Outra theoria de educação, de que Herbart foi o maior representante, tem seu fundamento na idéa de que educação é a formação da mente por meio de associações e connexões produzidas pela apresentação de objectos externos.
   Herbart nega a existencia de qualquer faculdade innata.
   A mente é simplesmente dotada do poder de produzir differentes resultados em reacção ás diversas realidades que agem sobre ella. Essas recções, qualitativamente differentes, são chamadas apresentações. Cada apresentação, uma vez realizada, persiste na parte sub-consciente da mente e condiciona as futuras apresentações. Attenção, memoria, percepção, sentimentos não são mais do que combinações, associações, enrelaçamentos, provenientes de uma constante inter-acção dessas "apresentações" submergidas.
   A grande vantagem dessa theoria foi a de criar uma technica de educação que nunca foi ultrapassada. Sendo a formação da mente inteiramente resultado da apresentação dos materiaes adequados, a educação passou a obedecer a uma serie de "passos" formaes e minuciosos e a uma rigorosa especificação do seus exercicios.
   Abolindo, por outro lado, a idéa das "faculdades", essa concepção fez convergir a attenção para o objecto e o conteúdo dos estudos e nesse sentido foi grande a sua cooperação nos modernos processos de ensino.
   O seu erro está em ignorar as funcções activas e específicas do educando. Como diz Dewey, é a theoria do Mestre-escola todo poderoso. A concepção de que a mente é um producto total do ensino e que o ensino só é valioso emquanto permitte mais ensino, reflecte o ponto de vista do pedagogo. A theoria de Herbart é mais feliz nos seus resultados, do que acertada nos seus fundamentos.

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   Ha uma certa theoria educativa que se pode chamar theoria retrospectiva de educação.
   Em uma forma que não alcançou grande sucesso, essa concepção se baseia em um supposto desenvolvimento do individuo, paralello ao desenvolvimento da especie. O desenvolvimento do individuo, physica e mentalmente, passa pelos mesmos estagios da evolução da vida animal e da historia humana. É uma theoria que tem a sua fascinação. A criança recapitula a humanidade. Em certa edade, está nas condições mentaes e moraes do selvagem, depois nas condições de vida pastoril e assim por diante até participar do actual estado de vida contemporanea.
   Essa phose da theoria nunca teve, entretanto, grande aplicação.
   Mas, o seu proposito de dar á educação uma base fundamental no passado, teve e tem, ainda hoje, a mais larga influencia. A educação é considerada, primariamente, uma acquisição da herança espiritual do passado e sobretudo dos productos ou resultados litterarios do passado.
   Erra essa concepção em suppor que educação é apenas um processo para a conquista de alguma cousa distincta desse processo: o resultado. A educação, porém, é uma funcção que existe por si mesma e em si mesma. Educar é crescer, desenvolver. O processo educativo e o seu resultado são uma cousa só. Educar é viver. E o indivíduo vive somente no presente. O estudo dos productos ou resultados do passado não nos auxilia a comprehender o presente, porque o presente não succede a esses productos, mas a vida de que elles eram resultados.
   Os conhecimentos do passado só tem significação quando participam do presente. O erro em fazer do passado o principal material de estudo está em que esse methodo corta a connexão entre passado e presente e tende a fazer daquelle um rival deste e do presente uma futil imitação do passado.
   E dahi todas as perversões da cultura, toda as infantis ideas de passado como refugio, como isolamento.
   O estudo do passado é um grande recurso para a imaginação, accrescenta uma nova dimensão á vida, mas com a condição de que seja comprehendido como o passado do presente e não como um outro mundo formoso e isolado.
   Em vez de fugir das cruezas do presente para os refinamentos do passado, o estudante deve utilizar o passado para amadurecer e refinar o presente.

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   Em contraste com as theorias anteriores de desdobramento de latentes forças internas ou de formação por influencia de forças externas, sejam physicas ou naturaes, ou culturaes e historicas, a concepção de Dewey é, como vimos, de que a educação é um processo de crescimento, é o processo intelligente da vida. Educação é um processo de constante reorganização e reconstrução de nossas experiencias. Infancia, juventude, vida adulta estão no mesmo nível educativo, no sentido de que o que se apprende, em qualquer sorte de experiência, constitue o valor dessa experiencia e a sua qualidade educativa.
   Dewey, assim, define educação: é o processo de reconstrucção e reorganização da experiencia, de sorte a augmentar-lhe e ampliar-lhe o sentido e, assim, conseguir mais larga habilidade para dirigir o curso de subsequentes novas experiencias.
   1) augmenta o sentido de experiencia: - Si effectivamente desejamos colher resultado educativo da experiencia, devemos nos empenhar no conhecimento e na percepção das connexões e actividades em que ella nos envolve;
   2) augmenta o poder de direcção e controle de subsequentes experiencias, porque a experiencia soffrida nos enriquece com varios conhecimentos novos de connexões que ignoravamos, tornando menos incerta a nossa proxima tentativa.
   Assim, pois, a experiencia educativa se distingue essencialmente da experiencia caprichosa ou rotineira. A primeira só incidentalmente será educativa e então deixará de ser caprichosa. A segunda nos ensino uma habilidade cega e não nos dá nenhum poder para lidar com situações novas.
   A concepção americana de educação é uma concepção tão larga, que se identifica com a vida, mas com uma vida conduzida com intelligencia e consciente lucidez.
   Tudo que fôr mechanico, artificial, automatico, não é sinão limitadamente educativo.
   A distincção entre o resultado educativo e o processo de attingil-o, é que deu logar a todos esses methodos machinaes de que as escolas são ainda um triste repositório.
   Para Dewey a educação é o permanente processo por que reconstruimos a nossa experiência e perpetuamente nos ajustamos ao meio essencialmente movel e dynamico da vida humana.
   A estabilidade da educação, como a estabilidade da vida moderna, se mantem pelo constante movimento.


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