LOBO NETO, Francisco José da Silveira. Homenagem. In: Semana do aniversário da Faculdade de Educação - UFF. Abertura do Ciclo de Palestras "O Centenário de Anísio Teixeira", Niterói, 23-26 maio 2000. Niterói, UFF/Faculdade de Educação, 2000.

Francisco José da Silveira Lobo Neto
loboneto@domain.com.br

   Difícil imaginar a alegria de aqui estar, nesta Semana de Aniversário da Faculdade de Educação, abrindo o Ciclo de Palestras Comemorativo do Centenário de Anísio Teixeira.
   Alegria primeira por poder estar, junto com nossos alunos, na homenagem ao seu Patrono, cujo nome marca de compromisso com a educação pública, o Diretório Acadêmico.
   Alegria também por abrir este Ciclo com a presença de Baby, cuja devoção filial e dedicação pessoal, tem sido garantia e estímulo pela preservação e socialização do legado cultural deixado por seu pai e nosso educador.
   Alegria ainda – e muito grande – por poder contar com a palavra de Clarice, uma das vozes mais autorizadas, pelo aprofundamento de seus estudos, na análise do pensamento e da contribuição de Anísio Teixeira à Educação Brasileira.
   Anísio Teixeira é uma escolha significativa de celebração neste momento. Outro centenário de personalidade marcante se comemora este ano e que toca fundo em nossa história educacional.
   Por que Anísio?
   Celebrar Anísio é celebrar a cidadania que se faz poder a serviço da coisa pública, é celebrar a cidadania que se desfaz do poder na intransigente defesa do direito de todos.
   Celebrar Anísio, mais do que celebrar o educador que ele de nós todos foi, é celebrar o educando que se constituiu para sempre aluno de toda a vida, construindo si mesmo na infância e na adolescência, na juventude e na maturidade. Anísio estudante, colega, amigo, marido, pai, mestre, intelectual, dirigente, empreendedor, cidadão, político, escritor, pensador, filósofo, comunicador, referência.
   Celebrar Anísio, mais do que celebrar uma personalidade, é celebrar a concretização, nele, de uma síntese privilegiada da trajetória de um povo que, contra a conspiração de muitos (os que são poucos com toda a riqueza e todo o poder), realiza, no esforço de sempre retomar, o Projeto Histórico - Político – Pedagógico da Sociedade Brasileira.
   Celebrar Anísio é comprometer-se com este Projeto Democrático que respira educação para a liberdade e que inspira liberdade para a educação, que constrói com liberdade a realização da justiça e da solidariedade. Na materialidade e concretude da escola pública, de todos e para todos, gratuita e de qualidade.
Celebrar Anísio é manter-se na ação e na reflexão, envolvendo-se no debate e no combate, na explicitação das diferenças como busca dos caminhos de entendimento e realização, praticando a mais absoluta tolerância com a divergência e repudiando absolutamente a arrogância dos intolerantes.
   Celebrar Anísio é entender a educação como humanização, conquista que só será verdadeira quando todos, socialmente solidários, tiverem como direito as condições de avançar na superação do presente, na construção das respostas coerentes aos desafios que se venham a apresentar.
   "Há presentes incendiados de fermento intelectual e presentes estagnados e inertes. É que nos primeiros o passado está vivo no presente e nos entreabre o futuro. Nos outros, depreciamos o presente e quedamos inertes na adoração do passado. Toda verdadeira crise humana é uma crise de compreensão do presente, neste sentido de ponto de interseção entre o passado vivo e o futuro que vai nascer." (...) "Cabe-nos nada mais, nada menos, do que vencer a crise de compreensão bem mais complexa em que se debate a sociedade em desenvolvimento. Tornar o presente compreensível a despeito de suas contradições, por intermédio do que chamamos cultura..." (...) "Cabe-nos, afinal, acompanhar o processo de iniciação e integração social de cada indivíduo no mundo confuso e tumultuado de nossa sociedade em transformação" (...) "Para vencer a crise em que nos debatemos é a educação, é a escola, é a descoberta, a formulação e a difusão da cultura brasileira ... (como forma de ) ajudar o povo a construir e fazer com o material de toda a História brasileira, somando o exemplo e a experiência, os erros e os acertos dos que já morreram, dos que vivem e dos que irão viver, a fim de prosseguir na obra sempre inacabada de criação, revisão, adaptação e contínua reconstrução do caráter nacional".1

1. TEIXEIRA, Anísio. Educação no Brasil. São Paulo, Editora Nacional, 1969, pág. 367-385, passim (Discurso de Paraninfo aos concluintes da Faculdade de Filosofia da UFBA - Salvador 12/12/1967).

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