JORNAL DO COMÉRCIO. Notas avulsas. Jornal do Comércio. Recife, 17 out. 1957.

NOTAS AVULSAS

Uma das grandes ilusões nacionais é o ensino primário. Pensamos que, nesse terreno estamos muito adiantados e que um estudo comparativo entre o ensino atual e o antigo nos deixa na mais perfeita paz de consciência.

O snr. Anísio Teixeira, no seu livro EDUCAÇÃO NÃO É PRIVILÉGIO, tira-nos dessa doce quimera; como nos adverte do combate ao analfabetismo, que parece exprimir-se vitorioso através de índices estatísticos consoladores, quando essas demonstrações, devidamente estudadas, são desfavoráveis. Ora, não se vai dizer que o snr. Anísio Teixeira é um pessimista e que, não encontrando a perfeição, desanda em ataques aos processos adotados. Sua autoridade não iria comprometer-se, evidentemente, com o que houvesse na sua análise de apaixonado e de preconcebido. Êle aponta os êrros da escola primária, que não serve ao homem comum, que não se basta a si mesma, porque constitui apenas, no Brasil, o primeiro para as carreiras superiores - para a corrida cada vez mais infrene ao anel de grau, que é a nossa grande sedução. E adverte, lucidamente: - <<O programa da escola será a própria vida da comunidade, com o seu trabalho, as suas tradições, as suas características, devidamente selecionadas e harmonizadas>>.

Tal programa é precisamente o que não existe na escola primária brasileira, pois ela não é a comunidade com os seus hábitos de pensar, de agir, de trabalhar e de conviver, mas o estágio inicial de uma educação de privilegiados, que começam a sua carreira, absolutamente proibida aos que não dispõem de recursos financeiros para continuá-la. De maneira que, como acentua o snr. Anísio Teixeira, a educação ministrada em plena vigência da Democracia não é para todos; é para alguns; e nisso está uma das maiores contradições do nosso tempo, da nossa organização. O mais curioso é que se espera, no Brasil, por grandes surtos industriais, por um grande progresso (o Brasil é o país do futuro, dizemos com arrogância, entre fumaças nacionalistas!) e não preparamos o profissional - o homem do futuro. Os nossos estadistas e parlamentares deviam ler êsse livro de Anísio Teixeira. Não lhes faria nenhum mal.

N. P.

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