JORNAL DO BRASIL. Anísio Teixeira é achado morto em poço de elevador. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 15 mar. 1971.

Anísio Teixeira achado morto em poço de elevador

Desaparecido desde quinta-feira pela manhã de sua casa, foi encontrado morto às 17h40m de ontem no poço do elevador do prédio 48 da Praia de Botafogo, o professor Anísio Teixeira, um dos mais conceituados educadores do país.
O professor Anísio Teixeira vestia terno e gravata, mas estava sem sapatos e com um grande hematoma na face direita. Ao lado, havia uma pasta preta, de couro. O prédio onde seu corpo foi encontrado é o mesmo onde mora o acadêmico Aurélio Buarque de Holanda, a quem o professor Anísio Teixeira iria visitar ao deixar a sede da Fundação Getúlio Vargas na manhã de quinta-feira.

Morte Suspeita
A 10ª Delegacia Policial registrou o caso como suspeita de homicídio, mas, até as últimas horas da noite de ontem não se sabia se se tratava de homicídio ou acidente.

Um missionário da Educação
Homem acostumado a títulos e diplomas ao longo de tôda a sua vida, o baiano Anísio Teixeira ficou uma noite sem dormir quando os amigos foram convidá-lo para candidatar-se à Academia Brasileira de Letras, na vaga do professor Clementino Fraga.
No dia 13 de janeiro dêste ano, o internacionalmente conhecido professor Anísio Teixeira era visitado em sua casa de Itaipava por três acadêmicos que lhe acenavam com a glória do jardão da ABL. Êle relutou, ficou tôda noite insone, mas acabou aceitando aquela que seria sua última disputa. Como a eleição ainda não foi realizada, deixa de ser enterrado no Mausoléu dos Imortais, embora sua vitória fôsse considerada tranquila.
Baiano de Caetité, Anísio Teixeira faria 71 anos no dia 12 de julho. Desde jovem dedicado ao setor educacional, inspirou ou marcou com sua influência tôdas as reformas do ensino brasileiro. Suas doutrinas muito influenciaram não só a educação brasileira, como o sistema educacional da América Latina.
Autor intelectual da Universidade de Brasília e seu primeiro reitor, o professor Anísio Teixeira teve como último cargo o de membro do Conselho Federal de Educação. Completou o curso secundário no Colégio dos Jesuítas, em Salvador, e o de Direito no Rio de Janeiro; graduou-se em Ciências de Educação pela Universidade de Colúmbia nos EUA. Era o secretário de Educação e Cultura do Distrito Federal, em 1935, quando por iniciativa sua foi instituída a Universidade do Distrito Federal, historicamente a origem da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil.
Um dos principais objetivos do professor Anísio Teixeira talvez tenha sido o de situar a educação como o maior problema político brasileiro e o de lhe dar base científica e técnica, associando-a às ciências sociais. Suas aulas, conferências, artigos, entrevistas e livros formam um conjunto de obras dos mais importantes já produzidos sôbre educação em língua portuguêsa.
Em seu trabalho Educação não é Privilégio, publicado em 1957, defendeu a necessidade de ajustar a educação à diversidade das condições concretas, fazendo dela um instrumento de mudança e progresso. Admitia a escola particular, independente da pública, livre tanto no campo confessional como no leigo, sem ingerência estatal. Anísio Teixeira acreditava que a liberação do disciplinamento legislativo e a descentralização administrativa são as condições essenciais para a reconstrução educacional do Brasil.
Além de ensaios, estudos e palestras, o professor Anísio Teixeira deixou as seguintes obras publicadas: Aspectos Americanos de Educação, Vida e Educação, Educação Progressiva, Em Marcha para a Democracia, Educação Pública do Rio de Janeiro, Educação para a Democracia, A Universidade e a Liberdade Humana, Educação e a Crise Brasileira, Educação não é privilégio e Diálogo sôbre a Lógica do Conhecimento, êste com o professor M. Rocha e Silva.
Atualmente estava disposto a escrever tudo aquilo que não pôde por falta de tempo. Esta revelação foi feita ao jornalista e acadêmico Odilo Costa, filho, a quem Anísio Teixeira visitou para pedir seu voto para a Academia. Odilo deve ter sido a última pessoa a ver Anísio Teixeira vivo, e dêste último encontro êle guarda a recordação de um homem extremamente míope, que só não foi jesuíta para não contrariar o pai, e que lhe disse que nunca, como agora "havia provado o leite da bondade humana."

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