BOAVENTURA, Edivaldo M. Gilberto Freyre e Anísio Teixeira. A Tarde. Salvador, 31 jan. 2000, p.8.

Gilberto Freyre e Anísio Teixeira

Edivaldo Boaventura

Neste ano que se inicia, temos dois centenários de nascimento a comemorar: Gilberto Freyre, em 15 de março, e Anísio Teixeira, em 12 de julho. O de Gilberto está bem próximo, o de Anísio mais um pouco distante. Ambos unidos pela amizade e pelo trabalho no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas em Educação (INEP).

No que tange à Bahia, Gilberto tem um livro póstumo intitulado Bahia e baianos, textos reunidos por Edson Nery da Fonseca. É uma coleção de ensaios sobre a nossa terra, onde consta o seu poema "Bahia de todos os santos e de quase todos os pecados". A sua obra é vasta e importante para o conhecimento do Brasil, basta citar Casa grande e senzala, Sobrados e mucambos, Ordem e Progresso. Dentre os muitos estudiosos e conhecedores da importância de seu trabalho, destacam-se Vivaldo da Costa Lima, Waldir Freitas Oliveira, Maria de Azevedo Brandão, Fernando da Rocha Peres. Gilberto veio inúmeras vezes à Bahia e chegou a morar aqui por alguns meses. Lembro-me perfeitamente da sua estada em novembro de 1970 quando veio para a inauguração da Biblioteca Pública da Bahia. Estive com ele no Recife sempre levado à sua casa, em Apipucos, por Vamireh Chacon, seu biógrafo. Doutor honorífico pela UFBa e com muitas outras ligações locais, não sei, mas imagino, se a nossa Academia de Letras e o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia vão realizar alguma exposição, conferência ou curso acerca da contribuição gilbertiana.

Com referência ao nosso Anísio, começamos a planejar algo mais profundo, escalonando a sua vida tão bem estudada por Luiz Viana Filho. Em Caetité, sua terra natal, foi restaurada a casa onde nasceu. Em Salvador, há o Instituto Anísio Teixeira (IAT), criado por mim, em 1983, na Secretaria de Educação, como organismo de estudos, pesquisas e publicações, e que se vem notabilizando cada vez mais como centro de treinamento do pessoal da educação. O seu nome patroniza a Fundação Anísio Teixeira, liderada por Hildérico Pinheiro de Oliveira, um dos colaboradores mais notáveis de Anísio, conhecedor abalizado de seu pensamento e ação. A Faculdade de Educação da UFBa, cuja biblioteca porta o nome de Anísio Teixeira e a Academia Baiana de Educação, atualmente, presidida por esse engenheiro-educador, Hildérico Pinheiro de Oliveira, estão programando comemorações. Como diretor da Instrução Pública, no governo Góes Calmon e secretário de Educação e Saúde, de Otávio Mangabeira, Anísio é presença destacada na vida educacional do nosso estado. Não só pelo nascimento, mas de muitas outras maneiras sempre esteve atuante na Bahia, basta lembrar a concepção e edificação da Escola Parque. Do ponto de vista nacional, a sua luta pela escola pública e pela educação de modo geral é altamente significativa. Mas deixemos o Brasil com os outros brasileiros na homenagem ao grande Anísio e vamos cuidar dele na linha sucessória do pensamento baiano como herdeiro intelectual de Rui Barbosa nas grandes causas do ensino.

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