PROGRAMA de Divulgação das Atividades de C&T do RJ. "Gostaria de viver no futuro, depois do ano 2000": Anísio Teixeira. PROGRAMA de Divulgação das Atividades de C& T do RJ. Rio de Janeiro, v.2, n.22, jul. 2000.

"Gostaria de viver no futuro, depois do ano 2000": Anísio Teixeira

"A indústria está integrando o mundo inteiro em um todo interdependente (...) Essa enorme unidade planetária, apenas esboçada, há de se refletir profundamente na mentalidade do homem rnoderno, que tem que pensar em termos muito mais largos do que o do seu esplêndido isolamento local ou nacional de outros tempos. A "grande sociedade" está a se constituir e o homem deve ser preparado para ser um membro responsável e inteligente desse novo organismo." Espantosamente atuais, estas palavras foram escritas em 1930, por urn visionário. Fazem parte do artigo "Porque Escola Nova?", de Anísio Teixeira, publicado no Boletim da Associação Bahiana de Educação.

Nascido em 12 de julho de 1900, em Caetité (BA), Anísio Teixeira entrou para o universo da Educação de forma inesperada. Graduado em Direito no Rio de Janeiro, voltou para Salvador, onde pretendia ser promotor público. Entretanto, a convite do Governador do Estado, assumiu o cargo de Inspetor Geral do Ensino da Bahia. Foi o início de uma trajetória brilhante, apaixonada e revolucionária. Defensor de uma escola que oferecesse educação integral, com caráter humanista, democrático e questionador, Anísio duvidava de respostas prontas. Valorizava a experimentação, a autonomia do ser humano, a busca pelo novo.

Em 1931, voltou ao Rio de Janeiro, onde realizou grande parte do seu trabalho de reconstrução educacional. Aqui, Anísio criou urna rede municipal de ensino, da escola primária à universidade, além de Escolas Técnicas Secundárias e o Instituto de Educação.

Em 1935, seu projeto mais polêmico: criou a Universidade do Distrito Federal, que adotava uma perspectiva inédita, integrando a pesquisa científica e a formação de professores. Em 1939, Getúlio Vargas incorporou parte da UDF à Universidade do Brasil e extinguiu o restante.

Proscrito durante o Estado Novo, considerado comunista por defender a escola pública e o ensino laico e democrático, Anísio voltou para a Bahia em 1937, onde passou oito anos refugiado, dedicando-se ao comércio.

Em 1946, foi convidado para ser Conselheiro de Ensino Superior na UNESCO; mas não assumiu um compromisso definitivo. O convite de Otávio Mangabeira, governador da Bahia, para ser Secretário de Educação e Saúde do Estado em 1947, fez Anísio retomar à vida pública como educador. Nesse cargo, Anísio cria a Fundação para o Desenvolvimento da Ciência na Bahia e a Escola-Parque, em Salvador.

No Rio de Janeiro, em 1951, Anísio Teixeira assurniu a Secretaria Geral da Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e a transformou na CAPES (Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Como diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), criou o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE).

Junto com o amigo Darcy Ribeiro, foi um dos idealizadores da Universidade de Brasília. O sonho de criar uma Universidadese concretizou em 1961. Em 1963, Anísio assumiu a reitoria da UnB, até 1964, quando foi afastado do cargo pelo governo militar.

Após dois anos lecionando em universidades americanas, voltou ao Brasil, ainda integrado, ao Conselho Federal de Educação. Tornou-se consultor da Fundação Getúlio Vargas e reeditou vários de seus trabalhos.

Morreu em março de 1971, num acidente, carregando um Manuscrito onde traduz seu espírito flexível, livre e inovador:

"Com efeito, todo o presente modo de pensar do homem é modo de pensar em termos de mudança. A essência do método científico está em sua posição de juízo suspenso. Tudo que fazemos se funda em hipóteses, sujeitas obviamente a mudanças. Tais mudanças decorrem de novos conhecimentos, os novos conhecimentos decorrem de novas experiências e tais novas experiências do fluxo inintenrrupto de mudanças... "

Anisio Teixeira, centenario, presente.

Julho de 2000: centenário de Anísio Teixeira, comemorado em inúmeros eventos por todo o país. As universidades retomam as discussões sobre seu pensamento e sua obra. A casa onde nasceu, em Caetité, está sendo transformada em Centro Cultural e lá, brevemente será inaugurada a primeira biblioteca pública da cidade, além de um cine-teatro. A Escola-Parque, em Salvador, está sendo restaurada pela Secretaria de Educação da Bahia e volta a funcionar no ano que vem. Anísio Teixeira conseguiu o que queria. Seu pensamento, suas palavras, sua obra estão vivos, em plena virada do século 21.

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