TEIXEIRA, Anísio, GÓES FILHO, Joaquim Faria. A tradição da Fundação no campo dos estudos das Ciências Sociais. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1971. 29p.

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

PORTARIA Nº 1
De 7 de Janeiro de 1971

O PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO DETÚLIO VARGAS, no uso de suas atribuições estatuárias,

RESOLVE:

1- designar os Professores Luiz Alves de Mattos, Joaquim de Faria Góes, Anísio Spínola Teixeira e José de Faria Góes Sobrinho para, sob a presidência do primeiro, construírem a Comissão encarregada de estudar as possibilidades e apresentar projeto de criação de um Centro de Estudos Pós-Graduados de Educação.

2- a presente Portaria entra em vigor a partir de 8 de janeiro de 1971.

Rio de Janeiro, GB, 7 de janeiro de 1971

Luiz Simões Lopes

Presidente

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
Centro de Estudos e Treinamento em Recursos Humanos - CETRHU

PROJETO DE CRIAÇÃO DO INSTITUTO AVANÇADO EM EDUCAÇÃO
A TRADIÇÃO DA FUNDAÇÃO NO CAMPO DOS ESTUDOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

A Fundação Getúlio Vargas é sabidamente uma instituição dedicada ao estudo de problemas brasileiros no campo social, à formação de especialistas nessa área e à prestação de assistência técnica em problemas de administração em geral.

Na realização desses objetos vem criando escolas e cursos que se vêm expandindo, transformando e aprimorando.

Algumas das escolas iniciaram-se com o objetivo de assegurar a primeira graduação (bacharelado). É o caso das Escolas de Administração Pública, de Administração de Empresas e de Economia, esta posteriormente transferida para a Universidade do Rio de Janeiro.

Cursos de aperfeiçoamento e de especialização nessas unidades surgiram depois.

Durante longos anos a Escola de Administração Pública contou com a assistência da Universidade de South Califórnia e a de Administração de Empresas com a da Universidade de Michigan State. As duas universidades norte - americanas enviaram missões de professores para cooperar na organização dos currículos, dos programas, do material de ensino e da metodologia das pesquisas. Ao mesmo tempo foi adotada a política de envio de professores das duas instituições brasileiras aquelas universidades norte-americanas para a obtenção do mestrado.

Só depois de reunir razoável número de professores com esse grau, deu a Fundação início aos cursos de pós-graduação própriamente ditos de Administração Pública, de Administração de Empresas e de Economia.

Atividades de pesquisa vêm sendo desenvolvidas pela Fundação nos três setores. O Instituto Brasileiro de Economia, criado para os levantamentos e análises sistemáticos de dados da economia brasileira constitui um dos exemplos dessa modalidade de trabalho.

O curso de Direito vem sendo realizado conjuntamente pela Faculdade de Direito de Universidade da Guanabara e pela Fundação. Ele se iniciou visando a especialização de advogados brasileiros em setores cuja relevância se acentua à medida que as grandes empresas se multiplicam no país, o mercado de capitais se amplia e se tornam mais complexas as relações do comércio internacional.

Outro objetivo deste projeto é o de influir na renovação dos cursos jurídicos do país, através de seminários, de encontros de professores e de publicação de trabalhos.

AS ATIVIDADES DA FUNDAÇÃO NA ÁREA DOS ESTUDOS DA EDUCAÇÃO

No campo da Educação geral a atuação da Fundação tem sido também muito extensa.

Nesse terreno criou duas escolas de nível médio, o Colégio Nova Friburgo, com curso ginasial e colegial, em regime de internato, e a Escola Técnica de Comércio, na cidade do Rio de Janeiro, em regime de externato. Ambas foram organizadas com o deliberado propósito de experimentar tipos de ensino secundário de alto padrão. Programas de orientação educacional, de estudo dirigido, de convivência de professores e alunos, de atividades extra-curriculares, de métodos especiais de ensino, de uso sistemático de bibliotecas, de regime de tempo integral para os professores foram introduzidos.

Para a realização desse programa os professores foram rigorosamente escolhidos e selecionados os alunos. A matrícula foi limitada. As instalações materiais foram asseguradas com grande riqueza. Como escolas de demonstração de métodos e de processos educacionais, as duas instituições situam-se entre as melhores do país.

Ambas vieram a ser utilizadas pela Fundação como centros de treinamento e aperfeiçoamento de professores secundários, para o que se organizam cursos especiais e estágios em regime de bolsas.

Em paralelo mantém a Fundação instituições de pesquisa, algumas servindo a outros campos sociais, mas também ao educacional.

O Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) está neste caso. Os seus objetivos e os seus serviços são conhecidos. Também é sabido que toda sua ação de criar, adaptar e aplicar instrumentos de medida e de diagnósticos está baseada em estudos e pesquisas no campo da Psicologia. Por isso, a Instituto mobiliza no momento um contingente de 41 psicólogos.

A experiência do ISOP não se esgota nas suas atividades de pesquisa e de aplicação na orientação e na seleção profissional. São numerosos os cursos de especialização que vem ministrando.

Outro campo de sentido característicamente educacional na Fundação é o Centro de Estudos e Treinamento em Pesquisas Psicológicas que tem a seu cargo a realização de um projeto de grande magnitude, em cooperação com a Ford - Foundation, o de elaborar, experimentar e padronizar baterias de testes destinados ao sistema escolar brasileiro.

A pesquisa exige a participação de ponderável número de psicólogos, professores e estagiários, especializados no assunto, e vultuoso investimento de recursos financeiros.

Outro projeto em marcha nesse Centro é o da construção de uma bateria de testes de medida de aptidões, com a cooperação do Conselho de Cooperação Técnica da Aliança para o Progresso - CONTAP e USAID.

Ao mesmo tempo o CETPP iniciou cursos de treinamento de professores na aplicação experimental de testes.

É ocioso encarecer a relevância do programa do CETPP à vista da expansão do sistema escolar brasileiro, na classificação e promoção de massas consideráveis de crianças e adolescentes nas escolas primárias e secundárias, na avaliação de rendimentos desses níveis de ensino, na orientação dos alunos na escolha de cursos secundários e na seleção dos que hajam de ascender aos cursos superiores. Por sua vez, o fluxo cada ano maior de candidatos às Universidades constitui tremendo desafio, a exigir processos mais apurados e de melhor poder seletivo.

Outra unidade de pesquisa da Fundação que deve ser destacada nas suas atividades relacionadas com a educação é o Centro de Estudos e Treinamento em Recursos Humanos (CETRHU). Este organismo realiza estudos dos dados demográficos já existentes e os da força de trabalho na agricultura, na indústria e nos serviços privados e públicos e das ocupações existentes em todos eles, do mercado de trabalho atual e suas projeções futuras, do sistema escolar primário secundário e superiores do País e do cálculo do seu crescimento.

O CETRHU atua em íntima relação com o Instituto Brasileiro de Economia buscando estabelecer correlação dos dados acima com os de caráter econômico.

Entre as suas funções inclui-se também a de manter um "Banco de Dados" para suprir os órgãos estaduais e federais que estudam os recursos humanos no país e planejam e administram a sua educação.

PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Com a estrutura de escolas, cursos e centros de pesquisa que já possui, com a corpo de professores com que conta, com o treino já adquirido em realizar levantamentos e análises de dados sociais, com a documentação que já acumulou e com as instalações materiais e seu serviço, está a Fundação capacitada para oferecer desde logo, oportunidades de estudos avançados e profissionais que já militam no magistério superior - ou nas tarefas de cúpula da administração escolar.

Não pretende, entretanto, a Fundação, limitar-se a organização e aos recursos de que já dispõe, embora de significativa dimensão e valor, mas ampliá-los no sentido de criar um grande núcleo permanente de estudos sistemáticos dos problemas e soluções da educação brasileira .

Tal ampliação ganhou oportunidade e especial sentido face à exigência da lei de obtenção do grau de mestrado pelos professores assistentes para fins de sua efetivação.

Ocorre que é recente a existência de cursos de pós-graduação que conduzam ao mestrado. Em todos os setores de ensino superior o seu número é ainda limitado e praticamente inexistente no da educação.

Por outro lado tem sido rápida a multiplicação de universidades brasileiras que são agora ao todo 24 federais, 2 estaduais e 15 privadas.

Deste total apenas sete possuem mais de vinte anos de existência. Não menos de vinte foram fundadas há menos de dez anos.

Cerca de trezentos mil alunos estão matriculados no corrente ano nos seus cursos e o número de candidatos a ingresso é cada ano muito maior do que o de vagas.

Fazenda face a esse crescimento constata-se a escassez de professores mobilizáveis para tantos estabelecimentos e tantas turmas e para expansão inevitável e futura de suas matrículas.

Na focalização do assunto deve ser lembrado o número elevado de faculdades de educação ora criadas no país, todas também com o problema agudo de provimento inicial de novos professores e no de sua efetivação ulterior.

Entretanto, face a tão grave situação o Decreto - lei, que se pode chamar de emergência, previu a organizacão de um número limitado de centros de ensino pós-graduado, que seriam credenciados a fim de receberem ajuda financeira especial. A lei estabelece que tais centros funcionem nas universidades mais tradicionais ou em outras instituições de alto nível, capacitadas para o mister.

Parece haver consenso geral de que a Fundação Getúlio Vargas se enquadra entre essas instituições de alto nível a que alude a lei.

Prova disso reside em ter sido solicitada a preencher os formulários de credenciamento dos recursos de pós-graduação que mantém, a serem examinados ulteriromente pelo Conselho Nacional de Pesquisas e pelo Conselho Federal de Educação.

Os fatos que estamos expondo inspiram o Projeto do Instituto de Estudos Avançados em Educação, cujos fundamentos, objetivos e linhas mestras são apresentados a seguir.

A situação brasileira

Não será necessário acentuar que o Brasil acompanha a chamada "explosão de aspirações", com os seus específicos reflexos na área de educação. Para se concretizarem aquelas "aspirações", sobreveio a aguda consciência de que educação não é só um dos caminhos, mas o caminho. O sentimento de que a educação é a salvação fez-se o sentimento dominante não só do povo, mas, de certo modo, do governo.

Essa tomada de consciência da importância da educação acompanha o processo de transformação de uma sociedade agrária na moderna sociedade urbano-industrial, transformação que, além das mudanças que naturalmente acarreta, vem criando no Brasil, extraordinária mobilidade demográfica, - com imensa concentração da população nas cidades, onde o processo urbano industrial vem se intensificando.

Sabemos com a simples crescimento demográfico além de certa medida agrava os problemas humanos. Se a este crescimento ajuntamos o crescimento devido a aceleração migratória das populações, podemos facilmente imaginar o estado de convulsão social a que se pode chegar. Cabe ainda - lembrar que, devido à organização super-centralizada da nação brasileira, os centros de poder eram poucos. Tal estrutura centralizada determinou que o progresso urbano-industrial se concentrasse nesses centros. Decorre daí que a migração do meio rural para o urbano faz-se, sobretudo, para tais centros de poder, que passaram a sofrer verdadeiras invasões, agravando-se, deste modo, os problemas naturais nascidos da revolução urbano-industrial.

Se os países desenvolvidos com experiência da civilização urbano-industrial encontram-se hoje cheios de novos problemas devido, fundamentalmente, à continuação desse desenvolvimento e à aceleração do seu processo, pode-se imaginar quanto é mais grave a situação do Brasil, onde o processo de urbano-industrialização é todo ele novo e, além disto, fragmentado e localizado apenas em certas áreas, onde chega, entretanto, a atingir tão alta concentração que a escala dos problemas excede, sob certos aspectos, à dos países desenvolvidos.

No que diz respeito à educação, não há apenas a expansão do sistema escolar, mas uma expansão desordenada por zonas de desenvolvimento diversos e, nem sempre, de forma adequada a cada zona. Além disto, o problema real não é o da expansão dos modelos de educação existentes, mas o da criação de novos modelos adaptados às novas condições do desenvolvimento urbano-industrial.

Esse novo modelo de educação científica e tecnológica requerem mudança estrutural que as próprias nações desenvolvidas somente na segundo metade do século XIX conseguiram efetivamente implantar, depois de longo período de transformação de modos a hábitos de pensar, de criação do conhecimento científico-experimental, novo em seus aspectos teóricos e práticos, o qual, por fim, veio a gerar uma outra cultura, a cultura científica, em contraste com a chamada cultura intelectual, humanística, dominantemente filosófica, histórica e literária.

Para a formação dessa nova cultura científica e tecnológica, contaram as nações desenvolvidas praticamente com todo século XIX e parte do século XX, somente vindo seu florescimento tomar o seu presente caráter explosivo no curso da Segunda guerra mundial e nos desenvolvimentos que se lhe seguiram. Para esse atual florescimento contribuiu fundamentalmente o longo período anterior em que se elaboram - as matrizes teóricas e praticas que deram origem a renovação da época presente.

Os países subdesenvolvidos deparam-se hoje frente a uma situação em que domina o conhecimento tecnológico, que é resultado da cultura "científica", a qual, entretanto, não possuem. Esse conhecimento tecnológico é conhecimento aplicado, derivado das matrizes da moderna civilização. São esses produtos "produtos" tecnológicos que os países subdesenvolvidos importam ou transplantam às fábricas que operam com eles para a produção industrial e usam amplamente, uso que modifica fundamentalmente suas vidas, sem que, entretanto, dominem eles os segredos, as técnicas e as bases mesmas de sua elaboração. Esta é a crítica situação de dependência em que se encontram, dependência que impede literalmente a sua verdadeira autonomia cultural.

Tal conjuntura os obriga a atacar seu problema educacional de forma própria e particular, o, em rigor, diferente daquela atualmente vigente no países desenvolvidos. Estes, como já tem a posse da cultura científica, estão, apenas, a desenvolvendo e acelerando. O país sub-desenvolvido pelo contrário, tem de voltar atrás e refazer hoje o que os desenvolvidos fizeram cinqüenta e cem anos atrás: criar as matrizes de métodos, formas e hábitos de pensar, que constituem as bases do conhecimento científico e dos conhecimentos tecnológicos que são resultados de sua aplicação, e fazer isto quando os "produtos" dessa tecnologia já lhe invadiram a vida de forma avassaladora, dando-lhe o ilusório sentimento de que a "cultura" pode ser "importada", quando" na realidade, tem de ser "re-criada".

Para esse imenso trabalho não podem sequer ajudar- nos os países desenvolvidos. Com efeito, instituições para criar intencionalmente matrizes de pensamento, de teoria e de formas de aplicação do conhecimento científico e tecnológico são, de algum modo, coisa nova, pois o desenvolvimento das nações até aqui foi suficiente lento para que essas matrizes se formassem mais ou menos espontâneamente, ao longo do tempo. Uma das críticas circunstânciais da nossa época é a de que este problema crucialmente importante e característico do país subdesenvolvido, praticamente não existe no país desenvolvido. Não temos, assim a experiência do problema, nem a têm os países desenvolvidos para nos ajudar a ganhá-la.

No século XIX, com efeito, os países hoje desenvolvidos reformaram suas instituições de ensino - vejam - se o sistema das grandes écoles de Napoleão, a nova universidade de Humboldt, e a longa e penosa luta, na Segunda metade do século dezenove para a definitiva implantação da ciência, com o seu inevitável lastro de pesquisa, na universidade moderna - e, desse modo, criaram condições para se desenvolverem aquelas matrizes da atitude científica, dos novos modos de pensar e de pesquisa, que deram origem à expansão científica conteporânea e à tecnologia que dinamizou o processo de industrialização. Os países subdesenvolvidos recebem agora por importação os "produtos" ou tecnologias resultantes desse novo processo de conhecimento, mas não dispõem daquelas matrizes para poderem lidar com esse desenvolvimento. O problema crítico, repetimos, é esse de re-criar aquelas matrizes, as quais não podem ser importadas, mas tem de ser criadas de novo, dentro das características das respectivas culturas nativas e com as particularidades e as inovações inevitáveis desse processo de re-assimilação. Com efeito, a nação subdesenvolvida tem de criar tais matrizes científicas dentro de suas próprias condições de cultura, de lugar, e de tempo, não se constituindo o esforço uma repetição do que fizeram no século XIX os países desenvolvidos, mas trabalho, sob muitos aspectos, novo, original e criador.

Esse ingente tarefa de criação e adaptação de novos modelos de educação científica e tecnológica recai necessariamente sobre o 14º tema escolar; este precisa ser completamente re-estruturado e re-orientado para fazer face ao desafio que se apresenta.

Na estratégia dessa transformação, avulta desde logo o problema da formação do professor.

O problema da formação do professor

É hoje lugar comum reconhecer que a educação formal não é apenas, aprender os conhecimentos existentes, mas habilitar o aprendiz a adquiri-lo para continuar, por si mesmo, a aprender numa situação de constante renovação dos conhecimentos e consequentemente de constante mudança. Era isto que, de alguma forma, se conseguia com o estudante, cuja a educação iria continuar até se fazer ele um estudioso - (scholar) profissional. Hoje, toda educação tem de ser, de algum modo, esse caráter.

Além disto, como toda educação visa a uma produtividade crescente do educando em sua ocupação hoje dominantemente técnica, o saber por ele adquirido deve ser atuante e operante, e por conseguinte, muito mais concreto do que o saber anterior, tantas vezes abstrato, quando não apenas ornamental.

A "situação de aprendizagem" na educação formal fez-se, assim, um processo extremamente complexo, envolvendo o estudo e apreciação do conhecimento existente e em mudança no contexto, todo ele também em mudança, da situação ocupacional dentro da sociedade em renovação constante.

Não resultou daí apenas que a educação se fizesse uma atividade permanente, mas que o processo de educação se tornasse, ele próprio, um processo a ser permanentemente estudado ou pesquisado a fim de se adaptar a cada situação do aprendiz e do momento em que ele se acha.

A necessidade, portanto, do estudo de pós-graduação não decorre apenas do progresso do conhecimento humano, mas de suas aplicações diretamente na ocupação e na vida, criando situações que requerem estudo e pesquisa para se dirigir o processo de aprendizagem contínua.

Tais fatos é que vieram a tornar o problema de formação do professor um problema especial e extremamente - complexo, envolvendo delicadas pesquisas e constante renovação. A relação do saber prático do professor com o puro saber do conteúdo, em si mesmo, lembra a relação da engenharia com o saber matemático e físico, mais (...) que isto, pois não se trata apenas de uma nova(...) de descobrir, descrever e tornar operativas situações de aprendizagem nos casos concretos de cada estudante no processo de adaptação às novas condições de ocupação e da vida. A posição da educação, como aplicação do conhecimento, se quisermos buscar analogias, deve aproximar-se mais da medicina do que da engenharia.

Presentemente, a necessidade mais crítica da educação no Brasil é a de formar professores num sistema escolar em incoercível expansão. Mas, para formar os professores são necessários estudos e pesquisas que revelem a verdadeira situação existente e indiquem os meios de melhorá-la ao máximo com o mínimo custo em dinheiro e em tempo.

Para ilustrar o tipo de problemas com que luta o presente estado da educação, bastaria citar o caso da repetência de grande massa de alunos da escola primária, a improvisação do ensino secundário, a sensível deficiência de formação técnica no nível sub-profissional e a expansão do ensino superior sem os cuidados necessários de preparação de seu magistério. Não se trata, com efeito, apenas de ser o ensino, de modo geral, deficiente, mas de uma expansão desordenada desse mesmo ensino deficiente em condições piores do que as do seu funcionamento anterior.

Temos, assim, que esses dois fatos: a natural ineficiência de todo o sistema, decorrente de ser um sistema de país sub-desenvolvido, em que o ensino é um semear ao acaso e o aprender um bilhete de loteria, e a expansão incontida e irreprimível desse mesmo sistema em uma avassalante expansão, tornam o problema de formação do professor, não somente o problema fundamental que é em qualquer sistema escolar mas o problema de maior urgência e mais alta prioridade.

Mas, como já acentuamos, o problema de formação do professor não é problema simples, cuja solução exista, bastando recursos para resolvê-lo. Trata-se de problema que tem de ser localizado, definido e formulado, para então se tentar resolvê-lo.

Sabemos que, originalmente, não foi assim. A universidade nasceu toda ela como uma instituição para a licenciatura do professor. O princípio de "quem sabe, ensina" era, então, válido, pois o saber era pouco, uniforme e fixo, e possuí-lo (ou o supor-se possuí-lo) bastava para poder ensinar. Em rigor, nos casos de autenticidade da posse do saber, o método era válido para formar o "scholar" propriamente dito, isto é, o estudante interessado no saber pelo saber dentro do seu campo. Hoje, com a vastidão, a variedade, e a especialização do saber e a necessidade de ensinar não só o saber em si mesmo, mas o saber aplicado, e, muitas vezes, também a sua tecnologia, para imensa diversidade de ocupações espacializadas e semi-especializadas, as quais conjugam saberes especializados com saberes interdisciplinares tudo isto, a que se acrescenta ai a circunstância de ser o corpo de estudantes ou aprendizes extremamente diversificado em suas condições sociais e em suas experiências anteriores, tudo isto, repetimos, tornou a atividade de ensinar extremamente difícil e objetos de estudos e pesquisas especiais, visando a uma organização e reorganização ad-hoc do saber a ser ministrado, melhores estratégias e métodos de fazê-lo e de medir-lhe a eficiência, para a melhor adaptação possível dos currículos à enorme variedade dos cursos e dos alunos a que se destinam.

O Instituto do Estudos Avançados de Educação

É essa tarefa de estudos e pesquisas que deseja a Fundação Getúlio Vargas empreender, criando para esse fim, em nível pós-graduado, um Instituto de estudos avançados em educação.

Dir-se-ia que tais pesquisas e estudos devem ser iniciados, desenvolvidos e difundidos pelas novas escolas de educação recém-criadas. Sabemos, entretanto, que tais escolas terão que percorrer várias etapas. Desde logo são chamadas a se ocupar de uma espécie de programa de emergência que é de suprir a prazo curto e como puderem grandes contingentes de professores para atender ao crescimento explosivo do ensino secundário. Essa tarefa é de tal magnitude que é de se prever como fato natural a protelação daqueles estudos fundamentais, os quais são todavia inadiáveis por constituírem a base do desenvolvimento dos sistemas escolares, do pensamento educacional brasileiro e da consequente formação de pensadores educacionais, de administradores e do magistério pós-graduado para as escolas de educação.

O Instituto teria por objetivo estudar a situação educacional brasileira com vistas a formular seus problemas gerais e específicos de desenvolvimento; encaminhar, mediante tais estudos a solução desses problemas, sugerindo e recomendando tentativas e planos experimentais de ação; formar especialistas de educação e professores de nível de pós-graduação destinados a liderar e conduzir, no nível da administração e da formação de professores, o processo de análise, revisão e gradual reconstrução da situação educacional brasileira.

O Centro visaria, acima de tudo, a estudar e pesquisar, para descobrir os fatos e interpretá-los, a fim de cooperar no planejamento do sistema, na organização e no desenvolvimento das escolas, na construção dos seus currículos, na formação de professorado e na medida e avaliação do esforço educacional. Objetivo, sem dúvida ambicioso, mas que precisa ser tentado. A sua contribuição não seria nada de global, nem de definitivo, mas uma constante busca de solução, uma constante medir, avaliar e experimentar. Trata-se de acompanhar a marche gradual de todo o sistema e fornecer elementos para sua constante re-direção.

Com esse objetivo geral se iria concretizar em medidas específicas? Pela própria marcha dos estudos e pesquisas que iria empreender. O Centro, primeiro, deveria tentar levantar a situação educacional com a precisão que fosse possível, no campo do ensino primário e médio, estudando a raio de ação regional, do sistema, os seus diferentes níveis de organização, seus currículos e programas efetivos, as condições e a formação de seus professores, a condição social dos alunos e das famílias, e a medida e avaliação dos resultados escolares. Tal estudo seria a base para a descoberta dos problemas que teriam de ser pesquisados, a fim de indicar as razões da eficácia ou ineficácia do sistema e sugerir os remédios ou as tentativas de remédios. Esses problemas e suas possíveis soluções constituiriam o programa de estudos e pesquisas do Centro. Pela sua investigação é que se iriam formar os especialistas e os professores. O Centro buscaria nada menos do que contribuir para melhorar o pensamento e a consciência da problemática de todo o sistema educacional primário e médio. Diante da vastidão e complexidade do campo de estudo, há que esclarecer que, delineava pelo survey a situação geral e caracterizados os problemas específicos, cada um deles seria estudado separadamente e de forma experimental em grupos e conjuntos de escolas, a fim de localizá-los, descrevê-los e tentar-lhes a solução, sob a forma de experiência e demonstração. Como centro de estudos, a obra real do Centro seria a de criar a atitude de investigação e de experiência. Os especialistas, professores e executivos que iria formar seriam outros pesquisadores, que passariam a trabalhar como experimentadores e concorrer para que todo sistema se impregnasse desse espírito. A sua obra, portanto, não seria a de oferecer qualquer solução - pronta e acabada, mas a de provocar a contínua e incessante busca de solução.

método do "sistems analysis"

É evidente que obra dessa natureza constitui esforço substancialmente natural, não podendo ser substituído por nenhuma simples colaboração estrangeira. O auxílio que se pode receber de fora é o de pensadores e especialistas estrangeiros que desejam vir ao país para estudar e pesquisar conosco o melhor modo de descobrir, definir e formular os problemas e ajudar-nos a resolvê-los. Como, presentemente, está em curso nos países desenvolvidos um novo método de abordagem dos problemas - systems analysis - é nessa linha que a colaboração estrangeira se poderá efetivar. Trata-se de poder contar com um plano de cooperação - em que um grupo de especialistas estrangeiros se articule com um grupo nacional para juntos identificarem os problemas que se apresentam e encaminhar-lhes os métodos e modos pelos quais se poderá tentar solucioná-los.

O Instituto que se deseja criar é dessa natureza, constituindo tentativa de formação de um centro de pensamento para uma nova abordagem dos problemas de educação, na linha do que se vêm fazendo como o "systems analysis" nos Estados Unidos. Lembrará projetos do gênero do PACE no Estado da Califórnia ( Projectos to Advance Creativity in Education) e do " National Assessment of Education Progress" da Carnegie Corporation, embora não constituindo de modo algum repetição, mas formulação particular e adaptada às condições nacionais do Brasil.

Primeiros passos para a criação do Instituto

Sem ainda indagar do problema de local e espaço bem como do financiamento, vamos esboçar aqui os primeiros passos para a instalação do Instituto, cujo período preparatório de funcionamento não poderá ser de menos de seis meses.

Trata-se, como já foi dito, de um Instituto de estudos, pesquisas e ensino. Há, portanto, que criar as condições para o trabalho e projetar, se não iniciar, os estudos preparatórios para o desempenho de suas funções. Escolhido o coordenador, ou responsável, o bibliotecário, um administrador - gerente e um serviço de secretaria, os dois primeiros deverão proceder à seleção de alguns, se não todos, os chefes de departamento, que deverão trabalhar em tempo integral, planejar o respectivo campo de estudos e escolher gradualmente seu staff, composto de estudiosos promissores, que serão, simultaneamente, seus primeiros discípulos e primeiros candidatos às posições do Instituto.

A organização, parece-nos, deverá ser dos "colleges" do tipo Oxford ou Cambridge, e hoje, de um dos campos da Universidade da Califórnia, em que o mestre é um estudioso responsável pela formação de sua equipe, constituindo tais grupos de professor e pequena equipe de discípulosa unidade de trabalho do Centro ou Instituto. O professor - mestre trabalha e se identifica com sua equipe de cujos estudos e cursos, além do trabalho na pesquisa em que estão empenhados, aceita a responsabilidade. Não vejo porque se fugir à impessoalidade do processo de formação, resultante da multiplicidade dos estudos e da existência autônoma de cada setor ou campo dos mesmos e, gradualmente, tender-se à formação individualizada de cada estudante.

Cada professor-mestre, além desse trabalho próprio seu e de sua equipe, liga-se a todos os demais professores-mestres, com os quais mantém um constante esforço ativo de intercâmbio e estreita interdependência, que lhe permitirá sentir que sua equipe pessoal é parcela de um todo, de que é equipe supervisora o conjunto de professores chefes do Instituto, no qual se fundem toda as "unidades" de trabalho. Este será o tipo de organização" a ser ensaiado, que não é, portanto, o da justaposição mecânica e hierárquica - das "unidades" , mas a composição inter-disciplinar em plano inferior e superior de todo o "corpo" ou "complexo" do Instituto.

Escolhidos os professores-mestres, estes procederão à descrição e delimitação de seu campo, localizarão e definirão com precisão os problemas mais significativos que irão ser estudados, planejarão os levantamentos dos dados, a formulação específica de problemas, o esboço dos objetivos a serem visados e os projetos particulares e concretos de estudo.

Daí passarão `a escolha dos discípulos (prefiro esta designação à de alunos) que serão seus colaboradores nos planos de estudos que irão intentar, por meio de projetos específicos. Estes projetos serão projetos tanto dele professor-mestre quanto dos colaboradores.

A escolha se fará em todo país, dentre pessoas com experiência real do ensino e de seus problemas e que apresentem condições promissoras para se tornarem estudiosos (scholars) sistemáticos do seu campo. O Instituto tem em vista, no início, recrutar grupos humanos apaixonados pelo campo de estudos no respectivo departamento e que a ele querem devotar as suas vidas. Po certo que poderão ensinar e ser professores, mas o que os caracteriza é o desejo de estudo, o gosto pelos problemas e a paixão por lhes encontrar a solução, que irá produzir outros problemas e outros estudos. Os seus objetivos não são transmitir o conhecimento existente, mas com auxílio deste, descobrir os problemas, localizá-los, descrevê-los precisamente e encaminhar a pesquisa, a busca pelos remédios, soluções e conhecimentos novos. O Instituto é de estudos, não somente, não somente porque tem pesquisas em andamento, mas porque mantém este sentido alertado em relação a tudo que se sabe, como base para novo saber. O ambiente de curiosidade, gosto pelo debate, amor à investigação, real interesse por problemas, inventividade, criatividade, receptividade ao novo, devem constituir o tom e a atmosfera de todo o trabalho.

Ao lado desse laborioso esforço preparatório, deverá, ainda, e com a mais alta prioridade, organizar a biblioteca do Instituto, que terá naturalmente massa considerável de livros do conhecimento existente histórico e presente, mas empenhar-se-á especialmente em uma biblioteca de revistas e da problemática educacional, devendo estar em condições de tomar conhecimento do que está fazendo e do que se está estudando, relatando e pesquisando em parte substancial do mundo. Esta biblioteca tem tanta importância quanto os próprios professores.

Isto posto, com essas equipes iniciais e o trabalho realizado, o Instituto entraria a funcionar, só abrindo as suas portas para cursos regulares, depois do primeiro ano de atividades, sendo seis meses preparatórios e seis de iniciação de trabalho.

Ao fim de doze meses desse trabalho intenso e mais ou menos interno, deverá estar em condições de multiplicar as equipes sempre na base de professor-mestre e discípulo e projetar-se ao trabalho externo, dentro do programa esboçado.

Nenhum curso seria oferecido sem contar com massa substancial de estudos feitos e novas possibilidades de estudos de modo a não deixar de ser o curso um curso de problemas, de pesquisas e de busca de solução.

A reunião de "material" para cada curso não compreende apenas livros, embora estes sejam parte substancial do curso, mas estudos e pesquisas feitos ou em marcha. A idéia fundamental a respeito á a de como, em Harvard, se reuniu o material para sua Escola de Direito, e, depois, sua mais recente Escola de Comércio. Coleções de leis, programas, planos, relatórios e trabalhos oficiais e particulares de cada sistema escolar, ou dos mais importantes, seriam parcela de alta prioridade da biblioteca comum e das bibliotecas especiais que se organizariam para cada curso.

Este detalhe ilustra uma idéia fundamental do Instituto: o saber com que ele vai lidar não é o que já foi absorvido pelos professores e está em suas cabeças, mas um saber colecionado e documentado nesse "material" disponível para os estudos, compreendendo livros, folhetos, revistas, publicações de trabalhos e resultados e pesquisas feitas no próprio Instituto e fora dele. O Instituto é um centro que recolhe todo o material informativo e de cultura existente sobre o campo de estudos e sobre os projetos de pesquisa preparados.

Pode-se ver, assim, quanto trabalho preparatório é necessário para se iniciar um "curso". Um curso é um projeto de trabalho, que além de toda essa tarefa prévia, se faz ele próprio um passo dessa busca por informação existente e do enriquecimento dessa informação pelo trabalho que, durante o curso se fará. Deste modo, cada curso será um passo para um curso mais avançado no futuro.O conhecimento humano a respeito será "levantado" e se irá acrescendo em cada período, para se acompanhar o desenvolvimento fora e dentro do Instituto.

O culto ao passo será imenso, mas ainda maior, se possível, o culto ao novo, pelo qual o Instituto deve ter uma respectiva particular, como centro de descobertas do saber e não apenas de transmissão de saber existente.O Instituto é a fronteira do conhecimento existente, projetado para a exploração, e a descoberta do conhecimento do futuro.

Objetivos do Instituto

O Instituto a ser criado, como foi dito, se constituirá em primeiro lugar em um centro de pesquisas do pensamento e da prática educacional.

Mas será ao mesmo tempo, por intermédio das pesquisas que irá fazer, um centro do formação de :

a) pesquisadores educacionais, capazes de cooperar com os especialistas de "systems analysis";

b) especialistas em aconselhamento educacional e vocacional;

c) especialistas em organização ou montagem curricular e avaliação educacional;

d) administradores educacionais;

e) professores de Escola de Educação (história, educação comparada, fundamentos filosóficos e sociais, testes e medidas e psicologia, aconselhamento educacional e didática geral.

f) complementação pedagógica de professores universitários

Estrutura do Instituto

A sua estrutura deverá compreender:

1. um departamento de "systems analysis" para o levantamento dos sistemas, com descrição, classificação e avaliação das escolas em sua diversidade regional e organizacional;

2. um departamento de "montagem curricular";

3. um departamento de teses e medidas;

4. um departamento de organização e administração escolar;

5. um departamento de fundamentos filosóficos e sociais da educação;

6. um departamento de história da educação e educação comparada;

7. um departamento de didática.

Todos esses departamentos serão devotados à pesquisa e descoberta de modelos adequados à realização e à cultura brasileira.

Regime Interdisciplinar

Como já foi referido nas primeiras páginas deste trabalho, mantém e fundação um conjunto de escolas, de cursos e de centros de pesquisas, além de suas grandes escolas de nível médio de demonstração de organização e de métodos de ensino.

O pensamento é de que todas essas unidades guardem a sua autonomia, mas ofereçam oportunidades aos educadores matriculados no Instituto de nelas realizar os cursos que tenham relação com as especialidades de sua escolha.

A aplicação ampla de um mecanismo de créditos torna possível o funcionamento de um regime interdisciplinar.

Extensão dos cursos e graus

Não se pode prever antecipadamente a extensão dos cursos do Instituto que se tem em vista, dado o tipo de estudo baseado em pesquisas e levantamentos, cujos dados constituirão uma parte muito importante do trabalho dos estudantes. É prever-se um período de duração não menor de 12 meses.

A conclusão de tais cursos assegurará aos alunos o grau de mestrado.

Tipo de recrutamento de estudantes

Os candidatos serão recrutados entre graduados em cursos universitários, com a grau de bacharelado ou de licenciado, de preferência entre os que já estejam engajados no ensino de Faculdade de Educação ou na administração dos sistemas escolares dos Estados. Considerando-se o quadro das realidades brasileiras, deve ser admitida também a hipótese de matrículas de pessoas pertencentes aos quadros da administração ou das pesquisas dos citados sistemas, com significativa experiência no trato de problemas escolares, que possa ser considerada como equivalente a uma graduação universitária.

Um organismo especial do Instituto manter-se-á em contato permanente com as Escolas de Educação e secretarias de Educação, objetivando descobrir os candidatos em melhores condições.

A matrícula será, portanto, altamente seletiva, no duplo sentido de qualificações pessoais e de garantia de utilização dos candidatos no seu regresso.

Inicialmente o número de matrícula no Instituto não deveria exceder de quarenta em cada período escolar.

Recrutamento de professores e pesquisadores para o Instituto

Os professores brasileiros a serem engajados nos trabalhos do novo Instituto serão, em primeiro lugar, recrutados entre aqueles que já trabalham, em diferentes unidades da Fundação, em atividades de pesquisa e de magistério, com grau de mestrado obtido em Universidade norte americana ou longa experiência no magistério universitário e em altos postos de serviços escolares no País.

Uma segunda fonte de recrutamento de pessoal do alto nível, para i Instituto, seria o das Universidades Brasileiras e alguns Institutos de Educação do País. Nessa área deverá a Fundação proceder com parcimônia, evitando desfalcar os quadros de tais instituições, que o novo Instituto pretende fortalecer.

Assistentes e instrutores e outros auxiliares de pesquisa e de ensino, podem ser recrutados entre jovens graduados de talento.

Cooperação de uma universidade norte americana

Parte importante do plano é a da cooperação de uma Universidade norte americana na implantação e nos primeiros anos de atividades do projeto.

Tal cooperação tem em vista, entre outros objetivos, por juntos especialistas e pensadores brasileiros e estrangeiros no estudo e na pesquisa da situação nacional, das soluções graduais de sua problemática.

Os professores da Universidade norte americana também terão a seu cargo atividades docentes. Os cursos de doutorado serão por ela ministrados.

Cooperação com universidades brasileiras

A possibilidade de uma ação conjugada do novo Instituto com as niversidades situadas nas cidades do Rio de Janeiro e de Niterói foi também objeto de conversações preliminares entre os Reitores dessas entidades com o Presidente da Fundação Getúlio Vargas.

Tal entendimento poderia permitir modalidades variáveis de cooperação de que seria exemplo a da freqüência em matérias dos cursos de pós-graduação do Instituto de alunos daquelas Faculdades e vice-versa, com a concessão conseqüente dos respectivos créditos. Outra fórmula seria a de facilidades na utilização mútua das bibliotecas das entidades citadas, ou a cessão temporária de professores, ou a realização - conjugada de certas pesquisas ou ainda a outorga por algumas daquelas universidades de mandato universitário à Fundação, na forma de seus estatutos ou regimentos para a realização de determinados cursos de pós-graduação em educação.

Esboço de desenvolvimento do Projeto

Primeiros seis meses:

a) escolha de um diretor ou coordenador;

b) escolha dos chefes dos Departamentos;

1. de systems analysis;

2. de curriculum-construction;

3. de organizações e administração escolar;

4. de fundamentos filosóficos e sociais de educação;

c) escolha de um staff mínimo de cada Departamento acima;

d) levantamento da biblioteca de documentos sobre a educação brasileira;

e) entendimentos com as administrações estaduais de educação e com as Faculdades de Educação o Recrutamento de um número limitado de candidatos para o primeiro curso;

f) articulação com o Centro de Pesquisas de Testes e Medidas para a sua utilização pelo primeiro curso;

g) elaboração do plano de pesquisas e de cursos a serem realizados seguinte de 12 meses;

h) início de pesquisas e de levantamentos possíveis;

i) fixação de regime interdisciplinar com as demais unidades da Fundação.

1º período de 12 meses:

a) prosseguimento de atividades de pesquisa e levantamentos;

b) início do 1º curso de pós-graduação;

c) planejamento do curso e das pesquisas para o período seguinte;

d) escolha de equipes adicionais (mais 2 prof. E 2 assistentes);

e) seleção de candidatos para o período seguinte.

3º período de 12 meses:

a) prosseguimento de atividades de pesquisas e levantamentos;

b) repetição do curso de pós-graduação realizado no 1º período;

c) início de novos tipos de cursos de pós-graduação;

d) escolha de equipes adicionais de professores, pesquisadores e auxiliares.

4º período de 12 meses

Estimativa de custos em cruzeiros

  1969 1970 1971 1972 1973
Instalações 100.000,00 50.000,00 20.000,00 10.000,00 10.000,00
Biblioteca 20.000,00 150.000,00 50.000,00 50.000,00 50.000,00
Equipamentos 50.000,00 50.000,00 30.000,00 20.000,00 20.000,00
Administração 30.000,00 40.000,00 50.000,00 60.000,00 70.000,00
Prof. Assistente e
Instrutores
50.000,00 100.000,00 200.000,00 300.000,00 400.000,00
Bolsas para alunos - 100.000,00 150.000,00 200.000,00 200.000,00
Despesas com pesquisa
e levantamento
30.000,00 200.000,00 250.000,00 300.000,00 300.000,00
T O T A L 280.000,00 690.000,00 750.000,00 940.000,00 1.050.000,00

Financiamento do Instituto Avançado de Educação

O problema do financiamento do Instituto, colocado no último capítulo deste documento constitui, entretanto, preocupação preliminar.

A Fundação Getúlio Vargas é um organismo que habitualmente recebe mandatos para realizar determinados programas de interesse público. Para tal fim, lhe são assegurados fundos de outras entidades públicas ou privadas.

A maioria dos seus cursos e de suas pesquisas vêm sendo financiadas pelo Governo Federal do Brasil, através de seus ministérios.

O governo municipal da cidade de São Paulo, o Banco de Desenvolvimento Econômico e órgãos semelhantes, vêm ajudando, também, a realização de projetos de treinamento de pessoal.

Organismos internacionais vêm igualmente assegurando à Fundação Getúlio Vargas para a execução de projetos específicos. Estão neste caso a USAID, o CONTAP, a Fundação Ford e a OEA.

No caso do projeto do Instituto de Estudos Avançados de Educação pode-se prever, dada a natureza do plano, que o seu custeio permanente venha a ser efetivado, principalmente com fundos procedentes do Conselho Nacional de Pesquisas, de algumas universidades e de administrações estaduais de educação.

Em nosso entende o novo Instituto deverá captar larga aceitação do meio brasileiro, dentro de dois a três anos de funcionamento.

O fato de propor-se a treinar professores para as Faculdades de Educação e administradores e pesquisadores para os sistemas escolares do País, emprestará a nova organização, um sentido de alta oportunidade.

Como o aval da Fundação Getúlio Vargas, de uma renomada Universidade norte americana, estamos certos de que o novo Instituto ganhará o necessário crédito inicial que fortalecido pela qualidade do seu trabalho.

Com tais títulos estará o novo Instituto em condições de apresentar-se perante órgão brasileiro encarregado pela lei de acreditar centros de graduação de professores universitários e receber a missão de treinar uma parte importante do magistério - das Faculdades de Educação.

O seu maior problema é o do início, o da decolagem em boas condições. Acreditamos que a Ford Foundation e a USAID possam desempenhar função preciosa nessa fase criadora e serem assim o fomento de singular poder e importância no desenvolvimento do problema educacional brasileiro.

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