VASCONCELOS, Levi. Missa comemora o centenário do educador Anísio Teixeira. A Tarde. Salvador, 13, jul. 2000. p.2.

MISSA COMEMORA O CENTENÁRIO DO EDUCADOR ANÍSIO TEIXEIRA

Levi Vasconcelos

"Não há democracia sem educação pública, de qualidade e para todos". A frase do professor Anísio Teixeira, sintetizando uma defesa radical da escola pública e gratuita, foi bastante lembrada ontem pelos estudiosos, admiradores e parentes nas diversas comemorações dos 100 anos de nascimento do educador baiano, que ironicamente coincide com a greve dos professores federais por melhores condições de ensino e salariais.

"Só poderíamos estar alegres. Para nós é uma honra muito grande o reconhecimento a um homem que, há 60 anos, pensou e formulou idéias consideradas muito atuais. Alguns o achavam visionário, mas o fato é que só as ditaduras de Vargas e dos militares (em 1935 e 1964) interromperam o trabalho dele", afirmou o psiquiatra Carlos Antônio, filho de Anísio, que, ao lado das irmãs, Marta Maria e Ana Cristina, participou da missa em homenagem ao centenário celebrada pela manhã, na Igreja da Vitória, pelo monsenhor Gaspar Sadoc.

Os eventos alusivos à data foram iniciados na semana passada em Caetité, onde Anísio Teixeira nasceu, e prosseguem. por todo o mês. Além da missa celebrada ontem, escolas da rede pública realizaram palestras e no final da tarde o governador César Borges e o presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, lançaram na Fundação Luís Eduardo Magalhães o selo comemorativo e uma medalha cunhada na Casa da Moeda para marcar a passagem do centenário. Hoje, às 20 horas, será aberta a exposição fotográfica Um olhar sobre Anísio Teixeira, no foyer da Biblioteca Pública do Estado, nos Barris.

Obra vasta

Também estavam, presentes na missa dois dos sobrinhos do educador, os deputados federais Haroldo Lima (PC do B), um dos líderes da esquerda baiana, e Nestor Duarte (PMDB). "Quem me trouxe para a esquerda foi meu tio", afirma Haroldo, assinalando que Anísio Teixeira nunca foi comunista. "Ele defendia intransigentemente a idéia da educação pública livre, para formar cidadãos. Eram idéias muito avançadas e para o poder de então isso era ser comunista", observa o deputado. Hélio de Almeida Teles, que trabalhou diretamente com o educador, não quis falar. "Desculpe, mas me emociona muito", explicou-se.

Autor de vasta obra, incluindo 13 livros, além de artigos, capítulos de livros, discursos, folhetos, prefácios e posfácios, outros textos e traduções, além de trabalhos divulgados em congressos, Anísio Teixeira (também fundador da Escola Parque, em Salvador, atualmente em reforma) é considerido o principal formulador da política educacional atual e ainda hoje atrai um sem-número de estudos em torno da obra e da vida pessoal. Um deles é o professor José Augusto de Lima Rocha, doutor formado pela Universidade de São Paulo que ensina na Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e organizador da Fundação Anísio Teixeira, da qual foi o primeiro presidente.

Morte foi mal explicada

A versão oficial para a morte de Anísio Teixeira, ocorrida no dia 11 de março de 1971, no Rio de Janeiro, é a de que ele saiu de casa para almoçar com o amigo Aurélio Buarque de Jollanda no Edifício Duque de Caxias, no Aterro do Flamengo, e caiu no fosso do elevador, só sendo encontrado dois dias depois, mas há controvérsias. Da mesma forma que no caso do ex-presidente João Goulart, suspeita-se que ele tenha sido assassinado.

"Não se ouviu nenhum grito, nenhum barulho, e o porteiro do prédio sumiu que até hoje ninguém mais deu notícias", conta o professor José Augusto de Lima Rocha, assinalando que há informações segundo as quais na manhã do dia do incidente Anísio Teixeira teria sido preso. "Há quem diga que ele foi morto a pauladas", relata, lembrando que, no mês anterior, em fevereiro, o deputado Rubem Paiva também sumiu e poucos dias antes a atriz Anecy Rocha também morreu em Salvador, supostamente caindo no fosso de um elevador.

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