AGUIAR, Tereza Guanais. Escola Normal de Caetité: menina dos olhos de Anísio Teixeira. Anísio - O Centenário. Caetité, 12 jul. 2000. p.11.

Escola Normal de Caetité: Menina dos Olhos de Anísio Teixeira

Tereza Guanais Aguiar

No exercício do cargo de Diretor Geral de Instrução Pública da Bahia, no Governo Góes Calmon, Dr. Anísio Teixeira, decidido a descentralizar o ensino, escolheu Caetité como "Centro da região Sertaneja em matéria de ensino público". E aqui plantou a primeira escola normal oficial do interior da Bahia, com esperança de que dela saíssem mestres "com nova mentalidade pedagógica".

Criada através da lei 1846, de agosto de 1925, sua inauguração ocorreu no dia 21 de abril de 1926. Contou com a presença marcante de Dr. Anísio, vindo de Salvador para presidir e prestigiar aquele evento, de tanta significação para sua terra natal. Foi com grande festa que Caetité comemorou a célebre conquista.

Com brilhantismo e entusiasmo, no seu profundo discurso, expressou sua confiança nos professores, escolhidos para regentes da escola, a quem encarregava a sublime tarefa de transformá-la na "casa de formação dos mestres das crianças sertanejas". Falou de novos métodos de ensino, enfatizando a importância do desenvolvimento das potencialidades da criança na sala de aula. Concitou os presentes a se unirem para uma luta comum, em favor da grandeza da escola.

"Que sejam verdadeiros formadores de mestres", foram os votos com que o Dr. Anísio Teixeira declarou instalada a Escola Normal de Caetité.

Encorajados, os professores saíram daquela festa, com a responsabilidade de preparar mestres para "educar crianças para o futuro".

De alto nível foi o primeiro corpo docente da nova escola.

Jovens de todos os municípios da região aqui vieram estudar. Concluído o curso, partiam, de diploma na mão, pelo sertão a fora, onde exerceram a nobre missão de educar. Procuraram fazer o melhor, como verdadeiros heróis, desbravando nossa região no campo educacional. E assim os anseios de Dr. Anísio se concretizaram.

Também fiz parte desta cruzada, pois ali me diplomei em 1944. Na segunda administração na Bahia, aprovada no concurso por ele instituído, fui nomeada para servir na zona rural, onde se iniciava a carreira.

Em 1928, acompanhado pelo governador Góes Calmon, Dr. Anísio volta a Caetité, em visita à escola, chamada pelos que com ele trabalhavam "de menina de seus olhos", tão grande era seu entusiasmo e interesse por ela.

Na oportunidade, recebeu uma estátua de bronze, com símbolos da sabedoria, em agradecimento a seus feitos pela educação de Caetité, oferta dos primeiros regentes da Escola Normal.

Dois meses depois, a estátua foi devolvida aos ofertantes, acompanhada de uma longa carta, de 1º de junho de 1928. Através dela, os professores tomaram conhecimento da boa impressão que Góes Calmon levou da escola e receberam incentivo para continuarem a desenvolver, com entusiasmo e amor, o trabalho que resultou no crescimento da escola.

Confessando-se "O devedor", Dr. Anísio não aceitou "os papéis invertidos", por achar que dele deviam sair os agradecimentos aos abnegados mestres, pelos seus serviços prestados ao ensino da Bahia. Pela sua afeição já devotada àquela escola, quis fazê-lo depositária de gratidão, sugerindo que a estátua ficasse no Salão Nobre, onde serviria "de estímulo para os estudos e ao mesmo tempo documento da estima e do apreço do corpo docente à sua escola". Esta decisão foi um atestado de desprendimento de grandeza de espírito, de senso de justiça.

A estátua faz, hoje, parte do acervo da "Casa Anísio Teixeira". Os visitantes, ao conhecerem sua procedência, demonstram admiração pela atitude carinhosa dos professores da tradicional escola para com o "Grande Mestre".

Que as comemorações de seu centenário sejam um despertar para o conhecimento de seu perfil, de suas obras, de suas idéias. Um "mexer" pelo fortalecimento da escola pública. Destinada a "formar a consciência da nação", ela é o único meio para se construir uma verdadeira democracia.

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