Acompanhei durante todo um dia escolar classes de linguas, de sciencias, de agricultura e algum trabalho de officinas.
   O ensino é dado debaixo do aspecto pratico geral americano, mas a escola não visa a realização de nenhum programma moderno e especifico de methodo.
   Os seus methodos são os methodos tradicionaes.
   As classes são cordiaes, estimuladoras e o ambiente é o ambiente americano de liberdade, iniciativa e ausencia total de temor, receio ou acanhamento.
   O desenho ou o trabalho manual não são dados com caracter educativo, mas profissional ou vocacional. O trabalho das officinas só é exigido quando em relação com o curso especial escolhido pelo alumno.
   Não quero deixar de me referir ao primeiro exercicio escolar a que me foi dado assistir na escola e que constitue um exercicio diario e compulsorio.
   Todos os alumnos se reunem no auditorio e collectivamente fazem uma solemne saudação á bandeira americana; a seguir entôam um hymno religioso, ouvem a leitura de cinco a dez versiculos da Biblia, rezam em voz alta uma oração e o exercicio se conclue com algumas palavras do director,consultado antes o corpo discente si algum dos alumnos não tem qualquer communicação que fazer.
   São, talvez, dez minutos cheios que deixam uma grata impressão ao visitante, que reconheça a utilidade desses rapidos instantes de concentração espiritual.

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   Deixei a escola secundaria de Flemington ás 3 horas da tarde. A senhora Lawson, inspectora municipal das escolas tomou-me no seu carro, para mostrar-me outros aspectos de sua pequena cidade relacionados com a educação e as condições da vida local.
   Desnecessario dizer que ella mesma guiava o automovel.
   Dos noventa professores que tem o municipio de Hunterdon, dos quaes 50 se achavam sob a inspecção da senhora Lawson, apenas 4, me informou a inspectora escolar, não tem automovel proprio.
   A primeira visita que fizemos foi a uma fazenda proxima da villa. Referi-me anteriormente á minha impressão. Passamos por diversas outras e salvo mais largas ou menores proporções o seu aspecto e organização se repetem. Uma casa de residencia, uma garage, uma criação de gallinhas, um estabulo, uma leiteira, um sillo, campos de plantação.
   Em seguida visitamos uma fabrica de ceramica onde pude fazer idéa de uma das industrias locaes. A fabrica é pequena, mas o seu trabalho é interessante e caracteristico.
   A escola de canto coral de Flemington occupou a seguir a nossa attenção. Com uma matrícula de 200 crianças é um curioso typo de escola, que funciona das 15 horas até tarde, durante a noite.
   Á educação musical accrescenta-se uma finalidade religiosa, preparando as crianças para o canto coral nas igrejas. As crianças frequentam a escola em grupos catholicos e protestantes e apprendem respectivamente os canticos de suas igrejas.
   A seguir fomos encontrar a presidente da Associação municipal de Paes e Professores.
   Essa associação existe, hoje, em toda a America e reliza um trabalho de grande vulto, auxiliando o serviço publico de ensino.
   Não só desperta um util espirito de cooperação moral entre a familia e a escola, como provê uma multidão de pequenas cousas concretas e praticas de immediata necessidade.
   Por exemplo, uma escola da localidade precisa de uma victrola, para um ensino mais efficiente de musica, a P. T. A.6 organiza um festival e compra a victrola desejada e assim, em mil outros casos.
   Em Flemington o serviço de assistencia dentaria, e uma livraria ambulante em via de ser realidade, são os ultimos serviços em que está a Associação empenhada.
   A presidente, Mrs. C. F. Dickenson, é um caso de devotamento americano, enthusiasta e com esse ligeiro tom missionario, que caracteriza neste paiz, as mulheres preocupadas com a actividade social.
   Ao volta, visitamos o serviço de hygiene escolar mantido pela Cruz Vermelha Americana.

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   No dia seguinte, visitei duas escolas ruraes, uma com um só professor para os seus oito gráus e outra com dous professores e pude observar de que modo o mestre americano consegue contrabalançar as difficuldades e as deficiencias de tal organização com os actuaes programmas de ensino.
   Uma das escolas que possuía apenas uma sala, com cerca de quarenta alumnos, offereceu-me um typo de trabalho notavel. A professora organizou esses alumnos em quatro grupos, representando cada um dois gráus do seguinte modo: o grupo B comprehende os alumnos mais adeantados do 3º gráu e mais atrazados do 4º, o grupo C comprehende os mais adiantados do 4º e os mais atrazados do 5º, e assim por diante.
   Todos os alumnos estão sempre em trabalho. O desenvolvimento especial da leitura silenciosa e a grande quantidade de material para trabalhos manuaes, exercicios e toda sorte de actividade que o alumno pode ter sosinho (seat-work), torna possivel esse facto.
   Assisti a varias lições e, si algumas eram pobres, outras eram dadas em perfeitas condições modernas e constituiam verdadeiros problemas em cuja solução professor e alumnos se empenhavam.
   A biblioteca dessas pequenas escolas é particularmante interessante. O que me pareceu, porem, em conclusão, ser o segredo que explica como essas escolas isoladas, na America, podem prover uma educação que não é, sensivelmente, inferiorá das escolas urbanas, é o intelligente systema de inspecção. O inspector está continuamente nas escolas, estuda e discute com os professores, reune-os semanalmente para balanço das actividades, organiza conferencias, enfim auxilia e assiste technicamente e moralmente ao professor que arca com o trabalho de seis horas diarias e o isolamento dessas modestas escolas.


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