FOLHA DA MANHÃ. Favorável o Prof. Anísio Teixeira à criação da Faculdade de Educação. Folha da Manhã. São Paulo, 4 nov. 1955.

ENSINO E MAGISTÉRIO

Favorável o prof. Anísio Teixeira à criação da

faculdade de Educação

"Seria um dos modos de dar os estudos educacionais a amplitude indispensável", afirma o diretor do INEP em entrevista concedida à FOLHA DA MANHÃ

"Ensino e Magistério" vem publicando uma série de entrevista referentes ao problema da criação, em São Paulo, de uma faculdade de Educação. Os entrevistados dividem-se em suas opiniões, achando uns que é necessário e urgente tal instituto de nível universitário, outros entendendo que ainda não é chegado o momento para sua instalação e outros, ainda, se manifestando em sentido contrário à sua organização, em qualquer época.

Entendem a profa. Lavinia de Almeida e o prof. Valter Barioni, cujas entrevistas foram publicadas a 1º e 5 de outubro último, respectivamente que "organização da escola superior de Educação é indispensável, a fim de que os futuros diretores de escolas, tanto primárias como secundárias, os inspetores escolares, os delegados de ensino, os orientadores educacionais, os técnicos de educação, os encarregados de organização de provas e de medidas educacionais, sejam formados em nível universitário", pois consideram que "somente assim poderemos sair do empirismo e da rotina em que, de há muito afundou o ensino primário e normal de nossa terra".

O prof. Solon Borges dos Reis, em sua entrevista publicada a 14 de outubro último, entende que "a coexistência de Faculdades de Filosofia e de Educação pode redundar em uma dispersão de esforços sem interesse", acrescentando que a escola superior de Educação é um estabelecimento para o futuro.

Os profs. Onofre de Arruda Penteado Junior e José Gomes Caetano, nas declarações feitas à FOLHA DA MANHÃ, respectivamente, a 20 e 27 do outubro último, consideram que a solução do problema seria um instituto de Educação subordinado à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Ambos, catedráticos de Educação Comparada, o primeiro da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, e o segundo, do instituto congênere em Sorocaba, da Pontifícia Universidade Católica, afirmou que "não é oportuno cogitar-se, presentemente, da fundação de uma Faculdade de Pedagogia", e que "uma faculdade destinada só a estudos pedagógicos serviria para tumultuar ainda mais o já tumultuado ensino".

Hoje, publicamos a opinião do prof. Anísio Espínola Teixeira sôbre o assunto. Trata-se de uma dos mais credenciados educadores brasileiros. S. sa., que atualmente exerce a direção do Instituto Nacional dos Estudos Pedagógicos - INEP - do Ministério da Educação, foi sucessivamente, diretor da Instrução Pública do Estado da Bahia, diretor-geral da Instrução Pública do Distrito Federal, catedrático de Filosofia da Educação no Instituto de Educação da capital da República; e secretário da Educação do Estado da Bahia, na administração do sr. Otavio Mangabeira.

O prof. Anísio Teixeira bacharel em Direito, o diplomado em Educação pela Teatuhers College da Universidade de Columbia, de Nova York, tem dedicado toda sua existência aos estudos e pesquisas para solução do problema da educação nacional. Ex-presidente da Associação Brasileira de Educação, um dos signatários do "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova", publicou numerosos livros sôbre Educação, destacando-se "Aspectos Americanos de Educação", "Educação Progressiva", "Educação para a Democracia", e, como aluno que foi de Dewey, traduziu do mestre da Universidade de Columbia o seu "Educação e Democracia", "O programa Escolar e a Criança", e, ainda, "Interesse e Esforço", estudos reunidos sob a denominação de "Educação e Vida".

Professor secundário e universitário, com longa prática em cargos de direção do ensino, com formação eminentemente científica a manifestação do prof. Anísio Teixeira sôbre a escola superior de Educação representa, sem dúvida, uma contribuição valiosa para o esclarecimento do problema.

As declarações do prof. Anísio Teixeira

"A elevação dos estudos de Educação ao nível superior - inicia o prof. Anísio Teixeira -, como um dos grandes setores da atividade universitária, sempre me pareceu uma necessidade. Isto afinal acabou por se fazer com a seção de Educação nas faculdades de Filosofia.

"A constituição dessa seção como uma faculdade autônoma seria um dos modos de ampliar a medida e dar aos estudos educacionais a amplitude indispensável em um país, como o nosso, em que as instituições escolares não são lentos desenvolvimentos históricos, mas resultados de implantações maciças e muitas vezes improvisadas.

Com efeito, deve-se ter em mente que o caso brasileiro, como o caso norte-americano, como os casos de todos os países cujo desenvolvimento cultural não se processa como um longo crescimento através do tempo, jamais poderá ser resolvido pelo simples jogo das forças de tradição, num desenvolvimento espontâneo e abandonado. Os países, como o nosso, cujo desenvolvimento histórico foi o resultado da transplantação de instituições, não podem elaborar tradições educacionais suficientemente fortes para guiar e dirigir o seu progresso cultural. Muito pelo contrário, as tradições agem no sentido do enfraquecimento e deterioração das instituições educacionais, criadas sempre como algo de melhor que o existente e projetadas como aspirações do meio para uma situação futura que se deseja melhorada, senão reformada.

"Este fato - que não pode ser esquecido um só momento - determina que as instituições educacionais brasileiras precisam para medrar e desenvolver de um incentivo, um cultivo, um cuidado muito mais sérios que tudo que pudesse vir a ser exigido em países de sólidas tradições culturais. Daí a necessidade de estudos amplos e profundos, como só poderão ser feitos em nível superior, para a definitiva implantação dos sistemas escolares dessas nações.

"Por isto mesmo é que tais estudos se desenvolveram nos Estados Unidos pelo modo que se desenvolveram, enquanto na Europa se mantiveram restritos e algumas cátedras de universidades e raros institutos de educação.

"Tratando-se, no Brasil, de preencher a lacuna da falta de uma sólida tradição educacional, que a própria cultura do país não conseguiu produzir, temos que manter na universidade escolas especiais de Educação, que a estudem como se estudam Medicina, a Engenharia e o Direito, a fim de criar e elaborar os padrões educacionais, formular os fins e desenvolver os meios da educação nacional.

"A formação, na universidade, de um escol de professores primários de alto padrão e de especialistas de toda natureza, desde administradores até estudiosos de currículos e programas, virá produzir aqueles homens de cultura especializada necessários para resistir às tendências regressivas do meio e criar as condições para a concretização dos progressos objetivadas pelas próprias instituições, criadas sem perfeita correspondência com o meio e por isto mesmo difíceis de medrar e desenvolver.

Não posso, em face disto - conclui o prof. Anísio Teixeira ,deixar de dar o meu mais decidido e formal apoio a todo e qualquer esforço no sentido de elevar os estudos de Educação ao nível universitário e superior.

"Há trinta anos luto por que isto se realize, entre nós, havendo no Distrito Federal elevado toda formação do professor primário ao nível universitário".

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