SILVA, Ernesto. Mãos e mente. Correio Braziliense. Brasília, 11 jun. 2000.

Mãos e Mente

Ernesto Silva

No próximo dia 12 de julho, completaria 100 anos o notável educador Anísio Teixeira.

O destino, inexorável, não permitirá, porém, que comemoremos, com sua presença, a data festiva.

No dia 11 de março de 1971, Anísio Teixeira, que fincara, no Brasil, os pilares de um novo sistema de ensino público, é encontrado morto no poço do elevador do prédio 48 na Praia de Botafogo.

Morria o filósofo da educação, que sonhava com uma educação democrática que permitisse o desenvolvimento integral do ser humano.

Anísio Teixeira pertenceu ao grupo precursor que redigiu, em 1932, o Manifesto dos Pioneiros da Educação, pugnando por uma escola integrada à sociedade moderna, com larga visão humanista. Assinalava ele que o Estado deveria gerar e administrar o ensino público, acessível a todas as classes sociais, e usar os recursos oficiais para o que definia como "coisas básicas e fundamentais para a formação de um povo", educação não só pela transmissão de conhecimentos, mas também pela formação de hábitos.

A escola imaginada por Anísio reformulava os métodos arcaicos do século XIX e propunha programas que preparassem o educando para um mundo em permanente mutação.

Nesse contexto, incluíam-se os trabalhos manuais, cuja importância Anísio sempre ressaltava, uma Escola em que, na prática, se unissem MÃOS E MENTE, preparando professores de alta qualificação, reciclados periodicamente.

Anísio sempre defendeu a educação pelo trabalho. Sua preocupação política, como assinala Carlos Otávio Moreira, era "quebrar a separação existente entre a escola da mente e a escola das mãos".

Anísio, diz Carlos Otávio, "se alinhava com uma educação em que os TRABALHOS MANUAIS tinham enorme importância no desempenho da MENTE",

Dando curso aos seus projetos, Anísio, como Secretário de Educação da Bahia, lançou os fundamentos da Escola-Parque, na qual se uniam as práticas da MENTE e das MÃOS.

Nessa escola, a arte, a música, o canto, o desenho, os trabalhos em metal e madeira, a educação física eram oferecidos aos alunos de todas as classes sociais.

Embora perseguido durante o regime militar, embora atacado por alguns setores da Igreja, as lições de Anísio continuavam a ser defendidas por ele: a) A educação é um direito; b)A educação não é um privilégio; c) A educação de base deve ser geral e humanista; d) Educar pelo trabalho; e) A escola pública é a máquina que prepara para a democracia; f) O professor tem que ser capacitado permanentemente.

Mas foi em Brasília que Anísio Teixeira pôde concretizar, em larga escala, seu objetivo, quando elaborou o Sistema Educacional da Nova Capital.

Após a Novacap ter recebido de Anísio Teixeira as linhas gerais do Plano Educacional, que previa as Escolas-Classe, as Escolas-Parque e os Centros de Educação Média, obtivemos de Lúcio Costa a adaptação do Plano Urbanístico às sugestões de Anísio, pois no Plano Piloto vitorioso havia previsão de uma escola secundária em cada Unidade de Vizinhança, lugar onde deveriam ser inseridas as Escolas-Parque.

Lúcio Costa acedeu. Deslocou as escolas secundárias para as Avenidas W-4, W-5 e L2, onde seriam construídos os Centros de Educação Média.

Anísio Teixeira realizou em Brasília um dos seus almejados sonhos.

Anísio é atual. Ele partiu, mas seu manto está sobre nós.

  • Ernesto Silva é médico e historiador

| Artigos de Jornais ou Revistas | Entrevistas |