A HORA. Monopólio do ensino. A Hora. São Paulo, 27 fev. 1958.

MONOPÓLIO DO ENSINO

Um grito de alerta, nos chega do Sul através da palavra autorizada de Dom Vicente Scherer, arcebispo de Porto Alegre. Grave denuncia a que formula o ilustre prelado quando afirma que um grupo poderoso acha-se instalado no Ministério da Educação, promovendo não só o laicismo do ensino, mas tambem a laicização e materialismo da vida. Trata-se de um plano sistematizado de orientação ateista do ensino nacional. O ponto essencial dessa trama perigosa para o futuro do maior país católico do mundo, que é o Brasil foi fixado no combate á escola livre ou particular.

Não resta a menor duvida de que a palavra do arcebispo de Porto Alegre soará como uma clarinada, como um chamamento á luta do povo cristão contra os ateus que pretendem impor-nos um marxismo fracassado através da Escola Unica, isto é, da escola oficial. Urge desde já que reivindiquemos o direito da escolha da escola para nossos filhos e por isso mesmo nos batamos com todo ardor contra essa tentativa de conquista da juventude brasileira por homens embevecidos pelo ateismo, na pretensão de fazer do brasileiro uma criatura sem Deus. O cristianismo é a religião de todos nós, sem qualquer possibilidade de contestação. A denuncia de Dom Vicente Scherer é tanto mais expressiva quando aparece de surpresa, como um raio num céu sereno, de confiante abandono do pai de família que não viu, não sentiu ainda a trama urdida, maneirosa e sutil, contra o espirito cristão de nossa gente.

O arcebispo do Sul cita nomes e denuncia manobras e termina sua longa exposição estranhando que o presidente da Republica e o ministro da Educação, dois filhos da católica Minas Gerais, não tenham tomado medidas para impedir o agravo que se está cometendo nos direitos da imensa maioria dos brasileiros.

Além de um atentado clamoroso, essa politica expressa uma pretensão descabida, pois que não se acha, o Estado brasileiro organizado para tomar a si a grande, a nacional tarefa do ensino em termos de açambarcamento, de monopólio totalitario. Podem ter defeitos e podem errar as escolas particulares mas não há dúvidas de que representam a iniciativa privada no plano da instrução, da cultura, do aprimoramento das conquistas da inteligência e do saber e por isso mesmo devem ser mantidas como garantia de liberdade do pensamento.

Segundo Dom Vicente Scherer, um grupo marxista ter-se-ia introduzido nos postos-chaves do Ministério da Educação e dali estaria agindo no rumo malsinado do ateismo destruidor. As deficiencias e os abusos que esse grupo assevera existirem nas escolas privadas, poventura não existem, em maior contundencia, no ensino oficial? É claro que sim, é indiscutivel que o Estado brasileiro não está armado, nem filosoficamente nem materialmente para pretender o monopolio da instrução, que ele reivindica ainda sorrateiro, porém desde já perigoso e ameaçador.

Nem no ensino, nem em nenhum outro palno da vida da Nação será prudente consentir que o Estado exerça qualquer especie de monopolio. Essa é a orientação salvadora que temos daqui apontado, alertando o povo, contra o totalitarismo estatal, a negação mesma da liberdade do individuo em suas mais caras e puras prerrogativas. Nem sequer a escola publica, desorganizada e deficiente, poderia tomar a si a imensa tarefa de educar, de instruir a nação, sem atentar gravemente contra nossas esperanças de formação cultural. Consintamos a ação do Governo, do Estado enquanto não fôr possível a iniciativa privada.

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