PARTE PRIMEIRA
FUNDAMENTOS DE EDUCAÇÃO

   John Dewey é, na América, o philosopho que mais agudamente traçou as theorias fundamentaes da educação americana. A nenhum outro pensador é dado alli um logar tão saliente na systematização da theoria moderna de educação.
   Apresentar, pois, na Bahia, em um breve resumo, tão fiel quanto me foi possível, as idéas com que Dewey fixa o actual sentido de educação, pareceu-me meio talvez favorável, para despertar um interesse concreto pela revisão de nossas proprias concepções.

CAPÍTULO PRIMEIRO
SENTIDO ACTUAL DE EDUCAÇÃO

   Em derradeira analyse, educação é o processo por que a vida social se perpetua.
   A circunstancia de estarmos condemnados a um constante renovamento da vida pelo nascimento e morte, cria-nos a necessidade de uma continua transmissão de valores sociaes e moraes a que se chama educação.
   No princípio, quando as sociedades apenas ensaiavam os seus primeiros progressos é fácil comprehender como essa communicação entre um e outro membro do grupo, o mais novo e o mais velho, a criança e o adulto, se operava de um modo muito menos complexo.
   Era o proprio exercicio social, em seu jogo simples de peças elementares, que realizava as condições educativas primitivas desses tempos.
   A criança crescia participando progressivamente da actividade do adulto, educando-se. Essa participação, essa posse de cousas em commum, é, em essencia, o alvo e o objectivo da educação. Tornar a criança um membro da sociedade e membro com plenos direitos e plena efficiencia, é tudo o que busca realizar a educação.
   Á medida, porem, que a sociedade foi progredindo e dos pequenos rudimentos de caça e pesca, chegou ás complexas formas de civilização moderna, a aprendizagem natural e directa tornou-se impossivel.
   A somma de conhecimentos, de aspirações, de sentimentos, que compõe a tela dos nossos dias civilizados já não é accessivel sinão atravez de esforços coordenados e longos.
   A criança joje não tem aberta diante de sí a vida da sociedade adulta, de modo que possa perceber, por meio de uma directa communicação na vida collectiva, a sua intelligencia e o seu sentido.
   É indispensável uma agencia especial - a escola, e um grupo de especialistas - os professores, para tornar possivel a educação da infancia.
   Mas, educação deve ser o processo natural de participação na vida collectiva. A escola surge como uma agencia especial e expressa para produzir um resultado que a directa participação na vida social tornou, devido a sua complexidade, precaria ou impossivel.
   Essa distinção não se opera sem perigos. O pequenino indio que se inicia nos segredos da guerra e na arte de caça e da pesca, educa-se por um processo directo e vital, cuja efficiencia nunca é demais accentuar.
   A sua educação é o seu proprio crescimento. Elle cresce em habilidade, em vigor, em coragem, em impulso, cresce em commando e dominio das circunstancias do seu ambiente.
   O pequenino civilizado cresce na escola, onde, em vez de um arco, lhe dão um livro e, em vez a vida, um ambiente artificial e mechanico de noviciado.
   A letra é o instrumento fundamental de sua educação, a ponto de illetrado se tornar synonimo de ineducado.
   É, pois, sempre util lembrar esse sentido originario e constante de educação e recordar que a escola é apenas o imprescindivel substituto, ou, para sermos mais exactos, o actual complemento da educação que permanentemente recebemos da sociedade.


Página anterior Página 2/72 Próxima página
Índice