê-la, e compreendendo-a de conhecê-la, e conhecendo-a de
orientá-la e dirigi-la, como Claude Bernard pôde isso antecipar no estudo
experimental da medicina. McLuhan é o Claude Bernard do estudo experimental da
sociedade humana.
Vamos, primeiro, ao têrmo medium e
não meio. Se o inglês, tão distante do latim, julgou poder buscar na língua
latina o têrmo para exprimir o sentido nôvo que se deve dar às tecnologias que
estendem nossos sentidos e faculdades, não vejo por que também não o
acompanhamos. A palavra "Meio" é demasiado geral, e meio-ambiente, ainda
mais, significando em ambos os casos certa totalidade do mundo exterior. Ora,
McLuhan quer significar algo específico, ou seja, que tôda tecnologia que
estenda os sentidos e as faculdades humanas produz conseqüências que resultam
de atuação causal da tecnologia assimilada ou incorporada. A fórmula "o
medium é a mensagem" é expressão feliz, à maneira de
"manchete", com que McLuhan, em seu estilo saturado do caráter oral
de nossos dias, procura, em vez de definir, condensar numa metáfora
significativa a imagem do que deseja comunicar.
Como ainda estamos em muito na era
tipográfica, precisamos tomar essa imagem configurativa e global e passar a
defini-la, isto é, dividir, especificar e delimitar os elementos constitutivos
do conteúdo dessa hipérbole, a fim de nos apercebermos do conceito. O medium,
então, seria apresentado como conjunto particularmente importante e, de
certo modo, preponderante de fatôres das modificações conseqüentes à introdução
de qualquer nova tecnologia de extensão dos nossos sentidos e faculdades. E
depois, o mesmo método de fragmentação e análise nos levaria a definir as
conseqüências, indicando as linhas de alteração da escala da atuação humana, do
seu compasso de marcha, ou de seus modelos e padrões de ação, envolvendo os
novos modos de percepção que conduziriam aos novos modos de realização.
Designar, porém, o medium como
conjunto preponderante de fatôres, dentro do modo gutenberguiano de dividir e
especificar, faria dêle apenas uma concausa, particular e especial, um fragmento
isolado da causalidade. Ora, a concepção de McLuhan é ampla e global. O medium
não é uma das concausas. É nova linha de fôrça que vai atuar sôbre tôda a
situação, impondo e sofrendo efeitos numa difusa e variada interação, à maneira
de complexos como, por exemplo, o clima, embora talvez mais direta e imediata
que êste, pois o clima, como fôrça natural, pode ser pela tecnologia
modificado, alterado e até revertido. O conceito de McLuhan lembra ainda algo à
maneira do que chamamos motivo, tom, ou atmosfera, com que indicamos estados e
modos de atuação. O medium é, assim, mensagem, comunicação, algo
invisível, mas atuante conformador, caracterizante de todo o conjunto da
atividade humana.
Para prosseguirmos nessa forma de
análise, característica do homem tipográfico que ainda somos, teríamos de fazer
logo um catálogo e classificação das diferentes tecnologias, a fim de as
separar e isolar para o exame divisionista da era linear e seqüencial.
Retornemos à primeira ilustração que
oferece para o seu conceito. Refere-se a medium, que nem sequer inclui
em seu livro: a eletricidade, ou melhor, a luz elétrica. Aparentemente é medium
sem mensagem, pois só lhe emprestamos efeito em face do objetivo, ou conteúdo,
sôbre que se aplica. Tècnicamente se diz que é pura informação, e
informação é dado, não é mensagem. Mas se fazemos um anúncio luminoso,
já tem ela mensagem, e essa importa na utilização de outro medium, a
palavra, que é o seu conteúdo. E isto nos dá outro conceito: o conteúdo
de cada medium é outro médium. O conteúdo da escrita é a fala, o
conteúdo da impressão é a palavra escrita. E qual o conteúdo da fala? Um
processo de pensamento que não é em si mesmo verbal, embora haja pessoas que
pensam por palavras, mas estas já fizeram mentalmente a tradução. E êste
é outro conceito fundamental; o medium é sempre tradução de alguma coisa
anterior, sob forma, modo, ou intensidade novos. Como atua o medium nessa
função de tradução? Amplia a escala do que se fazia, muda seu compasso, ou
ritmo, ou altera o modêlo da percepção ou ação humana. E essa é a sua mensagem,
que exerce sob quaisquer condições, sem limitação de geografia, nem mesmo de
história. É nova linha de fôrça, que se criou. E neste sentido, volta McLuhan à
luz elétrica. Assim como podemos, no exemplo citado, dizer que o anúncio
luminoso é o seu conteúdo, o mesmo poderíamos dizer de delicada intervenção
cerebral, ou de partida de base-ball à noite, realizadas graças à
eletricidade. E aí podemos ver como o medium é a mensagem, pois, em
ambos os casos, êle, o medium, controla e modela a forma e a escala em
que ambas as atividades passam a poder ser praticadas.
O exemplo ilumina também outra
característica importante: o conteúdo do medium nos cega em
relação ao medium em si mesmo. Daí, parecer-nos que a eletricidade não é
um medium senão pelo seu conteúdo, quando na realidade é um medium, -
a fôrça elétrica - dos mais radicais, interatuantes, abrangentes e
descentralizados, mudando as coisas e a nossa vida de maneira fundamental.
Já estamos vendo e sentindo como
realmente o medium é a mensagem. É necessário, contudo, sublinhar quanto
aquela primeira identificação do medium com o conteúdo (o
objetivo de sua aplicação) é enganosa e leva-nos a não perceber a mensagem do medium
pròpriamente dito. O medium tem mensagem própria, como estamos
procurando mostrar. Mas, o hábito de identificá-lo com o conteúdo é uma das
razões de não se estudar o medium, e, dêste modo, não têrmos consciência
dêle, mas apenas dos seus efeitos, deixando-se de estabelecer a conexão entre o
medium e tais efeitos.
E isto se dá exatamente porque todo
nôvo medium tecnológico constitui-se, ao ser absorvido pela sociedade,
em verdadeiro impacto sôbre nosso modo de perceber e sentir a vida. Entra em
choque com a situação cultural anterior. Se disto tivéssemos consciência, o
estudaríamos e poderíamos ganhar certo contrôle sôbre êle. Conservamos, porém,
a cultura anterior e sofremos, ou aplicamos o nôvo medium, como algo que
tivesse acontecido e que nos cabe suportar ... e explorar pelo modo que fôr
possível. Como não queremos percebê-lo, utilizamo-lo em certo estado de sonambulismo.
É como se o reprimíssemos no conceito freudiano. Êle se faz subliminar. É em
tal estado de inconsciência, ou hipnotização, que a sociedade recebe a nova
tecnologia, o que responde por muito do caráter, tantas vêzes, deformante e até
desastroso da assimilação e incorporação da nova tecnologia. Com efeito, cada
nova tecnologia lança a sociedade em estado de transformação inconsciente, de
que desperta, às vêzes, quando os efeitos tomaram já aspectos quase
catastróficos.
Mas se o medium é a mensagem, como
procuramos esclarecer, é neste ponto, que acabamos de aflorar, que está uma das
mais importantes mensagens de McLuhan. Seus estudos e seu pensamento
concentram-se dominantemente neste tema: porque o medium é a mensagem,
temos de estudá-lo, de compreendê-lo e de procurar inteligentemente, despertos
e atentos, controlá-lo e dirigi-lo, para não nos entregarmos cegamente a seus
efeitos e ao seu uso e exploração para fins que talvez não devêssemos aceitar.
Não vou ilustrar estas considerações
com os últimos media, sôbre que tanto havia a dizer. Mas, tomemos, ainda
acompanhando McLuhan, algo menos controvertido: o trem de ferro. Êsse medium
não nos trouxe nem a roda, nem a estrada, nem o transporte, que já tínhamos.
Mas acelerou e fêz crescer a escala dessas funções humanas. Com isto criou
novas espécies de cidade, novas formas de trabalho e novas formas de lazer. E
isto em qualquer região da terra, universalizando a civilização. Mas, hoje, com
o aeroplano, caminhamos para a dissolução dessas cidades, sobretudo as
gigantescas, que constituem presentemente problemas angustiantes de população,
de poluição da atmosfera e de vida cada vez mais difícil e menos suportável. O
caso ilustra perfeitamente a conseqüência do uso da tecnologia sem completa
consciência do que ela estava causando. A confusão entre a tecnologia e o conteúdo
de sua atuação levou-nos a não tomar consciência dos seus efeitos, os quais
ligávamos, não ao medium pròpriamente dito, mas ao curso normal, melhor
diríamos, cego, do "progresso" humano. Dentro do sonambulismo em que
nos deixamos embalar, a mudança (e não o "progresso") faz-se
arbitrária e desastrosa e chegamos às novas aflições da vida urbana e aos
perigos impredizíveis das megalópolis atuais.
McLuhan aparece-nos, assim, como
espécie de vidente e, quando diz que o medium é a mensagem, não o faz
pelo gôsto da frase, mas como advertência, lúcida e alta, para que, despertos
e conscientes, como antecipava Joyce, bem como tantos outros artistas, em
essência, magos (vide Finnagans Wake), marchemos para conduzir as tecnologias,
que são modos de ser do homem, para seus verdadeiros fins e não os de sua
perdição. Perdoe-nos o leitor o tom didático dêste tópico, tínhamos de fazê-lo.
Anísio Teixeira
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TEIXEIRA, Anísio. O pensamento
precursor de McLuhan. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos.
Brasília, v.54, n.119, jul./set. 1970. p.242-248.
O Pensamento Precursor de
McLuhan
Artur da Távola pede-me para fazer,
também eu, glosas ao "pensamento de McLuhan". Não sei se há "o
pensamento" de McLuhan, expressão que envolve, assim entre aspas, idéia de
doutrina, de algo fixo, um "ponto de vista". É o oposto a tudo isso.
Seu pensamento, se quisesse caracterizá-lo, diria que é o "pensamento
suspenso" da ciência contemporânea, porque não é êle filósofo, mas
estudioso, pesquisador, sociólogo, culturalista, dêle podendo nascer filósofos
de que seria o precursor, a fonte descobridora. Possui, com efeito, uma das
mentes mais originais e mais férteis do nosso tempo, escrevendo, porém, num
estilo dos mais desconcertantes. É lido vastamente em todo o mundo, mas
enfurece boa parte do pensamento convencional, e para alguns sua obra consiste
de "livrinhos interessantes", como já se disse mesmo na imprensa
brasileira. Êsse diminutivo e êsse "interessantes" são, entre nós, o
extremo do desprêzo de nossa gaiata arrogância sul-americana.
Suas observações e suas
"iluminações", para usar têrmo de Wiliam Blake, de seu gôsto, partem
de algo muito antigo: do fato de que "somos o que percebemos"
e nossa percepção muda e varia conforme mudam e variam os nossos modos
de usar os sentidos. Nossos sentimentos têm seu relacionamento natural e
harmonioso, orgânico, digamos. Com as tecnologias, pelas quais lhes estendemos
a ação, a começar pela linguagem, alteramos-lhes as relações entre si e sua
natural posição de equilíbrio e harmonia animal. Começamos então a ser homens,
isto é, animais que têm de construir sua natureza, pois a instintiva e
biológica passa a ser apenas a base, sôbre que seu cérebro levanta o edifício
artificial do seu ser social. Primeiro, como já disse, pela palavra, e depois
pelas múltiplas tecnologias da palavra. A palavra, no seu uso puramente oral, é
a que menos o deforma, porque ainda mantém o uso da audição, do tato e da vista
em relativa regularidade posicional. Mas depois, com o alfabeto fonético, ficam
a vista e o ouvido. Com a imprensa, porém, o alfabeto faz-se silencioso,
ficamos com a vista em exaltação quase suprema e, então, as deformações que se
operam criam o absurdo homem moderno, visual, linear, uniforme, mecânico,
unidimensional, esquizofrênico, em estado de angústia permanente. Agora, a
comunicação eletrônica irá nos repor no mundo oral, no mundo auditivo, no mundo
da imagem, no mundo do tato, no mundo visual já agora despido de sua
onipotência - em tal estado de comunicação pluralística, simultânea e
planetária, que se abre para o homem a possibilidade de retornar a modos de vida
mais íntegros e harmoniosos do que todos que pôde êle ter em tôda a história de
sua vida "civilizada"... e infeliz: o nosso famoso
"mal-estar" da civilização.
Tudo isso é velho e o pensamento
humano é uma longa saturação de reflexões sôbre a "angústia" humana.
O que McLuhan nos traz é a possibilidade de talvez, se puder, descobrir porque
a civilização, com suas tecnologias, nos causou tudo isso, deformando-nos e nos
arrancando do estado de saudável e equilibrada harmonia para o desespêro
moderno. Como homem cem por cento deformado pelo meio gutenberguiano, a
leitura de McLuhan vem sendo para mim um nascer de aurora, no entardecer opaco
da minha exclusiva lucidez visual e racional de homem tipográfico.
"O Meio é a Mensagem":
Capacidade de Revelar de
McLuhan
Li em alguma parte, aliás referido
pelo próprio McLuhan, que levando êle ao editor o seu "Understanding
Media", êste disse, consternado: "Não podemos publicá-lo. O máximo
que o público suporta de novidade num livro seria coisa de 10 por cento. O seu
é nôvo em mais de 75 por cento. O público não aguenta essa carga".
Enganou-se o editor com o público, mas não com o livro, que é de fato nôvo nos
75 por cento do seu cálculo. Seu livro é nôvo, porque não se quis ver o que êle
viu e procurou explicar. Com efeito, todo seu esfôrço é para explicar o óbvio,
concebido como o implícito, e não como o óbvio convencional, que já se chamou
de "ulutante". O óbvio, como o implícito, não é percebido, é o que há
de mais esquivo, fugitivo e oculto em nossa mente. Realmente, tôda novidade de
McLuhan está em abordar o problema da história de nossa cultura de modo
diferente do convencional, que é o oposto dêsse óbvio implícito, de que falo. A
observação humana, ao longo dos séculos, se deteve em dizer-nos o que
havia acontecido, chegando ao máximo de como tinha acontecido. Mas porque
acontecera, a isto não respondia a história, nem o pensamento humano. O
próprio McLuhan ilustra seu pensamento com o caso do progresso humano:
"Por que todo êsse progresso?" - "Ora, devido ao avanço científico".
- "Mas o que causou êsse avanço científico, o que nos levou a êle?" -
"Aí, falta a explicação".
Tôda a novidade de McLuhan está em
tentar esclarecer êsse "porquê". E a propósito, cita Claude Bernard,
explicando o método experimental: "A ciência, até então,
"observou" os fenômenos sem perturbá-los. A
"experimentação" consistiu em proceder de modo contrário, em
perturbá-los, ou imaginar uma variação de suas condições naturais. Suprime-se
um órgão, pelo secionamento, ou ablação, num sujeito vivo, e pela perturbação
produzida em todo o organismo, ou em alguma de suas funções, deduzimos a função
do órgão faltante. McLuhan transferiu para o processo histórico algo
eqüivalente a êsse método.
A cultura é um processo, em que atuam
a estrutura ou organização da experiência na sociedade, e o modo pelo qual ela
se comunica, ou seja, o modo pelo qual a experiência é partilhada dentro do
propósito comum, criado pela estrutura social. O processo de comunicação
torna-se assim fator preponderante da cultura. Ora, o modo de comunicação
envolve a tecnologia da linguagem. Essa tecnologia era originàriamente a da
fala: a linguagem era a palavra oral. Tôda cultura se fazia disso o reflexo. A
linguagem faz-se escrita, graças ao alfabeto fonético, e a cultura se faz cultura
escrita. Chega a imprensa e a cultura faz-se cultura da palavra impressa.
A tecnologia da palavra impressa
criara o "indivíduo", criara a "vida interior", e a
"vida exterior" criara o "público", criara, pelas culturas
vernáculas, o "nacionalismo" e as "nações" - tudo isso
entrou em crise e começou a se alterar. Já não sabemos se somos ainda
"indivíduos" ou se já nos tornamos antes "sócios", já não
sabemos que é "o público" e sim os múltiplos e mutáveis e incertos
públicos de hoje, e o próprio nacionalismo faz-se confuso, parecendo antes
simples localismo frente ao internacionalismo nascente. Não só isto, a palavra
impressa nos fizera homogêneos, uniformes, unidimensionais, hoje contestamos
tudo isso e nos agitamos em confusão e angústia ante a mecanização da vida
humana, mecanização que era "racional" e que hoje sentimos
"absurda" e insuportável.
* * *
Essa é a forma nova pela qual sente,
explica e descreve McLuhan a cultura humana. Nada é nôvo, senão o modo pelo
qual êle aborda o problema. Por que digo que êle nos explica o óbvio? Porque é
espantoso que não se tenha pensado antes em tudo que êle está a pensar. A
cultura escrita teve sua forma de expressão na literatura. Que é
literatura, senão letras? Logo tôda civilização se exprimia por letras. Como
explicar que nos tenhamos perdido em controvérsias e confusões de tôda ordem a
respeito de literatura, mas ninguém tenha pensado em estudar o que era êsse
meio de comunicação literária, ou seja, alfabético, e de alfabeto fonético, com
o qual se criara a escrita, por conseguinte, a comunicação, não só pela falta,
mas pela palavra escrita? Tôda a estrutura da sociedade e o modo de pensar e
sentir se alteraram com a introdução da escrita. Recebia-se o fato, sofria-se o
fato, tudo mudava e se transformava, mas o homem, hipnotizado pelas formas que
tomava a sua cultura, não relacionava tais mudanças com a nova tecnologia da
comunicação. As mudanças haviam "acontecido" e o problema era como
ajustar-se a elas, e não o de buscar e compreender as causas da mudança. Entretanto,
a palavra literatura fôra cunhada, mas sem isto levava o homem a perceber
quanto uma civilização de letras era filha da letra e do alfabeto fonético.
McLuhan é nôvo porque está procurando
compreender o que todos devíamos ter compreendido há muito e muito tempo. Diz
êle, em um dos seus escritos, que não sabemos quem criou a água, mas sabemos
por certo que não foram os peixes. Vivemos em nossas culturas como os peixes na
água. A cultura é o nosso meio, os problemas são os que nos suscita êsse meio,
mas o meio não é objeto de nossa indagação. Daí, o meio ser a mensagem, que nos
faz e nos transforma, mas que ignoramos e do qual não temos consciência, porque
estamos, como os peixes, mergulhados e hipnotizados por êle. A esperança de
McLuhan é a de que se despertamos dêsse sono hipnótico e percebemos por que
somos como somos, e por que nossa cultura é o que é, ganharemos possìvelmente o
poder de compreendê-la, e compreendendo-a de conhecê-la, e conhecendo-a de
orientá-la e dirigi-la, como Claude Bernard pôde isso antecipar no estudo
experimental da medicina. McLuhan é o Claude Bernard do estudo experimental da
sociedade humana.
Vamos, primeiro, ao têrmo medium e
não meio. Se o inglês, tão distante do latim, julgou poder buscar na língua
latina o têrmo para exprimir o sentido nôvo que se deve dar às tecnologias que
estendem nossos sentidos e faculdades, não vejo por que também não o
acompanhamos. A palavra "Meio" é demasiado geral, e meio-ambiente,
ainda mais, significando em ambos os casos certa totalidade do mundo exterior.
Ora, McLuhan quer significar algo específico, ou seja, que tôda tecnologia que
estenda os sentidos e as faculdades humanas produz conseqüências que resultam
de atuação causal da tecnologia assimilada ou incorporada. A fórmula "o
medium é a mensagem" é expressão feliz, à maneira de
"manchete", com que McLuhan, em seu estilo saturado do caráter oral
de nossos dias, procura, em vez de definir, condensar numa metáfora
significativa a imagem do que deseja comunicar.
Como ainda estamos em muito na era
tipográfica, precisamos tomar essa imagem configurativa e global e passar a
defini-la, isto é, dividir, especificar e delimitar os elementos constitutivos
do conteúdo dessa hipérbole, a fim de nos apercebermos do conceito. O medium,
então, seria apresentado como conjunto particularmente importante e, de
certo modo, preponderante de fatôres das modificações conseqüentes à introdução
de qualquer nova tecnologia de extensão dos nossos sentidos e faculdades. E
depois, o mesmo método de fragmentação e análise nos levaria a definir as
conseqüências, indicando as linhas de alteração da escala da atuação humana, do
seu compasso de marcha, ou de seus modelos e padrões de ação, envolvendo os
novos modos de percepção que conduziriam aos novos modos de realização.
Designar, porém, o medium como
conjunto preponderante de fatôres, dentro do modo gutenberguiano de dividir e
especificar, faria dêle apenas uma concausa, particular e especial, um fragmento
isolado da causalidade. Ora, a concepção de McLuhan é ampla e global. O medium
não é uma das concausas. É nova linha de fôrça que vai atuar sôbre tôda a
situação, impondo e sofrendo efeitos numa difusa e variada interação, à maneira
de complexos como, por exemplo, o clima, embora talvez mais direta e imediata
que êste, pois o clima, como fôrça natural, pode ser pela tecnologia
modificado, alterado e até revertido. O conceito de McLuhan lembra ainda algo à
maneira do que chamamos motivo, tom, ou atmosfera, com que indicamos estados e
modos de atuação. O medium é, assim, mensagem, comunicação, algo
invisível, mas atuante conformador, caracterizante de todo o conjunto da
atividade humana.
Para prosseguirmos nessa forma de
análise, característica do homem tipográfico que ainda somos, teríamos de fazer
logo um catálogo e classificação das diferentes tecnologias, a fim de as
separar e isolar para o exame divisionista da era linear e seqüencial.
Retornemos à primeira ilustração que
oferece para o seu conceito. Refere-se a medium, que nem sequer inclui
em seu livro: a eletricidade, ou melhor, a luz elétrica. Aparentemente é medium
sem mensagem, pois só lhe emprestamos efeito em face do objetivo, ou conteúdo,
sôbre que se aplica. Tècnicamente se diz que é pura informação, e
informação é dado, não é mensagem. Mas se fazemos um anúncio luminoso,
já tem ela mensagem, e essa importa na utilização de outro medium, a
palavra, que é o seu conteúdo. E isto nos dá outro conceito: o conteúdo
de cada medium é outro médium. O conteúdo da escrita é a fala, o
conteúdo da impressão é a palavra escrita. E qual o conteúdo da fala? Um
processo de pensamento que não é em si mesmo verbal, embora haja pessoas que
pensam por palavras, mas estas já fizeram mentalmente a tradução. E êste
é outro conceito fundamental; o medium é sempre tradução de alguma coisa
anterior, sob forma, modo, ou intensidade novos. Como atua o medium nessa
função de tradução? Amplia a escala do que se fazia, muda seu compasso, ou
ritmo, ou altera o modêlo da percepção ou ação humana. E essa é a sua mensagem,
que exerce sob quaisquer condições, sem limitação de geografia, nem mesmo de
história. É nova linha de fôrça, que se criou. E neste sentido, volta McLuhan à
luz elétrica. Assim como podemos, no exemplo citado, dizer que o anúncio
luminoso é o seu conteúdo, o mesmo poderíamos dizer de delicada intervenção
cerebral, ou de partida de base-ball à noite, realizadas graças à
eletricidade. E aí podemos ver como o medium é a mensagem, pois, em
ambos os casos, êle, o medium, controla e modela a forma e a escala em
que ambas as atividades passam a poder ser praticadas.
O exemplo ilumina também outra característica
importante: o conteúdo do medium nos cega em relação ao medium
em si mesmo. Daí, parecer-nos que a eletricidade não é um medium senão
pelo seu conteúdo, quando na realidade é um medium, - a fôrça elétrica -
dos mais radicais, interatuantes, abrangentes e descentralizados, mudando as
coisas e a nossa vida de maneira fundamental.
Já estamos vendo e sentindo como
realmente o medium é a mensagem. É necessário, contudo, sublinhar quanto
aquela primeira identificação do medium com o conteúdo (o objetivo
de sua aplicação) é enganosa e leva-nos a não perceber a mensagem do medium pròpriamente
dito. O medium tem mensagem própria, como estamos procurando mostrar.
Mas, o hábito de identificá-lo com o conteúdo é uma das razões de não se
estudar o medium, e, dêste modo, não têrmos consciência dêle, mas
apenas dos seus efeitos, deixando-se de estabelecer a conexão entre o medium
e tais efeitos.
E isto se dá exatamente porque todo
nôvo medium tecnológico constitui-se, ao ser absorvido pela sociedade,
em verdadeiro impacto sôbre nosso modo de perceber e sentir a vida. Entra em
choque com a situação cultural anterior. Se disto tivéssemos consciência, o
estudaríamos e poderíamos ganhar certo contrôle sôbre êle. Conservamos, porém,
a cultura anterior e sofremos, ou aplicamos o nôvo medium, como algo que
tivesse acontecido e que nos cabe suportar ... e explorar pelo modo que fôr
possível. Como não queremos percebê-lo, utilizamo-lo em certo estado de
sonambulismo. É como se o reprimíssemos no conceito freudiano. Êle se faz
subliminar. É em tal estado de inconsciência, ou hipnotização, que a sociedade
recebe a nova tecnologia, o que responde por muito do caráter, tantas vêzes,
deformante e até desastroso da assimilação e incorporação da nova tecnologia.
Com efeito, cada nova tecnologia lança a sociedade em estado de transformação
inconsciente, de que desperta, às vêzes, quando os efeitos tomaram já aspectos
quase catastróficos.
Mas se o medium é a mensagem,
como procuramos esclarecer, é neste ponto, que acabamos de aflorar, que está
uma das mais importantes mensagens de McLuhan. Seus estudos e seu pensamento
concentram-se dominantemente neste tema: porque o medium é a mensagem,
temos de estudá-lo, de compreendê-lo e de procurar inteligentemente, despertos
e atentos, controlá-lo e dirigi-lo, para não nos entregarmos cegamente a seus
efeitos e ao seu uso e exploração para fins que talvez não devêssemos aceitar.
Não vou ilustrar estas considerações
com os últimos media, sôbre que tanto havia a dizer. Mas, tomemos, ainda
acompanhando McLuhan, algo menos controvertido: o trem de ferro. Êsse medium
não nos trouxe nem a roda, nem a estrada, nem o transporte, que já tínhamos.
Mas acelerou e fêz crescer a escala dessas funções humanas. Com isto criou
novas espécies de cidade, novas formas de trabalho e novas formas de lazer. E
isto em qualquer região da terra, universalizando a civilização. Mas, hoje, com
o aeroplano, caminhamos para a dissolução dessas cidades, sobretudo as
gigantescas, que constituem presentemente problemas angustiantes de população,
de poluição da atmosfera e de vida cada vez mais difícil e menos suportável. O
caso ilustra perfeitamente a conseqüência do uso da tecnologia sem completa
consciência do que ela estava causando. A confusão entre a tecnologia e o conteúdo
de sua atuação levou-nos a não tomar consciência dos seus efeitos, os quais
ligávamos, não ao medium pròpriamente dito, mas ao curso normal, melhor
diríamos, cego, do "progresso" humano. Dentro do sonambulismo em que
nos deixamos embalar, a mudança (e não o "progresso") faz-se
arbitrária e desastrosa e chegamos às novas aflições da vida urbana e aos
perigos impredizíveis das megalópolis atuais.
McLuhan aparece-nos, assim, como
espécie de vidente e, quando diz que o medium é a mensagem, não o faz
pelo gôsto da frase, mas como advertência, lúcida e alta, para que, despertos
e conscientes, como antecipava Joyce, bem como tantos outros artistas, em
essência, magos (vide Finnagans Wake), marchemos para conduzir as tecnologias,
que são modos de ser do homem, para seus verdadeiros fins e não os de sua
perdição. Perdoe-nos o leitor o tom didático dêste tópico, tínhamos de fazê-lo.
Anísio Teixeira
Última Hora, Rio, GB,
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TEIXEIRA, Anísio. O pensamento
precursor de McLuhan. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos.
Brasília, v.54, n.119, jul./set. 1970. p.242-248.
O Pensamento Precursor de
McLuhan
Artur da Távola pede-me para fazer,
também eu, glosas ao "pensamento de McLuhan". Não sei se há "o
pensamento" de McLuhan, expressão que envolve, assim entre aspas, idéia de
doutrina, de algo fixo, um "ponto de vista". É o oposto a tudo isso.
Seu pensamento, se quisesse caracterizá-lo, diria que é o "pensamento
suspenso" da ciência contemporânea, porque não é êle filósofo, mas
estudioso, pesquisador, sociólogo, culturalista, dêle podendo nascer filósofos
de que seria o precursor, a fonte descobridora. Possui, com efeito, uma das
mentes mais originais e mais férteis do nosso tempo, escrevendo, porém, num
estilo dos mais desconcertantes. É lido vastamente em todo o mundo, mas
enfurece boa parte do pensamento convencional, e para alguns sua obra consiste
de "livrinhos interessantes", como já se disse mesmo na imprensa
brasileira. Êsse diminutivo e êsse "interessantes" são, entre nós, o
extremo do desprêzo de nossa gaiata arrogância sul-americana.
Suas observações e suas "iluminações",
para usar têrmo de Wiliam Blake, de seu gôsto, partem de algo muito antigo: do
fato de que "somos o que percebemos" e nossa percepção muda
e varia conforme mudam e variam os nossos modos de usar os sentidos. Nossos
sentimentos têm seu relacionamento natural e harmonioso, orgânico, digamos. Com
as tecnologias, pelas quais lhes estendemos a ação, a começar pela linguagem,
alteramos-lhes as relações entre si e sua natural posição de equilíbrio e
harmonia animal. Começamos então a ser homens, isto é, animais que têm de
construir sua natureza, pois a instintiva e biológica passa a ser apenas a
base, sôbre que seu cérebro levanta o edifício artificial do seu ser social.
Primeiro, como já disse, pela palavra, e depois pelas múltiplas tecnologias da
palavra. A palavra, no seu uso puramente oral, é a que menos o deforma, porque
ainda mantém o uso da audição, do tato e da vista em relativa regularidade
posicional. Mas depois, com o alfabeto fonético, ficam a vista e o ouvido. Com
a imprensa, porém, o alfabeto faz-se silencioso, ficamos com a vista em
exaltação quase suprema e, então, as deformações que se operam criam o absurdo
homem moderno, visual, linear, uniforme, mecânico, unidimensional,
esquizofrênico, em estado de angústia permanente. Agora, a comunicação
eletrônica irá nos repor no mundo oral, no mundo auditivo, no mundo da imagem,
no mundo do tato, no mundo visual já agora despido de sua onipotência - em tal
estado de comunicação pluralística, simultânea e planetária, que se abre para o
homem a possibilidade de retornar a modos de vida mais íntegros e harmoniosos
do que todos que pôde êle ter em tôda a história de sua vida
"civilizada"... e infeliz: o nosso famoso "mal-estar" da
civilização.
Tudo isso é velho e o pensamento
humano é uma longa saturação de reflexões sôbre a "angústia" humana.
O que McLuhan nos traz é a possibilidade de talvez, se puder, descobrir porque
a civilização, com suas tecnologias, nos causou tudo isso, deformando-nos e nos
arrancando do estado de saudável e equilibrada harmonia para o desespêro
moderno. Como homem cem por cento deformado pelo meio gutenberguiano, a
leitura de McLuhan vem sendo para mim um nascer de aurora, no entardecer opaco
da minha exclusiva lucidez visual e racional de homem tipográfico.
"O Meio é a Mensagem":
Capacidade de Revelar de
McLuhan
Li em alguma parte, aliás referido
pelo próprio McLuhan, que levando êle ao editor o seu "Understanding
Media", êste disse, consternado: "Não podemos publicá-lo. O máximo
que o público suporta de novidade num livro seria coisa de 10 por cento. O seu
é nôvo em mais de 75 por cento. O público não aguenta essa carga".
Enganou-se o editor com o público, mas não com o livro, que é de fato nôvo nos
75 por cento do seu cálculo. Seu livro é nôvo, porque não se quis ver o que êle
viu e procurou explicar. Com efeito, todo seu esfôrço é para explicar o óbvio,
concebido como o implícito, e não como o óbvio convencional, que já se chamou
de "ulutante". O óbvio, como o implícito, não é percebido, é o que há
de mais esquivo, fugitivo e oculto em nossa mente. Realmente, tôda novidade de
McLuhan está em abordar o problema da história de nossa cultura de modo
diferente do convencional, que é o oposto dêsse óbvio implícito, de que falo. A
observação humana, ao longo dos séculos, se deteve em dizer-nos o que
havia acontecido, chegando ao máximo de como tinha acontecido. Mas porque
acontecera, a isto não respondia a história, nem o pensamento humano. O
próprio McLuhan ilustra seu pensamento com o caso do progresso humano:
"Por que todo êsse progresso?" - "Ora, devido ao avanço
científico". - "Mas o que causou êsse avanço científico, o que nos
levou a êle?" - "Aí, falta a explicação".
Tôda a novidade de McLuhan está em
tentar esclarecer êsse "porquê". E a propósito, cita Claude Bernard,
explicando o método experimental: "A ciência, até então,
"observou" os fenômenos sem perturbá-los. A
"experimentação" consistiu em proceder de modo contrário, em
perturbá-los, ou imaginar uma variação de suas condições naturais. Suprime-se
um órgão, pelo secionamento, ou ablação, num sujeito vivo, e pela perturbação
produzida em todo o organismo, ou em alguma de suas funções, deduzimos a função
do órgão faltante. McLuhan transferiu para o processo histórico algo
eqüivalente a êsse método.
A cultura é um processo, em que atuam
a estrutura ou organização da experiência na sociedade, e o modo pelo qual ela
se comunica, ou seja, o modo pelo qual a experiência é partilhada dentro do
propósito comum, criado pela estrutura social. O processo de comunicação
torna-se assim fator preponderante da cultura. Ora, o modo de comunicação
envolve a tecnologia da linguagem. Essa tecnologia era originàriamente a da
fala: a linguagem era a palavra oral. Tôda cultura se fazia disso o reflexo. A
linguagem faz-se escrita, graças ao alfabeto fonético, e a cultura se faz
cultura escrita. Chega a imprensa e a cultura faz-se cultura da palavra
impressa.
A tecnologia da palavra impressa
criara o "indivíduo", criara a "vida interior", e a
"vida exterior" criara o "público", criara, pelas culturas
vernáculas, o "nacionalismo" e as "nações" - tudo isso
entrou em crise e começou a se alterar. Já não sabemos se somos ainda
"indivíduos" ou se já nos tornamos antes "sócios", já não
sabemos que é "o público" e sim os múltiplos e mutáveis e incertos públicos
de hoje, e o próprio nacionalismo faz-se confuso, parecendo antes simples
localismo frente ao internacionalismo nascente. Não só isto, a palavra impressa
nos fizera homogêneos, uniformes, unidimensionais, hoje contestamos tudo isso e
nos agitamos em confusão e angústia ante a mecanização da vida humana,
mecanização que era "racional" e que hoje sentimos
"absurda" e insuportável.
* * *
Essa é a forma nova pela qual sente,
explica e descreve McLuhan a cultura humana. Nada é nôvo, senão o modo pelo
qual êle aborda o problema. Por que digo que êle nos explica o óbvio? Porque é
espantoso que não se tenha pensado antes em tudo que êle está a pensar. A
cultura escrita teve sua forma de expressão na literatura. Que é
literatura, senão letras? Logo tôda civilização se exprimia por letras. Como
explicar que nos tenhamos perdido em controvérsias e confusões de tôda ordem a
respeito de literatura, mas ninguém tenha pensado em estudar o que era êsse
meio de comunicação literária, ou seja, alfabético, e de alfabeto fonético, com
o qual se criara a escrita, por conseguinte, a comunicação, não só pela falta,
mas pela palavra escrita? Tôda a estrutura da sociedade e o modo de pensar e
sentir se alteraram com a introdução da escrita. Recebia-se o fato, sofria-se o
fato, tudo mudava e se transformava, mas o homem, hipnotizado pelas formas que
tomava a sua cultura, não relacionava tais mudanças com a nova tecnologia da
comunicação. As mudanças haviam "acontecido" e o problema era como
ajustar-se a elas, e não o de buscar e compreender as causas da mudança.
Entretanto, a palavra literatura fôra cunhada, mas sem isto levava o homem a
perceber quanto uma civilização de letras era filha da letra e do alfabeto
fonético.
McLuhan é nôvo porque está procurando
compreender o que todos devíamos ter compreendido há muito e muito tempo. Diz
êle, em um dos seus escritos, que não sabemos quem criou a água, mas sabemos
por certo que não foram os peixes. Vivemos em nossas culturas como os peixes na
água. A cultura é o nosso meio, os problemas são os que nos suscita êsse meio,
mas o meio não é objeto de nossa indagação. Daí, o meio ser a mensagem, que nos
faz e nos transforma, mas que ignoramos e do qual não temos consciência, porque
estamos, como os peixes, mergulhados e hipnotizados por êle. A esperança de
McLuhan é a de que se despertamos dêsse sono hipnótico e percebemos por que
somos como somos, e por que nossa cultura é o que é, ganharemos possìvelmente o
poder de compreendê-la, e compreendendo-a de conhecê-la, e conhecendo-a de
orientá-la e dirigi-la, como Claude Bernard pôde isso antecipar no estudo
experimental da medicina. McLuhan é o Claude Bernard do estudo experimental da
sociedade humana.
Vamos, primeiro, ao têrmo medium e
não meio. Se o inglês, tão distante do latim, julgou poder buscar na língua
latina o têrmo para exprimir o sentido nôvo que se deve dar às tecnologias que
estendem nossos sentidos e faculdades, não vejo por que também não o
acompanhamos. A palavra "Meio" é demasiado geral, e meio-ambiente,
ainda mais, significando em ambos os casos certa totalidade do mundo exterior.
Ora, McLuhan quer significar algo específico, ou seja, que tôda tecnologia que
estenda os sentidos e as faculdades humanas produz conseqüências que resultam
de atuação causal da tecnologia assimilada ou incorporada. A fórmula "o
medium é a mensagem" é expressão feliz, à maneira de
"manchete", com que McLuhan, em seu estilo saturado do caráter oral
de nossos dias, procura, em vez de definir, condensar numa metáfora
significativa a imagem do que deseja comunicar.
Como ainda estamos em muito na era
tipográfica, precisamos tomar essa imagem configurativa e global e passar a
defini-la, isto é, dividir, especificar e delimitar os elementos constitutivos
do conteúdo dessa hipérbole, a fim de nos apercebermos do conceito. O medium,
então, seria apresentado como conjunto particularmente importante e, de
certo modo, preponderante de fatôres das modificações conseqüentes à introdução
de qualquer nova tecnologia de extensão dos nossos sentidos e faculdades. E
depois, o mesmo método de fragmentação e análise nos levaria a definir as
conseqüências, indicando as linhas de alteração da escala da atuação humana, do
seu compasso de marcha, ou de seus modelos e padrões de ação, envolvendo os
novos modos de percepção que conduziriam aos novos modos de realização.
Designar, porém, o medium como
conjunto preponderante de fatôres, dentro do modo gutenberguiano de dividir e
especificar, faria dêle apenas uma concausa, particular e especial, um fragmento
isolado da causalidade. Ora, a concepção de McLuhan é ampla e global. O medium
não é uma das concausas. É nova linha de fôrça que vai atuar sôbre tôda a
situação, impondo e sofrendo efeitos numa difusa e variada interação, à maneira
de complexos como, por exemplo, o clima, embora talvez mais direta e imediata
que êste, pois o clima, como fôrça natural, pode ser pela tecnologia
modificado, alterado e até revertido. O conceito de McLuhan lembra ainda algo à
maneira do que chamamos motivo, tom, ou atmosfera, com que indicamos estados e modos
de atuação. O medium é, assim, mensagem, comunicação, algo invisível,
mas atuante conformador, caracterizante de todo o conjunto da atividade humana.
Para prosseguirmos nessa forma de
análise, característica do homem tipográfico que ainda somos, teríamos de fazer
logo um catálogo e classificação das diferentes tecnologias, a fim de as
separar e isolar para o exame divisionista da era linear e seqüencial.
Retornemos à primeira ilustração que
oferece para o seu conceito. Refere-se a medium, que nem sequer inclui
em seu livro: a eletricidade, ou melhor, a luz elétrica. Aparentemente é medium
sem mensagem, pois só lhe emprestamos efeito em face do objetivo, ou conteúdo,
sôbre que se aplica. Tècnicamente se diz que é pura informação, e
informação é dado, não é mensagem. Mas se fazemos um anúncio luminoso,
já tem ela mensagem, e essa importa na utilização de outro medium, a
palavra, que é o seu conteúdo. E isto nos dá outro conceito: o conteúdo
de cada medium é outro médium. O conteúdo da escrita é a fala, o
conteúdo da impressão é a palavra escrita. E qual o conteúdo da fala? Um
processo de pensamento que não é em si mesmo verbal, embora haja pessoas que
pensam por palavras, mas estas já fizeram mentalmente a tradução. E êste
é outro conceito fundamental; o medium é sempre tradução de alguma coisa
anterior, sob forma, modo, ou intensidade novos. Como atua o medium nessa
função de tradução? Amplia a escala do que se fazia, muda seu compasso, ou
ritmo, ou altera o modêlo da percepção ou ação humana. E essa é a sua mensagem,
que exerce sob quaisquer condições, sem limitação de geografia, nem mesmo de
história. É nova linha de fôrça, que se criou. E neste sentido, volta McLuhan à
luz elétrica. Assim como podemos, no exemplo citado, dizer que o anúncio
luminoso é o seu conteúdo, o mesmo poderíamos dizer de delicada intervenção cerebral,
ou de partida de base-ball à noite, realizadas graças à
eletricidade. E aí podemos ver como o medium é a mensagem, pois, em
ambos os casos, êle, o medium, controla e modela a forma e a escala em
que ambas as atividades passam a poder ser praticadas.
O exemplo ilumina também outra
característica importante: o conteúdo do medium nos cega em
relação ao medium em si mesmo. Daí, parecer-nos que a eletricidade não é
um medium senão pelo seu conteúdo, quando na realidade é um medium, -
a fôrça elétrica - dos mais radicais, interatuantes, abrangentes e
descentralizados, mudando as coisas e a nossa vida de maneira fundamental.
Já estamos vendo e sentindo como
realmente o medium é a mensagem. É necessário, contudo, sublinhar quanto
aquela primeira identificação do medium com o conteúdo (o
objetivo de sua aplicação) é enganosa e leva-nos a não perceber a mensagem do medium
pròpriamente dito. O medium tem mensagem própria, como estamos
procurando mostrar. Mas, o hábito de identificá-lo com o conteúdo é uma das
razões de não se estudar o medium, e, dêste modo, não têrmos consciência
dêle, mas apenas dos seus efeitos, deixando-se de estabelecer a conexão entre o
medium e tais efeitos.
E isto se dá exatamente porque todo
nôvo medium tecnológico constitui-se, ao ser absorvido pela sociedade,
em verdadeiro impacto sôbre nosso modo de perceber e sentir a vida. Entra em
choque com a situação cultural anterior. Se disto tivéssemos consciência, o
estudaríamos e poderíamos ganhar certo contrôle sôbre êle. Conservamos, porém,
a cultura anterior e sofremos, ou aplicamos o nôvo medium, como algo que
tivesse acontecido e que nos cabe suportar ... e explorar pelo modo que fôr
possível. Como não queremos percebê-lo, utilizamo-lo em certo estado de
sonambulismo. É como se o reprimíssemos no conceito freudiano. Êle se faz
subliminar. É em tal estado de inconsciência, ou hipnotização, que a sociedade
recebe a nova tecnologia, o que responde por muito do caráter, tantas vêzes,
deformante e até desastroso da assimilação e incorporação da nova tecnologia.
Com efeito, cada nova tecnologia lança a sociedade em estado de transformação
inconsciente, de que desperta, às vêzes, quando os efeitos tomaram já aspectos
quase catastróficos.
Mas se o medium é a mensagem,
como procuramos esclarecer, é neste ponto, que acabamos de aflorar, que está
uma das mais importantes mensagens de McLuhan. Seus estudos e seu pensamento
concentram-se dominantemente neste tema: porque o medium é a mensagem,
temos de estudá-lo, de compreendê-lo e de procurar inteligentemente, despertos
e atentos, controlá-lo e dirigi-lo, para não nos entregarmos cegamente a seus
efeitos e ao seu uso e exploração para fins que talvez não devêssemos aceitar.
Não vou ilustrar estas considerações
com os últimos media, sôbre que tanto havia a dizer. Mas, tomemos, ainda
acompanhando McLuhan, algo menos controvertido: o trem de ferro. Êsse medium
não nos trouxe nem a roda, nem a estrada, nem o transporte, que já tínhamos.
Mas acelerou e fêz crescer a escala dessas funções humanas. Com isto criou
novas espécies de cidade, novas formas de trabalho e novas formas de lazer. E
isto em qualquer região da terra, universalizando a civilização. Mas, hoje, com
o aeroplano, caminhamos para a dissolução dessas cidades, sobretudo as
gigantescas, que constituem presentemente problemas angustiantes de população,
de poluição da atmosfera e de vida cada vez mais difícil e menos suportável. O
caso ilustra perfeitamente a conseqüência do uso da tecnologia sem completa
consciência do que ela estava causando. A confusão entre a tecnologia e o conteúdo
de sua atuação levou-nos a não tomar consciência dos seus efeitos, os quais
ligávamos, não ao medium pròpriamente dito, mas ao curso normal, melhor
diríamos, cego, do "progresso" humano. Dentro do sonambulismo em que
nos deixamos embalar, a mudança (e não o "progresso") faz-se
arbitrária e desastrosa e chegamos às novas aflições da vida urbana e aos
perigos impredizíveis das megalópolis atuais.
McLuhan aparece-nos, assim, como
espécie de vidente e, quando diz que o medium é a mensagem, não o faz
pelo gôsto da frase, mas como advertência, lúcida e alta, para que, despertos
e conscientes, como antecipava Joyce, bem como tantos outros artistas, em
essência, magos (vide Finnagans Wake), marchemos para conduzir as tecnologias,
que são modos de ser do homem, para seus verdadeiros fins e não os de sua
perdição. Perdoe-nos o leitor o tom didático dêste tópico, tínhamos de fazê-lo.
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precursor de McLuhan. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos.
Brasília, v.54, n.119, jul./set. 1970. p.242-248.
O Pensamento Precursor de
McLuhan
Artur da Távola pede-me para fazer,
também eu, glosas ao "pensamento de McLuhan". Não sei se há "o
pensamento" de McLuhan, expressão que envolve, assim entre aspas, idéia de
doutrina, de algo fixo, um "ponto de vista". É o oposto a tudo isso.
Seu pensamento, se quisesse caracterizá-lo, diria que é o "pensamento
suspenso" da ciência contemporânea, porque não é êle filósofo, mas
estudioso, pesquisador, sociólogo, culturalista, dêle podendo nascer filósofos
de que seria o precursor, a fonte descobridora. Possui, com efeito, uma das
mentes mais originais e mais férteis do nosso tempo, escrevendo, porém, num
estilo dos mais desconcertantes. É lido vastamente em todo o mundo, mas
enfurece boa parte do pensamento convencional, e para alguns sua obra consiste
de "livrinhos interessantes", como já se disse mesmo na imprensa
brasileira. Êsse diminutivo e êsse "interessantes" são, entre nós, o
extremo do desprêzo de nossa gaiata arrogância sul-americana.
Suas observações e suas
"iluminações", para usar têrmo de Wiliam Blake, de seu gôsto, partem
de algo muito antigo: do fato de que "somos o que percebemos"
e nossa percepção muda e varia conforme mudam e variam os nossos modos
de usar os sentidos. Nossos sentimentos têm seu relacionamento natural e harmonioso,
orgânico, digamos. Com as tecnologias, pelas quais lhes estendemos a ação, a
começar pela linguagem, alteramos-lhes as relações entre si e sua natural
posição de equilíbrio e harmonia animal. Começamos então a ser homens, isto é,
animais que têm de construir sua natureza, pois a instintiva e biológica passa
a ser apenas a base, sôbre que seu cérebro levanta o edifício artificial do seu
ser social. Primeiro, como já disse, pela palavra, e depois pelas múltiplas
tecnologias da palavra. A palavra, no seu uso puramente oral, é a que menos o
deforma, porque ainda mantém o uso da audição, do tato e da vista em relativa
regularidade posicional. Mas depois, com o alfabeto fonético, ficam a vista e o
ouvido. Com a imprensa, porém, o alfabeto faz-se silencioso, ficamos com a
vista em exaltação quase suprema e, então, as deformações que se operam criam o
absurdo homem moderno, visual, linear, uniforme, mecânico, unidimensional,
esquizofrênico, em estado de angústia permanente. Agora, a comunicação
eletrônica irá nos repor no mundo oral, no mundo auditivo, no mundo da imagem,
no mundo do tato, no mundo visual já agora despido de sua onipotência - em tal
estado de comunicação pluralística, simultânea e planetária, que se abre para o
homem a possibilidade de retornar a modos de vida mais íntegros e harmoniosos
do que todos que pôde êle ter em tôda a história de sua vida
"civilizada"... e infeliz: o nosso famoso "mal-estar" da
civilização.
Tudo isso é velho e o pensamento
humano é uma longa saturação de reflexões sôbre a "angústia" humana.
O que McLuhan nos traz é a possibilidade de talvez, se puder, descobrir porque
a civilização, com suas tecnologias, nos causou tudo isso, deformando-nos e nos
arrancando do estado de saudável e equilibrada harmonia para o desespêro moderno.
Como homem cem por cento deformado pelo meio gutenberguiano, a leitura
de McLuhan vem sendo para mim um nascer de aurora, no entardecer opaco da minha
exclusiva lucidez visual e racional de homem tipográfico.
"O Meio é a Mensagem":
Capacidade de Revelar de
McLuhan
Li em alguma parte, aliás referido
pelo próprio McLuhan, que levando êle ao editor o seu "Understanding
Media", êste disse, consternado: "Não podemos publicá-lo. O máximo
que o público suporta de novidade num livro seria coisa de 10 por cento. O seu
é nôvo em mais de 75 por cento. O público não aguenta essa carga".
Enganou-se o editor com o público, mas não com o livro, que é de fato nôvo nos
75 por cento do seu cálculo. Seu livro é nôvo, porque não se quis ver o que êle
viu e procurou explicar. Com efeito, todo seu esfôrço é para explicar o óbvio,
concebido como o implícito, e não como o óbvio convencional, que já se chamou
de "ulutante". O óbvio, como o implícito, não é percebido, é o que há
de mais esquivo, fugitivo e oculto em nossa mente. Realmente, tôda novidade de
McLuhan está em abordar o problema da história de nossa cultura de modo
diferente do convencional, que é o oposto dêsse óbvio implícito, de que falo. A
observação humana, ao longo dos séculos, se deteve em dizer-nos o que
havia acontecido, chegando ao máximo de como tinha acontecido. Mas porque
acontecera, a isto não respondia a história, nem o pensamento humano. O
próprio McLuhan ilustra seu pensamento com o caso do progresso humano:
"Por que todo êsse progresso?" - "Ora, devido ao avanço
científico". - "Mas o que causou êsse avanço científico, o que nos
levou a êle?" - "Aí, falta a explicação".
Tôda a novidade de McLuhan está em
tentar esclarecer êsse "porquê". E a propósito, cita Claude Bernard,
explicando o método experimental: "A ciência, até então,
"observou" os fenômenos sem perturbá-los. A
"experimentação" consistiu em proceder de modo contrário, em
perturbá-los, ou imaginar uma variação de suas condições naturais. Suprime-se
um órgão, pelo secionamento, ou ablação, num sujeito vivo, e pela perturbação
produzida em todo o organismo, ou em alguma de suas funções, deduzimos a função
do órgão faltante. McLuhan transferiu para o processo histórico algo
eqüivalente a êsse método.
A cultura é um processo, em que atuam
a estrutura ou organização da experiência na sociedade, e o modo pelo qual ela
se comunica, ou seja, o modo pelo qual a experiência é partilhada dentro do
propósito comum, criado pela estrutura social. O processo de comunicação
torna-se assim fator preponderante da cultura. Ora, o modo de comunicação
envolve a tecnologia da linguagem. Essa tecnologia era originàriamente a da
fala: a linguagem era a palavra oral. Tôda cultura se fazia disso o reflexo. A
linguagem faz-se escrita, graças ao alfabeto fonético, e a cultura se faz
cultura escrita. Chega a imprensa e a cultura faz-se cultura da palavra
impressa.
A tecnologia da palavra impressa
criara o "indivíduo", criara a "vida interior", e a
"vida exterior" criara o "público", criara, pelas culturas
vernáculas, o "nacionalismo" e as "nações" - tudo isso
entrou em crise e começou a se alterar. Já não sabemos se somos ainda
"indivíduos" ou se já nos tornamos antes "sócios", já não
sabemos que é "o público" e sim os múltiplos e mutáveis e incertos
públicos de hoje, e o próprio nacionalismo faz-se confuso, parecendo antes
simples localismo frente ao internacionalismo nascente. Não só isto, a palavra
impressa nos fizera homogêneos, uniformes, unidimensionais, hoje contestamos
tudo isso e nos agitamos em confusão e angústia ante a mecanização da vida
humana, mecanização que era "racional" e que hoje sentimos
"absurda" e insuportável.
* * *
Essa é a forma nova pela qual sente,
explica e descreve McLuhan a cultura humana. Nada é nôvo, senão o modo pelo
qual êle aborda o problema. Por que digo que êle nos explica o óbvio? Porque é
espantoso que não se tenha pensado antes em tudo que êle está a pensar. A
cultura escrita teve sua forma de expressão na literatura. Que é
literatura, senão letras? Logo tôda civilização se exprimia por letras. Como
explicar que nos tenhamos perdido em controvérsias e confusões de tôda ordem a
respeito de literatura, mas ninguém tenha pensado em estudar o que era êsse
meio de comunicação literária, ou seja, alfabético, e de alfabeto fonético, com
o qual se criara a escrita, por conseguinte, a comunicação, não só pela falta,
mas pela palavra escrita? Tôda a estrutura da sociedade e o modo de pensar e
sentir se alteraram com a introdução da escrita. Recebia-se o fato, sofria-se o
fato, tudo mudava e se transformava, mas o homem, hipnotizado pelas formas que
tomava a sua cultura, não relacionava tais mudanças com a nova tecnologia da
comunicação. As mudanças haviam "acontecido" e o problema era como
ajustar-se a elas, e não o de buscar e compreender as causas da mudança.
Entretanto, a palavra literatura fôra cunhada, mas sem isto levava o homem a
perceber quanto uma civilização de letras era filha da letra e do alfabeto
fonético.
McLuhan é nôvo porque está procurando
compreender o que todos devíamos ter compreendido há muito e muito tempo. Diz
êle, em um dos seus escritos, que não sabemos quem criou a água, mas sabemos
por certo que não foram os peixes. Vivemos em nossas culturas como os peixes na
água. A cultura é o nosso meio, os problemas são os que nos suscita êsse meio,
mas o meio não é objeto de nossa indagação. Daí, o meio ser a mensagem, que nos
faz e nos transforma, mas que ignoramos e do qual não temos consciência, porque
estamos, como os peixes, mergulhados e hipnotizados por êle. A esperança de
McLuhan é a de que se despertamos dêsse sono hipnótico e percebemos por que
somos como somos, e por que nossa cultura é o que é, ganharemos possìvelmente o
poder de compreendê-la, e compreendendo-a de conhecê-la, e conhecendo-a de
orientá-la e dirigi-la, como Claude Bernard pôde isso antecipar no estudo
experimental da medicina. McLuhan é o Claude Bernard do estudo experimental da
sociedade humana.
Vamos, primeiro, ao têrmo medium e
não meio. Se o inglês, tão distante do latim, julgou poder buscar na língua
latina o têrmo para exprimir o sentido nôvo que se deve dar às tecnologias que
estendem nossos sentidos e faculdades, não vejo por que também não o
acompanhamos. A palavra "Meio" é demasiado geral, e meio-ambiente,
ainda mais, significando em ambos os casos certa totalidade do mundo exterior.
Ora, McLuhan quer significar algo específico, ou seja, que tôda tecnologia que
estenda os sentidos e as faculdades humanas produz conseqüências que resultam
de atuação causal da tecnologia assimilada ou incorporada. A fórmula "o
medium é a mensagem" é expressão feliz, à maneira de
"manchete", com que McLuhan, em seu estilo saturado do caráter oral
de nossos dias, procura, em vez de definir, condensar numa metáfora
significativa a imagem do que deseja comunicar.
Como ainda estamos em muito na era
tipográfica, precisamos tomar essa imagem configurativa e global e passar a
defini-la, isto é, dividir, especificar e delimitar os elementos constitutivos
do conteúdo dessa hipérbole, a fim de nos apercebermos do conceito. O medium,
então, seria apresentado como conjunto particularmente importante e, de
certo modo, preponderante de fatôres das modificações conseqüentes à introdução
de qualquer nova tecnologia de extensão dos nossos sentidos e faculdades. E
depois, o mesmo método de fragmentação e análise nos levaria a definir as
conseqüências, indicando as linhas de alteração da escala da atuação humana, do
seu compasso de marcha, ou de seus modelos e padrões de ação, envolvendo os
novos modos de percepção que conduziriam aos novos modos de realização.
Designar, porém, o medium como
conjunto preponderante de fatôres, dentro do modo gutenberguiano de dividir e
especificar, faria dêle apenas uma concausa, particular e especial, um fragmento
isolado da causalidade. Ora, a concepção de McLuhan é ampla e global. O medium
não é uma das concausas. É nova linha de fôrça que vai atuar sôbre tôda a
situação, impondo e sofrendo efeitos numa difusa e variada interação, à maneira
de complexos como, por exemplo, o clima, embora talvez mais direta e imediata
que êste, pois o clima, como fôrça natural, pode ser pela tecnologia
modificado, alterado e até revertido. O conceito de McLuhan lembra ainda algo à
maneira do que chamamos motivo, tom, ou atmosfera, com que indicamos estados e
modos de atuação. O medium é, assim, mensagem, comunicação, algo
invisível, mas atuante conformador, caracterizante de todo o conjunto da
atividade humana.
Para prosseguirmos nessa forma de
análise, característica do homem tipográfico que ainda somos, teríamos de fazer
logo um catálogo e classificação das diferentes tecnologias, a fim de as
separar e isolar para o exame divisionista da era linear e seqüencial.
Retornemos à primeira ilustração que
oferece para o seu conceito. Refere-se a medium, que nem sequer inclui
em seu livro: a eletricidade, ou melhor, a luz elétrica. Aparentemente é medium
sem mensagem, pois só lhe emprestamos efeito em face do objetivo, ou conteúdo,
sôbre que se aplica. Tècnicamente se diz que é pura informação, e
informação é dado, não é mensagem. Mas se fazemos um anúncio luminoso,
já tem ela mensagem, e essa importa na utilização de outro medium, a
palavra, que é o seu conteúdo. E isto nos dá outro conceito: o conteúdo
de cada medium é outro médium. O conteúdo da escrita é a fala, o
conteúdo da impressão é a palavra escrita. E qual o conteúdo da fala? Um
processo de pensamento que não é em si mesmo verbal, embora haja pessoas que
pensam por palavras, mas estas já fizeram mentalmente a tradução. E êste
é outro conceito fundamental; o medium é sempre tradução de alguma coisa
anterior, sob forma, modo, ou intensidade novos. Como atua o medium nessa
função de tradução? Amplia a escala do que se fazia, muda seu compasso, ou
ritmo, ou altera o modêlo da percepção ou ação humana. E essa é a sua mensagem,
que exerce sob quaisquer condições, sem limitação de geografia, nem mesmo de
história. É nova linha de fôrça, que se criou. E neste sentido, volta McLuhan à
luz elétrica. Assim como podemos, no exemplo citado, dizer que o anúncio
luminoso é o seu conteúdo, o mesmo poderíamos dizer de delicada intervenção
cerebral, ou de partida de base-ball à noite, realizadas graças à
eletricidade. E aí podemos ver como o medium é a mensagem, pois, em
ambos os casos, êle, o medium, controla e modela a forma e a escala em
que ambas as atividades passam a poder ser praticadas.
O exemplo ilumina também outra
característica importante: o conteúdo do medium nos cega em
relação ao medium em si mesmo. Daí, parecer-nos que a eletricidade não é
um medium senão pelo seu conteúdo, quando na realidade é um medium, -
a fôrça elétrica - dos mais radicais, interatuantes, abrangentes e
descentralizados, mudando as coisas e a nossa vida de maneira fundamental.
Já estamos vendo e sentindo como
realmente o medium é a mensagem. É necessário, contudo, sublinhar quanto
aquela primeira identificação do medium com o conteúdo (o
objetivo de sua aplicação) é enganosa e leva-nos a não perceber a mensagem do medium
pròpriamente dito. O medium tem mensagem própria, como estamos
procurando mostrar. Mas, o hábito de identificá-lo com o conteúdo é uma das
razões de não se estudar o medium, e, dêste modo, não têrmos consciência
dêle, mas apenas dos seus efeitos, deixando-se de estabelecer a conexão entre o
medium e tais efeitos.
E isto se dá exatamente porque todo
nôvo medium tecnológico constitui-se, ao ser absorvido pela sociedade,
em verdadeiro impacto sôbre nosso modo de perceber e sentir a vida. Entra em
choque com a situação cultural anterior. Se disto tivéssemos consciência, o
estudaríamos e poderíamos ganhar certo contrôle sôbre êle. Conservamos, porém,
a cultura anterior e sofremos, ou aplicamos o nôvo medium, como algo que
tivesse acontecido e que nos cabe suportar ... e explorar pelo modo que fôr
possível. Como não queremos percebê-lo, utilizamo-lo em certo estado de
sonambulismo. É como se o reprimíssemos no conceito freudiano. Êle se faz
subliminar. É em tal estado de inconsciência, ou hipnotização, que a sociedade
recebe a nova tecnologia, o que responde por muito do caráter, tantas vêzes,
deformante e até desastroso da assimilação e incorporação da nova tecnologia.
Com efeito, cada nova tecnologia lança a sociedade em estado de transformação
inconsciente, de que desperta, às vêzes, quando os efeitos tomaram já aspectos
quase catastróficos.
Mas se o medium é a mensagem,
como procuramos esclarecer, é neste ponto, que acabamos de aflorar, que está
uma das mais importantes mensagens de McLuhan. Seus estudos e seu pensamento
concentram-se dominantemente neste tema: porque o medium é a mensagem,
temos de estudá-lo, de compreendê-lo e de procurar inteligentemente, despertos
e atentos, controlá-lo e dirigi-lo, para não nos entregarmos cegamente a seus
efeitos e ao seu uso e exploração para fins que talvez não devêssemos aceitar.
Não vou ilustrar estas considerações
com os últimos media, sôbre que tanto havia a dizer. Mas, tomemos, ainda
acompanhando McLuhan, algo menos controvertido: o trem de ferro. Êsse medium
não nos trouxe nem a roda, nem a estrada, nem o transporte, que já tínhamos.
Mas acelerou e fêz crescer a escala dessas funções humanas. Com isto criou
novas espécies de cidade, novas formas de trabalho e novas formas de lazer. E
isto em qualquer região da terra, universalizando a civilização. Mas, hoje, com
o aeroplano, caminhamos para a dissolução dessas cidades, sobretudo as
gigantescas, que constituem presentemente problemas angustiantes de população,
de poluição da atmosfera e de vida cada vez mais difícil e menos suportável. O
caso ilustra perfeitamente a conseqüência do uso da tecnologia sem completa
consciência do que ela estava causando. A confusão entre a tecnologia e o conteúdo
de sua atuação levou-nos a não tomar consciência dos seus efeitos, os quais
ligávamos, não ao medium pròpriamente dito, mas ao curso normal, melhor
diríamos, cego, do "progresso" humano. Dentro do sonambulismo em que
nos deixamos embalar, a mudança (e não o "progresso") faz-se
arbitrária e desastrosa e chegamos às novas aflições da vida urbana e aos
perigos impredizíveis das megalópolis atuais.
McLuhan aparece-nos, assim, como
espécie de vidente e, quando diz que o medium é a mensagem, não o faz
pelo gôsto da frase, mas como advertência, lúcida e alta, para que, despertos
e conscientes, como antecipava Joyce, bem como tantos outros artistas, em
essência, magos (vide Finnagans Wake), marchemos para conduzir as tecnologias,
que são modos de ser do homem, para seus verdadeiros fins e não os de sua
perdição. Perdoe-nos o leitor o tom didático dêste tópico, tínhamos de fazê-lo.
Anísio Teixeira
Última Hora, Rio, GB,
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TEIXEIRA, Anísio. O pensamento
precursor de McLuhan. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos.
Brasília, v.54, n.119, jul./set. 1970. p.242-248.