FOLHA DA NOITE. Tem a escola primária de ser a mais importante escola do Brasil. Folha da Noite. São Paulo, 15 jul. 1958.

"Tem a escola primária de ser a mais importante escola do Brasil"

RIO, 14 (FOLHAS) - "Em nenhum outro aspecto da vida nacional se revela tão fortemente quanto na escola a cristalização de certo arcaismo congenito, de nossas instituições", declarou anteontem a um matutino carioca o educador Anisio Teixeira. Depois de comparar a situação brasileira à Alemanha de Fichte, continuou o entrevistado: "Há que virar pelo avesso a nossa filosofia de educação: a escola primaria tem de ser a mais importante escola do Brasil; depois, a escola media; e depois, a escola superior". Depois de fazer distinção entre ignorantes e iletrados, ressalta o diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagogicos que o "caracteristico dos sistemas modernos de educação é o de que realizem eles, primeiro, uma grande educação comum para todos elevando o nivel geral de educação de todo o povo para, sobre esta base, erguer o corpo de especialistas e sabios, que não dirigem, mas servem à massa de trabalhadores educados, que governam - pelo voto - e constroem a nação". O prof. Anisio Teixeira considera os sistemas antigos como de "educação para uma elite". O fim das escolas básicas é apenas o de formar maior corpo de candidatos às escolas superiores.

A mudança, em sua opinião, só ocorre quando a escola primaria e a escola media "se fazem, de certo modo, mais importantes que a própria escola superior", uma vez que lhes seja elevado o nível de produtividade e de aproveitamento. O prof. Anisio Teixeira diz que para a situação em que estamos, bastaria a reforma de Pombal, a qual concretizaria a divisão de classe em governantes e governados, de acordo com o que resultaria de tal educação especialista em formar elites. Considera a febre de criação de estabelecimentos de ensino superior mais uma manifestação de nossa fabulosa energia improvisadora", com a diplomação por decreto de numeros pseudo-bacharéis. "Diante disso, que nos cumpre fazer? Reunir todas as nossas forças pessoais e financeiras e nos lançarmos em um grande plano de conjunto, mobilizando todos os recursos publicos e privados, pedindo a cada um sua cota de sacrificio para a construção, primeiro, das escolas básicas da nação: a primeira e a media para 25 ou, talvez, 50% da população da respectiva idade. Nenhuma dessas escolas dará direitos outros que não sejam os que o aluno adquire pela sua maior capacidade de trabalho".

Recomenda o prof. Anísio Teixeira que tais escolas não devem ter luxo de ilustração - "serão escolas para o preparo do cidadão comum do Brasil".

| Artigos de Jornais ou Revistas | Entrevistas |