ROCHA, João Augusto. Uma Fundação para Anísio Teixeira. Jornal da Bahia. Salvador, 23/24 jul. 1989.

João Augusto Rocha

Uma Fundação para
Anísio Teixeira

Autor de vasta obra, o primeiro a tratar a Educação com base filosófica em nosso país, Anísio Teixeira não foi somente um pensador, mas revelou-se também um homem de ação política, na defesa da generalização das oportunidades de educação a toda a sociedade. Para ele, o compromisso básico de qualquer Estado, no caminho da democratização, é de oferecer escola gratuita, com caráter obrigatório nos primeiros níveis, como pressuposto fundamental para a construção e efetivação da cidadania.

Iniciando-se na vida pública aos 23 anos como Inspetor Geral do Ensino, em nosso Estado, no Governo Góes Calmon, Anísio passou praticamente toda a vida envolvido com assuntos de educação, atuando pioneiramente a nível nacional, em quase tudo que se inovou nesse campo, desde a década de 20. O que vale destacar, no entanto, é que muitas de suas propostas ainda possuem forte marca de atualidade, sem falar no estilo muito próprio, de ação intelectual que portava, agitativo por natureza, que valorizava o criticar e o criticar-se na busca da verdade a partir da intervenção sistemática no sentido do conhecimento da realidade, baseando-se em que o mundo se encontrava em processo acelerado e contínuo de mudanças.

A tentativa de atualizar a contribuição educacional de Anísio Teixeira, deve orientar-se por esse espírito dinâmico, sem a obrigação de centrar-se na mera transposição de suas propostas para a realidade atual e, também, sem o preconceito arraigado entre muitos educadores e educólogos, de que o suposto liberalismo que informa sua ação de educador, o torna superado.

Dentre as questões que ocuparam a vida de grande educador baiano, nenhuma é de mais flagrante atualidade, que a da defesa da "escola pública, gratuita, única, obrigatória e laica", conforme o inscrito no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, do qual foi um dos signatários. Neste caso, o mérito de Anísio está em tornar explícita a necessidade da busca de um conteúdo político para essa luta, vinculando-a com a própria concepção de democracia (sem adjetivos). Para ele, não é possível a gestação de um Estado democrático, sem que seje estabelecido um compromisso de ampliação progressiva das oportunidades de educação. É evidente que não basta a fixação do princípio, sendo também necessária a elaboração de uma estratégia de ação. Isso se elaborou para a sua época, com relativo sucesso. Cabe-nos, armados do princípio, analisado as experiências anteriores e incorporando os fatos da atualidade, formular a nova estratégia. Seria agora, por exempo, o caso de estarmos exigindo pronunciamento dos candidatos à Presidência da República a respeito e impedindo que a questão se perdesse no âmbito das Secretarias de Educação, dos Estados e Municípios, a lançarem números de escolas e vagas implantadas somente como forma de propaganda, explorando a ignorância popular a respeito da verdadeira dimensão do problema.

Outra contribuição de Anísio Teixeira, que vale ser retomada, refere-se à compreensão da escola como equipamento a integrar-se harmonicamente com o desenvolvimento urbano, ou, no caso do campo, com as vocações específicas de cada região. A alocação da unidade física escolar não pode ser pensada, segundo ele, a partir de definições advindas da politicagem ou da mera consideração de interêsses isolados. Ela tem que ser pensada em função de parâmetros de planejamento que transcedem o âmbito específico de educação. Ainda nesse particular, Anísio é um dos primeiros dirigentes de Educação a tratar edifício escolar como algo a ser construído e não simplesmente adaptado, contrariamente ao que a inciativa privada tanto faz ainda hoje, adaptando garagens para o funcionamento de escolas!

Tantos são os aspectos da obra de Anísio, cuja atualização cabe ser feita, dado o caráter dinâmico de que se reveste, que nasceu entre seus familiares, amigos, discípulos e admiradores, a idéia de criar-se uma Fundação que vai levar o seu nome. A fundação, de caráter cultural e educacional, tem o propósito primordial de organizar e difundir sua obra, para que alimente um processo amplo e organizado de reflexão sobre o que escreveu ou colocou em prática, particularmente no campo da Educação. A Fundação Anísio Teixeira, em fase final de organização, deverá ser formalmente lançada no dia 21 de setembro, data do aniversário da inauguração do Centro Educacional Carneiro Ribeiro, cuja Escola Parque o projetou internacionalmente. É também o Dia da Árvore, cuja instituição, na Bahia, a ele se deve, quando em 1924, recém-nomeado para a Inspetoria Geral do Ensino da Bahia, pronunciou um discurso em que a alude à necessidade da perservação do meio ambiente, muito antes que essa preocupação ocorresse entre nós. Espera-se que todos os interessados em elevar a Educação ao nível em que Anísio a colocou, encontrem na fundação ambiente propício para que possam, com o pensamento e a ação, colocá-la à altura de tão honroso nome.

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