CORREIO DA MANHÃ. Simulação Educacional. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 23 out. 1957.
Localização do documento: Fundação Getúlio Vargas/CPDOC - Arquivo Anísio Teixeira - ATj61

Simulação educacional

Ainda está para examinar-se a fundo a herança burocrática do Estado Novo, como um dos males persistentes que vem resistindo a tudo no país, desde que em 1945 se reimplantou a república democrática.

O prof. Anísio Teixeira, em entrevista que ontem publicamos, comenta alguns aspectos dessa herança no setor da educação, afirmando que o ensino, sob o contrôle total do Estado, se transformou numa simulação, em um processo de validação legal da escolaridade brasileira. A legislação do ensino é, em essência, totalitária, representando imposições federais de planos unitários de organização, que invadem a espera da iniciativa individual, a das atribuições expressas dos Estados e a da consciência profissional dos membros do magistério.

Produtos de uma burocracia dominante, frutos cerebrinos de determinadas pessoas, que detinham o poder de legislar durante a ditadura, as prescrições legais concernentes à educação e aos méritos de ensino, não possuem um sentido real de tradição e não representam, assim, a cultura brasileira.

Entretanto, como se apresentam cada dia, mais difíceis de ser removidas tais prescrições! Sucedem-se os governos, propõem-se novos planos educacionais, e a matéria, de fundamental importância e ressônancia na formação da vida nacional, conserva-se dentro dos critérios políticos e administrativos das imposições de um poder absoluto, cujas marcas não se consegue apagar.

A simulação educacional prossegue, dessa forma, inalterada, quando, de um govêrno a outro, o que se observa é o mais arraigado descaso pelas funções e pela autoridade do Ministério da Educação e Cultura, relegado à ordem das derradeiras compensações no rateio e preenchimento dos cargos públicos.

O artifício e desajustamento denunciados pelo sr. Anísio Teixeira respondem, de resto, ao caráter artificial do conjunto mesmo do planejamento dos governos, que começam por conceber obras de projeção econômica e cultural, esquecendo-se que nada se empreenderá sem a preparação de quadros, que não se podem encetar pelo meio, ou pelo fim, nas tentativas universitárias, mas pela base do aprendizado regular e compatível, a partir da sua primeira esfera.

| Artigos de Jornais ou Revistas | Entrevistas |