TEIXEIRA, Anísio. Sem Título. Diário de Notícias. Salvador, 3 mar. 1963.

ANÍSIO
TEIXEIRA

Considero Gilberto Freyre o marco mais significativo no longo esfôrço de introspecção que vimos todos fazendo para tomar consciência de nosso país, de nossa história, de nossa cultura.

Ficamos todos mais brasileiros com sua obra. Em outra época, seria o pensador de sua geração; neste século vinte, é o seu maior sociólogo.

Mas, a Sociologia em suas mãos torna-se uma como ciência das ciências, no sentido de se nutrir de todos os conhecimentos humanos, para depois relaborar o conhecimento da realidade no seu mais alto nível: o social. O físico, o biológico, o mental contribuem, sem romper a sua continuidade, como "graus de associação ou de realidade', para integrar "o social", ou seja a realidade mais ampla e complexa, aquela em que as associações atingem a sua mais alta ordem de potencialidades.

Tal ciência constitui, com efeito, não apenas uma ciência, mas todo um nôvo mundo científico, uma nova família de ciências, desdobrando-se em ramos e especialidades.

Precisamos, assim, ver sua obra sociológica como uma introdução ao mundo das ciências sociais, de que a Sociologia seria a expressão mais geral, nem por isto, entretanto, menos diversificada, para compreender a variedade e a riqueza de material com que Gilberto Freyre houve por bem jogar para iniciar o estudante ou acompanhar o professor em suas explorações no imenso universo recém-descortinado.

Só um autor simultâneamente, pensador, escritor e sábio, poderia escrever Sociologia, sem incorrer no vício fundamental do suposto livro didático, que é o de não conseguir ser útil, por assim dizer, senão aos que já conheçam satisfatòriamente o assunto.

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