Assisti á discussão da classe de Introducção aos Methodos de Ensino. O problema era: qual seria o melhor meio de ensinar á criança a vida primitiva do homem. Foi uma hora em que pude vêr um problema tratado com uma sinceridade, com uma rectidão e com uma iniciativa, que me surprehenderam.
   Será preciso accentuar as vantagens outras desse methodo, que habitua á exactidão do pensamento publicamente discutido, á hospitalidade com a opinião alheia, ao cuidado de manter julgamentos suspensos, á confiança e á segurança de pensar?
   Esse espirito da aula-problema domina hoje a educação americana desde a classe primaria até a universidade.7
   É um prazer vêr a simplicidade e a segurança com que a criança, ou o estudante de universidade, exprime a sua propria opinião.
   Muitas vezes tive, em cursos da Universidade de Colombia, crianças de 7, de 10 e de 12, 13 annos, em frente a nossa turma, em trabalhos de classe, que eram simultaneamente demostrações para nós.
   Pois bem, essas crianças lidavam com seus problemas, com suas lições, como si nós não existissemos.
   Francos, ingenuos, deliciosos de intelligencia, ás vezes, e sem vislumbre, sem signal de acanhamento.
   Em publico ou sosinhos, esses meninos participam do mesmo espírito de confiança em si proprios e de segurança, que impulsiona toda a civilização americana.
   Outras vezes, em classes que visitava, a professora indagava si algum dos alumnos tinha alguma pergunta que me fazer sobre o Brasil. Immediatamente, um, dois se levantavam e me punham em voz clara, com phrases completas, alguma questão que os interessava a tal respeito.
   Desci, depois, á escola annexa, onde assisti ao trabalho de todos os estudantes.
   As classes são requintes de organização moderna e surprehendentemente ricas de toda sorte de material.
   Nos primeiros annos do curso, onde o desenho e o trabalho manual e a livre actividade das crianças predominam, o ambiente respira a kindergarten e a escola é tudo, menos o velho typo tradicional que conhecemos.
   As carteiras desappareceram e foram substituidas pelas mesas, pelos cavalletes de desenho e grande quantidade de taboas, apparelhos de armação, material, enfim, para um dia activo, de estudo de algum problema e de alguma construcção.
   As officinas de trabalho manual para os estudantes do curso normal tambem estavam funccionando activamente nessa tarde de minha visita. Na occasião em que cheguei á sala, trabalhavam as alumnas que se destinavam ao ensino do jardim de infância.
   Todos os problemas e todos os trabalhos consistiam em executar objectos que as crianças de Kinderfarten naturalmente quereriam construir e executar.
   Estive, depois, com Mr. E. Curt. Walther director do departamento do curso geral (professionalized subject matter) e professor de geographia.
   Não me foi possivel assistir á sua aula. Palestramos, porem, bastante para me ser dado obter uma idéa geral do seu processo. Methodo, criança e geographia são os tres factores do seu curso. A sua aula é um problema de ensino. A geographia, os factos geographicos são ensinados incidentalmente, como documentação necessaria á solução do problema de ensinar á criança, em certa idade, determinadas cousas.
   Effectivamente, elle não ensina geographia, mas ensina a ensinar geographia. Tenho á minha frente, offerecido por elle, o fascículo que acaba de publicar sobre "Suggestões para o ensino de Geographia da Africa" e que, um dia, espero poder commentar.
   Um professor do centro-oeste, aqui na America, disse em um Congresso de Educação, que em sua escola, elle "não ensinava arithmetica, - ensinava crianças".
   Ganhou fama de dito, e hoje todos o repetem. Não basta conhecer a materia, é indispensavel conhecer a criança e as leis a que obedece o acto de apprender.
   Concluí a minha visita com uma vista pela bibliotheca. Vinte e cinco mil volumes. Era a fonte que permittia o trabalho original e rico das classes.


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