A PENNA. Eschola Normal de Caetité: sua solene inauguração. A Penna. Caetité, 29 abr. 1926.

ESCHOLA NORMAL DE CAITETÉ
SUA SOLEMNE INAUGURAÇÃO

No dia 21 do corrente mez assistiu esta Cidade com o maior regosijo á solemne inauguração da nossa Eschola Normal. Uma das mais ardentes aspirações da nossa culta sociedade, era a volta desse estabelecimento de instrucção que, ha vinte annos, - ainda incipiene, mas promettedor, ja produzindo resultados beneficos em favor da instrucção da vasta região alto-sertaneja, - foi fechado por um simples decreto do Dr. Severino Vieira em um momento de enfado político contra a nossa cidade, a pretexto de que não havia numero de alumnas que compensasse a enorme despeza de quarenta contos de reis annuaes.

Si é certo que era pequeno o numero de candidatas á nobre profissão de ensinar, como chegamos a conceder, uma justa razão existia para que assim succedesse. É que, logo após a inauguração da antiga Eschola, começou o zumzum dos pessimistas e dos malfazejos, que pouco se importam haja progresso intellectual n'esta região malsinada, a propagar a idéa de que o nosso instituto não perduraria, que de um dia para outro seria fechado; que delle não resultariam as vantagens esperadas; que o professorado era incompetente e quejandas falsas apreciações desses que esperam desponte o fructo antes da flor, o germen antes da fecundação.

D'ahi a desconfiança que lavrou no seio do nosso povo, o seu retrahimento e, até, uma certa má vontade contra aquelle centro de instrucção que, estamos certos, teria progredido e concorrido para que a instrucção se diffundisse na população destes altos sertões. Professores temos em copia e componentes na Capital do Estado; mas qual delles se abalançaria a penetrar estes ignorados rincões tão calumniados por muitos dos seus naturaes e desacreditados nos nossos centros mais populosos e cultos do littoral? As escholas primarias foram fechadas por toda a parte porque então considerou a classe dirigente do Estado que não valia a pena provel-as de substitutos, na maior parte incompetentes, e, não só deixamos de progredir intellectualmente, mas chegamos a retrogradar, porque nos tempos de antanho não era assim; não havia movimento de descredito que depois se levantou contra nós e o analphabetismo era combatido insistentemente; havia escholas por toda a parte.

As Escholas Normaes sertanejas ninguem poderá contestar com fundamento, são o meio de melhorar a situação de atrazo e ignorancia desta região. Ora, si o Collegio S. Luiz e o do Bom Pastor, ha pouco fechados por causa das exigencias do novo regulamento do ensino, eram concorridos satisfactoriamente, apezar de ser o ensino, alli ministrado, pago pelos interessados; si vinham de todas as partes discipulos augmentar a sua matricula e frequencia; como admittir-se que o ensino gratuito que se ministra na Eschola Normal não seja procurado por maior numero de discipulos? Si no primeiro anno o numero de matriculados é pequeno, a razão justissima é não termos tido escholas primarias e fundamentaes que habilitassem a nossa mocidade a requerer a sua admissão; que sabemos de grande numero de candidatos á matricula que, desejando-a, não a conseguiram por impossibilitados. D'ahi concluiremos que, no futuro, a matricula de normalistas será augmentada de modo que compensará o sacrifício pecuniario do governo estadual.

O que resta é dar-se combate aos levianos que tudo malsinam sem calcular os prejuizos que causam; aos que tudo desvirtuam tendenciosamente, por politiquice pyrrhonica, por não serem consultados em tudo quanto se emprehenda e se faça; aos que, em sua curteza de comprehensao, trabalham pelo status quo geral em seu proveito individual.

Começou a ceremonia da inauguração por uma missa solemne celebrada pelo Exmo. Monsenhor Vigario Capitular. A linda capella construida pelos padres jesuitas no vasto corpo do edificio adquerido pelo Governo, achava-se ornamentada a capricho, enflorada e illuminada. Compareceu a fina flor da nossa modesta sociedade representada por cavalheiros e senhoras distinctas, todas as auctoridades, os corpos docente e discente da Eschola Normal, das complementares e elementares annexas, das demais da Cidade; os funccionarios do instituto, o Delegado escholar, os capitães do 19 Bat. e da Policia Cearense com os mais officiaes que se achavam de passagem na Cidade e o Tenente da Policia Bahiana aqui destacada, representando essa corporação militar, e representantes de todas as classes e da imprensa daqui.

Depois do meio dia, no amplo salão destinado ás sessões da congregação, reunida a mesma numerosa assistencia e grande numero de pessoas do povo, tomou assento no topo da mesa o Director Geral da Instrucção do Estado ladeado pelo Director da Eschola, Dr. Edgard Pitangueira e pelo Secretario, occupando os assentos lateraes todo o professorado presente e os Inspectores Escholares Mons. Bastos e Professor Deocleciano Silva.

Aberta a sessão, leu o Dr. Anísio Teixeira, Diretor Geral da Instrucção um lindo discurso que abaixo damos na integra á apreciação do leitor, terminando sob uma prolongada salva de palmas ao som de um trecho musical executado pela philarmonica.

Em seguida fez uma curta, mas belissima alocução, o Dr. Edgard Pitangueira, seguindo-se com a palavra o talentoso Cirurgião-Dentista Hibelmont Baptista, que leu um bem elaborado discurso, sendo ambos muito applaudidos.

Encerrada a sessão, foi franqueado o edificio á visita de todos os presentes, que se espalharam por todos os recantos d'elle no maior regosijo e alacridade. Durante a solemnidade a philarmonica executava, a intervallos, escolhidos trechos do seu repertorio. Deixou optima impressão essa solemne e auspiciosa festa, retirando-se todos que alli se achavam convencidos de que não ficamos agora em promessas como sempre succedia.

Em resposta aos telegrammas de congratulações que daqui foram transmitidos ao Exmo. Sr. Dr. Governador, vieram os seguintes despachos que nos foram mostrados:

Bahia, 22 - Off. Dr. Anisio Teixeira. Caetité. Accuso recebido seu telegramma e felicito o povo progressista de Caiteté pela inauguração, pelo seu amor ao trabalho e á instrucção. Cordeaes saudações. Góes Calmon.

- Bahia, 22 - Off. Prof. Edgard Pitangueira. Accuso recebido seu telegramma e, agradecendo as felicitações que me foram enviadas, retribuo os parabens ao povo caitetéense, que é bem merecedor das melhores attenções do governo. Peço o obsequio de transmittir meus agradecimentos aos demais signatarios do telegramma. Cordeaes saudações. Góes Calmon.-

- Bahia, 23 - Off. Intendente, Caiteté. Muito agradeço a communicação da solemnidade da inauguração da Eschola Normal dessa Cidade e congratulo-me comvosco por esse motivo de justo jubilo para a população sertaneja. Cordeaes saudações. Góes Calmon.-

Discurso pronunciado pelo Dr. Anisio Teixeira:

Minhas senhoras
Meus senhores

A festa que ora nos congrega deve ter para o sertão um significado alto e nobre.

Vimos installar a Eschola Normal de Caiteté, um noviciado de professores e de mestres, que, mais tarde, sahirão pela terra sertaneja a ensinar e a educar.

Há muitos annos, neste mesmo local, se erguia o edificio de uma outra escola da mesma natureza, que a decisão dos governos anteriores julgou dever supprimir.

Se não nos cabe no momento fazer o processo desse acto publico, compete-nos, antes de qualquer outro passo, levantar o legado dessa lembrança e nos deter no dever piedoso de saudar aquelles que, antes de nós, aqui trabalharam pelo mesmo fim.

Muitos delles já morreram, mas, uns e outros nos acompanham hoje applaudindo o nosso acto.

E nós os acompanhamos, tambem, no pensamento e no coração, ligando o nosso emprehendimento ao antigo emprehendimento desses antecessores, afim de que a nascente escola normal se enriqueça com os brilhos e as penas desse passado.

Vamos, pois, os que intentamos dar nossos esforços a esta fundação, continuar uma obra, que largos annos interromperam.

A experiencia feita, como alicerce poderoso, sustentará o edificio que o nosso trabalho e a nossa tenacidade há de erguer no sertão.

A Escola Normal de Caiteté, não é na actividade que percorre, hoje, todos os serviços publicos do estado, um facto isolado e sem alcance.

Quem se demorar no estudo da orientação do actual Governo, logo perceberá que é mais uma peça que se monta, no organismo do publico serviço, que se adapta e se prende ao programma geral.

Na complexidade dos problemas administrativos bahianos a demasiada convergencia para a Capital do Estado, das energias de todos os Governos, estava a exigir de uma administração consciente a decentralisação de seus objectivos.

Se, entre nós a unidade administrativa deve existir como condição de força e de superioridade technica do orgam propulsor de qualquer serviço, essa unidade não deve impedir a variedade do modo por que devemos satisfazer ás differentes zonas do nosso estado.

Sob o ponto de vista do serviço escolar, mais accentuadamente se percebe o fito dessa preocupação decentralisadora.

A escola, como é entendida modernamente, para fallarmos em linguagem mathematica deve ser funcção do meio onde se vae installar.

A centralisação administrativa desse serviço, laço imprescindivel á fortaleza de sua acção, deve ser amplo e agil para permitir todas as modificações que as circunstancias da região exigirem.

Os objectivos do ensino variam em cada região e o olhar vigilante da administração central a todos deve reconhecer e a todos satisfazer, contrabalançando a centralização administrativa pela perfeita descentralização pedagogica.

Por isto, servir, não somente á zona do reconcavo, mas, á zona sertaneja e servil a adequadamente é essa a preocupação do governo, que, hoje, vamos satisfazer, em uma grande parte, com a installação da primeira escola normal official do interior do estado.

***

Caiteté foi escolhido para constituir o centro de uma vasta zona sertaneja em materia do ensino publico.

Aqui, é que, se vão processar os novos methodos e os novos emthusiasmos com que não somente se há de diffundir a instrucção, mas, reformar a escola.

A escola normal vae ser o centro irradiador de novos professores e de uma nova mentalidade pedagogica.

Em volta desse centro, se aggruparão todas as obras escolares tendentes a dar ao ensino o rigor scientifico moderno e o criterio nitidamente reglonal, que devemos exigir.

Centro de estudos e centro de enthusiasmo, a nossa escola normal deverá ser um verdadeiro orgam de propulsão pedagogica.

***

Casa de formação dos mestres das crianças sertanejas, será nesta casa que se elaborará a escola sertaneja. E isto me leva a dizer-vos o que me parece deve ser a escola primaria e o professor entre nós.

Os actuaes meios pedagogicos do mundo estão agitados por varias correntes innovadoras e faz-se com ardor o processo da escola antiga e tradicional.

Os pioneiros da escola nova, em toda parte accentuam a sua propaganda por muitos lados cheia de razões.

Sem querer assumir a responsabilidade grave de transformar a escola fundamentalmente, como querem alguns, não devemos, nem podemos desprezar as conquistas positivas da moderna actividade pedagogica.

Si quisermos, aqui fazer o processo da nossa escola primária, não encontramos, egualmente, talvez, accentuadas, as faltas, geraes de que a accusam?

Não é ella, tanta vez, o pezadello de nossas crianças, a sua grande afflicção, nessa epocha, em que o desejo de actividade e de liberdade que as domina se oppõe com violencia aos processos convencionaes, á rotina, á sedentariedade, a tudo o que nega a plena expansão da vida?

O formalismo, os processos mechanicos do ensino, a radical incomprehensão da alma infantil não florescem, infelizmente, em nossas escolas, mais commumente do que desejariamos?

E alguns de nós pode negar que a nossa escola, quasi sempre se põe á margem da vida e que esse periodo escolar, raramente risonho, por que todos passamos, corresponde muitas vezes a uma segregação em um meio facticio, de actividade puramente formal em que aprendemos mil e uma cousas, mas não aprendemos a viver?

E o que desejam os innovadores? O mesmo, por que luctavam ha velhos annos os velhos educadores de todos os tempos, os Pestalozzi, os Rousseau, os Froebel. Uma escola que seja, antes de tudo, de preparação real para a vida, de concordancia com o espírito infantil, alegre e viçosa como são viçosos e alegres os pequeninos que ella agasalha e educa.

O erro antigo da nossa escola é proceder com a creança como com um ser passivo e julgar que é possível educal-a enchendo-lhe a cabecita de noções.

A criança não é um adulto incompleto, o homunculo, como queriam alguns, mas um ser sui-generis, um primitivo, um selvagem, como quer a psychologia, mais ou menos completo em cada epocha e que em cada epocha exige methodos especiaes de educação.

E a velha verdade, é que a educação deve modelar de dentro para fóra, fazendo vibrar e trabalhar os proprios recursos infantis, desenvolvendo-lhe pelo exercicio de suas actividades expontaneas as virtualidades extraordinarias que se escondem no seu organismo.

Toda educação que não visar este alto fim, que não tiver em conta que a criança se desenvolve como uma pequena planta, segundo as leis que lhe são proprias; que ella não possue verdadeiramente sinão o que assimilou por um trabalho pessoal de digestão, faz obra má.

"O melhor dos adubos chimicos, diz um vivo apostolo da escola nova, espalhado a pincel no tronco de uma arvore não lhe faria nenhum bem. E se a casca não fizesse arrebentar esse verniz, a arvore suffocaria. Assim procede muitas vezes a escola tradicional.

É necessario que ella aprenda a por o adubo no pé da planta, afim de que a chuva o arraste para as raízes, e então ver-se-á lentamente, mas seguramente, fazer-se esse trabalho de assimilação que enriquecerá a arvore com as suas mais formosas flores e mais bellos fructos."

A escola nova, a escola do trabalho, a escola activa, como é chamada hoje essa escola fundada nas recentes e positivas conclusões da psychologia infantil, não deseja, afinal, sinão o pleno desenvolvimento, pela espontanea actividade infantil, do que houver de melhor na sua propria natureza.

Na inquieta actividade pedagogica moderna entretanto, não nos pode deixar de impressionar o facto de, por entre o tactear geral das melhores intelligencias, não persistir ainda sinão uma dolorosa investigação dos meios praticos de realizar esses velhos principios.

Actividade e liberdade do alumno são os dois grandes polos que constituirão o eixo da escola de hoje e por que sempre se bateram todos os velhos pedagogos.

Realizal-os no exercicio quotidiano do ensino, é porem a grande difficuldade.

Montessori na Italia, Decroly na Belgica, Kerchensteiner na Allemanha, O'Nell na Inglaterra, e tantos outros amontôam processos sobre processos, systhemas sobre systhemas, cada qual mais fascinante.

Esses systhemas, alguns dos quaes tive opportunidade de vêr funccionar nos proprios estabelecimentos onde nasceram, exigem esforços que estão longe de se poderem generalisar.

Para sua execução precisamos de mestres de qualidades superiores de inteligencia, de engenhosidade e de segurança de cultura.

A nossa attitude não pode ser sinão de prudencia ante esses inovadores.

O ensino primario francêz é um modêlo nesta orientação. Emquanto os paizes visinhos se agitam na mais febril das actividades pedagogicas, o velho e sabio organismo do ensino primário francêz espera e aguarda paciente as conclusões definitivas.

O seu espírito de conservação e a excessiva complexidade da machina escolar garantem a esse organismo um vigor e uma segurança excepcionaes.

A sabedoria dos seus programmas, horarios e instrucções e a insistencia em se firmar somente no que a sciencia adquiriu definitivamente defende-lhe o ensino dessa instabilidade revolucionaria que caracteriza certos apparelhos escolares transformados em apparelhos de investigações pedagogicas.

Não há duvida que é generoso e sympathico o movimento pedagogico, belga e suisso, por exemplo, mas há quem possa fugir á impressão de que são aquellas crianças que pagam a formosa curiosidade scientifica dos seus professores.

Como vedes, meus senhores, estou longe de aconselhar que installemos, entre nós, um desses methodos pedagogicos modernos ainda quentes da mão que os formou. Nada disto. A escola hoje não pode supportar taes transformações. Aqui, é que se tem de processar, de accordo com os principios adoptados, a escola bahiana e a escola sertaneja.

Temos algumas verdades positivas, que eram houtem advinhadas pelos grandes pedagogos e que são hoje demonstradas pela psychologia experimental e que devemos procurar realizar.

A vossa intelligencia, o vosso esforço, a clarividencia e a lucidez com que formardes os professores desta casa nos garantirão a escola rasoavel e alegre, que, amanhã, havemos de ter.

Estas conclusões para que devemos trabalhar sem desfallecimento, eu as vou indicar, acompanhando Ferriére, uma organisação de innovador consciente e um corajoso pioneiro da escola activa: A escola deve procurar cultivar, mais do que tudo, a espontaneidade constructora e creadora da criança. Dar sempre, em todo os exercícios o mais amplo logar á iniciativa, favorecel-a por todos os modos, afim de dar alegria ao trabalho infantil e multiplicar os resultados, permittindo a cada um desenvolver até ao máximo as suas qualidades individuaes, moraes, intellectuaes e physicas.

A escola, assim, cultiva a pequenina personalidade infantil, armando o homem para a sua actividade futura.

2º- A escola será tanto quanto possível - sob medida - isto é, vigilante para com os differentes valores humanos que vae cultivar. Para isto faremos o trabalho dos diagnosticos dos typos psychologicos, postos hoje a altura de qualquer de nós, dada a vulgarisação dos processos de psychologia pedagogica.

Quando o rigoroso processo scientifico não for possivel, todos os mestres teem elementos de observação que permittem conhecer psychologicamente os seus alumnos.

O que é impreseindivel, é que, o professor tenha na intelligencia a idéia de que é o alumno quem o guia, que elle deve á criança toda obediente attenção ás suas qualidades e aos seus defeitos de sorte a existir uma perfeita resonancia entre o ensino que é ministrado e a creança que o recebe.

Não são novidades. Trata-se apenas, de aproveitar esforços até hoje inuteis, de systhematizar velhos processos, de organisar velhas observações, e de oriental-as com intelligencia, com espirito scientifico.

Em muitos logares cada mestre tem um caderno de notas, onde aponta as falhas e as qualidades de caracter, de intelligencia e de memoria dos seus alumnos, afim de, pouco a pouco, com seus proprios recursos, organisar as fichas psychologicas pedagogicas de cada um.

3º- Ampliar a escola até a cogitação do futuro emprego da vida do alumno.

A escola primaria não permittira a orientação profissional, mas não será difficil organisar uma certa selecção natural, que surgirá sem esforço da escola activa e da escola sob medida. O mestre de tudo lançará mão afim de que o seu alumno venha a ser um verdadeiro valôr economico na vida. Guial-o-á, acompanhal-o-a fora da escola, buscando fazer sentir a efficacia do arrimo escolar.

Alliemos a tudo isto a constante preocupaçãp regional e saibamos sempre que formamos sertanejos, isto è, homens que irão luctar com uma natureza aspera e irregular e cujos meios de victoria ainda são primitivos.

Demos-lhes a consciencia de duas responsabilidades perante a terra a que vão servir e que, so elles, poderão um dia erguer ás elevações civilisadas dos paizes esclarecidos e fortes.

Para essa escola, vedes bem que não é tão difficil obter o mestre, mas é necessario formal-o.

Formal-o intellectualmente e formal-o moralmente, e esta é a missão que vos entrego, meus caros professores.

Lietz, um ardoroso pedagogo allemão desejava que o mestre fosse um homem completo - o que não significa um homem perfeito, mas, um homem que, segundo os seus recursos, tendo á perfeição com paciencia, humildade e coragem. Devia ser pobre, afim de para alem do minimo necessario para viver com decencia, lançasse o seu olhar, mais alto do que os laborosos materiaes. Puro, afim de que as suas energias intactas tivessem um vigôr fresco e sadio. Corajoso afim de antepôr sempre às asperezas da realidade o seu idealismo e o seu amôr, pelos homens. E queria, afinal, que fosse fiel a seu dever, nas pequenas cousas da vida quotidiana, como nas grandes , obedecendo a voz de sua consciencia, afim de que os seus alumnos aprendessem a obedecer á voz da razão que falla em todos elles.

E Montessori em certa parte diz: - que o mestre deve, em vez da palavra aprender o silencio; em logar de ensinar, observar; em vez de se revestir de uma actividade orgulhosa que quer parecer infallivel, revestir-se de humildade.

Corajoso, puro, humilde e fiel eis as grandes qualidades do mestre, as que o farão verdadeiro educador e que o porão em constante contacto com esse fundo infantil onde se elabora o caracter e a verdadeira sciencia da vida.

A sua acção não terá porem efficacia, si sobre todas essas qualidades, dando-lhes sentido, não apparecer o amôr às creanças.

Amae as creanças, de um amor profundo, real, comprehensivo e sereis mestres.

William Platt, um professor de coração e de intelligencia, não exige outro requisito, no mestre: amar as creanças sempre, passo por passo, dia por dia; porque só o amor permitte comprehendel-as, e ellas delle teem necessidade como as flores de sol.

Nenhum collaborador desta casa deve pois esquecer que tão altas e tão nobres devem ser os seus ideaes, quanto nobre e alto é o ideal desta casa.

Da formação moral é que provirá o exito dos mestres que partirem deste estabelecimento.

Só educadores podem formar educadores. Ha um segredo de enthusiasmo e de amor a transmittir nesta casa e eu conto comvosco para essa obra.

A educação intellectual fria e impessoal, haveis de communicar-lhe a flamma capaz de milagres, completando a com a educação moral.

Trabalhareis afim de que o espirito da escola seja um só e unidos em uma mesma orientação sejaes verdadeiramente formadores de mestres.

E com esses votos, esses desejos e essas esperanças, eu declaró solemnemente installada a Escola Normal de Caiteté.

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