LOBO, Francisco José da Silveira. Porque Anísio. Folha Proler. Rio de Janeiro, v.4, n.13, jul. 2000. p.3.

Porque Anísio

Francisco José da Silveira Lobo

Celebrar Anísio é celebrar a cidadania que se faz poder a serviço da coisa pública, é celebrar a cidadania que se desfaz do poder na intransigente defesa do direito de todos. Celebrar Anísio, mais do que celebrar o educador que ele de nós todos foi, é celebrar o educando que se constitui para sempre aluno de toda a vida, construindo a si mesmo na infância e na adolescência, na juventude e na maturidade. Anísio estudante, colega, amigo, marido, pai, mestre, intelectual, dirigente, empreendedor, cidadão, político, escritor, pensador, filósofo, comunicador, referência.

Celebrar Anísio, mais do que celebrar uma personalidade, é celebrar a concretização, nele, de uma síntese privilegiada da trajetória de um povo que, contra a conspiração de muitos (os que são poucos com toda a riqueza e todo o poder), realiza, no esforço de sempre retornar, o Projeto Histórico-Político-Pedagógico da Sociedade Brasileira.

CeIebrar Anísio é comprometer-se com este Projeto Democrático que respira educação para a liberdade e que inspira liberdade para a educação, que constrói com liberdade a reaalização da justiça e da solidariedade. Na materialidade e concretude da escola pública, de todos e para todos, gratuita e de qualidade.

Celebrar Anísio é manter-se na ação e na rcflexão, envolvendo-se no debate e no combate, na explicitação das diferenças como busca dos caminhos de entendimento e realização, praticando a mais absoluta tolerência com a divergência e repudiando absolutamente a arrogância dos intolerantes.

Celebrar Anísio é entender a educação como humanização, conquista que só será verdadeira quando todos, socialmente solidários, tiverem como direito as condições de avançar na superação do presente, na construção das respostas coerentes aos desafios que se venham a apresentar.

"Há presentes incendiados de fermento intclectual e presentes estagnados e inertes. É que nos primeiros o passado está vivo no presente e nos entreabre o futuro. Nos outros, depreciamos o presente e quedamos inertes na adoração do passado. Toda verdadeira crise humana é uma crise de compreensão do presente, neste sentido do ponto de interseção entre o passado vivo e o futuro que vai nascer". ( ... ) "Cabe-nos nada mais, nada menos, do que vencer a crise de cornpreensão bem mais complexa em que se debate a sociedade em desenvolvimento. Tornar o presente compreensível a despeito de suas contradições, por intermédio que chamamos cultura..." ( ... ) "Cabe-nos afinal, acompanhar o processo de iniciação e integração social de cada indivíduo no mundo confuso e tumultuado de nossa sociedade em transformação" ( ... ) "para vencer a crise em que nos debatemos é a educação, é a escola, é a descoberta, a formulação e a difusão da cultura brasileira... (como forma de) ajudar o povo a construir e fazer com o material de toda a História brasileira, somando o exemplo e a experiência , os erros e os acertos dos que já morreram, dos que vivem e dos que irão viver, a fim de prosseguir na obra sempre inacabada de criação, revisão, adaptação e contínua reconstrução do caráter nacional".

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