GODOFREDO FILHO. Anísio Teixeira: mestre de amizade. Tribuna da Bahia. Caderno 3. Salvador, 3 abr. 1971.

ANÍSIO TEIXEIRA
MESTRE DE AMIZADE

   Não conheci Anísio Teixeira quando estudante do Antônio Vieira, discípulo exemplar do Padre Cabral, aquêle jesuíta cuja eloquência estremecia o silêncio de nossas igrejas, as palavras ora cintilando como o ouro de seus altares, ora retorcendo-se numa parenética de imagens curvas, ao jeito torturado de jacarandá dos entalhes. Nem quando do seu curso jurídico no Rio, com rápidas passagens por Salvador, em demanda de férias no sertão. Meu conhecimento com Anísio datou de 1924, êle, pouco mais que um menino, e já Diretor Geral da Instrução Pública do mais notável govêrno baiano da República velha: o de Góes Calmon. Aproximou-nos amigo comum, um dândi daqueles anos remotos: - Eduardo Rodrigues Lima. E, às primeiras conversas, consolidando-se o mútuo afeto, Anísio me requisitou para que o ajudasse, como seu secretário particular primeiro, e, logo mais, como seu Auxiliar de Gabinete. Morávamos ambos no Corredor da Vitória, eu, no 15, a antiga Pensão Vitória, em frente ao Club Alemão, e êle, na Pensão Tanner, de tão gostosa cozinha francesa e inolvidável Bordeaux branco importado em quintos, cujo aroma, do fundo dos anos, ainda me faz dilatar as narinas.

   Mas o jovem Diretor Geral de Instruções, a iniciar-se nos meandros da ciência da Educação em que se tornaria famoso no país e no mundo, e a revelar-se precocemente um administrador seguro e um reformador surpreendente, era também e, sobretudo, um fazedor de amigos. E que amigos os de sua casa da Vitória! Que figuras singulares, mesmo de outras gerações, os que frequentemente o procuravam: ora, homens de letras, pasmos de agilidade mental e cultura daquele novo David do espírito; Ora, políticos experimentados à busca dos favores que o seu cargo prodigiava e do bafejo de seu prestígio pessoal, que era dos maiores e mais raros, junto ao governador Góes Calmon. Porque Anísio Teixeira, àquele tempo, foi igualmente chefe político de vários municípios do sertão centrados por Caetité, pois a seu pai, o patriarca Dr. Deocleciano Teixeira, foi devolvido aquele autêntico protetorado de limites só vigentes para êle no quadriênio do velho Governador Luiz Viana. Entre os numerosos que vi nos salões na Pensão Tanner e no apartamento de Anísio, lembro particularmente de Afrânio Peixoto, Homero Pires, Bernardino de Souza, Isaias Alves, Taunay de passagem; e, dos políticos, Braulio Xavier, titular da Secretaria do Interior e Justiça, a que hierarquicamente ficava subordinada a antiga DGIP, Alfredo Mascarenhas, Durval Fraga, lider do Govêrno no Senado estadual, Carlos Ribeiro, Otaviano Moniz Barreto, Oscar Cunha, Teófilo Falcão, Secretário da Fazenda, o poderoso Antoninho Calmon, uma só vez, Vital Soares, futuro governador e Vice-Presidente eleito da República, e muitos, e muitos outros.

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