A ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

   A Associação Nacional de Educação é uma associação profissional voluntaria de mestres americanos que conta cerca de 200.000 membros - era a nota que tinha no itinerario de minha viagem, organizado por Miss Mabel Carney, por gentileza do Instituto Internacional.
   Já conhecia, de leituras, a actividade da N.E.A. e o seu grande prestigio no meio profissional educativo. O segredo de sua efficiencia, sabia eu ter sido a circunstancia de haver tornado possivel a participação do professor no movimento directivo e organizador da educação neste paiz e alem disto, de estar valiosamente cooperando para uma larga unidade do plano nacional de ensino.
   Mas estava longe de imaginar para uma sociedade privada e voluntaria o que a minha visita aos seus quarteis generaes, emWashington, me proporcionou vêr.
   O edificio, na rua 16, nº 1201, é um edificio de ministerio e o seu movimento é realmente o movimento de uma poderosa organização.
   Estive, cerca de uma hora, com o snr. J. W. Crabtree, secretario geral da Associação.
   O snr. J. W. Crabtree tem, praticamente, a seu cargo toda a actividade executiva da sociedade. É sempre um conforto conversar com esses homens ou essas mulheres, que na America, têm a responsabilidade do movimento educativo. O snr. Crabtree não faz excepção, antes a confirma esplendidamente. Apezar do grisalho dos seus cabellos, é possuido do mesmo contente enthusiasmo americano, do mesmo espirito missionario, que no fundo ainda é o nervo da mais idealista das civilizações que já houve no mundo, - a civilização americana.
   Fallando do prodigioso desenvolvimento recente da A.N.E. dizia-me: - Os senhores no Brasil podem fazer o mesmo. É uma questão de não querer dominar mais de querer ajudar, é uma questão de esquecer o eu, a personalidade, e trabalhar para o serviço e pelo serviço que se presta.
   Mal sabia o snr. Crabtree que, na sua enthusiastica e natural expressão, elle tinha marcado uma das mais profundas opposições entre a psychologia do nosso povo e a psychologia do americano.
   É exactamente essa idéa de serviço, que floresce nas sociedades profundamente lastradas de um idealismo substancia e effectivo, aquillo que mais flagrantemente nos falta. E é essa idéa de serviço que domina, na America, a grande actividade educativa e organizadora deste paiz, que vae dominando a industria e que dominará o proprio commercio.
   Entre nós, porem, a pessoa, - uma perigosa e mediocre ambição individual, domina o espirito das nossas organizações, tornando quasi impossivel a concepção e o "team-work", palavra que é hoje, na America uma especie de senha nacional.
   No Brasil ajudar um ao outro é enfraquecer-se e facorecer o sucesso alheio. A obra que sabe, que appetece a esse morbido espirito nacional de vaidade, é a de diminuir, de impedir a prosperidade, de negar collaboração, de fechar os olhos ao servico alheio e, afinal, a de descobrir ou inventar a fenda insignificante, por onde perante o publico, a obra possa ser desmoralizada.
   Não é essa permanente campanha de discredito de tudo e de todos, no Brasil, que torna quasi irrespiravel o ambiente brasileiro e que leva um irreprimivel desgosto ás suas actividades mais bem intencionadas?
   Em Nova-York, em conversa com um dos nossos mais famosos escriptores nacionaes, que recentemente transferiu residencia para a America, confirmavamos, um ao outro, essas mesmas impressões.
   - E V. não vae escrever para o Brasil, não vae contar, um pouco, á nossa gente, as lições da America?
   - Para que, me dizia elle, para que?...
   Poucos serão os que, entre nós, tenham dado, de coração e de intelligencia, a sua actividade ao Brasil e que, em voz alta ou no fundo da consciencia, não façam essa mesma triste pergunta.


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