REIS, Solon Borges dos. Coloque-se a política a serviço da educação. Entrevista. Diário de São Paulo. São Paulo, 9 jan. 1959.

MANIFESTA-SE O PRESIDENTE DO C.C.P.

COLOQUE-SE A POLÍTICA A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO

Há dez anos paralisado na Câmara Federal o projeto de lei de Diretrizes e Bases do Ensino - Verbas ridículas, falta de escolas e professôres desempregados - Inviável, no momento, a sugestão do técnico Anísio Teixeira

A propósito da entrevista concedida pelo prof. Anísio Teixeira, reconhecido técnico de educação, em que sugere seja o curso primário no Brasil aumentado de quatro para seis anos - opinião que já vem defendendo já algum tempo, ouvimos ontem o professor Solon Borges dos Reis, presidente do Centro do Professorado Paulista.

CALAMITOSA A SITUAÇÃO DO ENSINO

- "Antes de mais nada, quero dizer que o problema educacional no Brasil e em São Paulo já assume aspectos de calamidade pública. No que diz respeito ao ensino primário, a situação é das piores, haja visto o número de reprovações e a falta de escolas. Estas não dão nem para atender ao número de professôres formados. Tanto isto é certo que o número de vagas no concurso de ingresso ao magistério primário é muito inferior ao de professôres inscritos. Enquanto há dezesseis mil professôres substitutos (parcialmente desempregados), há quase outro tanto sem poder exercer inteiramente sua profissão. Este é o quadro em um Estado onde há elevada percentagem de analfabetos.

IMPOSSÍVEL AGORA A REFORMA PRECONIZADA

- Na situação atual - prossegue o presidente do Centro do Professorado Paulista - penso que a reforma preconizada pelo sr. Anísio Teixeira, é impraticável. Aceito a sua tese, mas para a futuro. Evidentemente, seria muito melhor termos cursos primários com a duração de cinco, seis e até dez anos, como ocorre na Europa, a possuirmos escolas primárias cujos cursos não vão além de três ou quatro anos. Para já poderíamos admiti-lo a título de experimentação em uma outra escola.

NÃO HÁ VERBAS NEM ESCOLAS

Esclarece-nos, então, o prof. Solon Borges dos Reis que, no momento, as verbas destinadas ao ensino são ridículas, muito menores que as dotações de outros ministérios ou secretarias e que, da que se destina ao ensino primário - apenas oito por cento é encaminhada para a construção de prédios e outros bens materiais. O restante - cerca de 92% - destina-se ao pessoal.

PARALISADO HÁ DEZ ANOS

Acentua o nosso entrevistado que a má vontade para com o ensino no Brasil vai a tal ponto de o projeto de Diretrizes e Bases encontrar-se há mais de dez anos paralisado na Câmara Federal. "Ainda agora, quando pensávamos que ele tivesse andamento, ficou relegado a segundo plano".

"POLÍTICA A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO"

Conclui o deputado Solon Borges dos Reis criticando a irresponsabilidade em relação ao ensino: "É preciso que todos concordem em que a política, os políticos e os partidos precisam de ser colocados a serviço da educação. Jamais a educação a serviço da política".

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