PRETTO, Nelson. Anísio Teixeira e a escola do novo milênio... A Tarde, Salvador, 19 jul. 1996.

ANÍSIO TEIXEIRA
e a escola do novo milênio ...

Nelson Pretto

"Se eu tivesse conhecido a Escola Parque e a
obra de Anísio Teixeira, teria feito educação."

Alessandra Olariano, 8º semestre de Arquitetura/UFBA

No último, dia 12, Anísio Teixeira, um filho de Caetité-Bahia, estaria fazendo 96 anos. A Escola Parque, por ele idealizada e construída com a ajuda de Diógenes Rebouças, preparou-se para comemorar a sua festa.

Não poderia ser diferente. Era como se ele estivesse lá. Vivo. Presente. Repetindo entre professores, alunos e funcionários seus discursos meio estranhos: " ... tudo isso soa como algo de estapafúrdio e de visionário. Na realidade, estapafúrdios e visionários são só que julgam que se pode formar uma nação pelo modo que estamos destruindo a nossa", disse ele naquele lugar, em 1950, inaugurando a primeira parte do Complexo Carneiro Ribeiro, frente ao então governador Octávio Mangabeira.

Por um defeito inexplicável de minha formação, eu nunca tinha ido à Escola Parque. Vejo pela primeira vez os 42 mil m2 de área verde com teatro, biblioteca, oficinas, padaria, salão de beleza, campos de esportes, hortas, banheiros, setor de serviços... Uma área monumental.

Um projeto arrojado e provocante, incrustado numa região pobre da cidade.

Aberto por concepção arquitetônica e sólido na busca de "preparar os filhos para o nosso tempo".

Originalmente previsto para 4.000 alunos, o Centro abriga atualmente cerca de 8.000 crianças que nem se abalam quando recebem um grupo de alunos e professores da UFBA. A vida ali continua normal, mesmo com a* presença destes estranhos, porque, fundamentalmente, ali existe vida. Não se faz de conta que se está vivendo e, muito rnenos, de que se está estudando e aprendendo. Cada grupo desenvolve os seus trabalhos, o seu jazer. E nós, estupefatos, visitamos este, complexo cheio de vida.

Recuperando o meu tempo perdido, caminhando por aquelas árvores, prédios, professores, jovens e adolescentes, fico pensando em nosso grupo de pesquisa na Faculdade de Educação da UFBA. Lembro que procuramos desesperadamente colegas da Faculdade de Arquitetura que queiram investigar conosco um pouco mais a relação da arquitetura com a educação, pensando com a gente como deverá ser o espaço escolar no novo milênio. Um milênio cuja característica básica é a presença generalizada das imagens e das informações. São as redes telemáticas, computadores, lnternet, vídeos, TVs interativas chegando nas escolas e transformando-as profundamente... Pensamos muito. Imaginamos as mudanças necessárias nos espaços físicos das escolas. O papel dos professores... Olhamos para a frente, como sempre nos induz estas novas tecnologias. E, num simples dia de julho de 96, visitando pela primeira vez a Escola Parque de Anísio Teixeira, começo a perceber que, de fato, eu estava vivendo, ali, a tal escola do futuro que tanto idealizamos. Feita as devidas atualizações temporais, pude tranqüilamente concluir que a escola do novo milênio foi criada em 1950, por Anísio Teixeira, e está na Caixa d'Água, em Salvador, Bahia!

Revendo a frase que abre este artigo, dita pela futura arquiteta quando terminou sua pesquisa na Escola Parque, só me restou pensar em voz alta:

"Se eu conhecesse antes a Escola Parque... teria feito, também, Arquitetura..."

| Artigos de Jornais ou Revistas | Entrevistas |