ANÍSIO - MODELO DE VIRTUDES HUMANAS


Outro conterrâneo, também conhecido nos meios educacionais de todo o Brasil, que participou do livro, analisando "episódios de sua vida e sua luta", foi o Prof. Péricles Madureira de Pinho, que o conhecera há mais de quarenta anos, acompanhando-o durante a sua longa vida pública.

"Quando chegou a Salvador, recém-formado, em 1923, hospedou-se numa pensão francesa na Rua da Vitória, quatro ou cinco casas depois da em que residíamos. E a excepcionalidade da cultura e do talento do rapazinho foi notado por um homem de rara sensibilidade, ali também residindo, Michel Poncet, que a transmitiu a meu pai, na minha presença, em termos os mais calorosos."

O Prof. Péricles Madureira de Pinho relata fatos que merecem ser relembrados, principalmente por ter sido testemunha ocular. Vejamos alguns:

Viagem com Arcebispo Primaz

"A primeira viagem à Europa, no ano seguinte - 1925 - para observar os sistemas escolares da França e da Bélgica, foi na companhia do arcebispo Dom Augusto, o atual Cardeal da Silva, seu amigo de sempre. Estou a ver o embarque, em navio, que os levava ao Porto de Bordéus (era assim, à portuguesa, que Dom Augusto pronunciava o nome do porto francês), e ouço ainda o Pe. Cabral, ao deixarmos o navio, dizer a ambos: - "Muitas invejas os acompanham."

A Comunhão de Anísio

Outro fato relatado pelo Prof. Péricles Madureira de Pinho:

"Meu pai, já então Secretário de Polícia e Segurança Pública de Calmon, quase diariamente nos dava Anísio como exemplo de seriedade no estudo e capacidade no trabalho. Dentro do ritmo de renovação do governo a que servia, ele transformou a Penitenciária do Estado. Os detentos passaram a trabalhar em amplas oficinas. Na festa com que se comemorou o acontecimento houve a comunhão dos sentenciados. A emoção dos presentes já era intensa e maior foi quando Anísio Teixeira, Diretor do já então Departamento de Instrução Pública, marchou entre os presos para a mesa da comunhão com a sua fita de congregado mariano."

Sempre em Passo Acelerado...

"De estudante era a sua atitude e seu aspecto. Recordo fato curiosíssimo daqueles dias quando minha avó, já quase aos 90 anos, apontou Anísio que passava ante nossa casa: - "Está porque o ensino de hoje é mau; enchem um menino tão pequeno de livros, como esse que vai aí." Não era outra a impressão que dava o rapaz de pequena estatura, sempre em passo acelerado, sobraçando pastas e livros."

Outro fato, histórico na vida de Anísio, é recordado pelo Prof. Péricles Madureira de Pinho, citando entrevista concedida ao jornalista Odorico Tavares, em 1952, para o jornal Diário de Notícias, de Salvador, da qual transcreve o seguinte texto:

"É preciso que se saiba que abandonando o Amapá e ficando com o último" (o convite), deixava Anísio Teixeira um dos maiores negócios que já se fizera no Brasil: a concessão do minério de manganês cujas jazidas são as maiores do mundo. Entre a concessão praticamente sua e servir à sua terra, ao lado de um amigo seu, preferiu a segunda fórmula. É um capítulo a ser dito e com vagares sobre um homem e um grande homem a quem, geralmente, não se faz justiça como merece, pois injustiças cercam, em todos os tempos, temperamentos e personalidades como a sua."

Ganhou a Bahia e o Governo Mangabeira, com a importante decisão, pois voltaria Anísio ao cenário da educação nacional, realizando uma administração que lhe valeu o justo título de o maior Secretário de Educação que a Bahia já teve.

Anísio para o Ministério da Educação

Outro fato relembrado pelo Prof. Péricles:

"Terminado o governo Mangabeira, pensou Anísio em retornar à vida privada, dispondo ainda de todos os elementos que nela deixara. Iniciava-se, porém, o governo constitucional do presidente Getúlio Vargas, em 1951, e o Ministro da Educação era o baiano Ernesto Simões Filho. Vale recordar os dias que antecederam a formação do novo governo, em janeiro de 1951. Simões Filho esforçou-se por obter apoio de todos os seus amigos políticos, saindo dentre eles um ministro baiano, jovem e capaz. Citava Aloisio de Carvalho e Anísio Teixeira como possíveis ministros da Educação, no governo a iniciar-se e Nestor Duarte, como ministro da Agricultura, pasta que acabara de ocupar no seu Estado, se a escolha do Presidente pendesse para esse Ministério."

O Ministério da Educação continuou com a Bahia. A escolha terminou recaindo no nome do ilustre jornalista Dr. Ernesto Simões Filho. Anteriormente o Ministério tivera como titulares dois outros baianos: Dr. Clemente Mariani (de 6.12.46 a 15.5.50) e Prof. Pedro Calmon (de 4.8.50 a 31.1º.51). O Dr. Simões Filho foi Ministro durante o período de 31 de janeiro de 1951 a 24 de junho de 1953. A sua gestão foi seguida de dois outros baianos: Antônio Balbino de Carvalho Filho e Edgar Rego Santos. A esses nomes se junta o do Prof. Péricles Madureira de Pinho, que foi Ministro interino. Foi o ciclo baiano no Ministério de Educação e Cultura.

Anísio Diretor do I.N.E.P.

Exatamente na gestão de Simões Filho é que Anísio Teixeira seria convocado para servir ao Ministério da Educação e Cultura, após haver exercido o cargo de Secretário de Educação e Saúde. Mais uma vez, com a palavra o Prof. Péricles Madureira de Pinho:

"Em abril de 1952, desapareceu bruscamente, numa catástrofe aérea, Murilo Braga, jovem diretor do INEP. O golpe foi muito violento para todos da equipe do ministério, mas não havia como demorar a escolha de substituto. Simões não teve um minuto de dúvida e fixou-se logo em Anísio, para levá-lo ao próximo despacho com o Presidente. Getúlio Vargas nessas oportunidades era assediado pelos mais íntimos e lhe foram apresentados nomes de muito valor para a direção do INEP. A um dos postulantes foi muito franco o Presidente: - "Para cargos desse porte o Ministro da Educação tem sempre um baiano de indiscutível merecimento." E foi assim narrando o episódio que ele deu inteiro apoio à nomeação de Anísio Teixeira."