BARROS, Nelson Farias. O livro da semana: educação não é privilégio. Estado do Paraná. Curitiba, 4 out. 1957.

ROTEIRO ARTÍSTICO CULTURAL

NELSON FARIAS DE BARROS

O LIVRO DA SEMANA

<<A atividade escolar consiste em <<aulas>> que os alunos <<ouvem>>, algumas vezes tomam notas, e nos <<exames>>, em que se verifica o que sabem, por meio de provas escritas e orais. Marcam-se alguns <<trabalhos>> para casa e na casa se supõe que o aluno <<estuda>>, - o que corresponde a fixar de memória quanto lhe tenha sido oralmente ensinado nas aulas.

Esta pedagogia podia perfeitamente funcionar na Idade Média...>>

<<EDUCAÇÃO NÃO É PRIVILÉGIO>>, do Professor Anísio Teixeira, é um livro altamente recomendável a todos nós, os brasileiros, mestres e discípulos e principalmente aos nossos governantes. O autor, uma das maiores autoridades em matéria de Educação e Ensino, trata com grande brilhantismo do cruciante problema que aflige o nosso País, e vem crescendo sempre, graças à inépcia de nossos governantes e dos encarregados de supervisionar o assunto.

A negra realidade da deficiência de nosso ensino, vem tomando vulto nêsses últimos tempos, exigindo uma tomada de consciência, uma atitude, uma providência, qualquer de nossos educadores, no sentido de moralizar esta imperdoável falha administrativa.

Neste livro vemos desfilar ante os nossos olhos, a explanação viva e convincente dos problemas já bastante conhecidos e sentidos por todos nós, que vivemos as situações ali expostas, nos currículos escolares, colegiais e universitários.

Na primeira parte de sua obra, o Professor Anísio Teixeira faz uma análise profunda e sincera do ensino brasileiro, revelando-nos com dados concretos, as suas grandes falhas e deficiências: <<Na realidade, a educação, como se vem fazendo entre nós, dá direitos, graças ao diploma oficial, mas não prepara nem habilita para coisa alguma. O diplomado é um candidato à pensão do Estado ou dos particulares. Alguns se farão, profissionais, por tirocínio e prática, não pela escola, salvo as exceções conhecidas das melhores escolas de medicina, engenharia e direito>>. Recomenda o autor a necessidade de uma nova política educacional, baseada na descentralização e liberdade de organização, ou seja, dar autonomia aos Municípios, dando-lhes entretanto, assistência financeira. Ao lado da vantagem da descentralização e autonomia, se juntará a da integração e unidade dos três poderes - federal, estadual e municipal - do País.

Na segunda parte, o autor recomenda uma escola pública, universal e gratuita, e cita Cesário Motta: <<A instrução do povo é, sua maior necessidade. Para o Govêrno, educar o povo é um dever e um interêsse: dever porque a gerência dos dinheiros públicos acarreta a obrigação de formar escolas, interêsse, porque só é independente quem tem o espírito culto, e a educação cria, avigora e mantém a posse da liberdade> ... e adiante: <<É que pràticamente ficou demonstrado o asserto, tão conhecido, do imortal americano: <<A democracia sem a instrução será uma comédia, quando não chega a ser tragédia>>. É que a República sem a educação inteligente do povo, poderia dar-nos em vez do govêrno democrático, o despotismo das massas, em vez de ordem, a anarquia, em vez de liberdade, a opressão>>.

E acusa: <<Devido à atitude defensiva da democracia, na fase atual do mundo, perdemos o sentido de sua filosofia política e, cautelosamente, obscurecemos as reivindicações populares que ela envolve. E criada que seja essa atitude, abrimos o caminho para estreitas e egoísticas reivindicações pessoais.

A educação chega a se tornar, assim, não um campo de esforços pela realização de um ideal, mas um campo de exploração de vantagens para professores e alunos.

Salários, redução de horários, facilitação dos estudos, e da obtenção de diplomas; expansão dessa dissolução, para a criação de novas oportunidades de salários e novas facilidades de ensino - são êstes os problemas, os graves problemas educacionais da hora presente>>.

E o autor prega, então, a restauração do sentido democrático da expansão educacional brasileira, baseado no princípio de que educação, como agricultura, como medicina, não é algo que se tem de regular por normas legais, mas sim regida por princípios experimentais e científicos.

<<EDUCAÇÃO NÃO É PRIVILÉGIO>> é um grito de revolta contra a atual situação de nosso ensino, incompatível com a necessidade e as exigências do progresso intelectual de um povo, e que, por interêsse ou comodismo, continuamos aceitando.

José Olímpio Editora.
Rep. Livrarias DO POVO e GUIGNONE.

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