TEIXEIRA, Anísio. O ginásio de hoje corresponde ao grupo escolar anterior à revolução. Entrevista. Diário de Minas. Belo Horizonte, 7 nov. 1956.

"O ginásio de hoje corresponde ao grupo escolar anterior à revolução"

Caiu o padrão do ensino no Brasil após 1930, declara o diretor do INEP - Seis anos (a partir de 1957) de curso primário obrigatório no País - Em janeiro a instalação do Centro de Estudos Pedagógicos em Belo Horizonte - Formação de uma elite técnico-científica

- "Precisamos de modificar o ensino, principalmente o primário e secundário, atualizando-o à nossa realidade social. Nos últimos anos, a expansão educacional do Brasil foi maior do que esperávamos e para a qual estávamos preparados" - falou ao DIÁRIO DE MINAS o professor Anísio Teixeira, diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos.

O conhecido educador chegou quarta-feira a Belo Horizonte, onde veio inaugurar dependências do Instituto de Educação, construídas com a colaboração do INEP. Também deveria ter sido instalado, com sua presença, um Centro Regional de Pesquisas Educacional em Belo Horizonte. No entanto, a instalação do Centro ficou para janeiro.

O INSTITUTO

A respeito da utilidade desse instituto, falou o sr. Anísio Teixeira:

- "Uma das providências do govêrno, ao pretender modificar o ensino de base no Brasil, é a criação dos Centros Regionais de Pesquisas. Acreditamos que não é possível elaborarem-se leis e programas de educação, no Rio de Janeiro, por exemplo, sem orientar o ensino em todo o país. Os centros servirão para estudar as melhores práticas do ensino, que se devem adaptar às condições locais. O resultado desses estudos servirá de norma a um Centro Nacional de Estudos Pedagógicos, orientando, dessa forma, o ensino em todo o país. O Centro Regional de Minas Gerais será instalado em janeiro próximo, em Belo Horizonte. Aliás - continuou - o INEP já fez estudos sôbre o ensino primário no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Ceará. Esperamos publicar em breve os estudos sôbre o ensino primário em Minas, contando já com os resultados do Centro a aqui se instalar. Elaboraremos também vasta literatura a respeito do ensino, procurando, desta maneira, levar as práticas mais interessantes de educação ao professorado de todo o Brasil.

CAIU O PADRÃO DE ENSINO

Continuando as sua declarações ao DIÁRIO DE MINAS, afirmou o professor Anísio Teixeira:

- "De um modo geral, caiu o padrão de ensino no Brasil, depois de 1930. Podemos mesmo afirmar, com alguma melancolia, que o grupo escolar antes da Revolução, era o ginásio de hoje. E o ensino humanístico - principalmente - ministrado pelos ginásios de então, é hoje levado aos alunos pelas atuais Faculdades de Filosofia. Quais as razões que nos trouxeram a esta realidade? É que a necessidade de professores e o aumento dos estabelecimentos de ensino médio, fizeram com que se deteriorasse o ensino primário. Os melhores professores primários foram chamados aos ginásios, atraídos por melhor situação. Por outro lado, a improvisação do ensino secundário contribuiu muito para isto. Se, antes de 1930, a Escola ia em busca do aluno, hoje a fome de saber leva os alunos à Escola, em número muito maior do que a capacidade dos estabelecimentos de ensino. Em 1930 possuíamos 2.000 professores de ensino superior, hoje o seu número é de 12.000. Ora, no ensino secundário aconteceu a mesma coisa. O número de mestres se multiplicou, em apenas vinte e cinco anos, evidentemente com prejuízo do padrão de ensino. É natural que haja fraquezas no ensino".

DILATAÇÃO DO ENSINO PRIMÁRIO

- "O melhor caminho que encontramos é a melhoria do ensino, desde o primário até o superior. E para isso, achamos razoável aumentar o período de ensino primário para seis anos. Os dois últimos equivalerão aos dois primeiros do ginásio, podendo o aluno saído do grupo escolar iniciar o estudo secundário já no terceiro ano ginasial. Os estabelecimentos de ensino ginasial poderiam assim ministrar, sem dificuldade o curso de colégio, preparando o aluno para o ingresso posterior na Universidade".

- "No ano que vem o Ministério da Educação auxiliará os Estados com 100 milhões de cruzeiros, que se destinam à adaptação material dos prédios escolares, a fim de que êles suportem mais os dois anos de ensino. Aliás, o ensino primário de seis anos foi reconhecido, em recente congresso de educação realizado em Lima, como o necessário às condições atuais da América Latina".

ELITE TÉCNICA

Prosseguindo, afirmou o prof. Anísio Teixeira:

- "O Brasil já está se tornando um país industrial. Ora, sendo assim, precisamos de uma elite técnico-científica. E o nosso ensino é quase todo êle humanístico. Talvez seja por isso que os alunos, com o passar dos anos, abandonam as escolas, chamados à realidade prática. De quatro e meio milhões de alunos que ingressam no curso primário, apenas 390.000 o terminaram. Desses, 100.000 concluem o ginásio e apenas 17.000 chegam ao fim do curso de colégio, aptos a ingressar na Universidade. Nós estamos usando de uma civilização emprestada por vários países. E precisamos urgentemente criar uma civilização nossa, dentro da realidade de nossas condições econômicas e sociais. Por isto, devemos levar os jovens ao objetivo de nossas necessidades, forjando uma elite de técnicos e de cientistas, dos quais carecemos para o nosso progresso" - terminou o sr. Anísio Teixeira.

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