FERNANDES, Fabíola Guanais Rochael. Anísio: um pouco de sua história. Anísio - O Centenário. Caetité, 12 jul. 2000. p.11.

Anísio: Um Pouco de Sua História

Fabíola Guanais Rochael Fernandes

Anísio Teixeira, o mestre de uma geração de mestres, o ensaísta da Educação para a Democracia, o brasileiro miúdo, franzino e admirável, de inteligência luminosa, inquieta, resplandecente, se vivo fosse, faria agora um século de existência.

Éstamos tentando trazer a público, o trabalho incansável deste grande educador baiano, nascido em Caetité, mas que se tornou um patrimônio de todo o país, no que tange ao setor educacional.

Influenciado pelo Pe. Cabral, ele sonhou um dia ser jesuíta. A forte oposição paterna podou, de início, esse ideal, e Anísio é transferido para o Rio, onde concluiu seus estudos. Aos 23 anos é bacharel em Direito e se candidata a uma vaga de Promotor Público, em Caetité. Mas estava reservada para o jovem advogado uma surpresa: ele seria convidado pelo governador Góes Calmon para exercer a função de Diretor da Instrução Pública. Para Anísio, pouco afeito aos problemas educacionais, a surpresa era total. Para Calmon, empenhado em renovar quadros e convovar os melhores, Anísio era uma dádiva do céu. Uma dádiva não apenas para a Bahia, mas para o Brasil. Naquele instante, inesperadamente, nascia o "estadista da educação".

Anísio jamais renunciou ao desejo de reformar para melhorar. Abominava a rotina e estava sempre em busca da verdade. Esforçava-se para aprimorá-la, não acreditando que ela pudesse ser estática ou definitiva.

A educação, desde o governo Luiz Viana, em 1896, não sofrera nenhuma alteração. Anísio sacudiu-a com a fé de um missionário. Começou elaborando amplo Projeto de Lei para transformar e ampliar o ensino. Em 1925, o Projeto transformou-se em Lei. No legislativo, os debates eram acirrados e Hermes Lima foi um dos mais presentes defensores da proposta, cuja filosofia contrariava a Escola Única.

São Paulo buscava a alfabetização em massa, aprressada. A Bahia se preocupou, baseada na reforma de Anísio, em "educar" omaior número de crianças para que adquirissem o maior número de conhecimento na melhor escola permitida. E isso era inovação na Bahia.

A reforma se preocupava com a participação dos municípios e cuidava da Escola Primária Superior, do Ensino Médio, do Ensino Normal e Profissional e do Professorado.

Com o apoio do governador Góes Calmon, Anísio conseguiu reverter o quadro da educação no Estado e em 1928 extravasa a sua conquista e alegria num Relatório que dizia: "O interesse pela instrução é uma realidade a vista de todos. As menores localidades estão aprendendo a ter orgulho pelas suas coisas do ensino e a se porfiar nas conquistas de educação. A construção de prédios escolares pelos municípios, com o auxílio do Estado, a solicitação de localização de escolas, o interesse local pelo bom mestre, a fiscalização exercida por patriotismo, o estímulo do professor para se aperfeiçoar e progredir são alguns exemplos demonstrativos desse largo, verdadeiro interesse que está a percorrer todo o Estado nas coisas de educação". Assim afirmava, orgulhoso, Anísio. Mas a reforma se prestou a acerbas críticas, sendo o jovem Diretor Geral da Instrução acusado de ognorar as realidades baianas. Anísio, entretanto, manteve-se indiferente às críticas, que envolviam aspecto político, e continuou firme nos seus propósitos a serviço da Educação.

Em abril de 1927, comissionado pelo governo da Bahia, Anísio foi mandado para observar a vida educacional dos Estados Unidos. Lá, toma conhecimento dos trabalhos de Dewey, o filósofo que, na América, revolucionava os princípios de educação, e fica fortemente impressionado pelos ideais do grande americano, mudando-lhe as convicções filosóficas.

No ano seguinte ele retorna à América em busca do diploma de Master of arts, na Universidade de Columbia, em Nova York.

Relevante para a sua vida foi, também, o encontro com Monteiro Lobato. Este não custou a se aproximar pela inteligência e, mais do que pela inteligência, pela personalidade de Anísio.

Através de Lobato, Anísio tem o privilégio de desfrutar da grata amizade de Fernando Azevedo, então em plena celebridade como educador. Fernando de Azevedo não demorou em se render ao novo amigo. O interesse pela educação e a comunidade de idéias completaram a obra que a simpatia recíproca iniciou, tornando indissolúvel o sentimento da amizade.

Anísio estendeu suas "amizades intelectuais" a Lourenço Filho e Afrânio Peixoto e estas amizades foram cultuadas ao longo da vida com cartas de confidências e desabafos.

Todos com que ele conviveram ressaltam as suas características de encantador, a vivacidade de sua inteligência, a simplicidade, suas maneiras afáveis e educadas, sua sedução pessoal.

Durante toda a sua vida Anísio foi o defensor da "escola nova e progressiva", na qual as crianças viveriam livres de qualquer incompreensão e a disciplina aceita e compreendida por todos. Ele pregava que "nunca se pudesse apagar nos olhos de uma criança a chama da confiança".

Anísio, apesar de ter trabalhado durante 7 anos no comércio, trilhou pelo caminho da educação, deixando para nós, educadores, um exemplo de luta em defesa da escola pública, priorizada por ele desde o início da sua carreira, para proporcionar a todos uma "educação de qualidade".

É de Hermes de Lima esta observação: "Consagrou-se Anísio à edificação de sua obra educacional, abrasado pelo espírito de missão, missionário que foi a vida inteira".

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