JORNAL DO SENADO. Senado homenageia centenário de Anísio Teixeira. Jornal do Senado. Brasília, 28 jun. 2000.

Senado homenageia centenário de Anísio Teixeira

Todas as idéias modernas em educação que se discutem hoje ja haviam sido lançadas por Anísio Teixeira há pelo menos 50 anos, afirmou ontem o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) durante a sessão de homenagem ao educador baiano, cujo centenário de nascimento será comemorado em 12 de julho. O presidente do Senado fez um relato das realizações de Anísio Teixeira em prol da educação em tempo integral.

- Foi na Bahia que nasceu a escola-parque, um conceito inovador de ensino que consagrou a escola em tempo integral. Ele era um gênio, certamente o homem mais inteligente de sua época. Em todos os cargos que exerceu, e foram muitos, Anísio sempre se destacou e inovou. Num país mais justo do que o Brasil, ele teria sido pelo menos ministro da Educação - disse.

Na opinião de ACM, o país deveria prestar mais homenagens ao educador, que segundo ele foi injustiçado em vida "por causa da inveja dos incapazes". Ao observar que durante a homenagem a galeria do Senado estava repleta de crianças em idade escolar, o senador afirmou que essa presença não era coincidência, mas um reconhecimento do trabalho incansável de Anísio em prol de uma educação de melhor qualidade, que "hoje, finalmente, os estudantes brasileiros estão recebendo".

Távola destaca ideais republicanos do educador

A homenagem ao centenário de nascimento do educador Anísio Teixeira foi proposta pelos senadores: Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), Artur da Távola (PSDB-RJ), Djalma Bessa (PFL-BA), Paulo Souto (PFL-BA), Nabor Júnior (PMDB-AC) e Carlos Patrocínio (PFL-TO). O professor baiano é considerado o pioneiro no Brasil da educação em tempo integral. A solenidade teve a presença do ministro da Saúde, José Serra.

Ao discursar na homenagem, o senador Artur da Távola lembrou a luta de Anísio pelos ideais republicanos e democráticos e sua convicção de que a educação seria o grande elemento para transformar a sociedade, criando uma verdadeira soberania popular. Era esse o motivo pelo qual ele atribuía maior importância ao ensino primário do que ao universitário, explicou o senador.

Segundo Távola, Anísio acreditava que a escola não deveria ser um simples prédio onde se acumulam crianças, mas sobretudo um lugar para se pensar com grandeza, capaz de criar o homem inteligente e apto para compreender o mundo e a sociedade. "A revolução não se faz com o socialismo, mas através da democracia", disse o senador citando Anísio Teixeira.

O senador citou como as maiores contribuições de Anísio Teixeira à educação brasileira sua ênfase na pesquisa como parte da educação. "Grande defensor da ciência e tecnologia, afirmava que, se o Brasil não se entrosasse na busca tecnológica, iria ficar para trás. Foi profético, porque foi exatamente isso que aconteceu", concluiu Távola.

Em aparte, o senador Bernardo Cabral (PFL-AM) afirmou não haver setor da educação no Brasil que não tenha recebido boas influências de Anísio Teixeira. Também em aparte, o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) disse que o país seria hoje uma potência se, à época, tivesse seguido as idéias do educador.

Paulo Souto ressalta visão democrática

O senador Paulo Souto (PFL-BA) lembrou ontem em Plenário a importância da visão democrática do professor Anísio Teixeira, que em 12 de julho faria 100 anos. O parlamentar discursou durante homenagem ao centenário do educador, realizada durante a primeira hora do expediente. Para Anísio, disse Souto, a democracia é o sistema político mais difícil, mas "por isso mesmo o mais humano e o mais rico". A educação, também defendia o educador, deve atingir a todos com o objetivo de formar cidadãos livres e responsáveis.

O senador citou uma afirmação do educador baiano durante debate sobre orçamento público na Assembléia Constituinte baiana, em 1947: "A justiça social, por excelência, da democracia consiste nessa conquista da igualdade de oportunidades pela educação. A democracia é, assim, o regime em que a educação é o supremo dever, a suprema função do Estado". O educador ocupava à época o cargo de secretário da Educação e da Saúde da Bahia, e propunha que o estado, seguindo experiências observadas no exterior, calculasse a receita orçamentária para educação prevendo uma determinada quantia por criança recenseada.

Paulo Souto ressaltou as qualidades do educador e do homem de ação, mas procurou enfatizar a clareza, a argúcia e a critividade do filósofo da educação que foi Anísio Teixeira, baiano de Caetité, como o senador. Disse o parlamentar que, do pai, Deocleciano Pires Teixeira, Anísio herdou valores liberais e cientificistas, temperados pela experiência como aluno de um colégio jesuíta. Apoiado pela mulher, dona Ana de Souza Spínola, Deocleciano queria fazer do filho um magistrado e político, mas ele desejava se tornar missionário. Acabou nomeado secretário de Instrução pelo governador da Bahia em 1924.

Disse certa vez Anísio Teixeira: "Por volta de 1927, senti haver superado estas mortais contradições, reconciliando-me com a filosofia que primeiro me influenciara, a do espírito naturalista e científico de que tentara me afastar o ultramontanismo católico dos jesuítas.

Embora fosse um intelectual, Anísio soube realizar o que pregava, tendo sido responsável pela criação de inúmeros cursos e pela construção de milhares de escolas e duas universidades. Afastado temporariamente de sua atividade por motivos políticos, também mostrou-se competente como empresário, atuando na área da exploração mineral.

- Ele sonhou com uma escola que não apenas ensinasse a ler, mas que educasse, formasse hábitos e atitudes - disse o senador.

Para Alcântara, influência pode ser verificada ainda hoje

As idéias de Anísio Teixeira foram concretizadas em obras fundamentais à integração do país à civilização letrada, muitas delas presentes em contribuições que até hoje orientam a educação nacional, avaliou ontem o senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE) durante a sessão em homenagem ao educador baiano. O parlamentar exemplificou essa influência com a obrigatoriedade de aplicação de um percentual orçamentário na área de educação, o reconhecimento da autonomia local e a valorização do planejamento educacional, com suas etapas de diagnóstico e elaboração de diretrizes e prioridades.

- Outra concepção educacional de inspiração no pensamento de Anísio é a escola em tempo integral, idéia tão explorada pelos Cieps, Ciacs e Caics de nosso tempo - acrescentou.

Pensador e gestor de instituições educacionais, Anísio Teixeira deixou um legado, na opinião de Alcântara, às instituições em que trabalho: o mesmo idealismo, entusiasmo e capacidade com que sobreviveu a várias adversidades. "É o caso do Inep, da Capes e da UnB, que, não obstante as dificuldades enfrentadas, continuam a prestar relevantes serviços à educação brasileira", afirmou.

O senador afirmou que Anísio Teixeira foi "o mais injustiçado de nossos educadores", por ser incompreendido em relação a suas idéias. Foi assim, disse, quando, após a Revolução de 30, Anísio Teixeira assumiu o cargo de diretor do Departamento de Educação do Distrito Federal e, prenunciando o Estado Novo, teve seu afastamento pedido por grupos católicos, que classificavam suas idéias de esquerdistas.

Suplicy elogia luta para reduzir as desigualdades

A luta de Anísio Teixeira pela democratização da educação como forma de dimunuir as desigualdades sociais foi ressaltada pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), durante a homenagem prestada ontem. Ele lembrou que, já no início da década de 30, Anísio, junto com Fernando de Azevedo e Lourenço Filho, escreveu o Manifesto dos Pioneiros, defendendo a socialização do uso da técnica e da ciência em benefício do bem-estar de toda a sociedade, preocupado com a harmonização dos interesses individuais e coletivos e com o aumento da produtividade.

Anísio Teixeira acreditava que a escola teria uma função "salvadora" das populações carentes, diminuindo as desigualdades sociais, afirmou Suplicy.

O senador destacou também a luta do educador "contra a dicotomia entre o ensino propedêutico (para os ricos) e o profissionalizante (para os pobres), contra a histórica divisão feita pela educação da colônia entre o pensar e o fazer". A equivalência, acrescentou, foi formalmente conquistada no início da década de 50 e, hoje, perdida formalmente pelo Decreto 2.208/96, que propõe a reforma da educação profissional no país.

- Se nosso querido educador ainda fosse vivo, com certeza estaria protestando contra o divórcio que a lei educacional brasileira promove, aprofundando a divisão entre a formação geral e a formação profissionalizante, fugindo da perspectiva de uma educação integral e abrangente para pobres e ricos, divergindo, inclusive, do novo perfil de qualificação exigido hoje para que o trabalhador tenha mais instrumentos na luta por sua inserção no mundo do trabalho - disse Suplicy.

O senador observou que, também na década de 30, Anísio Teixeira denunciava as injustiças sociais como responsáveis pelo desempenho desigual na escola. Ele citou trecho do livro Educação para a Democracia e frisou que a melhor homenagem que se pode prestar a Anísio Teixeira é manter vivo o seu pensamento e a sua defesa do acesso de toda a população a uma educação de qualidade, hoje reconhecido como um dos direitos fundamentais da pessoa humana.

Arruda recorda projeto para educação em Brasília

Durante a comemoração do centenário de nascimento do professor Anísio Teixeira, o senador José Roberto Arruda (PSDB-DF) ressaltou a contribuição do educador na formação básica de um sistema educacional moderno para Brasília, na época da fundação da nova capital do país. Ele destacou sobretudo a idéia das escolas-parque (em tempo integral e com atividades de lazer e cultura) e da Universidade de Brasília (UnB), "que até hoje tem o sentimento de liberdade herdado da personalidade e inteligência de Anísio Teixeira".

Arruda registrou que, na época da construção de Brasília, Anísio Teixeira foi chamado por outros idealistas, como Darcy Ribeiro e Pompeu de Souza, para formular um projeto educacional para a nova capital. Segundo o senador, os idealistas do Distrito Federal achavam que Brasília não deveria ser considerada nova apenas pela sua arquitetura, pelo seu projeto urbanístico ou por ser planejada com a incumbência de interiorizar o desenvolvimento do país, mas deveria ter um novo modelo de educação para servir de base para uma nova civilização.

- Talvez só Brasília pudesse ser palco da criação diferenciada que Anísio Teixeira projetou para a educação, porque aqui era possível criar e sonhar, as utopias ganhavam um tom de realidade, os sonhos todos de uma geração de brasileiros se materializavam a partir do instante em que prédios eram construídos. A cidade foi o grande laboratório das idéias revolucionárias de Anísio Teixeira - afirmou o senador.

Citando Darcy Ribeiro e Pompeu de Souza, Arruda disse que Anísio Teixeira foi líder maior do movimento de mudança que priorizou a educação em Brasília. "Vários educadores reconhecem a liderança intelectual de Anísio." Ele lembrou que a UnB, que por dois anos seguidos foi considerada pelo Ministério da Educação a melhor universidade do país, é um reflexo dos ideais de Anísio Teixeira.

Ronaldo aponta contribuições de Anísio em diversas áreas

Celebrando o centenário de nascimento de Anísio Teixeira, o senador Ronaldo Cunha Lima (PMDB-PB) enalteceu a contribuição do educador baiano ao país, tanto no campo educacional quanto nas áreas da Filosofia e da cultura.

Ronaldo Cunha Lima analisou um dos aspectos teóricos defendidos por Anísio, que preconizava a necessidade de que o conhecimento fosse sistematizado e transmitido sem prejudicar os elementos fornecidos pela cultura. "Isso porque a educação transmite, mas é a cultura que cria", explicou.

Com esse ponto de vista, afirmou Ronaldo Cunha Lima, o educador advertia para a importância de que o planejamento das áreas educacional e cultural fosse permeado por uma visão de futuro, ressaltando sempre o caráter político contido em cada decisão sobre o tema. O senador também elogiou o trabalho de Anísio para o enriquecimento dos currículos escolares e a especialização dos professores primários.

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