Quando estudamos o movimento para a reorganização do curriculum escolar, na America, nos surprehendemos com a severidade com que os auctores julgam os antigos programmas.
Harold Rugg, da Columbia University3 inicia um estudo sobre - O curriculum e o Drama da Vida Americana, - dizendo textualmente:
"Nem uma só vez, em um seculo e meio de historia nacional, o curriculum escolar coincidiu com o conteúdo dynamico da vida americana. A escola americana tem sido essencialmente academica."
Illustrnado essa these, Harold Rugg se detém em uma analyse do drama americano, desde a conquista do continente, a continua victoria sobre a terra, com a desvairada expansão para o oeste, em que o homem prolongava a fronteira do paiz, dia a dia, em uma obsessão de campo livre para sua descompassada energia de pioneiro, - até a revolução industrial que colheu o paiz apenas explorado e conhecido e lhe deu, subitamente, o mais assombroso apparelhamento de multiplicação da força dominadora do homem, elevando a uma potencia desconhecida a sua capacidade acceleradora de desenvolvimento.
Nos primeiros dias dessa conquista, como nos ultimos cincoenta annos de consummação industrial, o espectaculo americano é um espectaculo de vertigem.
Uma illustração esclarecedora.
As grandes fortunas americanas datam de 1870, 1880. Cornelio Vanderbilt valia, em 1865, dez milhões, e em 1877, deixa uma fortuna de 104 milhões.
De 1890 a 1915 os titulos e acções das diversas corporações americanas cresceram de 200 milhões de dollares para 20 bilhões, que representam um valor de cerca de 100 bilhões, em um paiz cuja riqueza total é estimada em pouco mais do dobro desta somma.
Conquista da terra, industrialismo, urbanização, educação em massa (mass-education), foram os diversos passos de um seculo de desenvolvimento.
Ao lado dessa marcha accelerada da nação, a escola se movia lentamente e desajustadamente. O divorcio entre a escola e a sociedade somente nas tres ultimas decadas, com os ataques de W. James, Dewey, Thorndike, Woodworth, Judd e seus estudos das leis biologicas do crescimento infantil, da psychologia e do proprio curriculum, e que começou a desapparecer.
Quaes as razões por que no meio febril da vida americana a escola guardou um rythmo tão compassado?
Diz Harold Rugg que a razão de mais alcance foi "a tendencia do espirito ameicana para divorciar a educação da vida pratica".4
A vida americana se expandiu "em duas correntes inteiramente diversas: uma, a corrente economica pratica; outra, academica, intellectual, de-outro-mundo, a corrente de educação e das letras".
"Dominado constantemente pelo temor da insegurança economica, o americano typico, - o artifice urbano, o empregado de escriptorio e o fazendeiro de hoje, como o seu ancestral explorador do oeste, de ha um seculo passado, - é impellido por uma incessante energia. O americano tem sido, atravez da historia, um criador, explorador e accumulador de cousas e dollares, um homem duramente metalico em quem a meditação e a reflexão raramente tiveram uma opportunidade para desenvolver-se. A vida no continente americano foi governada primariamente pela questão de alimento; e a especulação e a generalização tiveram minusculo papel na mente do homem".
Tendo os seus começos á sombra da religião e muitas vezes financeiramente por ella supportada, a educação tornou-se uma cousa á parte, distincta da corrente avassaladora dos negocios. Como o objectivo religioso deu logar, porem, bem cedo ao evangelho da efficiencia social, o curriculum e a vida americana estreitam um pouco o abysmo que os separava. Entretanto o povo americano ainda desejou por muito tempo, que suas escolas e suas igrejas exprimissem um idealismo espiritual do qual elle vagamente sentia certa necessidade, mas de que se achava privado ou que havia perdido.
Duas outras razões, igualmente fortes, embora mais materiaes, foram a orientação academica dos professores que escreveram os livros escolares americanos e o entricheiramento des seus auctores e das casas editoras, nos respectivos livros; esses factos difficultaram em muito qualquer transformação dos programmas tradicionaes.
As ultimas tres decadas, entretanto, foram o theatro de um extenso movimento revisionista do antigo programma escolar, por intermedio de commissões ou conselhos nacionaes de technicos nas diversas materias. Muito longo seria historiar a actividade e os resultados dessas revisões, todas ellas parciaes e carecentes de uma direcção scientifica ou educacional nos moldes da nova theoria que Dewey, Thorndike e outros estavam lentamente construindo.
Geralmente, não foram essas commissões constituidas de estudiosos de curriculum, isto é, de estudiosos de habilidades, interesses e capacidades da criança, valôres do ensino (rates of learning), distribuição pelos graus escolares, experimentação e analyse social.
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