O ORGÃO FEDERAL DE EDUCAÇÃO NA AMERICA
O Bureau de Educação

   Despendi os dias 7 e 8 em Washington, visitando alguma das organizações centraes de educação.
   Não é em Washington que está o segredo das fontes de organização e desenvolvimento americano, mas essa linda e tranquila capital desse dynamico paiz é um optimo centro para se estudar em resumo e em estatisticas qualquer das suas actividades.
   Os quarteis-generaes em Washington das grandes organizações americanas são curiosos quarteis-generaes de onde não emanam ordens, mas onde se recolhem, se medem e se estudam resultados.
   O Bureau de Educação é um exemplo typico desse caso.
   Representando o principal orgão educacional do governo da União, o Bureau de Educação, suborfinado ao Departamento do Interior, é o que os americanos chamam muito apropriadamente uma "clearinghouse". A sua funcção consiste em levantar estatisticas, proceder a estudos, apresentar sugestões e fazer inqueritos. Com a complexidade do serviço educacional da America isso representa uma formidavel actividade.
   É extraordinario o numero de publicações que os diversos departamentos especializados desse Bureau, editam annualmente, afim de manter em dia o estado das multiplas e variadas actividades educativas do paiz.
   A minha visita teve que se limitar ao departamento de educação rural, ao departamento de publicações e ao departemento de educação de adultos.
   Miss Edith Lathrop, do serviço de educação rural, Mr. J. C. Boykin, do departamento de publicações, editor da revista School Life, mantida pelo Bureau de Educação, e o Dr. Aldermann, especialista em educação de adultos, entretiveram-me por espaço de mais de duas horas. Alem das publicações que gentilmente me forneceram, puzeram-me ao par da situação dos diversos problemas connexos com os seus departamentos.
   O problema de educação rural tem-nos occupado e vae occupar-nos especialmente, em outras visitas.O departamento de publicações não offerece interesse especial para nós.
   A educação de adultos é um problema que nos toca mais de perto.
   O ultimo censo americano de 1920, revelou a percentagem de 6% de analphabetos na America. Os estudiosos dessa questão julgam que esse numero, praticamente, é gravemente excedido. Um test dado pela Armada em 1917 para determinar para que deveres militares os recrutados estavam melhor preparados, revelou que 25% dos examinados não eram capazes de ler com comprehensão.
   São esses factos e outros que estão a desafiar a actividade americana para uma immediata solução do problema.
   O dr. Aldermann julga que 20 a 30 milhões de americanos adultos aproveitarão ou terão que aproveitar de uma educação elementar.
   A matricula das escolas publicas nocturnas era, em 1924, de quasi um milhão de alumnos.
   Emfim, os americanos estão a atacar o problema com os conhecidos processos de coragem e de amplitude que lhe permittem os seus grandes recursos.
   Seria longo trazer para aqui todos os factos e numeros sobre o problema. O que desejo accentuar, porque me pareceu especialmente lucida, é a observação do Dr. Aldermann sobre os resultados da educação de adultos. Nenhum investimento de dinheiro publico, disse-me o Dr. Aldermann, revelou, na America, resultados tão surprehendentes, como o empregado na educação de adultos. Tenho aqui varios casos de villas e aldeias que duplicaram em dois e tres annos a sua capacidade de taxação, devido á educação dos adultos analphabetos. E isso, aliás, é facil de comprehender. A educação da criança representa um emprego de capital a longo prazo.
   Os juros virão e abundantes, mas 10, 12 annos depois. A educação do adulto é immediatamente productiva. É dinheiro cuja renda se vae colher no dia seguinte.
   Não será digna de meditada essa consideração pelos nossos homens publicos? Ha, no Brasil, uma corrente mais ou menos geral que considera virtualmente perdida essa espantosa geração de adultos analphabetos que nos esmaga e pensa bartar-nos cuidar da geração infantil para ver si a salvamos de igual desgraça.
   Mas o centro do nosso problema educacional é a questão de dinheiro. Si o meio mais immediatamente lucrativo de empregarmos o pouco que temos é o da educação de adultos, porque não nos determos com mais insistencia nesse problema e porque, especialmente, não deter um pouco mais a mão do organzador dos nossos orçamentos nessa columna de educação de adultos?
   A idéa da intervenção do poder federal no serviço de ensino primario é uma das obsessões de muitos dos nossos patriotas que julgam que esse passo, só por si, realizará o milagre de educar o Brazil.
   Porque, pois, não organizar o Governo Federal um largo plano liberal de educação dos adultos, por um systema de auxilios intelligentemente distribuidos? A unica intervenção possivel do Governo Federal na solução do problema educativo é a de dar dinheiro aos Estados. Controlar, unificar o serviço de educação elementar, parecem-me soluções, sinão erroneas, pelo menos perigosas. A educação elementar deve ser um serviço estadual e local.
   Mas que o Goveno Federal tomasse a seu cargo uma vigorosa expansão da educação dos adultos, com os processos de annuncio e os methodos de efficiencia que a America está a ensinar-nos, poderia representar para o Brasil qualquer cousa muito parecida com um milagre, no seu immediato desenvolvimento e immediato progresso.


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