AZEVEDO, Thales. Anísio, o curso de suas idéias. A Tarde. Salvador, 25 jul. 1986.

Anísio, o curso de suas idéias

Thales de Azevedo

A biografia de um homem de idéias nunca se esgota, primeiro que depende da análise de sua obra publicada e de suas notas e correspondência, nem sempre acessíveis as últimas; depois, da perspectiva em que seu pensamento é examinado, variando segundo interesses e pontos de vista dos analistas. É o que se passa com Anísio Teixeira: o que se tem escrito a seu respeito tem, em geral, como referência sua atuação no movimento pela Escola Nova e suas tomadas de posição em torno da educação a partir dos anos 30. Aí se identifica um dos aspectos de sua mentalidade, o educacionista progressista, atuando em determinado sentido, o reformador, podemos dizer revolucionário, nos domínios da formação humana. A escola é seu instrumento, é o terreno em que sua filosofia social se procura realizar pragmática e, em certa dimensão, liberal. Mas há uma fase da história intelectual de Anísio, anterior àquela, pouco ou, quase diria, desconhecida dos que têm escrito a seu respeito e que se vai revelar em parte no rico acervo que a Fundação Getúlio Vargas dele recolheu e também no que escreveu, digamos, na segunda metade dos anos 20 ainda na Bahia. É o período de sua vivência religiosa, em que se projeta já com traços voluntaristas de um líder e programador humanista inspirado fortemente no catolicismo e no espírito jesuítico, isto é na interpretação pessoal do psicologismo inaciano que o aproxima da Action Française, a princípio de tendências políticas ainda não bem definidas. Suas idas à Europa em 1925 e posteriormente aos E. Unidos, que se ligam à fase dos trabalhos publicados nos dois volumes do Arquivo Mariano Acadêmico, representam muito para a inteligência da mente e da vontade desse pensador. Nos materiais constantes desses volumes desenha-se claramente o homem de convicções muito nítidas e de ação já voltada, ainda pouco precisamente, na direção em que se veio a realizar como "estadista da educação". Também aí explicita-se sua esclarecida admiração pela Companhia de Jesus, que examina detidamente em diversas épocas e países, inclusive no Brasil e na Bahia. Documentos indispensáveis ao julgamento ou à apreciação do curso de suas convicções encontram-se em jornais baianos de 1925, de 1952, de 61 quando externa de maneira muito objetiva suas convicções filosóficas, suas inquietações e interrogações e as mudanças experimentadas nesse domínio bem como a experiência de educador levada a efeito como secretário da Educação na Bahia no governo Octávio Mangabeira.

São todos esses dados, ainda por examinar e levar em consideração, que dão conta de momentos da evolução de um dos mais vívidos espíritos brasileiros contemporâneos. O levantamento desses elementos é uma primeira exigência para a biografia intelectual de Anísio, tarefa que desafia os estudiosos do pensamento filosófico, político, educacional em nosso país, necessária também para fazer justiça ao grande baiano.

| Articles from newspapers and magazines | Interviews |